ꜰɪꜰᴛᴇᴇɴ - 𝘴𝘩𝘰𝘱𝘱𝘪𝘯𝘨 𝘤𝘢𝘰𝘴
Episodio quinze,
𝘴𝘩𝘰𝘱𝘱𝘪𝘯𝘨 𝘤𝘢𝘰𝘴
O corredor do hospital estava silencioso, com luzes fluorescentes iluminando o ambiente de forma fria e impessoal. Aaron se aproximou do balcão da enfermaria, sua voz suave, mas carregada de angústia.
— Desculpe... eu sei que o horário de visitas já está quase acabando, mas... eu poderia ver meu pai uma última vez? — ela pediu, tentando manter a compostura, embora sua voz tremesse ligeiramente.
A enfermeira, uma mulher de expressão cansada mas compreensiva, olhou para Aaron e assentiu com um pequeno sorriso.
— Claro, querida. — ela respondeu. — Mas saiba que está quase tudo certo para a transferência dele para a ala psiquiátrica. Só falta o Senhor LaRusso assinar as últimas confirmações. Ele é o responsável.
Aaron engoliu em seco, sentindo a culpa apertar seu peito. Ela assentiu com a cabeça, agradecendo em silêncio, antes de se dirigir ao quarto do pai. Ao chegar à porta, uma das enfermeiras saiu, informando-a com um tom gentil:
— Ele está apagado por causa da medicação. Queríamos ver se ele conseguia ter uma noite boa, já que as anteriores foram... complicadas.
Aaron apenas assentiu, suas emoções reprimidas à flor da pele. Entrou no quarto em silêncio, e a enfermeira se retirou discretamente, dando-lhe privacidade.
A luz suave do abajur ao lado da cama iluminava o rosto pálido do pai de Aaron, que estava deitado, completamente inconsciente. Tubos e fios conectavam-no a várias máquinas, o som constante dos monitores enchendo o silêncio da sala.
Aaron se aproximou da cama, o coração pesado, e puxou a cadeira de visitas para perto. Ela sentou-se, os olhos fixos na figura frágil de seu pai, e sentiu uma onda de emoções a invadir. Lágrimas começaram a rolar pelo seu rosto, e ela não tentou contê-las.
— Vai... acorda. — Aaron murmurou, sua voz embargada pelo choro. — Tá tão impotente agora, né? Cheio de remédios na veia...
Ela balançou a cabeça, quase rindo de amargura enquanto limpava as lágrimas com as costas da mão.
— Consegui um emprego novo. — ela continuou, com a voz trêmula. — Roubei um dinheiro... então acho que consigo me manter por um pouco mais de tempo em casa. — ela zombou de si mesma, seu tom ácido contrastando com a tristeza em seus olhos. — Ótimo trabalho, Aaron... Estou orgulhoso de você.
Ela segurou a mão do pai, sentindo o toque frio e inerte. Com delicadeza, ela ergueu a mão dele e a colocou em seu ombro, como se buscasse o conforto que ele nunca costumava lhe dar, mesmo que agora ele estivesse inconsciente.
— Estou fazendo o que você me ensinou... — ela sussurrou, a dor transparecendo em cada palavra. — Me esgueirando por aí, traindo a confiança de todos e sugando as únicas pessoas que ainda me restam.
Sua voz começou a se elevar em desespero, o choro se transformando em soluços incontroláveis.
— Vai, acorda! — ela gritou, segurando a mão dele com mais força. — Grita comigo! Por favor, pai, grita comigo! Eu mereço! Me diga como eu só faço besteira... Me diga!
Ela soltou a mão dele e se curvou na cadeira, o rosto escondido nas mãos enquanto as lágrimas caíam sem parar. Seu corpo tremia, o peso de tudo o que tinha passado e de tudo o que havia feito caindo sobre ela de uma só vez.
Depois de alguns minutos, Aaron limpou o rosto com as mãos e, com um movimento trêmulo, abriu sua bolsa. De dentro, tirou a garrafa de vodka que Tory havia deixado com ela. Ela olhou para a garrafa, sentindo o amargo da ironia. Sem hesitar, ela abriu a garrafa e levou-a aos lábios, bebendo um longo gole, deixando o álcool queimar sua garganta.
— Nem o cheiro disso... — ela murmurou, a voz rouca de tanto chorar. — Nem o cheiro disso tem te feito acordar mais, né?
Ela segurou a garrafa no colo, o olhar perdido no vazio.
— Essa merda aqui fodeu com a gente... — Aaron disse, a tristeza em sua voz profunda e pesada. Ela levantou os olhos para o rosto adormecido do pai, esperando, implorando silenciosamente para que ele abrisse os olhos, para que ele dissesse qualquer coisa, para que ele fosse, mesmo que por um momento, o pai que ela precisava desesperadamente.
Mas ele não se mexeu. Apenas a respiração lenta e os monitores ao redor dele quebravam o silêncio.
— Você me avisou sobre o Robby... — ela sussurrou, sentindo um nó se formar em sua garganta, um nó tão apertado que mal conseguia respirar. — Talvez você estivesse certo no fim das contas. Mas... — ela hesitou, engolindo a tremulação em sua voz — eu quero tanto que você esteja errado sobre isso também. Por favor... Preciso que você esteja errado.
Aaron deixou a cabeça cair para frente, derrotada, o peso da solidão e da culpa esmagando-a. Ela não sabia quanto tempo passou ali, mas naquele momento, sentiu que havia perdido tudo. E, com isso, a única coisa que restava era o vazio dentro de si.
O sol da manhã iluminava suavemente o deque do lago do Miyagi-Do. Samantha estava sentada ali, os pés descalços tocando a madeira fria, o celular em suas mãos trêmulas. Ela passava pelas mensagens que havia enviado a Aaron na noite anterior. Havia tantas: pedidos de desculpa, explicações desesperadas, quase implorações para que a amiga respondesse. Mas, nenhuma delas tinha sequer sido visualizada.
Samantha soltou um suspiro frustrado, abaixando o celular em seu colo. O silêncio ao redor do lago só amplificava o vazio que sentia dentro de si. Foi quando ela percebeu uma figura familiar se aproximando do dojo. Era Robby. Ele caminhava em direção ao dojo, com uma expressão sombria, a mão repousando sobre a cabeça como se ainda sentisse a dor do golpe da noite anterior.
Ao vê-lo, uma pequena chama de esperança se acendeu dentro de Samantha. Talvez, se Robby estivesse ali, ele pudesse ter notícias de Aaron, talvez pudesse ajudá-la a consertar as coisas. Com essa ideia na cabeça, ela se levantou rapidamente e seguiu Robby, com passos silenciosos, para dentro do gramado do dojo.
Mas Robby não parecia disposto a conversar. Ele entrou direto no dojo, passando por Samantha sem notar sua presença. Ele estava cabisbaixo, os ombros caídos, claramente abatido. Samantha parou no meio do caminho, observando-o desaparecer dentro do dojo. O som suave da porta de correr se fechando atrás dele ecoou no silêncio do jardim, e Samantha se sentiu mais idiota do que nunca, como se toda a sua esperança tivesse sido em vão.
Robby entrou na cabana onde Daniel LaRusso estava sentado, em profunda meditação. A luz que entrava pelas janelas de papel de arroz iluminava o ambiente com uma tranquilidade quase sagrada. Robby parou por um momento, respeitando o espaço de Daniel antes de interromper.
— Senhor LaRusso... — Robby começou, sua voz baixa e cheia de culpa. — Eu queria pedir desculpas pela briga na praia ontem.
Daniel abriu os olhos lentamente, saindo de sua meditação, e olhou para Robby com um sorriso compreensivo.
— Tudo bem, Robby. Já passou. — Daniel disse, sua voz calma, mas firme.
Robby soltou um suspiro de alívio, mas ainda havia algo que ele precisava dizer.
— Pelo menos... pelo menos aquilo serviu para alguma coisa. — ele disse, hesitando antes de pegar o celular do bolso. Com um toque, ele mostrou a Daniel um vídeo gravado das câmeras de segurança da praia. Nele, Robby e Aaron lutavam juntos, usando as técnicas do Miyagi-Do para afastar os agressores.
Daniel observou o vídeo com atenção, vendo cada movimento, cada golpe. Quando o vídeo terminou, Robby sorriu de lado, um pouco orgulhoso do que eles haviam feito.
— Alunos do Miyagi-Do lutam contra bandidos na praia. — Robby comentou, com um tom ligeiramente orgulhoso. — Muito melhor do que o método do punho, né?
Daniel olhou para o jovem com um misto de orgulho e preocupação. Ele hesitou por um momento antes de respirar fundo e responder.
— É... Vocês se defenderam muito bem, Robby. — ele disse, começando a caminhar com Robby em direção à saída da cabana.
— Isso pode viralizar. O dojo ficaria cheio até o meio dia. — Robby disse, com um sorriso no rosto
— Mas postar esse vídeo... Não acho que seja o que o Senhor Miyagi gostaria. Ele nunca quis recrutar alunos. Era eu quem precisava do karatê. Eu fui atrás dele porque sentia que precisava disso na minha vida. Vocês devem apenas esperar, quem precisar de nós, virá... As coisas vão se organizar.
Os dois saíram da cabana, caminhando juntos pelo gramado em direção ao deque onde Samantha ainda estava. LaRusso estava prestes a responder quando algo o fez parar e franzir a testa.
— Onde está a Aaron? — o mais velho perguntou, a preocupação evidente em sua voz.
Samantha e Robby trocaram um olhar cúmplice. Ambos sabiam que tinham alguma culpa no que havia acontecido, mas antes que pudessem continuar a conversa, foram interrompidos.
Demetri entrou no dojo, seus ombros encolhidos, um curativo no nariz e uma expressão completamente abatida.
— Eu não vi nenhuma placa que dissesse se eu precisava tocar a campainha, então eu só fui entrando... — Demetri começou a falar, com um tom nervoso, seus olhos curiosos varrendo o ambiente até que se fixaram no lago koi. — Espera, aquele é um lago Koi? Genial! Deve ser difícil manter um desses.
Daniel sorriu diante da curiosidade inocente de Demetri.
— Desculpe, posso te ajudar? — Daniel perguntou, tentando ser o mais acolhedor possível.
Demetri respirou fundo, ainda um pouco hesitante.
— A Ronnie... ela disse que o karatê de vocês é sobre defesa. — ele disse, tentando manter a voz firme. — Eu quero aprender karatê.
Daniel olhou para o jovem com um sorriso acolhedor, percebendo o desejo genuíno de Demetri de mudar e aprender algo novo. Ele deu um passo à frente, pronto para aceitar mais um aluno no dojo, com a certeza de que poderia fazer a diferença na vida dele, assim como havia feito na de Robby e de tantos outros.
Aaron entrou no hospital, seus passos apressados ecoando pelos corredores silenciosos. Seus olhos estavam cansados, com profundas olheiras escurecendo sua pele pálida. Cada respiração parecia pesada, como se o peso do mundo estivesse em seus ombros. Seu coração martelava em seu peito, acelerado pela preocupação que a dominava desde que soube da possibilidade de seu pai ser transferido para a ala psiquiátrica. Ela não aguentava mais ser a responsável por tudo, especialmente por um pai que parecia cada vez mais distante e fora de controle.
A recepcionista do balcão, uma mulher de rosto cansado e semblante indiferente, olhou para Aaron com uma expressão de leve curiosidade enquanto a jovem se aproximava.
— Eu... eu vim ver meu pai — Aaron disse, sua voz tremendo levemente, embora ela tentasse manter a calma. — Ele já foi transferido para a ala psiquiátrica?
A mulher digitou algo no computador, seus olhos examinando a tela com atenção. Quando ela finalmente levantou o olhar, havia um traço de hesitação em sua expressão.
— Não houve transferência — disse a recepcionista, sem desviar os olhos da tela. — O Senhor LaRusso não compareceu para assinar a documentação, e... bem, seu pai se recusou a ser internado conscientemente. Sem a assinatura do responsável e sem o consentimento dele, não havia muito o que pudéssemos fazer.
Aaron sentiu uma onda de fúria invadir seu corpo. Era como se todo o esforço que fizera para manter a calma se desintegrasse em um instante. O rosto dela começou a ficar vermelho, e sua respiração tornou-se pesada e irregular.
— O que você quer dizer com "ele saiu daqui"? — ela explodiu, sua voz subindo várias oitavas, cheia de raiva e desespero. — Como vocês deixaram ele sair?
A recepcionista, claramente desconfortável com a intensidade da reação de Aaron, deu um passo para trás, como se tentando se proteger da fúria que emanava da jovem.
— Sem a assinatura e sem o consentimento dele, nós não podíamos segurá-lo aqui. Ele disse que ia para casa...
— Ele não pode ter ido para casa! — Aaron interrompeu, quase gritando. — Eu acabei de sair de lá! Ele não estava em lugar nenhum!
A mulher atrás do balcão a observou com um olhar de pena, claramente compreendendo a gravidade da situação, mas sem poder fazer nada para aliviá-la.
— Talvez ele tenha ido para algum abrigo. — sugeriu a recepcionista, a voz mais suave, tentando acalmar Aaron. — Às vezes, as pessoas sem rumo acabam indo para esses lugares, sabe...
Aaron ficou parada por um momento, sentindo uma mistura de pânico e desespero. Ela sentiu como se o chão estivesse se desfazendo sob seus pés. Sem pensar duas vezes, girou nos calcanhares e saiu correndo do hospital, a mente inundada por imagens de seu pai vagando sem rumo pelas ruas, perdido e sozinho.
O dia estava começando a dar lugar à noite no horizonte quando Aaron finalmente encontrou um abrigo em uma rua tranquila de Reseda. Ela estava exausta, seus pés doíam, e a cabeça latejava com a tensão acumulada ao longo do dia. Mas ela não podia parar, não até encontrar alguma pista de onde seu pai poderia estar.
O abrigo era modesto, mas bem cuidado. As paredes eram pintadas de um azul claro que, de alguma forma, parecia acolhedor, e havia um jardim simples na frente, com algumas flores murchas devido ao calor intenso do verão. Aaron empurrou a porta de vidro e entrou, sentindo um arrepio correr por sua espinha quando o ar frio do interior a envolveu. Ela estava prestes a ir direto ao balcão de recepção, mas uma voz familiar interrompeu seus pensamentos.
— Não importa! — disse grosseiramente — Esqueça... — disse a voz grave e autoritária, carregada com um toque de surpresa.
Aaron parou no meio do caminho e olhou na direção de onde a voz viera. John Kreese estava ali, discutindo com uma das cuidadoras do lugar. Ele tinha a mesma postura imponente de sempre, mas havia algo diferente em seus olhos, algo que Aaron não conseguia identificar. Quando ele a viu, seu rosto se suavizou, transformando-se em uma expressão de curiosidade.
— Você aqui? — Kreese disse enquanto se aproximava, seu sorriso revelando uma ponta de sarcasmo. — O que te traz a um lugar como este?
Aaron franziu o cenho, confusa por encontrá-lo ali.
— Achei que você fosse... — ela hesitou, medindo suas palavras. — Rico.
Kreese soltou uma risada amarga, uma sombra de algo doloroso passando por seus olhos.
— Era, uma vez... — ele disse, dando de ombros. — Essa era minha antiga realidade. Mas o mundo dá voltas, e aqui estou. E você, o que a trouxe até aqui?
Aaron suspirou profundamente, sentindo o peso de toda a situação pressionando seu peito.
— Meu pai... ele estava internado no hospital, mas saiu... — ela explicou, a voz carregada de desespero e cansaço. — Ninguém sabe para onde ele foi. Eu estou tentando encontrá-lo, mas está cada vez mais difícil...
Kreese a olhou com uma expressão que parecia uma mistura de compreensão e pena, algo que ele raramente mostrava.
— Seu pai sempre foi um aluno difícil de lidar... — ele começou, jogando um verde, observando a reação dela. Aaron franziu o cenho, fisgando o que ele disse, claramente intrigada.
— Difícil de lidar? — ela perguntou, buscando entender o que ele queria dizer. — O senhor foi sensei dele?
Kreese deu um meio sorriso, algo entre a amargura e o divertimento.
— Sim, Jay era meu aluno. — ele deu de ombros, tendo uma memória amarga — Mas era péssimo. Nunca sequer ganhou um regional. — ele respondeu, como se isso resumisse tudo.
Aaron sentiu uma pontada de frustração, tanto pela situação quanto pela resposta vaga de Kreese.
— Pois é... eu também não. — ela murmurou, quase para si mesma, sentindo-se insignificante de repente.
Kreese a observou por um momento, avaliando a jovem à sua frente, antes de saber exatamente o que dizer novamente. Ela era igualzinha Rayken. Até os medos transpareciam em seu rosto, nos seus enormes olhos tristes, sua fraqueza era eminente. E ele sabia controlar aquilo nela. Talvez nas duas.
— É diferente. — disse ele, seu tom agora mais sério e gentil. — Você tem talento, potencial. Jay J... ele só tinha o dinheiro.
Aaron olhou para ele, surpresa.
— Como assim, dinheiro? — ela perguntou, sua curiosidade agora totalmente despertada. — Meu pai nunca teve dinheiro... nós sempre fomos...
Kreese deu um sorriso quase paternal, como se estivesse prestes a revelar algo que ela deveria saber há muito tempo.
— Antes de se casarem, e antes do pai de Jay morrer, ele tinha dinheiro. — Kreese explicou, com um tom que sugeria que estava compartilhando uma história antiga e mal contada. — Mas ele gastou toda a grana da família em jogos e bebida, e acabou vivendo às custas de Rayken depois disso.
Aaron sentiu uma onda de choque percorrer seu corpo. Ela sempre soube que seu pai tinha problemas, mas ouvir isso, saber que ele havia caído tão fundo antes mesmo de ela nascer, a atingiu como um soco no estômago.
— Eu... — Aaron começou, mas as palavras fugiram dela. Tudo o que conseguia pensar era na imagem do pai, jovem e cheio de potencial, desperdiçando a vida em jogos e bebida.
Kreese viu o conflito interno em seu rosto e suavizou a expressão. Os dois acabaram se sentando em uma das cadeiras largas na entrada do abrigo, conversando sobre o pai de Aaron. Ele parecia saber de muita coisa, o que a fazia instintivamente não o deixar parar de falar. Ela queria saber mais, odiava ficar no escuro e o homem mais velho parecia realmente confiável.
— Desculpa, eu devia ir... — Aaron disse, ainda hesitante, mas claramente dividida entre querer partir e continuar a conversa. — Mas acontece que o senhor é a única pessoa com quem tive uma conversa boa em muito tempo...
Kreese deu um leve aceno de cabeça, seu sorriso agora cheio de uma compreensão quase paternal. Aaron sentiu aquilo.
— Não se preocupe, menina. — disse ele, a voz baixa e tranquilizadora. — Não está gastando meu tempo. É bom ter alguém para conversar.
Por um momento, eles ficaram em silêncio, apenas os sons abafados do abrigo ao redor deles. Aaron sentiu uma estranha sensação de alívio ao estar ali, com alguém que parecia entender sua dor e confusão.
Finalmente, algo que ela sempre quis perguntar, mas nunca teve coragem, escapou de seus lábios:
— Me perdoe perguntar, mas... o que o senhor viu na minha mãe?
Kreese a olhou diretamente nos olhos, sua expressão ficando séria, mas não de um jeito que a assustasse. Era como se ele estivesse ponderando a melhor maneira de responder, sabendo que suas palavras teriam um impacto profundo.
— Sua mãe... — ele começou, a voz carregada de lembranças. — Era uma menina forte, determinada. Ela tinha uma luz, uma força que atraía as pessoas para perto dela. Mas... ela também tinha suas sombras. Assim como todo mundo. Ela era uma criança quando a conheci, sabia? Era a menina mais durona que já tinha conhecido.
Aaron sentiu um nó se formar em sua garganta ao ouvir aquelas palavras. Ela sabia que sua mãe tinha ido embora, sabia que havia uma história ali que ela nunca entendera completamente. E agora, ouvir Kreese falar dela com tanta clareza e emoção, de um jeito que ninguém mais havia falado, fez algo se quebrar dentro dela.
— Ela era? — a MacGyver perguntou, intrigada e sentindo um nó se grudar em sua garganta. Ela estava tão triste, tão sozinha. Sequer sabia o básico sobre a própria mãe. Que menina não conhece a mãe?
— Ela era. — ele riu, tristemente sentindo a lembrança de quando se conheceram — Quando a conheci. Me lembro de ela dizer algo sobre chutar o meu saco. — ele disse e Aaron começou a rir, sentindo uma lágrima solitária escorrer pelo seu rosto, e ela não tentou escondê-la. — Foi exatamente o que eu vi nos seus olhos quando te conheci no dojo aquele dia.
— O que? — Aaron perguntou, balançando a cabeça confusa, sem entender aonde o mais velho queria chegar
— Vi a mesma determinação. — ele deu de ombros, e então tentou se aproximar dela, para limpar suas lágrimas. A aproximação repentina fez Aaron desviar dele, e mesmo que estivesse acreditando no que ele dizia, não sentia que era alguém confiável. Os olhos dele ainda pareciam mentir pra ela. — Me desculpa se minha abordagem no restaurante não pareceu tão sutil. Eu realmente só buscava ajudar.
— Então por que... — ela começou, a voz tremendo, antes de conseguir completar a frase. — Por que minha mãe nunca mencionou o senhor?
Kreese sorriu tristemente, um olhar distante em seus olhos.
— Acho que ela sempre foi boa em apagar o passado... — disse ele, com uma tristeza que parecia vir de uma dor profunda e antiga. — Algumas pessoas lidam com a dor dessa forma, fingindo que nunca existiu.
Aaron sentiu uma dor no peito ao ouvir aquilo. Era uma resposta que ela sempre temera, mas nunca quis aceitar. De alguma forma, saber que sua mãe havia apagado uma parte tão importante de sua vida fez tudo parecer mais pesado, mais real.
— Ela sempre me disse que o karatê arruinou ela. O senhor era o sensei. — ela disse, tento um vislumbre de sensatez. — O senhor deixou que aquilo acontecesse com ela.
Kreese, vendo a dor dela, colocou uma mão no ombro de Aaron, um gesto surpreendentemente gentil vindo dele. Então a encarou nos olhos.
— Você é forte, Aaron. Diferente de Rayken. — disse ele, a voz cheia de uma confiança que ela quase nunca ouvia de ninguém. — Mais forte do que você imagina. Você é uma vencedora. Rayken não consegui sustentar o peso de ser uma.
Aaron olhou para ele, seus olhos ainda marejados, mas algo naquelas palavras a fez sentir uma confiança que há muito tempo não sentia. Pela primeira vez em muito tempo, ela sentiu que não estava sozinha na luta contra o caos que sua vida havia se tornado. E, de alguma forma, naquele abrigo modesto, sentada ao lado de um homem com uma história tão complicada quanto a sua, Aaron encontrou um pouco de paz.
— Obrigada... — ela sussurrou, a voz embargada. — Eu... acho que precisava ouvir isso.
Kreese apenas assentiu, seu olhar fixo no dela, cheio de algo que parecia uma mistura de respeito e compaixão.
Eles ficaram ali, sentados lado a lado, o peso das palavras não ditas pairando no ar entre eles, mas também uma compreensão silenciosa de que, às vezes, as respostas que procuramos não vêm do passado, mas das conexões que fazemos no presente.
John Kreese havia conseguido o que ele mais almejava desde que voltara a All Valley. Tinha manipulado Johnny e estava de volta ao dojo e tinha conseguido enfim, uma garota MacGyver que acreditasse em todas as suas mentiras.
O escritório do Cobra Kai estava mal iluminado, com uma lâmpada piscando fracamente no canto, lançando sombras esparsas sobre as paredes descascadas e o mobiliário desgastado. O ar estava impregnado com o cheiro de suor e couro, lembranças de incontáveis lutas e treinos que haviam passado por ali. No centro do caos, Johnny Lawrence e John Kreese estavam sentados em cadeiras velhas de madeira, as costas inclinadas para trás, relaxando após um longo dia.
Johnny abriu uma garrafa de cerveja com um estalo seco, o líquido dourado derramando suavemente no copo em sua mão. Ele ofereceu uma garrafa a Kreese, que aceitou com um aceno de cabeça. Os dois beberam em silêncio por um momento, saboreando o sabor amargo da bebida e a estranha camaradagem que compartilhavam.
— Até que você não está tão enferrujado, Kreese — comentou Johnny, quebrando o silêncio, um leve sorriso puxando os cantos de seus lábios. — Quase me pegou com aquele golpe de direita na aula de hoje.
Kreese riu baixinho, um som que era mais um grunhido do que uma risada real.
— Quase, mas você ainda precisa trabalhar no seu footwork, Lawrence — retrucou Kreese, inclinando-se para a frente para pegar seu copo. — A aula foi produtiva, eu admito. A molecada aprendeu a lição.
Johnny tomou um longo gole de sua cerveja, apreciando a sensação do líquido gelado descendo por sua garganta. Ele assentiu, concordando com Kreese.
— Foi uma boa aula — disse Johnny, seu tom casual, mas satisfeito. — Eles pegaram o que a gente estava tentando ensinar. De vez em quando, eles até que aprendem rápido.
Kreese balançou a cabeça, mas seus olhos ficaram sérios, uma sombra passando por seu rosto.
— Não foi ruim... mas faltou algo. Ou melhor, alguém — Kreese murmurou, sua voz ganhando um tom mais sombrio. — Os alunos mais importantes. Seu filho, Johnny. Ele não deveria estar lá no Miyagi-Do.
Johnny imediatamente revirou os olhos, um suspiro de frustração escapando de seus lábios. Ele estava cansado dessa conversa, cansado de ser lembrado do que já sabia ser um fracasso pessoal.
— O Robby não quer saber de mim, Kreese. — Johnny respondeu com irritação na voz, balançando a cabeça em descrença. — Eu já tentei, porra. Várias vezes. Ele me deixou de lado. Não tem nada mais que eu possa fazer.
Kreese o observou com um olhar penetrante, sua expressão não mostrando sinais de desistência.
— Tentou mesmo, Johnny? — perguntou Kreese, com uma frieza calculada. — Ou você só acha que tentou? Porque, do que eu vejo, suas lições parecem ser só na teoria. Você as pratica? Você realmente leva isso a sério?
Johnny encarou Kreese, seu queixo travado, tentando não deixar a provocação chegar até ele. Mas as palavras de Kreese, como sempre, encontraram o caminho para debaixo de sua pele, cutucando velhas feridas e inseguranças.
Kreese deu um passo à frente, diminuindo a distância entre eles.
— Se você quer algo, Lawrence, você aposta tudo. Não existe meio-termo. Se você quer reconquistar seu filho, você luta com tudo o que tem. Você não para até ele estar do seu lado, até ele saber que você não vai a lugar nenhum. — Kreese disse com intensidade, sua voz baixa, mas carregada de convicção. Ele então deu um último gole em sua cerveja, colocando a garrafa vazia na mesa com um estrondo.
Johnny franziu o cenho, a confusão começando a se instalar em sua mente.
— E você já está com meio caminho andado — Kreese acrescentou, seu tom cheio de certeza.
— Meio caminho andado? — Johnny perguntou, ainda tentando entender onde Kreese queria chegar. — Como assim?
Kreese deu um sorriso enigmático.
— Logo, logo, a MacGyver vai vencer um torneio pra gente — ele disse, os olhos brilhando com uma mistura de orgulho e manipulação. — Já consegui fisgá-la.
Johnny ficou ainda mais confuso.
— A Aaron? Aquela garota é difícil de lidar — Johnny respondeu, o ceticismo claro em sua voz.
Kreese assentiu lentamente, seu sorriso se ampliando.
— Eu sei. Já lidei com uma dessas antes — disse Kreese, com uma ponta de nostalgia em seu tom, fazendo Johnny lembrar dos tempos em que Kreese lidava com alunos tão complexos quanto Aaron.
Johnny não respondeu imediatamente, as palavras de Kreese ecoando em sua mente. Ele sabia que havia verdade no que Kreese dizia, mas ao mesmo tempo, ele estava exausto, emocionalmente desgastado por todas as tentativas falhas de se aproximar de Robby. Era um sentimento de derrota que ele não conseguia sacudir, por mais que tentasse.
Kreese, percebendo o conflito interno de Johnny, colocou uma mão pesada em seu ombro, um gesto raro de algo que poderia ser considerado simpatia.
— Pense nisso, Johnny. Não deixe essa oportunidade escapar. — Kreese disse, sua voz agora mais suave, quase paternal. Com isso, ele deu um passo para trás, deixando Johnny sozinho com seus pensamentos tumultuados.
Johnny observou enquanto Kreese se afastava, o som de seus passos ecoando no corredor vazio do Cobra Kai. Ele pegou sua cerveja novamente, levando-a aos lábios, mas o gosto parecia diferente agora, amargo de uma maneira que ele não conseguia definir.
Enquanto a noite se aprofundava lá fora, Johnny ficou sentado em silêncio, as palavras de Kreese pesando em sua mente como uma ancoragem, puxando-o para um lugar de introspecção que ele raramente visitava. Ele sabia que precisava tomar uma decisão, mas a incerteza e o medo de falhar novamente o paralisavam.
Finalmente, Johnny fechou os olhos e deixou escapar um longo suspiro. Ele sabia que, cedo ou tarde, teria que enfrentar a verdade sobre seu relacionamento com Robby. Mas por enquanto, tudo o que ele podia fazer era terminar sua cerveja e esperar que, de alguma forma, ele encontrasse a coragem de fazer o que era necessário.
A lanchonete estava cheia, como sempre, após os treinos do Cobra Kai. As mesas estavam ocupadas por alunos do dojo, conversando e rindo. No centro de uma dessas mesas, Moon mexia no telefone, seus dedos rápidos deslizando pela tela. Ela levantou o celular, mostrando algo para as outras meninas.
— Nossa! Eu tenho um biquíni igualzinho a esse da Yasmine. — Moon disse, sorrindo e mostrando a foto para as meninas ao seu redor.
O grupo estava diferente agora. Além de Moon e Aisha, Tory e Aaron também estavam lá, tornando-se parte da nova dinâmica. Aaron estava ainda um pouco desconfortável, mas Tory, sempre protetora, estava ao seu lado, tentando incluí-la.
Aisha revirou os olhos ao ver a foto no celular de Moon, sua voz carregada de amargura.
— Ótimo, diga pra ela passar mais tempo na Europa. Ninguém sente falta dela. — Aisha disse, com um pouco de ressentimento.
Aaron sorriu tristemente para Aisha, compreendendo a mágoa na voz da amiga. Antes que pudesse responder, Tory interveio, tentando mudar o tom da conversa.
— Ei, esquece isso — Tory disse, olhando diretamente para Aaron. — Ele é um cuzão, não é? — Tory perguntou, retoricamente, se referindo claramente ao pai de Aaron, que havia desaparecido novamente. — Então deixa pra lá, uma hora ele vai aparecer.
Aaron soltou um suspiro, tentando se tranquilizar. Sabia que Tory estava tentando ajudar, mas a ansiedade ainda a consumia.
— É, ele já fez isso antes, não fez, Aay? — Aisha perguntou, colocando o braço ao redor da amiga.
— Já fez. — Aaron respondeu, tentando se convencer.
— Então tudo certo, MacGyver. — Tory disse, dando-lhe um sorriso encorajador. — Vamos aproveitar.
Tory deslizou o prato de batatas fritas na direção de Aaron, tentando animá-la. Aaron pegou uma batata, agradecida pelo gesto, embora a preocupação ainda pesasse em seus olhos.
Enquanto isso, na mesa ao lado, Miguel estava sentado sozinho, focado em seu laptop. Tory, sempre atenta, jogou um cubo de gelo nele, tentando chamar sua atenção.
— Ei, tudo bem? — ela perguntou, sorrindo para ele.
— Tudo. — Miguel respondeu sem desviar o olhar do computador.
— O que tá fazendo? — ela perguntou, curiosa.
— Estou apostando tudo o que eu tenho. — Miguel disse, concentrado na montagem que fazia no laptop.
Enquanto isso, Falcão, com seu novo moicano vermelho, caminhava pelo restaurante com uma postura rígida e confiante. Aaron, ao vê-lo, sentiu um aperto no peito. A mudança nele era evidente, tanto na aparência quanto na atitude. Com um olhar preocupado de Tory, Aaron se levantou e caminhou até Falcão, que estava indo em direção a saída do banheiro.
— Oi... — ela disse, tentando parecer confiante, mas hesitante em usar o nome "Eli". — Gostei da cor do moicano. Vermelho é bem legal.
Falcão a olhou de cima a baixo, seu olhar carregado de desprezo.
— Não pense que só porque o Miguel está de boa com você, que eu também estou. — Ele disse friamente, analisando cada detalhe dela.
Aaron sentiu um nó se formar em sua garganta. Ela realmente não entendia o que tinha feito para despertar tanto ódio nele. Talvez fosse por ter ficado do lado de Robby, mas não via como isso justificava a reação de Eli.
— O que eu fiz, Falcão? — ela perguntou honesta, sem saber como reagir a maneira que ele vinha tratando ela — De verdade, o que eu fiz pra você me odiar?
— Você realmente não sabe? — Falcão perguntou, a raiva crescendo em sua voz. — Você foi covarde. Não é a Aaron durona que eu conheci. Você traiu a gente. Usou nosso kimono e se aproveitou do privilégio de ser Cobra Kai só para rastejar de volta para aquele perdedor no segundo em que tudo deu errado.
— E o que queria que eu fizesse? Você trapaceou, Eli. Você jogou sujo, machucou ele! — Ela respondeu, o nome escapando de seus lábios antes que pudesse se controlar.
— Eu fiz o que devia ser feito! — Ele disse, em um grito meio sussurro orgulhoso. — É Falcão agora, Aaron. Acostume-se com isso.
Aaron sentiu uma onda de frustração e tristeza. Queria seu amigo de volta, mas parecia que Falcão tinha mudado demais.
— Me desculpa. — Ela disse, levantando levemente as mãos em rendição. — Sinto sua falta, Falcão.
Falcão desviou o olhar, se recusando a ceder.
— Nem tudo se resolve com um sorriso e um pedido de desculpas. — Ele disse, dando de ombros. — Agora eu tenho uma namorada, Aaron. Só me deixe em paz, não preciso mais de você.
Ele se afastou, deixando Aaron para trás, confusa e machucada. O peso das palavras dele a atingiu com força. Talvez ele estivesse certo; nem tudo podia ser resolvido com desculpas e sorrisos. O mundo era mais complicado, e Aaron estava começando a perceber isso da pior maneira.
Aaron estava tentando se concentrar na conversa que tinha acabado de ter com Falcão, mas algo a incomodava. Ela notou que, mesmo sentado na mesa atrás delas, Falcão parecia inquieto, seu comportamento brusco não se restringia a ela. Ele estava sendo rude até mesmo com sua própria namorada, falando de maneira áspera e impaciente. Aaron franziu o cenho, observando o desconforto da garota, mas ela mesma não parecia querer contrariá-lo.
Quando Falcão se levantou de repente, deixando sua namorada e seus amigos para trás, Aaron decidiu segui-lo. Ela olhou para Tory, que ainda estava concentrada na sobremesa que dividiam, mas não disse nada. Simplesmente se levantou e saiu do restaurante.
Aaron manteve uma distância segura, espreitando Falcão enquanto ele caminhava rapidamente pelo shopping, claramente irritado. Ela podia ver que alguns de seus amigos do Cobra Kai o seguiam de perto, rindo e fazendo piadas, como se estivessem prontos para causar algum tipo de confusão. Aaron sentiu um aperto no peito; aquilo não parecia certo.
Falcão acelerou o passo, quase correndo pelos corredores do shopping, até que finalmente entrou em uma loja de quadrinhos. Aaron, com cuidado para não ser vista, entrou atrás dele, se escondendo entre as estantes.
Foi então que ela ouviu a voz de Demetri, tremendo levemente, mas ainda assim decidida:
— Eu entrei para o Miyagi-Do. Não tenho medo de vocês.
Aaron viu o rosto de Eli se contorcer de raiva. Ele avançou para cima de Demetri, que estava cercado por outros garotos, claramente em desvantagem. Antes que pudesse reagir, Falcão o empurrou violentamente, jogando-o no chão com força. A queda de Demetri derrubou uma pilha de revistas de quadrinhos, que se espalharam por todo o chão da loja.
Aaron bufou alto, a raiva borbulhando dentro dela. Ela sabia que teria que intervir, mesmo que não quisesse. Não podia simplesmente deixar aquilo acontecer.
Sem pensar duas vezes, ela se lançou à frente, posicionando-se entre Demetri e Falcão. O rosto de Eli estava vermelho de raiva, mas ele parou ao vê-la se colocando no caminho.
— O que você pensa que está fazendo, Aaron? — Falcão rosnou, seus olhos faiscando de raiva e confusão.
Aaron olhou para ele com firmeza, ignorando o nó em sua garganta.
— O que você está fazendo, Falcão? Ele não fez nada para você. Não é assim que as coisas se resolvem.
Falcão bufou, irritado, mas algo na voz de Aaron fez com que ele hesitasse, ainda que por um instante. Ele olhou para Demetri, que estava no chão, os olhos arregalados de medo, mas também de determinação. A presença de Aaron ali, desafiando-o, o deixou ainda mais furioso, mas, ao mesmo tempo, a lembrança de quem eles eram antes o puxou para trás.
— Isso não é da sua conta, Aaron. — Falcão disse, mas seu tom era menos ameaçador agora, mais confuso do que qualquer outra coisa.
Aaron se agachou, ajudando Demetri a se levantar, mantendo os olhos em Eli.
— Não é assim que amigos se tratam. Você não é esse cara, Eli. Não precisa ser.
Houve um momento de silêncio, pesado e tenso, enquanto Falcão olhava para ela, seus olhos lutando entre a raiva e algo mais profundo, talvez arrependimento. Seus amigos atrás dele riram, impacientes, mas Eli não pareceu ouvi-los. Ele estava preso naquele momento, lutando contra a imagem do que estava se tornando. Mas Eli não dava a mínima. Porque ele não era mais o Eli, ele era o Falcão e não teria medo de entrar em uma briga.
A loja de quadrinhos estava uma bagunça. Demetri estava no chão, cercado por garotos maiores e mais agressivos, enquanto Aaron se mantinha firme, tentando afastar Falcão. Mas, ao ver que a situação só piorava, ela sabia que a única saída para Demetri era correr.
— Corre, Demetri! — Aaron gritou, empurrando o garoto na direção da saída.
Demetri hesitou por um segundo, mas logo se levantou e começou a correr pelo shopping, com o coração batendo forte no peito. Aaron se preparou para enfrentar Falcão e seus amigos, sabendo que não tinha muito tempo antes que eles fossem atrás de Demetri.
Falcão avançou sobre ela, seus olhos cheios de raiva. Aaron o recebeu com um golpe rápido no peito, que o fez recuar por um momento. Ela podia sentir a adrenalina correndo por suas veias enquanto lutava, bloqueando e desviando dos ataques de Falcão. Era sua primeira luta corpo a corpo real com ele, e Aaron estava determinada a não perder.
Mas a luta não era justa. Um dos grandalhões que acompanhava Falcão se lançou contra ela, derrubando-a no chão com um golpe brutal. Aaron caiu de costas, sentindo a dor irradiar por todo o corpo enquanto os outros garotos corriam atrás de Demetri, deixando-a para trás.
Ela se levantou com dificuldade, ofegante, e correu em direção à praça de alimentação. Quando chegou lá, avistou Demetri cercado por Falcão e os outros. O desespero tomou conta dela, mas a raiva logo assumiu o controle.
— Demetri! — Aaron gritou, sua voz ecoando pela praça de alimentação enquanto corria para se interpor entre ele e os agressores. Sem hesitar, ela se colocou à frente de Demetri, com os punhos erguidos, determinada a protegê-lo, mesmo que estivesse sozinha.
Falcão a encarou com um sorriso cruel, os outros ao seu lado prontos para atacar.
— Acha mesmo que dois do Miyagi-Do vão nos parar? — Falcão zombou, dando um passo à frente. — Ou melhor, um e meio?
Aaron sentiu um empurrão e quase perdeu o equilíbrio, mas antes que pudesse reagir, Robby e Samantha apareceram ao seu lado. Robby, com os olhos fixos em Falcão, avançou com Samantha ao seu lado.
— Somos quatro, seu idiota! — Robby rosnou, a raiva pulsando em sua voz.
A luta começou no mesmo instante, os golpes e gritos ecoando pela praça de alimentação. Samantha se concentrou em lutar contra o garoto que segurava Demetri, usando sua agilidade para desviar dos golpes e contra-atacar com precisão. Demetri, ainda em choque, fez o possível para se manter atrás dela, seguindo suas instruções.
Aaron e Robby, por instinto, começaram a lutar em círculos, movendo-se com fluidez e precisão, como haviam treinado tantas vezes no Miyagi-Do. Aaron se pegou desviando e combatendo seus oponentes um por um, seus movimentos quase automáticos. Era como se o treinamento ao redor do lago estivesse gravado em seus músculos.
A nostalgia a atingiu por um breve momento, mas foi rapidamente substituída pela adrenalina da luta quando ela deu um chute forte no estômago de Falcão, empurrando-o para longe. Seus olhos se encontraram com os de Robby por um segundo, um entendimento silencioso entre eles. Ambos estavam lutando como uma equipe, como haviam feito antes.
Aaron viu um dos garotos empurrar Robby contra uma mesa com força, e sem pensar duas vezes, ela puxou o cara para longe, desferindo um chute alto em seu rosto que o derrubou no chão. Robby, ainda ofegante, conseguiu se levantar a tempo de ver Falcão tentando se aproximar pelas costas. Com um movimento rápido, Robby deu um chute giratório no rosto de Falcão, jogando-o no chão com um impacto forte.
A luta terminou ali, com os agressores no chão ou recuando, feridos e humilhados. Aaron, Robby, Samantha e Demetri ficaram em pé, ofegantes, mas vitoriosos.
Aaron olhou para Falcão, que ainda estava caído no chão, sua raiva e frustração visíveis em seu rosto. Ela queria dizer algo, qualquer coisa, mas as palavras pareciam fugir dela. Em vez disso, ela apenas respirou fundo, tentando controlar a adrenalina que ainda corria em suas veias.
Aaron puxou Demetri do chão, um sorriso simples tentando mascarar o alívio e a preocupação.
— Você tá bem, Demetri? — ela perguntou, a voz tentando soar mais tranquila do que ela realmente se sentia.
— Tô, tô bem... — Demetri respondeu nervoso, seus olhos logo se fixando na bochecha dela, onde um hematoma roxo começava a se formar. — Aaron, seu rosto...
Ele quase tocou a marca roxa, preocupado, mas Aaron segurou sua mão antes que ele pudesse.
— Ei, tudo bem. — ela disse, puxando-o para um abraço rápido, um gesto que misturava conforto e força. Samantha e Robby se aproximaram, observando de perto. Quando Aaron se afastou de Demetri, seus olhos desviaram rapidamente para Robby, o loiro que atormentava seus pensamentos. Mas ela rapidamente voltou a atenção para Demetri.
— Ontem foi essa mão sangrando, — ela disse, mostrando a palma machucada pela briga na praia. — Hoje, o rosto. Não sinto mais tanta dor, a adrenalina cobre tudo isso. — Ela tentou sorrir, tentando tranquilizar Demetri, embora seus pensamentos estivessem divididos entre a batalha recente e os sentimentos que escondia.
Robby observava em silêncio, lutando contra a vontade de dizer algo, qualquer coisa, que expressasse o turbilhão de emoções que sentia. Ele queria gritar com Aaron por se colocar em perigo, queria oferecer ajuda, queria tocar o hematoma em seu rosto e, ao mesmo tempo, socar Falcão por tê-la machucado. Mas, ao invés de tudo isso, o que saiu de sua boca foi apenas uma palavra.
— Aaron... — ele chamou, sua voz carregada de algo que ele não conseguia nomear, uma mistura de preocupação e algo mais profundo.
Aaron virou o rosto para ele, os olhos encontrando os de Robby pela primeira vez desde que tudo começou. Sua expressão era indiferente, mas havia algo nos olhos dela que ela não deixaria transparecer. Ela não deixaria que ele soubesse o quanto ela se importava.
— Esqueça, Keene. — ela respondeu, firme, tentando encerrar qualquer interação ali mesmo. A última coisa que queria era demonstrar fraqueza, especialmente para Robby.
Ela se virou para Demetri novamente, tentando mudar o foco da conversa.
— Quer que eu te leve em casa, Demetri? Tem certeza que está bem? — ela perguntou, querendo se certificar de que ele não precisava de mais ajuda.
— Tá tudo bem, Aaron. — Demetri respondeu, lançando um olhar a Robby e Samantha que estavam ao seu lado. — Eu tô com eles. A gente vai ficar bem. Não precisa se preocupar.
Aaron assentiu, embora sua mente estivesse a mil, processando tudo o que tinha acontecido. Ela deu um meio sorriso, tentando parecer despreocupada, antes de se despedir.
— Tudo bem, então. — ela disse, dando meia-volta para sair, com o único objetivo de encontrar Tory novamente.
Enquanto ela se afastava, Robby observava, sentindo um vazio se formar no peito. Ele queria chamá-la, queria dizer mais, mas as palavras falharam, e antes que ele pudesse pronunciar seu nome de novo, Aaron já estava longe, desaparecendo na multidão do shopping que filmava a cena toda.
Aaron mal tinha se afastado quando Summer Mills apareceu correndo pela praça de alimentação, empurrando as pessoas que ainda estavam filmando a confusão com seus celulares. Os olhos dela estavam arregalados de preocupação ao avistar Falcão, que ainda tentava se levantar, com o rosto marcado pelo golpe de Aaron.
Ela se aproximou rapidamente, estendendo a mão para ajudá-lo, mas Falcão, ainda dominado pela frustração e o orgulho ferido, recuou de forma brusca, quase se desvencilhando do toque dela.
— Me deixa, Summer! Eu tô bem. — ele soltou, a voz carregada de irritação, embora a dor física e emocional estivesse estampada em seu olhar.
Summer hesitou por um momento, claramente machucada pelo tom dele, mas não deixou que isso a impedisse. Com um suspiro, ela ignorou a reação dele e insistiu, segurando seu braço com firmeza, mas sem agressividade.
— Vamos sair daqui, tá? — ela disse, a voz suave mas firme, guiando-o para longe da multidão curiosa.
Falcão, embora relutante, permitiu que ela o conduzisse para uma área mais afastada, longe dos olhares intrusivos. Quando chegaram a um canto mais tranquilo do shopping, ele finalmente parou de resistir, tentando ser menos ríspido.
Mas, por mais que tentasse ser frio, algo o incomodava profundamente. Aaron. O pensamento dela o atormentava. Ele sentia falta da maneira como Aaron lidava com ele, sem as gentilezas que Summer oferecia. Aaron não teria hesitado em chamá-lo de fracassado, em jogá-lo no chão e mandá-lo se levantar sozinho caso fosse rude com ela daquele jeito. Porque era verdade, ele era fraco. E agora, Aaron havia acabado de vencê-lo na frente de todos, e ele a odiava por isso, mas, ao mesmo tempo, não conseguia parar de pensar nela.
— O que aconteceu? — ela perguntou, a preocupação evidente em sua voz. — Você está bem?
Ele odiava o contraste entre a gentileza de Summer e o que sentia em relação a Aaron. Summer era sua namorada, a única que parecia realmente se importar com ele, mas, naquele momento, ele só conseguia pensar em como Aaron teria lidado com tudo isso. E isso o irritava ainda mais.
— Só... uma briga idiota. — ele respondeu, tentando afastar o desconforto crescente.
Mas as palavras saíram sem convicção, e mesmo enquanto ele tentava manter sua fachada de durão, a imagem de Aaron não saía de sua mente. Summer, por outro lado, continuava a tratá-lo com o carinho e a gentileza que ele achava que não merecia, segurando seu rosto como se ele fosse algo precioso. E isso, mais do que qualquer coisa, fazia com que ele se sentisse ainda mais perdido.
— Eu tô bem, Summer... — ele repetiu, dessa vez com um tom mais brando, tentando suavizar a grosseria anterior. — Sério, não precisa se preocupar tanto.
Summer, mesmo sentindo o impacto das palavras duras dele, simplesmente assentiu e, com um gesto delicado, tocou o hematoma no rosto de Falcão, os olhos dela refletindo pura preocupação. Sem dizer nada, ela se inclinou e beijou suavemente a pele machucada dele, como se isso pudesse de alguma forma aliviar a dor.
Falcão, por um instante, sentiu um nó na garganta. A gentileza dela o desarmava, fazendo com que sua raiva e frustração se dissipassem um pouco. Ele então inclinou-se para frente e a beijou nos lábios, tentando retribuir o carinho dela e, talvez, pedir desculpas pela forma como havia agido.
Quando o beijo terminou, ele a encarou, sentindo uma mistura de emoções que não conseguia explicar.
— Obrigado... — ele murmurou, se forçando a acreditar que estava tudo bem, quando, na verdade, a imagem de Aaron o assombrava a cada segundo.
Daniel LaRusso entrou em casa com o semblante preocupado. Ele ainda estava com o paletó do trabalho, mas sua mente estava a quilômetros de distância, revivendo as palavras de Amanda sobre a briga no shopping. Ele encontrou Robby e Samantha sentados perto da lareira, conversando animadamente sobre os movimentos que fizeram durante a luta.
— Então, foi tipo assim, eu estava cercado e... — Robby estava dizendo, fazendo gestos com as mãos, tentando recriar a cena.
Samantha riu, adicionando detalhes sobre o que havia acontecido com os outros oponentes. Mas, ao ver o pai entrar, ela parou abruptamente, endireitando-se na cadeira.
— Amanda me contou o que aconteceu — Daniel disse, sua voz carregada de preocupação. — Fiquei preocupado.
— Pai, não era uma situação normal — Samantha começou a se defender. — A gente tinha que defender o Demetri. Eles estavam sendo cruéis, e não podíamos deixar aquilo continuar.
Daniel respirou fundo, assentindo. — Eu entendo, Sam. E vocês fizeram a coisa certa ao protegerem o Demetri. Mas isso não muda o fato de que me preocupo com vocês. Especialmente você, Robby.
Robby, que até então estava quieto, olhou para baixo, incerto de como responder. Daniel percebeu o silêncio do garoto e resolveu mudar o foco.
— E a Aaron? — ele perguntou, olhando de Robby para Samantha.
Robby hesitou, claramente desconfortável com a pergunta. Finalmente, ele olhou para Daniel e respondeu: — Nós brigamos... E eu não acho que ela vai voltar pro dojo tão cedo.
Samantha, tentando aliviar a tensão, acrescentou: — Pelo menos, agora a gente tem o Demetri. Ele vai ser um ótimo reforço para o time.
Robby torceu o nariz, não conseguindo esconder sua aversão ao comentário. Daniel percebeu a tensão entre eles, mas decidiu não pressionar mais. Ele assentiu, mas ainda parecia preocupado.
— Eu acho que vou atrás dela — Daniel disse, se levantando.
Robby se levantou rapidamente e pôs a mão no ombro de Daniel, impedindo-o de ir.
— Dá um tempo pra ela. — Ele falou com firmeza. — Ela tá bem, só precisa de espaço.
Daniel suspirou, sabendo que Robby tinha razão, mas a preocupação ainda estava lá. Ele deu um leve aceno de cabeça, como se dissesse "certo", e saiu em busca de Amanda para conversarem sobre a situação.
Samantha se aproximou de Robby com um sorriso e um saco de marshmallows nas mãos.
— Que tal fazermos s'mores? — ela sugeriu, tentando aliviar o clima. Robby deu de ombros, aceitando a ideia, mesmo que seu pensamento estivesse em outro lugar.
Enquanto Samantha preparava os marshmallows, espetando-os em palitos, Robby mantinha-se quieto, concentrado em acender a lareira. Ele observou os movimentos precisos de Samantha, que estava totalmente à vontade em casa, enquanto ele se sentia como um estranho, mesmo depois de tudo.
— Você realmente coloca pasta de amendoim nos s'mores? — Robby perguntou, tentando manter a conversa leve.
— Ei, é minha arma secreta! — Samantha respondeu, rindo.
Ele forçou um sorriso, mas por dentro, sua mente estava em conflito. Enquanto Robby segurava o palito com o marshmallow sobre o fogo, ele se lembrou de Aaron na praia, jogando na cara dele o que achava ser sua verdadeira motivação para estar ali.
"Você só quer ficar morando com eles pra poder pegar a Samantha, não é?!"
A lembrança do comentário o fez sentir um aperto no peito. Ele nunca quis aquilo. A ideia de Aaron pensar nele desse jeito o incomodava profundamente. Ele só queria um lugar onde pudesse se sentir seguro, onde não fosse julgado o tempo todo.
Ele se censurou mentalmente por não ter se defendido na hora, por ter deixado que aquelas palavras ecoassem em sua mente por tanto tempo. Robby não queria que suas ações fossem interpretadas dessa forma, mas ao mesmo tempo, não podia negar que havia uma conexão entre ele e Samantha.
"Não, não é sobre isso... Eu só queria um lugar pra ficar. Um lugar onde eu me sentisse bem..." ele pensou, tentando justificar suas ações para si mesmo. Era o que ele devia ter dito, mas não disse.
De repente, o marshmallow quase pegou fogo, e ele rapidamente o afastou da chama, rindo nervosamente para disfarçar o quanto estava perdido em seus pensamentos.
— Opa, quase queimei isso — ele disse, tentando trazer leveza ao momento. Samantha riu e fez o mesmo, suas mãos se movendo para apagar o fogo no palito. No instante em que seus rostos ficaram próximos, Robby sentiu um misto de emoções.
Samantha, seguindo seu impulso, avançou para beijá-lo, mas Robby recuou, seu coração acelerado pela confusão que sentia.
— Sam... eu... sinto muito, mas... isso não pode acontecer — Robby disse, com a voz carregada de tensão.
Samantha parou, claramente frustrada, mas esperando por uma explicação. Robby olhou para ela, querendo dizer a verdade, mas as palavras ficaram presas na garganta.
— É só que... — ele começou, tropeçando nas palavras, a lembrança de Aaron ainda viva em sua mente. — Estou confuso. É a primeira vez que eu tenho um lugar legal pra ficar, e... eu não quero que seu pai se sinta mal... Eu só... preciso de um tempo.
Ele se odiou por não conseguir ser mais claro, por não poder dizer que aquela era uma questão muito mais complexa do que parecia. Ele só queria se sentir em casa, mas ao mesmo tempo, não queria que Samantha interpretasse suas intenções da maneira errada.
Samantha observou-o, sua decepção evidente, mas ela tentou esconder o quanto aquilo a magoava. Finalmente, ela assentiu, mostrando que entendia, mesmo que não fosse o que queria ouvir.
— Tudo bem, Robby — ela respondeu suavemente, tentando aceitar a decisão dele, embora o desejo de estar mais próxima dele continuasse a arder em seu peito.
— Me desculpa, — ele disse tentando sorrir pra ela mesmo que de leve — não era pra isso acontecer assim. — ele continuou, totalmente envergonhado.
Eles permaneceram em silêncio, assistindo as chamas dançarem na lareira, cada um perdido em seus próprios pensamentos e lutando com os sentimentos que não podiam expressar.
O silêncio da madrugada pairava sobre o dojo Miyagi-Do, uma calmaria que seria logo interrompida por figuras sombrias, movendo-se rapidamente pela propriedade. Falcão, com sua nova coloração de moicano vermelho, liderava o grupo de garotos do Cobra Kai. O ressentimento que ele sentia por Aaron e a derrota humilhante do dia anterior alimentavam seu desejo de vingança.
— Vamos acabar com isso aqui — ele sussurrou para os outros, um brilho de ódio em seus olhos.
Sem hesitação, começaram a atacar. Chutes e socos violentos desabaram sobre as paredes de papel de arroz, enquanto outro garoto arremessava uma cadeira contra uma das prateleiras de troféus. O barulho de vidro se quebrando ecoou pelo espaço, mas nenhum deles se importava.
Falcão se movia com determinação, destruindo tudo o que podia. Ele olhou ao redor, buscando algo que pudesse causar ainda mais dor, e seus olhos pousaram sobre uma pequena caixa de madeira, guardada cuidadosamente em um altar. Ele a abriu e viu a medalha de honra do Sr. Miyagi.
— Isso vai doer no LaRusso — Falcão murmurou, segurando a medalha entre os dedos. O metal frio em sua mão trouxe uma satisfação cruel.
Os outros garotos olhavam para ele, quase admirados pela audácia do ato. Eles sabiam o quanto aquela medalha significava para o Miyagi-Do e, ao tomá-la, estavam enviando uma mensagem clara.
— Boa, Falcão! — um dos garotos exclamou, dando-lhe um tapa nas costas.
— A luta não acabou... — Falcão respondeu, a voz carregada de uma fúria contida. — Só está começando.
Ele se lembrou das palavras do Sensei Kreese, quando o encontrara após a briga.
"Você não perdeu aquela luta, Falcão. A luta deles com o Miyagi-Do só começou. Se quer ganhar, tem que atacar primeiro."
Essas palavras ecoavam em sua mente enquanto ele colocava a medalha no bolso com um sorriso cruel nos lábios.
— Vamos sair daqui — ele disse, e o grupo seguiu-o para fora.
Enquanto se afastavam do dojo destruído, Falcão parou ao lado do carro favorito de Daniel LaRusso, o clássico 1947 Ford Super Deluxe que ele sabia que Daniel amava. Puxando uma lata de spray da mochila, ele balançou o pulso e começou a pintar com grandes letras vermelhas:
"COBRA KAI NUNCA MORRE"
O som do spray cortava o ar da noite, cada letra um símbolo de sua raiva e de sua lealdade ao Cobra Kai. Quando terminaram, Falcão deu um passo para trás, admirando sua obra. O dojo estava em ruínas, o carro pichado, e a medalha de honra do Sr. Miyagi em sua posse.
Ele sentiu uma onda de orgulho e satisfação ao olhar para o que haviam feito.
— Isso sim é como se ganha uma guerra — ele disse, virando-se para os outros com um sorriso que não deixava dúvidas de que ele estava preparado para fazer o que fosse necessário para acabar com o Miyagi-Do.
Sem mais nada a fazer ali, o grupo se dispersou na escuridão da noite, deixando o dojo Miyagi-Do em destroços e um desafio gravado em tinta vermelha.
O dojo Cobra Kai estava em plena atividade, com alunos praticando seus golpes sob a supervisão de Johnny Lawrence. O clima era tenso, como se a energia do dia anterior ainda pairasse no ar. De repente, a porta se abriu com um estrondo, e todos pararam o que estavam fazendo.
Daniel LaRusso entrou furioso, os olhos brilhando de raiva. Seu olhar atravessou o dojo, e ele encontrou Johnny do outro lado da sala.
— Lawrence! — Daniel vociferou, avançando até o centro do dojo. — Eu sei o que você fez!
Johnny, que estava no meio de instruções para um grupo de alunos, parou e se virou para encará-lo. Sua expressão endureceu ao ver a fúria nos olhos de Daniel.
— O que diabos você tá falando, LaRusso? — Johnny perguntou, irritado, mas mantendo a voz baixa.
— Você é um fraco, Lawrence. — Daniel começou, as palavras saindo de sua boca como veneno. — Pode até ser que você esteja ensinando karatê, mas sua vida pessoal é uma bagunça. Você não sabe de nada! — Ele apontou o dedo para Johnny, ignorando o olhar curioso e assustado dos alunos ao redor.
— Ei, respeita meu dojo! — Johnny disparou de volta, avançando um passo em direção a Daniel, a raiva crescendo dentro dele.
— Respeitar? — Daniel soltou uma risada amarga. — Como você respeitou o meu? Eu sei o que você mandou seus alunos fazerem, Johnny. Sei que foi você que incentivou eles a destruir o Miyagi-Do!
Johnny ficou pálido por um momento, as palavras de Daniel o atingindo como um golpe direto. Ele tentou se controlar, mas a tensão no ar era palpável.
— Eu não mandei ninguém fazer nada. — Johnny retrucou, mas o vacilo em sua voz não passou despercebido por Daniel.
Daniel o encarou, seus olhos cheios de desprezo. Ele avançou mais um passo, ficando cara a cara com Johnny, quase desafiando-o a fazer algo.
— Se vocês estão cansados dessa palhaçada, o Miyagi-Do está aberto para vocês. — Daniel disse, alto o suficiente para que todos no dojo pudessem ouvir. Sua voz soava firme, mas havia um desafio implícito naquelas palavras.
Johnny fechou as mãos em punhos, o sangue fervendo de raiva.
— Você veio aqui pra roubar meus alunos? — ele rosnou, avançando em Daniel. — Não vou deixar!
— Então vem, Johnny! — Daniel respondeu, os músculos de seu corpo preparados para o que viesse. — Você sabe que eu não ataco primeiro.
Johnny hesitou, os olhos de ambos fixos um no outro. Ele podia sentir o olhar de seus alunos sobre ele, esperando para ver o que ele faria.
Johnny deu um passo para trás, apertando os lábios.
— Não... sou melhor do que isso. — Ele disse, as palavras saindo com esforço, tentando se convencer e convencer os outros ao mesmo tempo.
Daniel inclinou a cabeça, cético, mas não menos resoluto.
— Você é? — ele desafiou, dando um passo para trás. — Vamos ver se é mesmo.
Com isso, Daniel se virou e começou a sair do dojo. Mas, para surpresa de todos, metade dos alunos do Cobra Kai, hesitando por um momento, começaram a segui-lo.
Johnny assistiu, impotente, enquanto os alunos saíam do dojo, a expressão em seu rosto se transformando de raiva para uma tristeza silenciosa. Ele sabia que a saída daqueles alunos significava algo mais profundo: que o método do punho, do ataque constante, não era o caminho certo para todos.
Quando a porta se fechou, deixando apenas uma fração da turma original no dojo, Johnny ficou parado, em silêncio, lutando com os próprios sentimentos de dúvida e de perda.
____________
10 mil palavras.
Vocês não esperavam por essa né?
Espero no mínimo uns trezentos comentários.
Eu mereço vai.
Aaron e Falcao ??????
Me digam oq acharam!
Amo vcs,
Back!
Se puderem, me ajudem a engajar no TikTok,
@backdavis.wp
Ando bem flopada sos
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