ᴛᴡᴇʟᴠᴇ - 𝘩𝘰𝘮𝘦 𝘭𝘶𝘨𝘨𝘢𝘨𝘦





Episódio doze,
𝘩𝘰𝘮𝘦 𝘭𝘶𝘨𝘨𝘢𝘨𝘦





— Você 'tá acordado? — Aaron perguntou em um sussurro, no meio da noite enquanto se remexia no colchão. Ela encarava o corpo de Robby um pouco a cima dela, se questionando se ele também não dormia

— Se eu estava, não to mais — ele disse, rindo baixo, se virando na direção dela

— Me desculpa por te acordar... — ela disse, em um semi sussuro e Robby apenas balançou a cabeça em negação, como se não fosse um problema — E me desculpa por complicar as coisas entre nós antes do torneio — Aaron disse, a voz suave misturando-se com o ambiente desordenado do apartamento de Robby. Ela estava deitada no chão da sala, cercada por papéis espalhados e caixas de delivery antigas, que formavam um cenário caótico e desleixado. O apartamento de Robby não estava muito diferente do dela, o que, de certa forma, era reconfortante. Compartilhavam o mesmo tipo de desordem.

A luz havia sido cortada no apartamento de Aaron, o que a impedia de fazer coisas simples como fritar os ovos que havia comprado no dia anterior. Isso a obrigou a migrar tudo o que tinha na geladeira para a de Robby, que também estava mais vazia do que o habitual.

Ela levantou o tronco levemente, olhando para ele. Robby estava deitado no sofá enquanto Aaron ocupava a cama dele que tiraram de seu quarto, rente ao sofá. Ele não queria deixá-la sozinha, mas desde o beijo que haviam trocado, as coisas ficaram um pouco estranhas entre eles. A ponto de não conseguirem mais dormir juntos, com medo de que o assunto surgisse.

— Pare de pensar nisso, Aay. Já passou — ele disse, tentando tranquilizá-la. Ele sabia que ela estava ansiosa e super-reagindo à situação.

Aaron hesitou por um momento, mas sentia a necessidade de abordar o que estava realmente incomodando-a. — Eu sei, mas... — ela hesitou —  nunca vamos falar sobre o que aconteceu? — ela perguntou, a voz cheia de incerteza.

Robby levantou o tronco, intrigado com a pergunta. Ele usou a mão para segurar a cabeça enquanto encarava Aaron, que agora estava sentada abaixo dele. — Do que ta falando?  — ele perguntou, a voz curiosa e ligeiramente tensa.

— Nós somos amigos, e eu te considero a minha pessoa favorita. Quando digo isso, não quero soar estúpida, mas você é a única coisa que eu realmente tenho. Não quero que isso acabe — ela disse, sua voz carregada de sinceridade e vulnerabilidade.

Robby se abaixou instantaneamente, segurando o rosto dela entre seus dedos. — Ei, não vai acabar, Aay — ele disse com convicção, seus olhos esquadrinhando o rosto dela. — Você também é a minha pessoa favorita.

Aaron sentiu um alívio momentâneo, mas sabia que ainda precisava esclarecer mais coisas. — É que depois que a gente se beijou, tudo ficou meio estranho. Não quero ser estranha com você.

Robby suspirou, compreendendo a profundidade dos sentimentos dela. — Eu sei... Eu só não disse mais nada sobre aquilo porque pensei que você não se importasse tanto.

— O quê? — Aaron perguntou, surpresa.

— Meninas têm o costume de falar que essas coisas acontecem. Você mesma me dizia isso quando acontecia com você, então o assunto morreu. Pensei que você não quisesse.

Aaron ficou em silêncio, assimilando as palavras dele. — Ah... Eu...

— Então eu não quis que a nossa amizade acabasse com uma conversa sobre o que nós temos. Pensei que era isso que você quisesse. Não complicar as coisas.

Aaron hesitou antes de responder, sentindo um misto de tristeza e compreensão. — É... talvez você tenha razão — ela disse, embora soubesse que estava mentindo para si mesma. Pensava nos prós e contras de levar o relacionamento deles de amizade para outro nível, arrependendo-se amargamente de concordar com ele. — Não devíamos complicar o que a gente tem. — Mas Robby parecia convencido de suas próprias palavras, e a mente ansiosa de Aaron assimilou que ele estava projetando nela o que, na verdade, ele realmente queria.

Talvez ele estivesse pensando nisso mesmo. Talvez ele tenha percebido que não gostava dela daquele jeito, e ela faria de tudo para não perder ele. Se era aquilo que ele queria, ela aceitaria, mesmo que doesse.

Talvez fosse só uma fase, ela pensou. Talvez fosse só o fato de ele ser sempre tão atencioso com ela que a fez pensar que teriam algo a mais. Talvez aquela tenha sido a mesma coisa que ele sentiu quando a beijou. Algum tipo de carência.

— Então você pensa mesmo isso? — ele perguntou, soltando o rosto dela e se deitando novamente. Aaron não sabia decifrar sua feição no escuro, talvez ele tivesse franzindo o cenho, ela não saberia. Ele parecia pensativo. — Acha que devíamos continuar do jeito que estamos? Só amigos?

— Bom... — ela disse, hesitante. Foram segundos incansáveis sem saber o que dizer — Sinto que somos bons sendo amigos...

— Entendi. — ele disse, em um suspiro

O silêncio entre eles era pesado, carregado de emoções não ditas e sentimentos reprimidos. Aaron deitou-se novamente, sentindo o peso da situação. Robby permaneceu onde estava, segurando a mão dela, como se quisesse assegurar que, independentemente do que acontecesse, ele sempre estaria lá para ela.

A amizade deles era importante demais para ser arruinada por um único beijo. Mas, ao mesmo tempo, Aaron sabia que precisava encontrar uma maneira de lidar com seus sentimentos, sem comprometer a ligação especial que compartilhavam. E assim, naquele apartamento desordenado, ambos sabiam que precisariam encontrar um equilíbrio entre o que sentiam e o que realmente queriam para o futuro.

O apartamento estava silencioso, apenas o som leve da respiração de Aaron e Robby preenchia o ambiente. No meio da noite, Robby acordou sobressaltado ao ouvir um ruído estranho vindo da porta. O coração acelerou, e ele se levantou rapidamente, seus movimentos fazendo Aaron acordar também. Ela piscou sonolenta, mas imediatamente percebeu a tensão no rosto de Robby.

Ele se abaixou, tentando ser furtivo, imaginando o pior – talvez um ladrão. Aaron, agora totalmente desperta, observou em silêncio, seus olhos arregalados de preocupação.

Robby se moveu silenciosamente pela sala, cada passo medido e cauteloso. Quando alcançou a cozinha, viu uma sombra se mover. Em um movimento rápido e preciso, ele deu um chute no intruso, jogando-o contra a estante da cozinha. O som dos objetos caindo no chão ecoou pela sala.

Aaron ficou atrás de Robby, o susto estampado em seu rosto. Ela mal teve tempo de processar o que estava acontecendo quando a luz da cozinha se acendeu.

Na entrada da cozinha, a mãe de Robby apareceu, assustada, com a mão ainda no interruptor. Ela olhou para o intruso caído no chão e depois para Robby, compreendendo a situação em um instante. O olhar dela se encheu de preocupação, enquanto Aaron e Robby trocavam olhares de alívio e choque.

A mãe de Robby se aproximou cautelosamente, a tensão no ar começando a diminuir. O intruso, agora visível, não parecia ser uma ameaça imediata, mas o susto fora o suficiente para todos ficarem alerta.

Sem uma palavra, Robby se levantou, ainda ofegante, e puxou Aaron para mais perto, assegurando-se de que ela estava bem. A mãe dele se ajoelhou ao lado do intruso, pronta para acolhe-lo melhor, enquanto Robby mantinha uma postura protetora ao lado de Aaron.

— Ai meu Deus, Rick. Você está bem? — perguntou Shannon, ajudando o homem a se levantar. — Robby! O que deu em você?

— O que deu em mim? — Robby respondeu, girando a cintura de Aaron para que ficasse atrás dele. — Você sumiu há semanas. Pensei que fosse um ladrão.

— Tá bem! Tudo bem. — Shannon tentou assumir uma postura madura, deslizando a mão pela bancada e pegando dois frascos de remédios controlados. — Me desculpe. Eu não queria atrapalhar. Eu só vim pegar umas coisas... — ela disse, apontando para Aaron, que vestia um pijama de mangas compridas, que claramente não insinuava nada. — O Rick vai me levar para Cabo.

— Pra perto de Cabo. — o homem, grande e rude, interrompeu, corrigindo-a, o que fez Aaron franzir o rosto em uma careta de nojo.

— Certo. — Shannon sorriu, como se se contentasse com aquilo.

— Espera, você vai pro México? — Robby perguntou, indignado e agressivo.

— Com esse cara? — Aaron soltou espontaneamente, completamente inconformada, até se lembrar que não deveria se meter e se calar. O homem lançou um olhar frio para ela, achando um absurdo ser julgado.

— Por quanto tempo, mãe? Você não pode. Temos que pagar o aluguel, eu não tenho...

— Não se preocupa! — Shannon disse, de maneira mole, querendo se livrar logo do filho. — O Rick vai pagar esse mês, né? — perguntou, esperando que o cara comprasse sua mentira.

— Deixa comigo, amigo. — o homem deu de ombros, fazendo um joinha para Robby.

— Eu preciso disso. — ela disse, remexendo pelas gavetas da cozinha como se tivesse direito daquilo, pegando algo que Aaron não conseguiu identificar. — Pensa pelo lado positivo, a casa é toda sua. — Shannon sorriu, andando na direção dos dois. — Não faz muita festa. — apontou para os dois, fingindo dançar. — Qualquer coisa, fica na Aaron. — disse, dando de ombros, como se fosse um problema fácil de resolver.

— Não, mãe! Não dá pra ficar na Aaron. O pai dela tá internado, a gente não tem dinheiro nem pra luz. Você não entende que...

— Filho! — ela interrompeu, segurando as bochechas dele. — Eu volto em uns dias. Vai ficar tudo bem.

— Uma semana no máximo. — o homem corrigiu de novo, e ela apontou para ele, concordando.

— Eu te amo, ok? — Shannon disse, dando um beijo no topo da cabeça dele. — Eu te ligo amanhã.

— Ei! — Robby chamou o homem antes de ele passar pela porta. — Se você magoar ela, não vai ser só um chute da próxima vez.

Com isso, Shannon e Rick saíram do apartamento, deixando Robby e Aaron em um silêncio constrangedor. Ambos se olharam, compartilhando a mesma expressão de incredulidade e preocupação. O desconforto era palpável; Aaron mordia o lábio, enquanto Robby esfregava a nuca, sem saber o que dizer.




Na manhã clara e tranquila, Aaron e Robby estavam do lado de fora do dojo do Miyagi-Do, treinando juntos no jardim espaçoso. O som rítmico de seus movimentos ecoava no ar enquanto eles ensaiavam o kata com precisão e harmonia. Os dois estavam completamente concentrados, seus corpos se movendo em perfeita sincronia, cada gesto refletindo um entendimento mútuo e uma conexão profunda. Como se os dois estivessem tentando se esquecer do que tinha acontecido pela manhã.

Os dois moviam-se em perfeita sincronia, seus movimentos fluindo de maneira harmoniosa e controlada. A respiração deles estava sincronizada com os movimentos, um testemunho de horas de prática e disciplina. Cada golpe e bloqueio eram executados com precisão, os olhos focados e determinados. A luta deles não tinha o intuito de valer mas sim de treinar o que eles já sabiam, pra poder recriarem aquilo com precisão na hora certa.

A porta do dojo se abriu abruptamente, quebrando a concentração dos dois. Samantha saiu de lá de dentro, falando no celular. A conversa dela imediatamente quebrou a concentração de Aaron e Robby, que pararam a luta e a cumprimentaram com um aceno de cabeça, seus olhares curiosos e atentos.

— Eu sei, Miguel, por favor, só pede pra Aisha me ligar quando puder. — Samantha disse, a voz carregada de uma mistura de frustração e preocupação. Sua presença parecia destoar do ambiente calmo e focado do dojo.

Aaron e Robby trocaram olhares, claramente julgando a situação, mas não disseram nada. O silêncio deles era mais eloquente do que qualquer palavra. Samantha percebeu a tensão e tentou se explicar, sua expressão se suavizando em um misto de culpa e justificativa.

— Eu achei que fosse a Aisha quando atendi... — ela disse, a voz hesitante, tentando amenizar a situação.

Aaron, com um sorriso amarelado, respondeu de maneira amistosa, embora a tensão ainda fosse palpável: — Você conversa com quem você quiser.

Eles voltaram a se preparar para o treino, ajustando seus kimonos e se alongando, esperando a chegada do Sr. LaRusso. A atmosfera estava carregada de uma expectativa silenciosa. Samantha, tentando aliviar a tensão, olhou para os dois, buscando uma maneira de se integrar à dinâmica deles.

— Desculpa por atrapalhar, vocês pareciam concentrados — Samantha disse, ao se aproximar de Aaron, tentando puxar um assunto.

— Não tem problema, era só um treino. — a loira deu de ombros, sem se importar e encara-la nos olhos.

— Vocês são bons juntos. Vocês lutam há muito tempo e eu não sabia? — ela perguntou, a curiosidade genuína em sua voz.

Aaron balançou a cabeça, ajeitando seu cabelo atrás da orelha. — Não, só uns meses antes do torneio. — A resposta simples de Aaron pairou no ar enquanto Samantha observava os dois, ainda se sentindo um pouco deslocada.

A simplicidade da resposta de Aaron deixou claro que a conexão deles era relativamente nova, mas forte. O dojo do Miyagi-Do era um lugar de harmonia e disciplina, e Samantha sabia que precisaria encontrar seu lugar nessa nova dinâmica.

Daniel chegou ao dojo com um sorriso, observando os três reunidos na parte de fora, a área principal que ele e Robby tinham reformado com tanto cuidado.

— Oi, gente! Todos presentes no primeiro dia, que ótimo. — Daniel disse, animado. Aaron tirava as bandagens de seus punhos, seu olhar focado em Robby, que havia gastado os últimos vinte minutos socando o saco de pancadas, claramente frustrado por causa da situação com sua mãe.

— Qual nossa primeira lição? — Samantha perguntou animada. Aaron reparou no saco de areia nas mãos de Daniel enquanto ele apontava para que todos o seguissem até a frente do dojo, onde os carros antigos do Sr. Miyagi estavam estacionados.

Daniel abriu o saco com um canivete suíço, espalhando areia no chão para formar um grande círculo.

— Se vamos brincar de areia, não devíamos ir à praia? — Samantha comentou, tentando ser engraçada. Aaron segurou a respiração, lutando para não revirar os olhos. Ela sabia que estava ali por um motivo e precisava aprender a conviver com sua nova antipatia por Samantha. Ela ficou ainda mais incomodada quando viu Robby rir do comentário dela.

— Não, hoje não. — Daniel respondeu, dando de ombros e guardando o canivete. — Faz um tempo que esse dojo não tem alunos. E com mais pessoas, a defesa dobra, né?

Todos deram de ombros, concordando.

— Mas você já nos ensinou o equilíbrio, estamos treinando o kata há semanas. — Aaron comentou, apontando para si e para Robby, que apenas concordou com a cabeça.

— Bom, um dos pilares do Miyagi-Do é sempre nos mover em círculos. — Daniel disse, girando as mãos para mostrar como exemplo. — E com a técnica da roda, vão perceber que duas pessoas podem ser tão fortes quanto vinte.

— Duas pessoas? — Samantha perguntou erguendo uma sobrancelha. — O que vamos fazer, dividir o Robby em dois? — ela disse, tentando parecer engraçada, mas Aaron não riu, sequer olhou para ela.

— Bom, estava pensando em você e Robby começarem com essa técnica hoje. — Daniel disse, apontando para Samantha, que acenou com a cabeça. — Seria bom para vocês se conhecerem.

— Mas eu treino com o Robby. — Aaron disse, tentando não soar tão surpresa e chateada com o fato de ser excluída do melhor exercício quando finalmente tinha tido um dia de folga da lanchonete. — Nós fomos para a árvore, por que você...

— Preciso da sua ajuda para outra coisa hoje, Aaron. — Daniel disse como se aquela fosse sua melhor decisão. Aaron se sentiu um pouco envergonhada, como se não tivesse tido o intuito de reclamar ou ir contra as regras dele como sensei, mas aquilo simplesmente parecia sacanagem com ela.

Talvez fosse o fato de que ela estava passando por uma fase de merda em que tudo vinha dando errado, mas mesmo assim, não conseguiu conter seus nervos ao ter seus planos esmagados assim de uma hora para outra. Às vezes, era difícil ser gentil o tempo todo.

— Tudo bem... — ela disse, soando claramente envergonhada.

Robby e Samantha entraram no círculo que Daniel pintou no chão com areia, enquanto ele começava a explicar cada movimento. Diferente do que havia ensinado para Aaron e Robby, aqueles movimentos eram sincronizados. Os mesmos movimentos. Enquanto o corpo de Samantha se movia para a direita, o de Robby era obrigado a fazer o mesmo, para a esquerda. Enquanto ele ensinava, Aaron ficava atrás dele, apenas observando os dois se divertirem ao aprender o que ela deveria estar fazendo. Ou talvez aquilo realmente não fosse para ela. Baboseira. Ela se sentia excluída, e aquilo era claro em seu olhar.

— Tudo bem, agora me mostrem a roda — Daniel pediu, encarando os dois. Eles tentaram, mas cada um em um tempo diferente, o que fez Aaron franzir o cenho de nervoso ao ver que os dois não tinham um pingo de sintonia.

— Não! Precisam estar em sincronia, senão a técnica não funciona. — Daniel disse, orientando-os.

— Técnica? — Robby reclamou. — Parece mais uma dança. — Ele estava claramente cansado de passar a última meia hora fazendo a mesma coisa.

— Falta só colocar a música. — Samantha reclamou, então Aaron segurou o riso.

— Confiem em mim, quando apresentarem isso, ninguém mais mexerá com vocês. — Daniel disse, dando de ombros, parecendo orgulhoso. — Vamos, tentem de novo. — Ele disse, então segurou de leve o antebraço de Aaron, fazendo-a subir as escadas e levando-a para dentro do dojo. — Me chamem quando conseguirem.

Os dois entraram no pequeno dojo, repleto de imagens do Sr. Miyagi, algumas medalhas e muitos escritos em outra língua.

— Não sabia que o Sr. Miyagi era um herói nacional. — Aaron comentou ao passar de leve o dedo pela medalha emoldurada na parede.

— É, o Sr. Miyagi tinha alguns truques na manga. — Daniel disse com um sorriso, enquanto via Aaron tirar seus tênis e a parte de cima do kimono. Samantha não estava usando, então ela também não queria ter que usar. Parecia bobo, mas era uma preocupação que reverberava em sua mente desde que trocara de roupa mais cedo.

— Então, por que não quer que eu faça aquele lance de dança? — Aaron perguntou, indo direto ao ponto, o que fez Daniel balançar a cabeça.

— Não disse que não quero que você faça, eu pretendo te ensinar no tempo certo. — Ele disse, e Aaron revirou os olhos, impaciente.

— Quando revira os olhos assim, fica igualzinha ao seu pai, na sua idade, sabia? — Daniel disse, tentando iniciar o assunto, então Aaron apertou os olhos em desconfiança.

— Devo parecer. — Ela disse, encolhendo os ombros. — Nunca vi muitas fotos daquela época.

— Aaron, como você está em casa? — Daniel perguntou, se aproximando ao ver ela se sentar no tatame. Então, se abaixou, sentando na frente dela.

— Sim, tudo certo. — Ela franziu o cenho com um sorriso fingido. — Por quê?

— Não sei. — Ele disse, tocando na mão dela gentilmente. — Faz tempo que não conversamos sobre nada. — Daniel deu de ombros. — Me preocupo com você. — Ele disse, sorrindo para Aaron, que como uma criança tonta, engoliu o choro em sua garganta.

— Tudo ótimo. Prometo. — Ela disse, então passou uma mecha de cabelo por trás da orelha, se levantando. — Me diz, Sr. LaRusso, o que tem para me ensinar de tão bom ao ponto de me tirar de lá? — Ela disse, tentando sorrir, mesmo que soubesse que a feição dele era mais preocupada do que convencida.

— Bom. — Ele disse, limpando a garganta e se levantando também. — Lembra de quando fez o golpe da garça no torneio?

— Lembro. — Ela disse, coçando a nuca nervosamente. — Meu pé ficou dolorido uma semana.

— Você fez errado, por isso. — Ele disse antes de tirar os próprios tênis também. — Você deu o chute de frente, seu pé quase virou quando você atingiu o garoto do Topanga no lugar errado. Então, acho que devemos treinar isso hoje. Sua concentração e seus chutes.

Daniel conduziu Aaron até um saco de pancadas antigo no fundo do dojo. O saco estava desgastado pelo uso, com várias marcas e remendos, mas ainda servia bem para o propósito de treino.

— Tudo bem, Aaron, vamos trabalhar na sua postura primeiro. — Daniel disse, posicionando-se ao lado dela. — Levante a perna assim e mantenha o equilíbrio.

Aaron seguiu as instruções, ajustando sua posição com a ajuda de Daniel. Ele corrigiu a posição dos pés e a postura das mãos, garantindo que ela estivesse estável e pronta para o chute.

— Agora, quando for chutar, lembre-se de usar o quadril e não só a perna. — Ele disse, demonstrando o movimento.

Aaron imitou o movimento de Daniel, chutando o saco com força. O impacto fez o saco balançar, e ela sorriu, satisfeita com o resultado.

— Muito bom! — Daniel elogiou, sorrindo. — Mas lembre-se de manter o corpo firme. Tente de novo.

Eles continuaram treinando, com Daniel corrigindo pequenos detalhes e Aaron se concentrando em melhorar a técnica. Mesmo que ambos estivessem focados no treinamento, suas mentes estavam ocupadas com outras preocupações.

Daniel observava Aaron, admirado com sua determinação e resiliência. Ele sabia que ela estava passando por um momento difícil em casa e queria ajudar de todas as formas possíveis. Ele pensava em como contaria a ela que tinha pago a conta do hospital do pai dela sem que ela desconfiasse de Robby. A situação era delicada, e ele não queria piorar as coisas para nenhum dos dois.

Enquanto isso, Aaron tentava se concentrar no treinamento, mas não conseguia evitar pensar em como queria estar do lado de fora, treinando com Robby. Sentia falta do companheirismo e da conexão que tinha com ele durante os treinos. Mesmo assim, apreciava o tempo com Daniel e o esforço que ele estava fazendo para ajudá-la.

Depois de vários chutes e correções, Daniel parou para tomar fôlego.

— Você está indo muito bem, Aaron. — Ele disse, sorrindo. — Apenas continue praticando, e esses chutes vão se tornar naturais para você.

Aaron sorriu de volta, sentindo-se um pouco mais confiante.

— Obrigada, Sr. LaRusso. — Ela disse, ajustando a postura para tentar mais um chute. — Acho que estou começando a entender.

Daniel assentiu, satisfeito com o progresso dela.

— Ótimo. Vamos continuar. — Ele disse, encorajando-a.


Aaron, do lado de dentro, já havia claramente cansado de focar no próprio exercício. Ela observava cada movimento que Robby e Samantha faziam, notando que Robby sempre virava o pé direito antes e que Samantha errava o braço no sentido anti-horário. Depois de caírem na água pela décima vez, Robby se irritou de vez.

— Eu desisto dessa merda. — ele disse, tentando sair do lago.

— Não, você não pode desistir agora! Estamos tendo progresso. — Daniel exclamou do lado de fora.

— Eu não vejo progresso nenhum. Na verdade, eu não vejo nada além de duas pessoas que não conseguem fazer um movimento juntas. — Robby rebateu, apontando para Samantha, que concordou com ele. — Não vai dar certo, senhor LaRusso.

— Me deixa tentar. — Aaron pediu, se aproximando do lago, tentando convencer Daniel.

— Não, vai dar certo. — ele insistiu, negando a Aaron e tentando convencer Robby.

— Mas se nem eles acreditam que vai dar certo, por que não me deixa... — ela tentou, sendo instantaneamente interrompida

— Não, Aaron. — Ele negou outra vez

— Senhor LaRusso, me deixe tentar. — ela pediu novamente, elevando levemente o tom de voz. — É sério, eu consigo. Só me diga os movimentos que eu consigo.

— Não! Você não está pronta. — ele respondeu secamente, fazendo Aaron dar um passo para trás, reclusa. — Você precisa de um tempo pra se recompor.

A tensão era palpável. Aaron olhou de Daniel para Robby, que pareciam compartilhar um segredo. Merda, era por isso que eles a estavam tratando com tanto cuidado. Daniel sentia pena dela, porque ele sabia.

— De um tempo? — ela perguntou franzindo a sobrancelha — Contou pra ele? — Aaron disse, rangendo os dentes e encarando Robby, que dava passos largos para sair do lago.

— Aaron... — Daniel disse, se arrependendo do jeito que estava levando as coisas

— Sério, Keene. Você contou... — ela disse, contendo as lágrimas e a vontade de chorar por se sentir traída.

— Aay, eu sei que eu prometi, mas eu posso explicar. — Robby disse, todo molhado, dando alguns passos na direção dela. — Ele pode ajudar você.

— Eu não preciso de ajuda. — ela disse, levantando os braços.

— Aaron, não é sobre isso. Só não quero que você se machuque estando nessa situação. — Daniel disse, tentando colocar a mão no ombro dela, mas ela se afastou, desviando do toque.

— E você por acaso faz ideia da minha situação? — ela disse, sentindo lágrimas encherem seus olhos, mas as proibindo de descer. — Eu não me mato em um emprego de meio turno, sou babá à noite, para poder chegar aqui no único lugar onde posso ter paz nesse verão, para ver você ter peninha de mim.

— Aaron! — LaRusso chamou no instante em que ela entrou no dojo, seguindo-a antes de colocar a mão na frente de Robby, impedindo-o de sair do lugar. — Continuem. — Ele ordenou, fazendo com que os dois voltassem ao lago.

Aaron, com a raiva acumulada, desabafou sem filtros:

— Eu não venho pra cá para ver você dar preferência a Samantha. Eu não venho aqui para ser tratada como alguém que precisa ser salva. — Ela explodiu, pela primeira vez na frente do homem que ela mais queria impressionar. — Eu venho pelo karatê. Venho para aprender a me defender. Se isso não é o que está sendo ensinado aqui, qual é o sentido?

Ela despejou toda a frustração e carga emocional que vinha guardando por meses.

— Pensei que você viesse aqui porque queria fazer a diferença. — LaRusso respondeu amargo, lembrando-se de como ela o convenceu a esquecer seus pressentimentos sobre ela e a começar a treiná-la. — Não é assim que o método Miyagi-Do funciona, Aaron. Se está procurando um jeito de atacar, o Cobra Kai está de portas abertas para você.

Ele a confrontou com uma dura realidade sobre como sua maneira de reagir às adversidades estava refletindo em sua abordagem ao karatê. Aaron respirou fundo, sentindo as lágrimas escorregarem pelo rosto. Ela havia atacado Yasmine, arrumado brigas na escola, e a única vez que tentou ser justa, Miguel destruiu essa tentativa com sua brutalidade. O que ela vinha ganhando sendo justa?

— É, talvez eu devesse. — Ela respondeu, com um tom igualmente amargo, dando de ombros.

— Aaron, você sabe que não quis dizer isso.

— Não, não. Foi exatamente o que você quis dizer. — Ela respondeu, pegando seu kimono sobre um dos bancos. — É fácil dizer que a filha da Rayken é uma cópia dela. É fácil afirmar que eu sou ruim quando você mesmo tem me privado do que é certo.

— Aaron, eu nunca disse isso. — LaRusso tentou se aproximar, querendo levar sua bolsa para que ela pudesse ir embora. — Eu me preocupo com você.

— Meu pai não paga a hipoteca há meses. — Ela disse, avançando na direção dele, finalmente dizendo. — Cortaram a luz da nossa casa no dia em que eu consegui dinheiro para fazer compras no mercado. Meu pai tentou me matar em janeiro, e Robby teve que chamar a polícia. Eu não faço ideia de onde a minha mãe está. Meu pai está em uma cama de hospital e eu não faço ideia de como tirá-lo de lá. — As palavras saíam entrecortadas pela emoção. — E mesmo assim, tenho tido menos autopiedade do que você. Sério, senhor LaRusso, onde estava sua preocupação quando isso tudo aconteceu? Estava mais preocupado em se lamentar pelo fato do Robby ter mentido pra você.

— Aaron... — Ele disse boquiaberto ao vê-la se afastar

— Me dê um dia, e eu te mostro como fazer essa baboseira de círculo de equilíbrio. — Ela disse, passando por ele. — Porque você sabe que sem mim esse dojo não vai pra frente. Se tem uma coisa que eu aprendi com esse torneio, é que o karatê não tem nada a ver com precisar de um tempo. Tem a ver com gastar o máximo de tempo que você tem com ele. E é isso que eu tenho feito e vou continuar fazendo.


— Ei, Robby! — Samantha o chamou. Já deviam ser quatro da tarde, Aaron tinha ido embora cedo e não havia respondido a nenhuma das mensagens que ele tinha enviado. Ele preferia pensar que ela tinha ido fazer um turno extra na lanchonete. — Desculpa a demora, demorei pra me secar. — Ela apontou para as roupas úmidas por causa da água do lago.

— Tudo bem, eu já tava indo embora. — Ele disse com um sorriso leve no rosto, apontando para sua bolsa.

— Hoje foi legal, não é? — Ela perguntou, levantando uma das sobrancelhas. — Apesar de tudo.

— É, acho que sim. Talvez a gente consiga amanhã. — Ele disse, encarando o lago atrás dela, do outro lado da porta.

— Quer uma carona? — Ela perguntou, olhando-o nos olhos de maneira encantadora enquanto o via calçar os tênis.

— Hm. — Ele disse, parecendo estar pensando enquanto dava um último laço no cadarço. — Não. Obrigado, mas não. — Ele recusou, tentando não parecer rude.

— Ah, certo. — ela disse, balançando a cabeça e parecendo meio decepcionada com a resposta.

— Olha, Sam. — Ele começou quando a viu se virar para ir embora. — Me desculpa pelo que aconteceu hoje. Você não deve ter entendido nada, mas... O pai da Aaron tá no hospital então tem estado tudo uma bagunça. Pra piorar, minha mãe resolveu "viajar" por um tempo e provavelmente esqueceu de pagar algumas contas em casa. Isso tem deixado ela estressada, tem me deixado estressado.

— Nossa, que droga. Sinto muito. — Ela disse balançando a cabeça, completamente chocada. — Ela devia ter me dito, eu podia ter ajudado.

— Bom, teoricamente seu pai ajudou. Eu contei pra ele sobre ela, mas você a conhece... — Ele disse dando de ombros. — Aaron é cabeça dura demais pra deixar alguém ajudar ela.

— É, eu conheço bem. — ela disse, desviando o olhar

— Não preocupe, vou falar com ela. Só de tempo ao tempo, ela precisa de espaço, mas acho que logo ela consegue conversar com você de novo. — ele disse, deixando um tapinha no ombro de Samantha, com um sorriso no rosto. Ela acompanhou, sentindo um frio na espinha com seu toque singelo. Talvez ele sentisse o mesmo, se afastando aos poucos segundos depois.

— Se puder pedir pra ela responder minhas mensagens também... — ela começou, hesitante, quando o viu chegar na porta, então ele se virou de lado a encarando — Eu agradeceria muito.



A MacGyver estava sozinha na sala do apartamento de Robby, concentrada enquanto desenhava um círculo no chão com giz. Ela se lembrava dos movimentos que Daniel havia tentado ensinar a Samantha e Robby, mas sentia que ele não tinha explicado direito. Tentando lembrar das orientações, ela começou a movimentar o corpo, imitando o que lembrava.

— "Vire o quadril pra esquerda, agora movimente o braço com a mão direita" — murmurou para si mesma, enquanto repetia os movimentos de memória.

Ela tentava fazer os movimentos sozinha, mas sentia que algo estava faltando. Frustrada, ela pegou seu celular e começou a procurar vídeos no YouTube sobre a técnica da roda. Horas se passaram, e finalmente, ela começou a pegar o jeito dos movimentos, mesmo que fossem diferentes do que LaRusso havia ensinado.

Nesse momento, Robby abriu a porta do apartamento. Ele parou, observando Aaron concentrada nos movimentos.

— O que você tá fazendo? — ele perguntou, surpreso ao vê-la tão empenhada.

— Aprendendo a baboseira do círculo. — ela respondeu, sem parar de se mover.

Robby se aproximou, tirou a mochila e observou os movimentos dela por um momento.

— Tudo bem, o começo tá certo, mas daqui em diante tá errado.

— Tudo bem, — ela disse, ofegante então acenou com a cabeça — me ensine então.

Ele começou a ajudá-la a ajustar os movimentos. Sem dizer uma palavra sobre o que tinha acontecido mais cedo, Robby sabia que Aaron estava no seu direito de ficar brava, mas também sabia que a gana de aprender aquela técnica e esfregar na cara de LaRusso que era boa o suficiente falava muito mais alto. Eles continuaram praticando juntos, sincronizando-se cada vez mais.

De repente, a luz apagou, mergulhando o apartamento na escuridão.

— Merda. — Robby murmurou, sentindo a frustração por causa das contas de luz atrasadas. A mãe dele havia prometido que pagaria, mas claramente não o fez.

Aaron soltou um suspiro pesado. Eles deram uma pausa, se sentindo derrotados. Caminharam até a cozinha e abriram a geladeira, onde o último leite estava lá, prestes a estragar.

— Parece que vamos jantar cereal com leite. — Aaron disse, tentando encontrar algum humor na situação.

Eles pegaram o leite e o cereal, sentaram-se à mesa iluminada apenas pela luz da rua que entrava pelas janelas. Dividiram a comida, rindo um pouco da situação, tentando encontrar um momento de alívio na tensão do dia.

— Pelo menos o cereal ainda tá crocante. — Robby disse, arrancando uma risada de Aaron. Então ele ligou a lanterna do celular, deixando-a entre eles na mesa

Eles comeram em silêncio por um momento, sentindo a conexão e o apoio mútuo, sabendo que, apesar das dificuldades, ainda tinham um ao outro. A pausa forçada na prática os fez perceber a importância da parceria e do apoio em tempos difíceis, algo que nenhum treinamento individual poderia substituir.

— Você sabe que ele pode nos ajudar. — ele disse, mesmo que receoso

— Não vamos falar disso. — ela afirmou, fazendo uma careta incomodada, por não querer falar mais naquele assunto

— Sabe que não podemos continuar assim, somos só crianças, Aay. Não podemos agir como se estivéssemos morando juntos, como se você tivesse que ter um salário. E quando a escola voltar?

— Eu sei, Robby! — ela disse, por fim, largando a colher na mesa — Eu sei... — ela disse, sentindo um nó se moldar em sua garganta, então ele deu alguns passos à frente com a cadeira e segurando o rosto dela entre as mãos, deixou um beijo em sua bochecha, antes de a trazê-la pra perto, a segurando contra o seu peito. Em um silêncio triste.

Quando Aaron foi dar uma última colherada de cereal, depois de se recompor, alguém bateu na porta.

— Quem será a essa hora? — ela perguntou, intrigada.

Robby se levantou e foi até a porta, abrindo-a apenas o suficiente para ver quem estava do lado de fora. Para sua surpresa, era Daniel LaRusso.

— Senhor LaRusso? — Robby disse, surpreso.

— Robby, sua mãe está em casa? — Daniel perguntou, olhando por cima do ombro de Robby para dentro do apartamento. Quando Aaron foi embora, ela disse que pelo menos tinha onde ficar porque a família do Robby se importava com ela.

Robby hesitou por um momento antes de responder.

— Ah, ela está trabalhando. — ele disse, tentando parecer convincente. Daniel arqueou uma sobrancelha, claramente percebendo a mentira.

Aaron, ouvindo a conversa, deu um passo à frente no escuro.

— Robby, quem é? — ela perguntou, reconhecendo a voz de LaRusso e soltando um suspiro exasperado. — Ai, bosta.

— Aaron, podemos conversar? — Daniel perguntou, com um tom mais suave, percebendo a tensão no ar.

Aaron cruzou os braços, tentando parecer forte apesar das lágrimas que já haviam descido mais cedo.

— Sobre o quê? — ela perguntou, não disfarçando o ressentimento em sua voz.

Daniel deu um passo para dentro do apartamento, hesitando antes de falar.

— Eu vim aqui para me desculpar pelo que aconteceu hoje. Não queria que você se sentisse excluída ou subestimada.

Aaron olhou para ele por um longo momento antes de falar.

— Você fez isso porque acha que eu sou fraca, porque sente pena de mim. — ela disse, sua voz firme. Daniel balançou a cabeça, sentindo a culpa pesar sobre ele.

— Eu não te acho fraca, longe disso. — ele disse, sinceramente. — Você é a menina mais forte que eu conheço. — ele sorriu apontando para ela com a mão — Só queria proteger você. Mas eu vejo agora que subestimei sua determinação e eu sinto muito.

Aaron respirou fundo, tentando controlar a emoção.

— Eu vou provar para você que sou capaz. — ela disse, determinada.
Daniel olhou para ela, vendo a determinação em seus olhos.

— Eu acredito em você, Aaron. — ele disse finalmente, com um sorriso encorajador. — Daniel olhou ao redor, percebendo a escuridão no apartamento. — Por que está tão escuro aqui? — ele perguntou, preocupado.

Aaron e Robby trocaram um olhar constrangido antes que Robby respondesse.

— A luz foi cortada. Minha mãe... não pagou as contas como prometeu.

Daniel ficou visivelmente chocado e arrependido por não ter percebido antes o quão difícil a situação deles estava.

— Vocês não podem ficar assim. — ele disse, com firmeza. — Peguem suas coisas, vocês vão ficar na minha casa até resolvermos isso.

— Não. — Aaron disse secamente, negando.

Aaron e Robby começaram a protestar, mas Daniel levantou a mão, interrompendo-os.

— Não existem nãos aqui. Vocês não vão ficar nesse lugar. — ele disse olhando ao redor, vendo a bagunça no escuro. Aaron deu de ombros, acostumada com aquilo — Eu insisto, por favor — LaRusso disse, abaixando o tom de voz, tentando convencê-la — Não vou deixar vocês nessa situação. — ele disse, sua voz firme, mas cheia de preocupação. — E Aaron, me desculpe por não ter percebido antes o que estava acontecendo com vocês dois.

Relutantemente, Aaron e Robby pegaram algumas roupas e itens essenciais. Enquanto arrumavam suas coisas, Aaron percebeu que, apesar de tudo, Daniel estava tentando genuinamente ajudar.

— Só essa mochila? — LaRusso encarou Aaron ao vê-la fechar uma mochila escolar e se aproximar da porta. Se sentiu um idiota quando ela acenou com a cabeça, e começou a se questionar de quantas vezes havia reparado que Aaron usava as mesmas peças de roupa. Como ele não tinha reparado naquilo antes? Como ele não tinha se dado conta de que todas as reações dela eram uma válvula de escape para o que vinha acontecendo dentro de casa?

— Vamos resolver isso juntos. — ele disse, enquanto entravam no carro, a voz cheia de determinação e solidariedade.

Aaron e Robby assentiram, Robby mais convicto do que q MacGyver, que apenas entrou no carro e passou o restante do caminho em silêncio.


Daniel observava ao longe, da porta da cozinha, enquanto Aaron devorava o prato de macarrão à sua frente. Cada garfada era rápida e voraz, como se ela não tivesse comido uma refeição decente em dias. Ao seu lado, Robby comia em um ritmo mais controlado, mas ainda assim, claramente com fome. Daniel sentiu um nó na garganta ao perceber a gravidade da situação dos dois jovens.

Amanda, que estava preparando um chá na cozinha, notou a expressão preocupada de Daniel e se aproximou, colocando uma mão reconfortante em seu ombro.

— Você está bem? — ela perguntou, suavemente.

Daniel balançou a cabeça, ainda olhando para Aaron.

— Eu me sinto culpado, Amanda. Como não percebi antes que algo tão errado estava acontecendo com eles? — ele disse, sua voz carregada de arrependimento.

Amanda suspirou, entendendo a angústia do marido.

— Eu também acreditei na história dela, de que o pai viajava muito para sustentá-los. — ela disse, balançando a cabeça. — Eles foram bons em esconder a verdade.

Daniel se virou para olhar para Amanda, seus olhos cheios de preocupação.

— Precisamos ajudar esses dois. — ele disse, decidido. — Deixe-os ficar aqui por enquanto. Podemos pegar o quarto de hóspedes e colocar mais um colchão. Não é problema.

Amanda hesitou por um momento antes de falar.

— Tudo bem eles passarem a noite aqui, Daniel. — ela começou, escolhendo suas palavras com cuidado. — Mas eles têm família. Não podemos deixá-los ficar indefinidamente. Você é gentil em ajudar o pai de Aaron, mesmo depois de tudo o que ele fez, mas eles precisam de um lugar mais permanente.

Daniel suspirou, sabendo que Amanda tinha razão, mas ainda assim, não conseguindo se livrar da sensação de que precisava fazer mais.

— A mãe do Robby não está no país. Ele disse que ela foi viajar para o México, mas ele não recebe ligações dela há dias. E a Rayken... — ele fez uma pausa, lembrando-se da mãe problemática de Aaron. — Você sabe onde isso terminaria se ela voltasse. E Aaron tem feito tanto progresso. Não posso deixar isso acabar assim. Eles são bons garotos, merecem um lugar para ficar.

Amanda olhou para o marido, entendendo sua preocupação.

— Mas o Robby tem um pai. — ela lembrou, sua voz gentil mas firme.

Daniel assentiu, reconhecendo a verdade nas palavras de Amanda.

— Eu sei. — ele disse, olhando para o chão. — Mas Johnny Lawrence... Eu vou falar com ele. Vou tentar resolver isso de uma forma que funcione para todos.

Amanda sorriu, admirando a determinação de Daniel.

— Tudo bem. — ela disse, finalmente. — Eles podem ficar o tempo que for necessário até que você resolva isso. Só não quero que eles fiquem sem rumo.

Daniel sorriu, sentindo um peso sair de seus ombros.

— Obrigado, amor. — ele disse, puxando-a para um abraço.




Daniel LaRusso caminhava pelo centro comercial de Reseda, os pensamentos sobre Robby e Aaron martelando em sua mente. Ele sabia que precisava falar com Johnny Lawrence e resolver a situação de uma vez por todas. No entanto, ao se aproximar da conveniência onde sabia que Johnny costumava ir, ele parou abruptamente. Do outro lado da rua, ele viu Johnny saindo da loja, acompanhado de John Kreese.

A visão dos dois juntos fez o sangue de Daniel ferver. Ele apertou o passo, atravessando a rua e se aproximando rapidamente.

— Johnny! — ele chamou, a voz firme.

Johnny e Kreese se viraram ao mesmo tempo. Johnny parecia surpreso, mas Kreese apenas esboçou um sorriso sarcástico.

— LaRusso, o que você quer? — Johnny perguntou, cruzando os braços.

Daniel ignorou Johnny por um momento, focando-se em Kreese.

— Kreese? Era pra você estar morto. — ele disse, a incredulidade misturada com raiva em sua voz.

Kreese deu um passo à frente, o sorriso em seus lábios se alargando.

— Sinto muito desapontá-lo, LaRusso. — ele disse, sua voz gotejando veneno. — Eu estou muito vivo e bem. Com muitos planos pros meus alunos.

Meus alunos. — Johnny interveio, fazendo Kreese recuar.

— Fique longe da Aaron. Não vou deixar você destruir outra garota. — Daniel disse, o tom de voz baixo, mas carregado de ameaça, Kreese não precisou citar o nome dela pra ele saber do que aquilo se tratava.

Kreese ergueu uma sobrancelha, o sorriso frio ainda em seu rosto.

— A menina da Rayken? — ele disse, fingindo surpresa. — Ela tem potencial, LaRusso. Você deveria saber disso. Aliás, eu já a conheci. Igualzinha à mãe. Tem o mesmo temperamento.

A referência à mãe de Aaron fez Daniel sentir um nó no estômago. Ele deu um passo à frente, a raiva clara em seu rosto.

— Você fica longe dela. — Daniel disse, a voz quase um rosnado. — Você não vai transformá-la em mais uma de suas vítimas.

Kreese deu uma risada baixa, o som cheio de desprezo.

— Oh, LaRusso, você realmente não entende, não é? — ele disse, balançando a cabeça. — Não é sobre vítimas ou vilões. É sobre força e sobrevivência.

Antes que Daniel pudesse responder, Johnny interveio, colocando-se entre os dois.

— Você não sabe do que está falando, LaRusso. — Johnny disse, sua voz tensa. — Não é o que você ta pensando.

— O que eu estou pensando? Ou o que eu estou vendo? — Daniel respondeu, o olhar cortante. — O que você realmente quer, Johnny? — ele perguntou, a frustração evidente.

— O que eu quero? — Johnny repetiu, a irritação crescendo em sua voz. — Eu quero fazer o que já devia ter feito. — ele disse, dando meia-volta e se afastando.

— Eu vim conversar com você,em paz. Mas esquece, não dá pra conversar com você. — ele murmurou para si mesmo, mas alto o suficiente para que Johnny ouvisse, pra que ele entendesse o desgosto que ele sentia. — Pessoas como você não mudam.

Johnny ficou parado, assistindo Daniel se afastar, enquanto Kreese soltava uma risada baixa.

— Isso não acabou, LaRusso. — Kreese chamou, a voz carregada de ameaça, mas com um sorriso no rosto, buscando provocá-lo.

— Nunca acaba. — LaRusso não se virou, mas a tensão em seu corpo era evidente. Ele sabia que essa batalha estava longe de terminar, mas ele estava determinado a proteger Aaron e Robby, custe o que custasse.

Daniel estacionou o carro em frente à sua casa, ainda sentindo a adrenalina da confrontação com Johnny e Kreese. Quando saiu do carro, notou uma luz acesa na área da piscina. Curioso, ele se aproximou silenciosamente, os passos leves no caminho de pedra.

Ao chegar mais perto, ele viu Robby e Aaron. Eles estavam treinando, concentrados nos movimentos da técnica da roda que Daniel havia ensinado. Mas algo estava diferente. Eles estavam em perfeita sincronia, seus movimentos fluidos e precisos.

Daniel ficou parado, observando, maravilhado. Ele viu como Aaron e Robby se moviam juntos, quase como se fossem uma extensão um do outro. Havia uma harmonia entre eles que ele não havia notado antes. Eles estavam se equilibrando de uma forma que ele não havia previsto.

Robby girava com precisão, sua postura sólida, enquanto Aaron ajustava seus movimentos, seus pés deslizavam pelo chão com graça. Eles estavam absorvidos na prática, completamente alheios à presença de Daniel.

Daniel sentiu um sorriso involuntário se formar em seus lábios. Ele sabia que, no dia seguinte, quando levasse os dois de volta ao lago, eles conseguiriam dominar a técnica. Aaron estava certa mais uma vez, não a subestimaria de novo.

Ele se afastou silenciosamente, voltando para dentro de casa, sentindo-se estranhamente aliviado. Eles estavam no caminho certo, e ele estava determinado a garantir que tivessem o suporte necessário para continuar.















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7574 palavras!

Quem é viva sempre aparece! Desculpe a demora.
Se esse capítulo tiver 200 comentários e 80 votos eu posto mais três.
Eu prometo atualizar mais vezes semana que vem. Fiquei enrolada e com medo do que realmente abordar nesse capítulo. N sei explicar.
Me digam a opinião de vocês!!

Criei um grupo WhatsApp para poder conversar com vcs, que leem e apoiam minha fanfic pra que a gente consiga interagir, que eu consiga ouvir mais a opinião de vcs, fofocar e lançar spoilers fortes lá! Ainda mais se eu por ventura acabar demorando pra atualizar aqui.

O link que tava na minha bio tinha dado problema, mas ja esta otimooo entrem por ele e conversem cmggg!!

Obgd por lerem,
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