ᴛᴡᴇɴᴛʏ ꜰɪᴠᴇ - 𝘈 𝘸𝘪𝘯𝘯𝘦𝘳 𝘥𝘰𝘯'𝘵 𝘤𝘳𝘺.








Episódio vinte e cinco,
𝘈 𝘸𝘪𝘯𝘯𝘦𝘳 𝘥𝘰𝘯'𝘵 𝘤𝘳𝘺.











O fliperama estava lotado naquela noite. Luzes piscantes refletiam nas máquinas e no chão enquanto sons de jogos, música e risadas ecoavam pelo espaço. Aaron e Tory entraram junto com Falcão e o resto dos garotos do Cobra Kai, mas logo as meninas se afastaram para explorar o local.

— A gente vai ali no banheiro rapidinho. — Aaron disse, olhando para Tory, que concordou com um aceno. — Vocês se virem com os tickets.

— Beleza. — Falcão respondeu, já com o olhar fixo em uma máquina de garras. Ele deu um sorriso de canto, e sua voz transparecia a provocação habitual. — Vou deixar uns prêmios de presente pra vocês quando voltarem.

— Só não faz merda, Falcão. — Tory advertiu, sem muita convicção, enquanto se afastava.

Falcão e os outros garotos do Cobra Kai — incluindo o irreverente Bafo de Pica — ficaram para trás, mergulhando no caos do fliperama.

Aaron e Tory estavam encostadas na pia, ajustando o cabelo e trocando uma conversa despretensiosa enquanto o som abafado do fliperama invadia o espaço.

— Já viu o que quer ganhar hoje? — Aaron perguntou, fingindo interesse enquanto arrumava o rímel.

— Sei lá. — Tory deu de ombros. — Essas coisas geralmente quebram antes de você chegar em casa.

— Verdade. — Aaron respondeu com uma risada curta. — O Falcão com certeza vai dar um jeito de quebrar alguma coisa hoje.

— Sempre, né? — Tory respondeu, sorrindo.

As duas riram juntas, mas o riso foi interrompido por um grito distante vindo da área dos jogos. Elas se olharam, já esperando o pior.

— A gente deveria ter ficado de olho. — Tory murmurou com um suspiro, enquanto ambas saíam do banheiro.

Falcão e os outros garotos do Cobra Kai estavam em sua zona habitual, espalhando caos. Empurravam crianças para longe das máquinas, roubavam tickets que ainda estavam pendurados nos consoles e riam como se fossem donos do lugar.

— Esse moleque tava na minha frente! — Bafo de Pica gritou, agarrando um ticket de uma criança de no máximo oito anos.

— É o que acontece quando você é lento. — Falcão respondeu, rindo enquanto girava um bloco de tickets na mão.

Eles continuaram causando, até que Falcão se aproximou do balcão de prêmios. Ele bateu com força na superfície, atraindo a atenção do atendente.

— Ei! Quero trocar esses tickets por um brinquedo.

O atendente se virou, e os olhos de Falcão se estreitaram ao reconhecer Chris, do Miyagi-Do.

— O que estão fazendo aqui? — Chris perguntou, visivelmente desconfortável, mas tentando manter a compostura.

Falcão riu, inclinando-se sobre o balcão. — Relaxa, amigão. Só estou aqui pra pegar meu prêmio.

Ele apontou para o alto, sem olhar direito. — Quero aquele bichinho de pelúcia ali.

Chris hesitou por um momento, mas se virou para pegar um dos brinquedos. Foi o momento que Falcão esperava.

Com um salto ágil, ele pulou o balcão, aterrissando do outro lado.

— O que você tá fazendo? Para com isso! — Chris gritou, tentando impedi-lo.

Mas Falcão já estava abrindo caixas de bichos de pelúcia e jogando os brinquedos para seus amigos, gargalhando enquanto o fazia.

— Esse é legal! E esse também! Pega aí! — Ele gritou, jogando uma pilha de pelúcias nos braços do garoto.

Chris tentou intervir, mas Falcão e os outros já estavam correndo pelo fliperama com os brinquedos nas mãos.

— Para! Coé! Isso não é de graça! — Chris gritou, frustrado, enquanto os brinquedos espalhavam pelo chão.

Na saída, Bafo de Pica se virou e gritou: — Valeu, Chris! Saudades da sua mãe, hein!

Falcão não perdeu a chance de adicionar mais lenha à fogueira. — Manda ela parar de me ligar!

Eles saíram correndo, deixando Chris parado atrás do balcão, vermelho de raiva, enquanto crianças e pais olhavam em choque para a bagunça.








A mensagem de Chris estava brilhando na tela do celular de Samanta, interrompendo o silêncio de sua noite tensa. Ela estava deitada na cama, os olhos focados no brilho do celular, com o corpo estirado, pensando nas discussões que tinha tido com sua mãe mais cedo.

Samanta olhou a tela com um mix de raiva e frustração, vendo a mensagem de Chris: "O Cobra Kai tá me infernizando até no meu trabalho". O texto era simples, mas o tom estava claro: ele estava furioso, e ela sabia que algo estava prestes a acontecer.

Ela hesitou por um momento, o celular ainda em suas mãos, o dedo pairando sobre a tela. Era uma decisão difícil. Ela poderia continuar ignorando as provocações, tentando manter a paz em sua cabeça, mas algo dentro dela se acendeu. O Cobra Kai não ia parar. Eles não paravam nunca. E Samanta sentiu que estava na hora de fazer algo a respeito.

Ela fechou os olhos por um segundo, deixando o peso da decisão cair sobre seus ombros.
Foda-se.

Ela digitou com rapidez: "A caminho" e, sem mais palavras, jogou o celular sobre a cama e se levantou.

O barulho da mensagem recebendo uma resposta parecia um alívio, mas também um sinal de que ela estava indo em direção a algo imprevisível. Ela saiu apressada, sentindo a adrenalina começar a correr nas veias.

Dentro do fliperama, as luzes de neon piscavam e davam uma sensação de frenesi. Os garotos do Cobra Kai, incluindo Falcão, estavam empoleirados no cantinho do espaço de laser tag. O ambiente estava carregado de risadas e zumbidos das máquinas de jogos, mas também de uma tensão crescente. O Bafo de Pica, com um sorriso travesso, segurava algumas garrafas de cerveja, enquanto Falcão mandava mensagens em seu celular, sentindo o cheiro de diversão e caos no ar.

O celular de Falcão vibrava, e ele olhou a tela. Era uma mensagem de Aaron, que estava com Tory no fliperama. "Onde você tá?" dizia o texto. Falcão, com um sorriso presunçoso, escreveu de volta: "Laser tag, temos cerveja." Ele mandou a mensagem e se recostou em uma parede, observando os meninos jogando e chutando os brinquedos que haviam roubado, rindo descontroladamente.

Nesse exato momento, as luzes do fliperama começaram a piscar. O ambiente se transformou em um caos de neon: luzes roxas e azuis, tudo girando ao redor deles. Os garotos do Cobra Kai olharam ao redor, confusos, tentando entender o que estava acontecendo. As luzes se apagaram por um momento, e a tela do laser tag se acendeu com uma projeção, como se estivesse prestes a começar uma nova rodada.

Então, as portas do espaço de laser tag se abriram, e Samanta entrou com uma expressão determinada. Ela estava acompanhada dos garotos do Miyagi Do, os olhos ardendo de raiva, e o corpo tenso como uma mola pronta para explodir. Os garotos do Cobra Kai pararam de rir, e Falcão levantou uma sobrancelha ao vê-la entrar.

Ele a encarou, rindo debilmente. — O que vocês querem? — ele perguntou, a ironia transbordando em sua voz, o olhar zombando dela, como se fosse uma piada.

Samantha não hesitou. Ela olhou para ele com uma intensidade que fez os garotos ao redor se calarem.

— Vingança. — foi a única palavra que ela disse. Sua voz era clara, forte, mas com uma frieza ameaçadora.

O silêncio que pairou por um segundo foi quebrado por um grito. Falcão avançou primeiro, com um golpe rápido e forte, mirando no peito de Samantha. Mas ela estava pronta. Com um movimento ágil, ela esquivou-se para o lado, sua perna se levantando em uma sequência precisa de movimentos de Miyagi-Do, como se estivesse esperando aquele momento há muito tempo.

Os meninos do Cobra Kai, como uma unidade bem treinada, avançaram em grupo. Bafo de Pica foi o próximo a atacar, com um soco veloz em direção ao rosto de Chris. Ele ja estava preparado.

Ele deu um passo para trás e, com um rápido giro de quadril, bloqueou o golpe e, com um chute no peito, mandou o garoto para o chão.

Samantha sem perder tempo, saltou sobre Falcão, derrubando-o com um golpe forte na parte inferior da barriga. Ela podia sentir o suor escorrendo pela testa, a adrenalina subindo enquanto o combate se intensificava. A cada troca de socos e chutes, a tensão aumentava, como se a batalha não fosse apenas pelo que estava na frente dela, mas também pelo que estava enterrado no passado — pelas brigas, pela raiva que todos carregavam.

O fliperama agora era um campo de batalha, com luzes azuis piscando freneticamente, quase como se o local estivesse se adaptando ao confronto. As crianças que estavam jogando e os outros frequentadores estavam sendo empurrados para o lado, assustados com o nível de violência que começava a se espalhar.

Falcão se ergueu de novo, seu sorriso ainda lá, mas agora com um toque de frustração. Ele foi para o ataque mais uma vez, mas Samanta, com um movimento mais fluido, acertou um soco direto no rosto dele, fazendo-o cambalear para trás.






O ambiente no reformatório estava pesado, a rotina de Robby parecia um ciclo interminável de e-mails e reflexões. Enquanto ele respondia mais uma mensagem de Samanta, seus dedos hesitaram por um momento sobre o teclado. O e-mail estava repleto de desculpas, de súplicas para saber como ele estava, mas Robby não tinha paciência. Ele já tinha lido todos aqueles pedidos de desculpas antes. Mesmo assim, um impulso o fez digitar algo de volta, mas antes que pudesse terminar, algo interrompeu o seu fluxo.

O som de um cabo sendo puxado da tomada cortou o ambiente. Robby olhou para o lado e viu Shawn com um sorriso, que não era de simpatia. O rosto de Robby endureceu imediatamente, os músculos tensionados.

— Qual foi? — Ele perguntou, a voz baixa, mas carregada de frustração, levantando-se e indo até Shawn.

Shawn, com aquele olhar desdenhoso, ainda estava rindo para si mesmo, como se estivesse satisfeito pela provocação simples. Ele não fez nada além de dar um passo para trás, ainda com o cabo em mãos, de maneira que Robby fosse incapaz de reagir sem perder o controle. O movimento de Shawn era despreocupado, calculado, como se soubesse que Robby não teria coragem de ir para cima dele.

— Pensei que não fosse precisar. — disse Shawn, sua voz mais provocante agora. Ele jogou o cabo de volta para o lado, desdenhando, e lançou um olhar superior a Robby.

Robby sentiu um impulso, uma raiva crescente no peito. Cada movimento de Shawn só o fazia sentir mais o peso das injustiças que ele já havia acumulado naquele lugar. Ele não queria mais estar em silêncio, não queria mais se esconder.

— Por que você não me deixa em paz, cara? — Robby quase rosnou, seus punhos cerrados ao lado do corpo.

Shawn deu um sorriso, um daqueles sorrisos convencidos, mas não disse nada. Apenas balançou a cabeça e se afastou um passo, como se já soubesse que Robby não faria nada. Havia algo na postura de Shawn que deixava claro que ele via Robby como uma vítima fácil, algo pequeno e sem valor. Seus ombros estavam relaxados, o rosto imutável. Ele estava em posição de controle, sabia disso. E isso fez Robby sentir a raiva ferver ainda mais.

O policial entrou e, como uma lâmina cortando o ar, a tensão foi interrompida.

— Pro quarto, agora. Faltam 10 minutos. — O policial não esperou resposta.

Shawn apenas olhou para Robby com um leve sorriso, mas não disse nada. Seu olhar estava lá, mas ele se sentou com os outros amigos ao redor da mesa.

Robby, ainda em pé, com o rosto marcado pela última surra, estava farto. Ele sentiu algo estourar dentro dele. Aquela necessidade de agir, de finalmente dar uma resposta. Ele não ia ser mais o fraco. Não importava o que Shawn pensava, nem os olhares dos outros. Ele ia reagir. Agora.

Ele não olhou mais para Shawn, mas seus passos eram firmes enquanto se afastava da mesa. O som dos risos atrás dele começou a ficar abafado, e Robby, ainda com o corpo tenso, se virou rapidamente e deu um chute certeiro na barriga de Shawn, fazendo-o cair para trás, de surpresa. Shawn foi projetado para o chão, e a reação de Robby foi imediata. Ele não esperou. O grito que ecoou no refeitório foi abafado pelos outros meninos, que correram em direção a Robby, mas ele estava pronto para aquilo.

Com um soco firme, ele fez um dos garotos cair no chão. Não houve hesitação. Outro avançou, mas Robby o empurrou com força, fazendo-o tropeçar. O som dos corpos batendo contra o chão foi ensurdecedor. O ar estava carregado, a adrenalina subindo e a sala se transformando em um caos controlado por Robby. Ele já não pensava em consequências. Ele estava cansado de ser o alvo.

Quando um dos garotos subiu na mesa, Robby viu a oportunidade. Em um movimento fluido, ele deu uma rasteira e o fez cair de cabeça. A luta, agora, não tinha mais espaço para contenção. Tudo o que Robby sentia era raiva e uma necessidade de se afirmar. Ele estava lutando por si mesmo, pela sua dignidade, pelas injustiças que carregava.

Shawn, ainda no chão, se levantou com um grito de raiva, mas Robby não hesitou. Ele avançou, e a briga, selvagem, continuou. O som das pancadas ecoando enquanto eles se rolavam no chão, cada um tentando se impor sobre o outro. A fúria de Robby não tinha mais controle. Ele queria mais. Ele não queria que aquele fosse o final. Ele queria que Shawn sentisse, de uma vez por todas, o peso das palavras e da humilhação.

E a luta, agora, não era mais sobre ganhar ou perder. Era sobre finalmente se sentir livre daquelas correntes invisíveis que sempre o prenderam.

Robby e Shawn trocavam golpes pelo corredor estreito do reformatório, enquanto os gritos abafados de outros internos ecoavam distantes. A raiva fervia dentro de Robby, uma mistura de frustração e culpa que ele não sabia como controlar.

Shawn o empurrou com força contra a parede, mas Robby se recuperou e avançou novamente, desferindo um soco que atingiu o rosto do rival. Cada golpe era uma descarga de algo muito maior do que aquela briga — era a sensação de ser esmagado por um sistema que nunca lhe deu uma chance justa.

Ele havia jurado que nunca se tornaria como o pai, mas ali estava ele, com os punhos cerrados e a respiração pesada, se perdendo no mesmo ciclo de violência.










No fliperama, Samantha estava no chão, lutando contra um garoto do Cobra Kai. As luzes pulsavam em vermelho e azul, criando uma atmosfera sufocante, como se tudo ao redor conspirasse contra ela. Ela segurou o braço do adversário, tentando derrubá-lo, mas antes que pudesse reagir, ouviu um grito que fez o mundo ao seu redor parar.

— Samantha LaRusso! — A voz de Tory ecoou pelo salão, carregada de raiva e um tom quase descontrolado. Samantha virou o rosto, ofegante, e encontrou Aaron do outro lado, com Tory ao seu lado.

— Cadê você? — Aaron riu, ao lado da amiga, como se enquanto brigassem com os garotos do Miyagi-do, se divertissem no processo.

O sorriso debochado de Tory era um golpe silencioso, e o olhar frio de Aaron atravessava qualquer barreira que Samantha tentasse erguer.

Tory riu alto, como se a tensão fosse apenas entretenimento. Aaron hesitou por um momento, mas o incentivo de Tory era como gasolina jogada em uma fogueira.

Samantha sentiu o ar faltar. Ela deu passos para trás, encostando-se em uma das pilastras do laser tag, enquanto o caos continuava ao redor.

Falcão segurava Demetri pelo colarinho, pronto para desferir outro golpe, enquanto a multidão do Cobra Kai gritava em uníssono: Acaba com ele! Mostra quem manda! O som era ensurdecedor, misturado ao som de máquinas de fliperama e gritos. Falcão riu, uma risada cheia de desprezo, e ergueu o punho.

Aaron, ainda no meio de sua própria luta, começou a respirar mais rápido, seu coração disparado. Flashes de memórias começaram a invadir sua mente. Ela viu Miguel o segurando o rosto de Robby contra o chão da escola, ensanguentado, e depois viu Robby empurrando-o da escada.

O presente e o passado se misturavam em sua mente, uma espiral de emoções que a fazia perder a noção da realidade. A respiração ficou mais curta, e suas mãos começaram a tremer.

De repente, ela largou seu oponente e avançou até Falcão. — Já chega! Acabou! — gritou, sua voz ecoando acima do tumulto.

Tory avançou em sua direção, irritada. 

— Que porra é essa, Aaron? Ele merece isso! Você tá do lado de quem? — Mas Aaron não conseguia ouvir. A visão estava embaçada, e tudo ao redor parecia girar.

Enquanto isso, Samantha começou a recuar, as costas ainda pressionadas contra a pilastra, enquanto Aaron a encarava. Aaron estava visivelmente abalada, mas algo dentro dela se quebrou. Ela avançou contra Samantha com uma raiva que nem ela mesma compreendia.

Ela estava do lado deles. Do lado do cobra kai.
Ela tinha que provar aquilo.

Em um movimento rápido, ela segurou o braço de Samantha e torceu com força, e o estalo que veio a seguir foi ensurdecedor.

Ela não estava revidando. Sam estava com medo.

O estalo do braço de Samantha ecoou no salão abafado, mais alto do que qualquer grito, mais alto do que as luzes piscantes ou o som eletrônico do fliperama. Aaron segurava o braço de Samantha com força, os dedos cravados em sua pele, enquanto seu pé prensava o ombro dela contra o chão. Havia um silêncio momentâneo, como se o mundo tivesse parado de girar por um segundo. Samantha soltou um grito estridente, visceral, o tipo de som que carregava dor e desespero em cada nota.

Aaron, por sua vez, parecia paralisada. Seus próprios dedos tremiam, mas não soltavam o braço da garota. Ela olhou para baixo, vendo Samantha se contorcer no chão, a dor estampada em cada movimento, e sentiu o peso do momento cair sobre ela como uma avalanche. Não era força, não era autodefesa. Era algo mais sombrio. Era vingança.

Tory estava ao seu lado, e sua voz era como veneno pingando.

— Isso, Aaron! Ela mereceu. — Os gritos de incentivo ao redor eram ensurdecedores. O Cobra Kai berrava em êxtase, como se tivessem acabado de vencer uma guerra.

Mas dentro de Aaron, tudo estava quebrado. A pressão contra o braço de Samantha, o estalo seco, o grito desesperado — tudo isso estava tatuado em sua mente. Ela sentiu o calor subir pelo peito, o gosto amargo da bile na garganta. Seus olhos foram para o rosto de Samantha, pálido, coberto de lágrimas. Ela não era mais uma inimiga ali. Era só uma garota ferida, jogada no chão, completamente indefesa.

Aaron soltou o braço dela de repente, como se tivesse sido queimada. Ela recuou um passo, depois outro, até sentir as costas baterem contra uma das máquinas do fliperama. Seus pulmões pareciam não funcionar direito, cada respiração mais difícil que a anterior.

Ela ouviu Tory rir e dizer: — Você fez o que precisava. Não para agora. — Mas Aaron não conseguia responder.

O grito de Samantha cortava sua consciência como navalhas. Aaron olhou para suas próprias mãos, ainda tremendo, e viu como estavam vazias e, ao mesmo tempo, carregadas com o peso do que tinha acabado de fazer. Quando seu olhar encontrou o de Samantha, havia algo lá que a destruiu. Não era só dor. Era algo mais profundo: decepção.

Tory a puxou pelo braço, tentando afastá-la.

—Vem, vamos embora antes que alguém chame ajuda. — Mas Aaron hesitou.

— Eu... — As palavras não saíam. Sua mente estava cheia de flashes, imagens misturadas: Miguel caindo da escada, Robby preso no chão, o próprio rosto dela no espelho, se tornando algo que nunca quis ser.

Ela tinha que buscar ajuda, ela tinha que ajudar a Samantha não tinha? Ela merecia ajuda?

Samantha ainda estava no chão, chorando alto, enquanto Demetri se ajoelhava ao lado dela, desesperado.

— Eu vou buscar ajuda, Sam! Vai ficar tudo bem, tá? Vai ficar tudo bem! — Ele tentava segurar o braço dela com cuidado, mas Samantha gritou de dor novamente, e Aaron deu mais um passo para trás, como se quisesse fugir daquele som, daquele momento.

— Bem feito, — murmurou Tory, com um sorriso satisfeito. — ela mereceu, amiga. — Aaron olhou para ela, mas não conseguia responder. Sua mente gritava que não era isso que ela queria.

Não era isso que ela era. Mas suas mãos, o braço quebrado de Samantha, o ódio em seus próprios olhos momentos antes — tudo isso dizia o contrário.

Quando Falcão finalmente a puxou com mais firmeza, murmurando um — Vamos logo, Aaron... — ela permitiu que a arrastassem. Mas enquanto os gritos de Samantha ficavam para trás, ecoando como um fantasma, ela sabia que aquele momento a seguiria para sempre.













Samantha estava sentada na sala de atendimento, o braço repousando em uma tala improvisada enquanto a enfermeira preparava o gesso. O cheiro de antisséptico enchia o ar, e o ambiente parecia ainda mais sufocante com os sons abafados dos passos e vozes no corredor. A dor no braço era intensa, mas não superava o peso do que havia acontecido. Seus olhos estavam inchados, e as lágrimas escorriam silenciosamente, quentes, deixando trilhas no rosto marcado pela vergonha e pelo medo.

A porta se abriu com força, e Amanda LaRusso entrou apressada, com o rosto tomado pela preocupação. Seus olhos imediatamente se fixaram na filha, e ela se abaixou ao lado dela, segurando suas mãos.

— Samantha! O que aconteceu? Meu Deus, o que fizeram com você? Por que não me chamaram antes? — Amanda olhava desesperadamente para o braço da filha, os olhos marejados, oscilando entre pânico e raiva. — Foi karatê de novo? O que eu te falei sobre isso?

— Mãe... — murmurou Samantha, mas a voz quebrou no meio. As palavras não saíam, e ela apertou os lábios, tentando conter o choro. Mas o esforço foi em vão, e as lágrimas vieram com mais força, acompanhadas de soluços dolorosos.

Amanda se inclinou ainda mais, segurando os ombros da filha. Sua voz suavizou, mas a urgência permaneceu.

— Sam, por favor, fala comigo. O que aconteceu? Estou aqui, vai ficar tudo bem, mas você precisa me contar.

Samantha respirou fundo, mas o ar parecia preso no peito. Tentou falar, mas as palavras saíam entrecortadas pelos soluços.

— Foi... foi a Aaron, mãe. — A frase saiu quase como um sussurro, mas o impacto das palavras fez Amanda franzir a testa. Samantha apertou os olhos, tentando segurar as lágrimas que insistiam em cair. — Ela quebrou meu braço.

Amanda piscou, tentando processar o que acabara de ouvir. A raiva começou a se formar em sua expressão.

— A Aaron? Como assim? Por que ela faria isso? — perguntou Amanda, a indignação crescendo em sua voz. — Sam, me conta tudo. Agora.

Samantha tentou falar, mas o nó em sua garganta parecia impossível de desfazer. Finalmente, as palavras começaram a sair, fragmentadas, quase sufocadas pelo choro.

— Eu só... eu só queria ajudar, mãe. O Demetri... ele estava brigando com o Falcão, e eu achei que podia fazer alguma coisa. — Ela parou, a voz falhando. — Mas eu não consegui. Eu vi ela, e eu paralisei. Eu... eu não consegui fazer nada.

Amanda olhou para a filha, atônita.

— Sam...

Samantha balançou a cabeça, como se quisesse afastar o peso da culpa.

— Eu só deixei, mãe. — As lágrimas começaram a cair mais rápido. — Eu deixei ela fazer. Eu só fiquei lá... parada.

Os soluços tomaram conta dela, e Amanda a puxou para um abraço apertado, como se quisesse protegê-la de toda a dor que sentia.

— Shh... vai ficar tudo bem, querida. Eu estou aqui. Você está segura agora.

Amanda dizia isso, mas seus olhos estavam fixos em um ponto distante, e sua expressão endureceu. A raiva fria tomava conta dela, misturada com uma indignação crescente. Enquanto segurava a filha, ela acariciava seus cabelos, mas suas mãos tremiam levemente.

A enfermeira continuava a trabalhar no gesso em silêncio, os movimentos precisos e mecânicos parecendo insignificantes diante do que acabara de ser revelado. Quando terminou, Amanda limpou cuidadosamente as lágrimas do rosto da filha e segurou seu queixo, fazendo-a olhar nos olhos.

— Escuta bem o que eu vou dizer, Samantha. — Sua voz estava firme, quase dura. — Isso não vai ficar assim. Eu não vou deixar que ninguém te machuque desse jeito de novo, isso acabou aqui, filha.

Samantha assentiu fracamente, mas suas lágrimas não paravam. O peso das palavras da mãe parecia distante, como se nada pudesse aliviar o que ela sentia. Ainda soluçando, ela se aninhou no abraço de Amanda, enquanto o vazio e a dor preenchiam cada espaço dentro dela.

Amanda respirou fundo, mantendo a filha perto de si, mas por dentro, algo já havia mudado. Ela sabia que não podia simplesmente aceitar o que tinha acontecido. E, de alguma forma, ela iria fazer justiça pela filha.











Aaron estava sentada no banco de madeira na sala de Kreese, os pés apoiados sobre a borda da mesa enquanto segurava um saco de gelo contra o punho inchado. O ar da sala estava impregnado pelo cheiro de charuto e de couro velho, uma mistura sufocante que parecia tornar o ambiente ainda mais opressor. Ela olhava fixamente para o chão, o maxilar tenso, tentando processar o que sentia. O barulho do osso se quebrando ainda ecoava na sua mente.

— Seja lá quem socou, você socou errado. — Kreese disse

Kreese entrou tranquilamente, tragando o charuto, e lançou-lhe um olhar avaliador. Ele não precisou de muito tempo para perceber que algo estava errado.

— Eu sei. — Aaron resmungou, desviando o olhar — Eu 'tava nervosa.

— Nervosa? — ele a julgou de cima a baixo

— É.

— O Falcão disse que foi um show — comentou, soltando a fumaça lentamente, como se as palavras fossem parte do espetáculo.

Aaron não respondeu imediatamente. Apertou o saco de gelo contra o punho, os lábios formando um bico involuntário.

— É... um show e tanto — respondeu, entre dentes, sem encará-lo.

— Então você deveria estar comemorando, não deveria? — Kreese continuou, caminhando até a mesa e se apoiando nela. — A garota conseguiu roubar dois namorados de uma vez. Você se vingou. Vá se divertir.

— Eu não... — Aaron começou, mas a voz falhou. Ela olhou para ele de relance, vendo-o tragar o charuto novamente, e sentiu-se uma idiota por querer chorar. — Eu não me sinto vingada. Me sinto uma idiota.

Kreese levantou as sobrancelhas, intrigado.

— Idiota? — perguntou, inclinando-se levemente para ela.

Aaron desviou o olhar, o gelo escorregando um pouco entre seus dedos.

— Eu conheço a Samantha desde os sete anos. Eu nunca pensei que...

— Você hesitou? — Kreese a interrompeu, a voz baixa, quase sussurrada, mas cortante.

Aaron congelou, sentindo o peso da pergunta. Baixou a cabeça, tirou o gelo do punho e o pressionou contra o rosto, bem abaixo do supercílio, onde os pontos recém-retirados ainda deixavam a pele inchada.

— Hesitei — admitiu, a voz quase inaudível.

Kreese observou-a atentamente por um momento antes de se aproximar mais.

— Você não acha que sua mãe hesitou quando o Cobra Kai foi atrás do LaRusso no Halloween? — perguntou, com um tom calculado, como quem já sabe a resposta.

Aaron franziu a testa, confusa.

— Minha mãe? No Halloween? Do que você está falando? Ela nem estava lá.

Kreese sorriu, como se estivesse esperando essa reação.

— Não estava? — Ele tragou o charuto mais uma vez, a fumaça formando uma nuvem densa entre os dois. — Ela estava, sim. Com uma fantasia diferente. Enquanto os outros estavam vestidos de caveiras, ela foi de Alice no País das Maravilhas.

Aaron piscou, incrédula. Ele sabia daquilo. Parecia sempre saber de tudo.

— O quê? Isso... isso não faz sentido. Meu pai e ela tinham brigado, ela não quis ir com ele no baile.

Kreese continuou como se não tivesse ouvido.

— O LaRusso não mexeu apenas com o Johnny naquele dia. Sua mãe estava lá também. E você sabe o que aconteceu depois.

Aaron balançou a cabeça, tentando processar.

— Espera... o que exatamente você está dizendo?

— Você acha que o Johnny hesitou quando sua mãe traiu o Cobra Kai? Quando ela ficou perto do Miyagi?

Aaron levantou-se abruptamente, a cadeira rangendo contra o chão.

— Isso não aconteceu. Minha mãe nunca faria isso. Ela amava esse lugar. — ela disse dando de ombros e encarando ao redor

Kreese não recuou, seu tom ficando mais afiado.

— Aconteceu. Aconteceu porquê eu não deixei sua mãe lutar no campeonato de 85. E você sabe por quê? Por causa do que aconteceu com ela antes, a briga do Halloween a lesionou e eu tentei proteger ela. Então sua mãe foi lá e me apunhalou pelas costas.

Aaron cruzou os braços, a expressão carregada de desconfiança.

— O que aconteceu?

— Ela lutou contra LaRusso, lutou errado. E caiu. Quebrou o quadril. — Kreese manteve os olhos fixos nela, implacável. — Foi isso que aconteceu.

Aaron balançou a cabeça, confusa, tentando juntar as peças.

— Não... não foi desse jeito. Foi o Johnny. O Johnny fez isso com ela. Ela me disse, ela...

— Foi o LaRusso — corrigiu Kreese, a voz baixa, mas carregada de certeza. — E você sabe disso.

Ela voltou a sentar na cadeira, pressionando o gelo contra o rosto novamente, o olhar perdido no vazio. As palavras dele ecoavam em sua mente, bagunçando tudo o que ela achava que sabia.

Kreese deu um passo para trás, o tom voltando a ser quase paternal.

— O que eu estou tentando dizer, Aaron, é que as coisas acontecem do jeito que têm que acontecer. Mesmo sua mãe salvando o LaRusso, ele atacou no campeonato. Então, do que adianta? Do que adiantaria você ter...

Aaron ergueu os olhos lentamente, a voz saindo num sussurro amargo.

— Compaixão?

Kreese sorriu, satisfeito, e assentiu levemente.

— Exatamente.

Aaron abaixou a cabeça novamente, sentindo o peso da palavra. Ela não sabia mais o que era verdade ou mentira, mas uma coisa era certa: a dúvida plantada por Kreese estava crescendo rapidamente dentro dela.

Aaron ficou em silêncio por alguns segundos, a mão segurando o saco de gelo agora pressionado contra a têmpora. Seus olhos ardiam, mas ela piscava rápido, tentando conter as lágrimas que ameaçavam cair.

— Tudo bem, Sensei, mas do que adianta? — a voz dela quebrou ao meio. — Quando descobrirem que fui eu... minha condicional já era, eu...

— Eu vou dar um jeito, Aaron — interrompeu Kreese, firme.

Aaron balançou a cabeça, como se estivesse tentando lutar contra os pensamentos que a consumiam.

— Eu vou ser presa de novo — murmurou, a voz subindo num tom desesperado. Ela tentou continuar, mas as palavras foram engolidas pelo choro que finalmente transbordou.

Kreese observou-a por um momento, tragando o charuto pela última vez antes de apagá-lo com calma no cinzeiro. Ele caminhou até ela, os passos lentos e calculados, e se inclinou, puxando-a para um abraço. Era um gesto estranho, desconfortável, sem calor. Enquanto Aaron chorava em seus braços, ele manteve os olhos fixos em um ponto distante da sala, a expressão inabalável.

— Vou dar um jeito — repetiu ele, a voz baixa, quase fria.

Depois de alguns segundos, ele se afastou abruptamente, alisando o uniforme como se estivesse limpando qualquer vestígio de emoção.

— Desde que você não chore mais.

Aaron ergueu os olhos marejados, soluçando.

— Mas eu...

— Me diga o que você é, MacGyver. — Kreese cortou-a, a voz firme, mas ainda contida.

Ela franziu a testa, confusa, tentando entender o que ele queria.

— O que eu...?

— Me diga o que você é! — ele gritou de repente, sua voz explodindo na sala como um trovão, fazendo-a sobressaltar.

Aaron piscou, assustada, e engoliu em seco.

— Uma campeã...

— O quê? — ele retrucou, inclinando-se ligeiramente para ela.

— Campeã, sensei! — ela respondeu, mais alto desta vez, a voz trêmula enquanto tentava engolir o choro.

Kreese assentiu lentamente, os olhos fixos nela com uma intensidade quase cruel.

— E campeões não choram.

Campeões não choram. — ela afirmou como um mantra, encarando no fundo dos olhos dele.

Aaron respirou fundo, limpando as lágrimas rapidamente enquanto Kreese voltava a se afastar, satisfeito. A sala ficou em silêncio, o peso das palavras dele pendurado no ar, enquanto ela tentava juntar os pedaços do que restava de si mesma. E o pior de tudo, respirar fundo e tentar assimilar que não devia se sentir culpada pelo o que fez. Não era culpa dela.

Samantha tinha merecido.

Kreese deu dois passos para trás, ajustando o uniforme enquanto observava Aaron com olhos calculistas.

— Vaza daqui. — Ele disse, com a voz cortante e direta. — Vai se divertir com a sua galera. Ligue para o Falcão ou algo assim. Vocês se dão bem juntos.

Aaron ergueu os olhos para ele, franzindo o cenho com evidente descontentamento.

— Ah, sim, muito bem juntos. — Ela torceu o nariz, a voz carregada de sarcasmo. — Ótima ideia, sensei.

Kreese apenas arqueou uma sobrancelha, indiferente ao tom de reprovação dela.

— Você acha que o Falcão não é confiável? — Ele perguntou, encostando-se à mesa com um meio sorriso.

— Não é isso. — Aaron cruzou os braços, ainda com o gelo no rosto. — É só... — Robby. — Esquece, tudo bem? Vou ligar pra ele.











Amanda entrou no Cobra Kai com passos firmes e determinados. A porta do dojo rangeu ao ser empurrada, e o som ecoou no espaço vazio. Ela olhou em volta, o ambiente mergulhado em silêncio, exceto pelo som abafado de seu salto contra o chão.

— Oi? Tem alguém aqui? — ela chamou, a voz firme, mas carregada de tensão.

De dentro do escritório, Kreese surgiu. Ele estava com os braços cruzados e um sorriso debochado no rosto, como se já soubesse o que estava por vir.

— Estamos fechados, querida. — ele disse, aproximando-se lentamente. — Mas, se estiver procurando matricular alguém nas aulas de karatê, ficarei feliz em ajudar.

Amanda soltou uma risada curta, sem humor, o rosto cheio de raiva.

— Igual você ensina seus alunos a atacarem uma garota indefesa e quebrar o braço dela? Porque foi isso que seus alunos fizeram.

Kreese inclinou a cabeça, o sorriso permanecendo no rosto, mas seu olhar agora tinha um brilho frio e calculista.

— Fizeram mesmo? — ele respondeu com um tom impassível, quase provocador. — Bom, ela deve ter merecido.

Amanda avançou um passo, a fúria crescendo dentro dela.

— Como minha filha mereceu ser atacada por sua capanga no colégio? E depois machucada no fliperama? Quebraram o braço dela! — ela gritou, a tensão crescendo no ambiente.

Kreese ergueu uma sobrancelha, como se estivesse tentando se conter. Então ele riu, um som grave e carregado de desdém.

— Ah! — ele exclamou, como se algo tivesse finalmente feito sentido para ele. — Você deve ser a senhora LaRusso. O que foi? O Danielzinho não é macho o suficiente pra resolver as coisas sozinho?

Amanda estreitou os olhos, o rosto agora completamente tomado pela indignação.

— Olha aqui, Rambo. Tá ficando perigoso. Os jovens estão se machucando. A minha filha está machucada. Então começa a controlar aqueles marginais.

— Marginais? — Kreese repetiu, dando um passo mais perto, a expressão de zombaria intacta.

— Você sabe de quem eu estou falando. — Amanda retrucou, a voz firme, mas carregada de emoção.

No escritório, Aaron estava imóvel. Prendeu a respiração ao ouvir aquilo, o peito apertado enquanto as palavras de Amanda atravessavam a porta entreaberta.

— Ou eu volto na polícia e acabo com essa palhaçada. — Amanda continuou, os olhos fixos nos de Kreese.

Ele riu de novo, aproximando-se ainda mais dela, seus olhos faiscando com cinismo.

— Você é determinada... — ele murmurou, com um tom debochado, enquanto se inclinava um pouco mais para perto dela. — Gosto disso, gosto...

Antes que ele pudesse terminar, Amanda avançou e deu um tapa forte no rosto dele. O som reverberou pelo dojo, e Kreese inclinou a cabeça com o impacto, mas não perdeu o equilíbrio.

No escritório, Aaron deu um passo para trás, surpresa com o que acabara de ver.

— Não dou a mínima para o que você gosta, seu sociopata. — Amanda disparou, o dedo em riste enquanto apontava ao redor do dojo. — Eu vou fechar esse lugar. Nem que seja a última coisa que eu faça!

Ela virou as costas e saiu, deixando Kreese parado ali, o sorriso agora transformado em algo mais sombrio, enquanto Aaron permanecia imóvel no escritório, os olhos fixos na porta entreaberta. O peito dela subia e descia rapidamente, as palavras de Amanda ecoando na sua mente.

"..." Marginal. Aquele termo pesou dentro dela, mas logo sua expressão mudou. Antes era era parte da família, alguém que eles queriam por perto e agora era uma marginal? Depois de tudo o que a filha dela tinha feito com Aaron, ela quem estava errada? A raiva começou a tomar conta, abafando qualquer traço de arrependimento que ela havia considerado sentir.

Amanda já estava longe, mas a semente que Kreese havia plantado começava a dar frutos.












Johnny estava sentado no sofá velho de sua sala, com uma cerveja na mão, tentando absorver o que havia acontecido no dojo algumas horas antes. Miguel finalmente tinha conseguido mexer o pé, e o momento tinha sido uma vitória monumental, tanto para o garoto quanto para ele. Aquilo significava mais do que apenas um progresso físico; era um símbolo de esperança, de que as coisas poderiam melhorar.

Depois de tomar um longo gole de cerveja, Johnny olhou para a caixa de papelão largada perto da porta da cozinha. Dentro dela, o computador que ele tinha quase jogado fora estava parcialmente à mostra. Ele suspirou, coçou a cabeça e decidiu dar uma chance ao troço velho. Afinal, Miguel tinha razão. Ele não precisava de um celular para acessar o Facebook.

Colocando o computador sobre a mesa, ele ligou o aparelho. O som característico do Windows inicializando o fez revirar os olhos com impaciência. Quando finalmente conseguiu acessar o navegador, ele respirou fundo e digitou seu e-mail e senha. Para sua surpresa, a senha ainda funcionava.

— Finalmente... — murmurou para si mesmo, abrindo o Facebook.

Ao entrar na conta, ele não precisou rolar muito para ver uma notificação que chamou sua atenção imediatamente.

"Allison Mills te enviou uma mensagem."

Ele parou, a mão pairando no ar antes de clicar. Mas antes que pudesse abrir, outra notificação acima prendeu sua atenção. Seus olhos se estreitaram ao ler:

"Rayken MacGyver aceitou o seu pedido de amizade."

Johnny sentiu o coração acelerar no peito. Ele piscou algumas vezes, como se precisasse confirmar que estava vendo aquilo de verdade. Ele se lembrava perfeitamente do dia em que tinha feito aquele pedido. Foi meses atrás, logo após Daniel ter lhe dado o Dodge. Naquele momento de euforia, ele decidiu criar a conta no Facebook e, por impulso, procurou por Rayken MacGyver, mesmo achando que ela nunca veria.

— Não pode ser... — ele murmurou, com a respiração pesada.

Clicou no perfil dela com hesitação. Lá estava a foto de perfil: um close do rosto dela, com um olhar direto e desafiador, exatamente como ele se lembrava. Mas o que chamou sua atenção foi a única outra foto no perfil: uma garotinha loira, sentada numa mesa com um vestidinho cor-de-rosa e Maria Chiquinhas, com um sorriso inocente no rosto.

Johnny clicou na imagem, ampliando-a. Ele sentiu um nó se formar na garganta.

— Aaron... — ele murmurou, reconhecendo imediatamente a filha que Rayken havia deixado para trás.

A memória o atingiu como um soco. Ele se lembrou da primeira vez que conheceu Rayken, de como ela sempre pedia limonada para os empregados e fingia ser dela. Sem pensar, ele murmurou para si mesmo:

— Limonada... A maldita limonada...

No canto do perfil, ele notou algo que fez um sorriso involuntário surgir em seu rosto. Ao lado do nome dela, "Rayken MacGyver", havia um emoji de limão.

Johnny clicou no botão de "curtir" na foto da criança, sentindo um misto de nostalgia e arrependimento. Ele então voltou para a página principal do Facebook e encarou a mensagem de Allison Mills. O cursor piscava sobre a notificação, e ele respirou fundo antes de finalmente clicar para abrir.

Johnny leu a mensagem de Allison Mills com atenção, sua expressão mudando à medida que absorvia as palavras. O que ele encontrou não era o que esperava. Ela não estava perguntando como ele estava ou mencionando o antigo tempo em que estavam juntos. Não, a mensagem estava cheia de tensão, de acusações veladas.

"Johnny, precisamos conversar. Eu sei que você é muito entusiasmado com o karatê e tudo, mas você precisa entender que as coisas são diferentes agora. Quando éramos jovens, era legal, era divertido, mas agora isso é sua profissão. O que aconteceu com a minha filha, não quero que ela se envolva nisso. A briga da escola foi demais, e não quero mais que ela tenha qualquer tipo de contato com você ou com o seu dojo. Por favor, não faça isso.

Sinto muito pela mensagem direta, mas minha filha foi morar com pai depois de tudo... Então você é meu único meio de contato direto sobre isso. Me desculpe mais uma vez. Como vão as coisas? Sei que faz muito tempo.
Ali ☺️"

Johnny sentiu a pressão nas têmporas, a raiva crescente queimando em seu peito. Ele leu de novo, com os olhos franzidos, tentando entender.

— Puta merda, que filha é essa? — Ele murmurou para si mesmo, confuso e chocado. A mente dele estava aturdida, uma chuva de pensamentos passando rapidamente pela cabeça. Ele ficou paralisado, como se algo estivesse tentando se encaixar, mas não estava funcionando.

Foi quando ele finalmente se deu conta. Ele não sabia quem era o filho de Allison, mas uma coisa ficou clara: aquele garoto estava envolvido na briga da escola, e agora ela estava pedindo para ele parar de ensinar karatê para ele. Ele sentiu um nó na garganta, a imagem de uma vida que não conseguia entender.

Apressado, ele clicou no perfil de Allison, começando a rolar a página para ver mais. O que ele encontrou foi uma foto. Na imagem, ela estava sorrindo ao lado do ex-marido, e ali estava uma jovem, provavelmente a filha mais velha dela, e uma garota mais nova, sorrindo e brincando com a mãe. Johnny ficou parado, encarando as fotos, um arrepio subindo pela sua espinha.

— Puta que pariu... — Ele falou em voz baixa, como se finalmente tivesse conectado as peças.

O olhar dele se fixou na mulher jovem, a filha de Allison. Johnny aumentou o zoom da imagem, tentando analisar o rosto da garota. Ele congelou ao perceber quem era. Era Summer, a mesma Summer Mills, que ele tinha dado aulas de karatê. E o pior: Summer, a ex-namorada do Falcão.

Johnny pensou, sem acreditar no que estava vendo. Ele olhou para a foto mais uma vez, agora com um novo entendimento. A filha de Allison era ninguém menos do que a ex-namorada de Falcão. Agora tudo fazia sentido, e ele não conseguia processar o turbilhão de informações.

Ele se recostou, tentando assimilar tudo, ainda tentando digerir a revelação de como os eventos se conectavam.

— Agora faz sentido. — ele comparou o rosto das duas na foto e bateu a mão no rosto se sentindo um idiota. — São iguais, mas a porra do pai dela é latino. — ele encarou o homem na foto e depois Ali e Summer respectivamente. Se sentia um idiota.

E ele era.

















7500 palavras


Ali voltou 🙈
Teorias?
Eu sei q sou uma criminosa pela cena do fliperama, mas o Demetri não merecia. (E se serve pra me inocentar, essa foi a primeira cena escrita dessa fanfic. Ela era o prólogo, mas era diferente ela n corria pro Kreese ela ia pra casa chorar pensando no Robby)
E Honestamnete? Tava cansada da Aaron se culpando e sempre sendo colocada na cruz por todo mundo. Ja deu.
As coisas n são mais assim por aqui, a Aaron ta amadurecendo. Msm q sendo manipulada no processo.

Opinem e comentem!
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