ᴇʟᴇᴠᴇɴ - 𝘵𝘩𝘦 𝘳𝘪𝘴𝘦 𝘰𝘧 𝘮𝘺𝘢𝘨𝘪-𝘥𝘰
Episódio onze,
𝘵𝘩𝘦 𝘳𝘪𝘴𝘦 𝘰𝘧 𝘮𝘺𝘢𝘨𝘪-𝘥𝘰
O hospital era gelado, não um gelado bom que fizesse com que o calor do verão fosse embora e resfriasse o corpo, era um gelado mórbido, que fazia a espinha de Aaron se arrepiar enquanto ela se aproximava do balcão da recepção.
— Oi, visita para Jay Foster. — ela disse, nervosa e sentindo-se suar enquanto falava.
— O horário de visitas começa em uns dez minutos. — a idosa do outro lado do balcão respondeu antes de perguntar seu nome e grau de parentesco com o paciente. Ela colou um adesivo no peito direito de Aaron com seu nome escrito em letra cursiva — Você pode esperar ali.
Aaron deu meia volta, voltando pelo corredor e andando na direção de Robby Keene, que estava em pé, escorado em uma das pilastras com os braços cruzados contra o corpo. Ele usava uma camisa preta lisa e seus cabelos estavam maiores do que da última vez, fazendo com que ele os colocasse atrás da orelha de maneira intuitiva.
Sem dizer nada, ela apontou com a cabeça e ele a seguiu pelo corredor de onde ela havia vindo. Quando chegaram onde deviam, sentaram-se um ao lado do outro no hospital vazio e sem vida, que cheirava a cloro. O som dos aparelhos e dos passos ecoando pelos corredores aumentava o nervosismo nas mãos tremidas da loira.
— Então... seu pai, ele está bem? — Robby perguntou, olhando para Aaron com preocupação nos olhos.
— Está estável agora. — ela respondeu, mexendo nervosamente nas pontas dos cabelos. — Ele teve uma recaída, mas os médicos disseram que ele vai se recuperar.
Robby assentiu com a cabeça, concentrando-se em cada palavra que saía da boca dela.
— Sinto muito por não ter sabido antes. Se eu pudesse, teria feito mais por você, sabe? — ele disse, com sinceridade.
— Não foi sua culpa, Robby. — ela disse, colocando a mão sobre a dele. — Você já estava lidando com tanto. — Ela olhou para baixo, segurando a mão dele com firmeza. — Eu só queria poder fazer mais. Depois de tudo o que aconteceu, parece que tudo está desmoronando sobre a minha cabeça.
— Não está desmoronando. — Robby respondeu com suavidade. — Apenas parece assim agora porque estamos no meio da tempestade. Mas vai melhorar. Nós vamos dar um jeito.
— Eu queria que tudo isso tivesse sido diferente. —Robby sorriu tristemente, apreciando as palavras dela. — Eu só não entendo por que Miguel teve que lutar sujo. Nós éramos amigos, e agora parece que não o reconheço mais.
— Ele é um babaca, Ronnie. Olha o que ele fez com a Sam. — Robby disse, deixando a coluna rígida contra a cadeira. — Mas isso não justifica o que ele fez. Ele escolheu esse caminho. E você escolheu o seu, um caminho de honra.
Ela tentou ignorar a raiva ao ouvir o nome da melhor amiga. Não haviam conversado desde o Cânion e, ao contrário do que ela achou que sentiria ao estar longe de Samantha, Aaron sentia paz. Agora não havia ninguém para quem ela devesse mentir, fingir que estava bem ou se preocupar demais com problemas fúteis. Samantha estava lá, segurando a mão do garoto que Aaron era explicitamente apaixonada e nunca tinha se dado o trabalho de perguntar a ela se ela se sentia bem com aquilo. O melhor que Samantha podia fazer por ela era ficar longe.
Eles continuaram conversando em voz baixa quando a mulher do balcão da recepção os chamou.
— Senhorita MacGyver, você pode vir agora. — a recepcionista disse.
Aaron se levantou, e Robby a acompanhou com o olhar enquanto ela seguia a recepcionista pelo corredor até o quarto de seu pai. O coração de Aaron batia rápido, uma mistura de ansiedade e medo crescendo dentro dela. Quando abriram a porta, ela congelou ao ver a cena diante de si.
Seu pai estava deitado na cama, pálido e inerte, tinha um respirador nas narinas. Duas enfermeiras estavam ao lado dele, ajustando equipamentos e verificando sinais vitais. Aaron sentiu um calafrio na espinha.
— O que está acontecendo? — ela perguntou, a voz tremendo de preocupação. — Por que ele não está acordado?
Uma das enfermeiras olhou para ela com um semblante profissional, mas compreensivo.
— Seu pai teve um episódio de coma alcoólico. Estamos monitorando ele de perto. Ele está estável por enquanto. — as palavras foram saindo de maneira calma e cotidiana pela mulher e Aaron ficou boquiaberta, incapaz de processar a informação.
— Coma alcoólico? Mas me disseram que ele estava estável. Ninguém mencionou isso!
— Entendemos sua preocupação, — disse a outra enfermeira, tentando acalmá-la. — A situação se agravou rapidamente, mas estamos fazendo tudo o que podemos para ajudá-lo, o fígado precisa se recuperar.
Aaron começou a sentir o peso da situação. Lágrimas começaram a se formar em seus olhos enquanto ela olhava para o pai inconsciente. As enfermeiras, percebendo seu estado emocional, decidiram dar-lhe alguns minutos a sós com ele.
Ela se aproximou da cama, segurando a mão dele. A sensação de impotência tomou conta dela. Sentia-se traída e desesperada. "Por que ninguém me disse a verdade?", pensou, sentindo um misto de raiva e tristeza. Depois de alguns minutos, uma médica entrou no quarto, parecendo calma e profissional.
— Senhorita MacGyver? Sou a doutora Ramirez, responsável pelo caso do seu pai. — a médica disse, com um tom gentil ao se aproximar — Eu sei que é uma situação difícil, mas preciso saber se você tem algum contato com sua mãe após o divórcio.
Aaron olhou para a médica, no segundo em que enxugou as lágrimas dos olhos, envergonhada e surpresa com a pergunta.
— Minha mãe? — ela perguntou, confusa. — Por quê?
— Precisamos garantir que você tenha onde ficar e alguém para cuidar de você enquanto seu pai está internado. — explicou a doutora Ramirez. — Eu li que sua família é de baixa renda, o que meio que obriga o hospital a cortar metade dos seus custos, mas...
Aaron interrompeu rapidamente, tentando soar convincente. — Eu já liguei para a minha mãe.
— Se a senhorita não tiver onde ficar... devemos chamar o conselho tutelar e...
— Ela sabe de tudo e estou ficando na casa dela. — ela mentiu, com um sorriso forçado. Não deixaria que ninguém ferrasse com ela, ela daria um jeito.
— Isso é bom de ouvir. Se precisar de qualquer coisa, estamos aqui para ajudar. — A doutora Ramirez assentiu, parecendo satisfeita com a resposta. — Preciso que avise a ela que após a internação ele precisa de reabilitação. Não é a primeira internação dele e caso ele não se cuide, não será a última, mas podem haver consequências sérias da próxima vez.
— Aaron, você está bem? — Robby perguntou, preocupado, quando a viu andar cambaleante e sem vida na direção dele, que inquieto já a esperava no corredor
— Sim, eu... — ela disse, tentando soar convincente. — Ele está muito mal, Robby. De verdade dessa vez. — Robby franziu a testa, enquadro bando seu rosto de forma preocupada com a expressão cansada dela.
— Vai ficar tudo bem, Aaron. — ele tentou consolar, mas ela apenas balançou a cabeça, ainda preocupada.
— Eu preciso arranjar um emprego. — ela disse, desviando o olhar e passando a mão pela cabeça — Não sei como vou pagar por tudo isso. A internação, os medicamentos...
— Eu entendo. — Robby disse, tentando oferecer algum conforto. — Mas você não precisa fazer isso sozinha. Vamos dar um jeito.
Ela respirou fundo, tentando encontrar um pouco de calma nas palavras de Robby.
— Por favor, não conta pra ninguém do meu pai... Só o Miguel sabia e, você sabe onde isso deu. — ela disse, olhando nos olhos dele.
— Não vou contar para ninguém. — ele prometeu. — Mas saiba que estou aqui para você, sempre.
Aaron assentiu, sentindo-se um pouco mais aliviada. Mesmo com todas as dificuldades, saber que podia contar com Robby lhe dava um pouco de esperança.
— Eu vou avisar o senhor LaRusso que não vou conseguir chegar na hora do treino. — ela disse, suspirando. — Preciso encontrar outro emprego para poder pagar o hospital.
Robby segurou a mão dela novamente, tentando transmitir toda a força que podia.
— Vai ficar tudo bem, Aaron. — ele disse, com firmeza. — Não pensa nisso, eu falo com ele.
Ela sorriu levemente, grata pela presença dele ao seu lado. Mesmo em meio ao caos, a amizade deles era uma âncora, um ponto de estabilidade em um mar de incertezas.
Aaron odiava o fato de que todas as tardes do seu verão seriam ocupadas ali. A lanchonete retrô era comprida e sem vida, com poucas pessoas entrando e saindo, indicando um baixo movimento. Conseguir a vaga não havia sido difícil: ela tinha preenchido alguns papéis, mentido sobre ser maior de idade, e sorrido de maneira mais sedutora do que conseguia para o gerente, que era claramente um nerd ansioso. Conseguira aquele meio período, que não pagaria nem um terço das suas dívidas, mas a ajudaria a cobrir os custos do hospital.
O maior problema era que o trabalho significava que ela não poderia treinar no Miyagi-Do tanto quanto gostaria durante as férias. O treino era a única coisa que a movia, que a fazia querer continuar. A certeza de que poderia continuar se defendendo da maneira certa. Mas, por conta dos horários da lanchonete, o único tempo que teria para treinar seria das seis da tarde em diante. Não que tivesse um problema com isso, mas preferiria poder passar mais tempo lutando com Robby. Pelo menos, passar os dias ocupada a deixava longe de seu apartamento frio e silencioso.
Os patins que Aaron usava eram desconfortáveis a princípio, mas agora que ela tinha passado a tarde toda com eles nos pés, no fim do almoço já não sentia mais nada. Durante seus últimos minutos de almoço, ela desceu pela lista telefônica do celular, instintivamente parando no nome da sua mãe. Tinha a memória de passar o verão em que sua mãe foi embora discando aquele número repetidamente, tentando obter alguma ligação de volta. Nada. Foram três meses sem retorno, sem um sequer "sinto muito, Aaron, eu não te amo mais, apenas siga sua vida." Clicar no número e esperar a chamada completar a fazia sentir-se uma tola, como se aquela ligação, quando não completada pelo número não existir, fosse sua última tentativa de pedir ajuda.
— Aaron, dois minutos pro fim do almoço. — sua chefe disse, deslizando de patins pela frente do balcão ao ver Aaron com o telefone na orelha. Com um sorriso fraco, Aaron assentiu com a cabeça antes de se levantar.
Antes que a chamada completasse, ela desligou o celular com força, sabendo que aquela seria a última vez que procuraria pela ajuda da mãe. A sensação de abandono e desespero a invadia, mas ela precisava seguir em frente, mesmo que fosse difícil.
Aaron saiu entregando pedidos e anotando alguns no seu caderninho. Ela deslizava pelos corredores da lanchonete com uma agilidade surpreendente, apesar do desconforto dos patins. A cada mesa que passava, um sorriso forçado e um "bom apetite" saíam automaticamente de seus lábios. Ao passar pela porta de entrada, ela avistou as cadeiras almofadadas que sempre pareciam estar no caminho.
Tentando passar reto, ela acabou tropeçando nos patins. Quando estava prestes a cair, um braço forte a segurou, evitando o tombo. Ela, instintivamente, aplicou um golpe de karatê para se defender, empurrando a pessoa com um movimento rápido.
— Desculpa! — Aaron exclamou, imediatamente reconhecendo o homem que a segurou. Era o homem mais velho que ela tinha conhecido no Cobra Kai quando foi pegar suas coisas. Ela se levantou rapidamente do chão, ajustando os patins, enquanto ele pegava o caderno de pedidos que ela derrubara.
— Está tudo bem. — ele disse, com um sorriso enigmático. — Você parece apressada.
Aaron o olhou com desconfiança, ainda tentando processar a situação.
— Nós nos conhecemos? — ela perguntou, pegando o caderno da mão dele.
— Acho que sim, jovem guerreira. — ele respondeu, seus olhos brilhando com um ar de mistério. — Do dojo.
Ela franziu o cenho, tentando lembrar.
— Ah, sim... o Cobra Kai. — disse, ainda desconfiada, mas envergonhada — Desculpe pela reação. Eu pensei que fosse mais um dos caras sem noção que vem aqui. — ela disse, gesticulando e apontando para o vestido que usava, seu uniforme que era palco de assédio direto desde que entrara.
— Não tem problema. — ele disse, inclinando a cabeça ligeiramente. — Apenas continue focada. E cuidado com os tropeços.
Aaron assentiu, sentindo-se desconfortável com o olhar intenso dele. Algo nele a deixava inquieta, mas ela não podia se dar ao luxo de perder tempo ali.
— Obrigada por me ajudar. — disse, começando a se afastar, mas deu meia volta com o patins — O senhor já foi atendido? Quer pedir alguma coisa? Digo, senhor...
— Kreese. — ele respondeu, observando-a enquanto ela voltava, de maneira intrigada. — John Kreese.
— Hm, certo. — ela disse, assentindo com a cabeça sentindo que aquele nome era familiar.
— Mas não pretendo pedir nada por agora, estou esperando uma pessoa. — o mais velho disse, a fulminando com o olhar. Ele parecia entrar na alma dela e reconhecer todos os seus pecados.
— Certo, está falando do Johnny? — ela perguntou, de maneira atrevida, retribuindo o olhar. Ela não se sentiria acuada por um velhote.
— Receio que sim. — ele afirmou com a cabeça enquanto cruzava os dedos sobre a mesa, intrigado com o fato de ela estar prolongando a conversa deles. Cada passo e cada jeito que Aaron tinha fazia ele enxergar as semelhanças entre ela e Rayken. Iguaizinhas. — Você é aluna do Cobra Kai, criança? Sua defesa ali foi ótima.
— Não. — ela disse, encostando-se no sofá da frente dele, dando um riso cínico sem querer — Desculpe, não. Não sou. O que foi? Ele te deve dinheiro ou algo assim? Só pra avisar que o Lawrence não costuma pagar suas dívidas.
— Quase isso, criança. — ele disse sem abrir um sorriso, Aaron não conseguiu ver sequer seus dentes desde o início da conversa. — Ele me deve o meu dojo. Uma pena não ser aluna, mas aquele lugar irá mudar em breve.
Foi aí que ela entendeu com quem estava falando, o que a fez ficar um pouco receosa. O dojo era dele. Ou seja, ele era o sensei que tinha treinado o Lawrence.
— Entendi. — Aaron enrijeceu seu corpo, não se deixando parecer intimidada, e afirmou com a cabeça, um pouco assustada com suas palavras
— Se precisar de ajuda, — ele disse de maneira sugestiva, pegando um cartão em seu bolso, e o esticou na direção de Aaron, que o pegou entre os dedos, lendo os dados — ajudei sua mãe quando foi preciso, pense nisso como um presente.
— Certo. — ela disse, amassando o cartão e o colocando no bolso de seu avental — Não acredito que será necessário, mas obrigada. Não sei se reparou, mas ela não está por aqui. — ela disse, apontando ao redor, o mostrando sua realidade fodida, sem uma mãe rica que a bancasse — Quando o senhor quiser pedir, só apertar o botão em sua mesa.
Ela disse, rigidamente, antes de sair de mansinho, deslizando de patins para outras mesas, tentando assimilar o que tinha acabado de ouvir.
Johnny entrou pela porta transparente de maneira rápida e irritada. Ele caminhou até a mesa onde Kreese estava sentado e se jogou na cadeira de frente para ele.
— Obrigado por vir. — Kreese disse, deixando seu braço descansar sobre o estofado do sofá.
— Vamos resolver isso logo. — Johnny respondeu, impaciente.
Uma menina deslizou de patins até a mesa dos dois, uma menina que não era Aaron. Ela perguntou o que eles queriam comer.
— Eu gostaria de um filé mignon com molho de cogumelos. — Kreese disse, olhando para o menu com desdém.
— Desculpe, senhor, mas não temos isso no cardápio. — a menina respondeu, com um sorriso nervoso.
Kreese revirou os olhos, claramente irritado.
— Esta lanchonete é uma merda. — ele murmurou. — Então, traga-me um hambúrguer com tudo.
A menina anotou o pedido rapidamente e se afastou.
— Me chamou aqui por quê, então? — Johnny perguntou, sua paciência se esgotando.
— Você sabe o que é brumação? — Kreese questionou e Johnny negou com a cabeça.
— Brumação é quando os animais se enterram em buracos e dormem por meses.
— Isso é hibernação. — Johnny corrigiu.
— Não, um animal de sangue quente hiberna. Já um animal de sangue frio, como as cobras, é brumação. A cobra se enterra em um buraco. A única diferença é que a cobra não dorme. Ela fica enterrada, acordada durante todo o inverno esperando a hora certa para sair. E esse momento chegou.
— Chegou, é? — Johnny disse, debochando.
— Garoto, eu estive no mundo todo. Depois que o Cobra Kai fechou, eu me alistei de novo, comandei missões, treinei soldados. Eu estava enterrado, esperando. Mas quando eu saí do buraco, o mundo não era mais o mesmo. Por isso estamos aqui. O mundo precisa do Cobra Kai. Você mesmo pensa nisso, se não, não teria o trazido de volta. Se não, eu não estaria aqui com esse propósito. — Kreese disse, mexendo a cabeça e encarando a menina no balcão, Aaron, que pegava o troco de alguém enquanto servia um pedido para viagem.
— Entendi porque me trouxe aqui. — Lawrence disse, revirando os olhos e se ajeitando desconfortável na cadeira. — É um ótimo discurso, mas não existe "nós". — ele disse na defensiva.
— Só estou dizendo que posso ajudar. — Kreese deu de ombros.
— Eu não preciso da sua ajuda. — Lawrence descruzou os braços, irritado
— Pode achar que não precisa, mas os seus alunos...
— Fique longe dos meus alunos! — Johnny disse, batendo com força na mesa. — Você fodeu com a minha vida. — Ele voltou o olhar para Aaron, que agora estava em outra mesa, olhando para os dois assustada com o barulho, antes de tentar fingir que não estava vendo a cena. — Dela também. — ele disse, falando da MacGyver, apontando o dedo no rosto de Kreese.
— Aposto que acredita que fez um bom trabalho, Senhor Lawrence. — Kreese rosnou, a voz potente reverberando na sala. O tom de desprezo em sua fala era palpável, e seu olhar era implacável. Johnny, com apenas catorze anos e vestindo o kimono branco do Cobra Kai, soluçava enquanto lágrimas escorriam por seu rosto, desfigurando a expressão de medo e dor. — Mas eu te dar essa faixa azul, não significará nada. Você continua um perdedor. Me ouviu? — Kreese avançou um passo ameaçadoramente, e Johnny recuou instintivamente, tentando se proteger do confronto.
— Sim, Sensei... — Johnny respondeu com um sussurro, fungando e tentando controlar os soluços que sacudiam seu corpo.
— Isso são lágrimas, Lawrence? — Kreese indagou, o tom de voz ficando mais cortante, enquanto cruzava os braços e olhava Johnny com um olhar penetrante. — O que foi? Não aguenta minhas regras?
— Não, Sensei. É o meu padrasto... Ele... — Johnny tentou explicar, mas suas palavras se perderam em meio ao choro.
— Deixe-me te dizer uma coisa. Assim que as lágrimas saem dos seus olhos, você perde. — Kreese disse, sua voz se tornando mais grave e carregada de desdém. — E eu não ensino perdedores. Entendeu, Lawrence?
— Sim, Sensei... — Johnny quase sussurrou, com os ombros caídos e o olhar no chão, incapaz de encarar o sensei.
— Eu não entendi, me diga o que você é.
— Sou um vencedor, Sensei. — Johnny respondeu com a voz firme, tentando mostrar um pouco de sua determinação, mesmo que sua expressão fosse ainda marcada pela tristeza.
— Mais alto! — Kreese exigiu, a intensidade de sua voz aumentando, fazendo Johnny erguer a cabeça e gritar com mais força.
— Sou um vencedor!
Mais tarde, quando o treino havia terminado e o vestiário estava vazio, Johnny se encontrou sozinho, chorando em silêncio. Ele estava agachado contra um banco, os ombros tremendo enquanto ele tentava desabafar a dor e a frustração que sentia. Era o único lugar onde ele podia expressar seus sentimentos sem a presença opressiva de Kreese.
— Johnny? — Rayken chamou suavemente, fazendo Johnny levantar a cabeça rapidamente, tentando esconder as lágrimas. Ela se aproximou com um olhar de preocupação e compreensão.— Está chorando? — Rayken perguntou com um tom suave, aproximando-se dele e colocando a mão no ombro dele com um gesto reconfortante.
— Não, perdedores não choram. — Johnny respondeu, dando de ombros e tentando afastá-la, sua voz carregada de orgulho ferido.
— Tudo bem, eu também choro às vezes. — Rayken disse, tocando gentilmente o ombro dele, sua expressão de empatia visível.
— Sensei Kreese disse que chorar é uma fraqueza, então eu não choro mais. — Johnny desviou o olhar, sentindo-se envergonhado e desolado, com o rosto ainda molhado pelas lágrimas.
— Eu sei o que ele faz com você. — Rayken disse, puxando a manga do kimono dele para cima, revelando os hematomas em seu braço. Seus dedos eram gentis, mas decididos. Ela sabia que o padrasto batia nele, mas Johnny não sabia como. — Aaron faz isso comigo também, quando ele fica bravo. — Ela levantou a manga do próprio kimono, mostrando que também estava marcada por aquela pressão cruel. — Sempre que precisar chorar, deixe que eu te belisque para que você pare. Então faça isso comigo também. — Ela disse carinhosamente, com um sorriso encorajador.
Johnny, tocado pelo gesto, não sabia como reagir. Ele a abraçou timidamente, as lágrimas continuando a rolar enquanto ele se permitia chorar em silêncio. O conforto inesperado de Rayken era um alívio em meio à sua dor e confusão.
— Ficaremos juntos, para sempre. — Rayken sussurrou, enquanto o abraçava com ternura. Johnny, com lágrimas ainda nos olhos e o coração um pouco mais leve, sentiu um fio de esperança nas palavras dela, percebendo que havia alguém ao seu lado que realmente entendia o que ele estava passando. — Sem mais fraquezas.
— Johnny, tivemos nossos desentendimentos. — Kreese disse rindo, o que fez Aaron, que não entendia o contexto da cena, se tranquilizar e voltar a fazer seu trabalho. — Mas foder com a sua vida? Qual é. Você não era ninguém antes de me conhecer. Se lembra?
— É, eu me lembro bem. Está tentando fazer agora o que fez comigo naquela época. Mas eu não sou mais criança. Você não vai achar minha fraqueza e não é mais meu sensei. Vai continuar desse jeito. — Johnny disse levantando com raiva, mas tentando parecer o mais tranquilo possível. Não queria que Aaron desconfiasse da conversa ou sequer soubesse ao ponto de contar algo para o LaRusso. — Você tem razão, o mundo precisa do Cobra Kai. Mas ele não precisa de você. Fique longe dela, fique longe de mim.
Johnny se levantou e saiu pela porta, indo embora, deixando Kreese sentado sozinho na mesa, com um sorriso enigmático no rosto.
O sol da tarde se filtrava através das janelas do dojo Miyagi-Do, criando um padrão de luz e sombra no chão de tatame. Daniel LaRusso estava de pé, observando Robby praticar seus movimentos com concentração intensa. Havia um ar de seriedade no dojo, um contraste marcante com a vibração usualmente tranquila do lugar.
— O principal pilar do Myagi-do é esse. — Daniel perguntou, sua voz suave mas séria.
Robby parou seus movimentos e olhou para Daniel, um pouco surpreso com a pergunta.
— Qual? — ele respondeu, tentando entender o que Daniel queria dizer.
— O karatê é somente para a defesa. — Daniel explicou, seus olhos fixos nos de Robby. Que vai encarnar a tapeçaria atrás do senhor LaRusso, que dizia isso em outra língua. — A confiança é nossa força, Robby. Fico feliz de podermos compartilhar disso.
Robby hesitou por um momento, mas depois assentiu.
— Sim, eu... eu sei. — ele disse, sua voz um pouco incerta. Daniel sorriu, mas havia uma sombra de preocupação em seus olhos.
— Isso é bom de ouvir. — ele disse. — E lembre-se, entre nós, não haverá mais mentiras. Precisamos confiar um no outro completamente.
As palavras de Daniel atingiram Robby como um golpe, e ele sentiu um peso invisível começar a se formar em seus ombros. Ele sabia que Daniel estava certo, mas isso apenas intensificava sua culpa. Aaron havia lhe pedido para manter em segredo o estado de seu pai e a difícil situação que estava enfrentando. A pressão da promessa não dita começou a esmagá-lo.
Robby olhou para Daniel, sentindo a necessidade de compartilhar o peso de seu segredo.
— Eu... — ele começou, as palavras lutando para sair. — Tem uma coisa que preciso te contar.
Daniel olhou para ele com curiosidade, seus olhos cheios de preocupação paternal.
— O que é, Robby? — ele perguntou, a tensão crescendo em sua voz.
Robby respirou fundo, sentindo o peso da verdade que estava prestes a revelar.
— É sobre a Aaron. — ele disse, desviando o olhar. — O pai dela está no hospital. Ele teve algo parecido com uma overdose. Ela me pediu para não contar a ninguém, mas eu me sinto péssimo por esconder isso de você.
A expressão de Daniel se transformou de curiosidade em profunda preocupação.
— Aaron está lidando com isso sozinha? — ele perguntou, a urgência evidente em seu tom. — Ela precisa de ajuda. Não posso simplesmente ignorar isso.
— Por favor, Sensei LaRusso. — Robby implorou, segurando o braço de Daniel. — Ela me pediu para não contar. Ela tem muito orgulho. Só prometo não dizer nada diretamente a ela.
Daniel respirou fundo, tentando processar a informação. Ele sabia que não podia simplesmente ficar de braços cruzados.
— Eu me sinto responsável por cuidar dela. — ele disse, a voz carregada de determinação. — Eu devo isso a ela e vou cuidar dos custos. Mas prometo não contar a ela que foi você quem me disse. Isso fica entre nós.
Robby assentiu, aliviado, mas ainda sentindo a culpa corroendo dentro de si.
— Obrigado, Sensei. — ele disse, sinceramente grato. — Isso significa muito para mim. E para ela também, mesmo que ela não saiba.
— Vamos resolver isso juntos. — Daniel afirmou, colocando uma mão reconfortante no ombro de Robby. — Mas lembre-se, sempre que houver algo desse tipo, você pode me contar. Estamos nisso juntos.
Robby respirou fundo, sentindo um peso ser tirado de seus ombros, mas sabendo que ainda havia muito a fazer. Eles se separaram, ambos mais determinados do que nunca a proteger aqueles que amavam.
No estacionamento do centro comercial de Reseda, Samantha LaRusso estacionou seu carro perto da entrada do dojo Cobra Kai. O sol da tarde lançava um brilho quente sobre o asfalto enquanto os alunos saíam do treino. Aisha Robinson saiu do dojo, rindo e conversando animadamente com alguns amigos. Quando viu Samantha, correu até ela com um sorriso animado.
— Finalmente mudou de ideia e vai entrar para o Cobra Kai? — Aisha brincou, empurrando levemente o braço de Samantha. — Está faltando mulher.
— Até parece. — Samantha respondeu, rindo. — Eu vim ver se você não quer dar uma volta, quem sabe caminhar juntas ou ir ao clube de praia...
Desde o término com Miguel, Samantha se sentia perdida. A ruptura com Aaron também pesava em seu coração. Agora, Aisha era sua única amiga que restara, desde que aceitara seu pedido de desculpas após o torneio. Samantha tinha esse problema, não sabia ficar sozinha.
— Eu adoraria, mas... — Aisha começou, visivelmente desconfortável por ter que recusar. — Nós vamos na casa do Falcão. Ele diz que arranjou uma namorada nova e vai nos obrigar a assistir "Falcão, o campeão dos campeões" e tentar convence-lá a entrar pro cobra kai. — Ela riu, mas Samantha notou a ponta de tristeza em seu próprio sorriso. — O sensei inventou um debate.
Samantha desviou o olhar e viu Miguel sair do dojo, ao lado de Falcão. Eles conversavam animadamente, o que a fez sentir um aperto no peito.
— Quer ir com a gente? — Aisha perguntou, percebendo o desconforto de Samantha.
— Eu estava pensando em fazer algo só com você. Entre nós duas... — Samantha respondeu, hesitante. Ela não estava pronta para encarar Miguel.
— Bom, seria legal se você fosse... Seria bom vocês conversarem, pra tentar esclarecer as coisas. — Aisha sugeriu, tentando ajudar.
— É melhor deixar para outro dia. — Samantha disse, balançando a cabeça em negação.
— Tudo bem, desculpa... — Aisha respondeu, se afastando. — Tchau.
— A gente se vê depois, tchau... — Samantha respondeu, observando Aisha se distanciar. Sentia-se ainda mais sozinha.
Samantha entrou novamente em seu carro, mas não ligou o motor. Observou o dojo e a vida que continuava ao redor. Os risos, as conversas animadas e a camaradagem dos alunos do Cobra Kai a faziam sentir ainda mais sua solidão.
Ela pensou em Aaron. Não conseguia evitar o pensamento de que, de alguma forma, havia feito algo errado. Mas o que poderia ter sido? Aaron tinha começado a briga, não ela. Samantha revisitou mentalmente cada conversa, cada momento compartilhado, tentando encontrar alguma pista do que poderia ter afastado Aaron. Mas não encontrou nada de concreto, porque não se sentia culpada por nada que tinha feito.
O sol já tinha se posto há algum tempo, e o Myagi-Do estava envolto em um crepúsculo tranquilo. Samantha LaRusso, após um dia cansativo, estava sentada em uma das cadeiras amadeiradas de dentro do dojo, ela quase nunca ia aquele lugar, mas havia se sentido frustrada recentemente. Aquele lugar era como um ponto de paz pra ela, onde ela havia crescido e tido suas primeiras aulas ao lado de Aaron e aquela memória não ia embora nunca.
— Pai, eu não sei mais o que fazer. — Samantha começou, a voz embargada pela frustração. — A Aaron não quer falar comigo. Desde o torneio, tudo ficou tão difícil entre nós. Eu tentei me aproximar, mas ela só se afasta.
O Sr. LaRusso, com um olhar paternal e compreensivo, respondeu com paciência:
— Samantha, às vezes, a vida nos coloca em situações difíceis e, por mais que queiramos resolver tudo imediatamente, precisamos ter paciência. Aaron pode estar passando por um momento difícil que você não compreende completamente. — ele disse passando o braço ao redor do ombro da filha, a acariciando — E quanto ao seu ex-namorado, bem, ele era um babaca. E a vida continua. Você vai superar isso.
Samantha suspirou, absorvendo as palavras do pai. Ela sabia que ele tinha razão, mas a dor da rejeição e da distância com Aaron era difícil de ignorar.
— Obrigada, pai. Eu só... sinto como se tudo estivesse desmoronando e eu não soubesse como reconstruir.
O Sr. LaRusso colocou uma mão reconfortante no ombro da filha e ofereceu um sorriso encorajador.
— Eu ja te contei sobre a minha primeira namorada? — ele perguntou com um sorriso bobo no rosto e Samantha balançou a cabeça em negação — Eu tinha a sua idade, ela era de outro mundo. Olhos lindos, sorriso incrível... eu achei que fosse durar para sempre.
— O que aconteceu? — ela perguntou, intrigada
— Nós saímos de Nova Jersey, viemos pra Califórnia e eu conheci a Ali. Também achei que duraria pra sempre — ele sorriu pra ela de maneira brincalhona, — Pra mim, aquilo era amor verdadeiro.
— O que houve com a Ali? — ela levantou as sobrancelhas curiosa
— Isso é história pra outra hora, muito longa. — ele riu e continuou — Depois dessa, tem outra história, e mais outra. O que eu quero dizer filha, é que sempre achamos que o mundo vai girar em torno de uma pessoa, mas depois, conhecemos alguém novo. Eu sei que é difícil, mas todos passamos por isso.
— É, mas nem todos participam de um culto maluco de karatê que quer dominar metade da escola. — ela disse, franzindo a sobrancelha
— É por isso que vou abrir o Myagi-Do. — ele disse, confirmando seu próprio ponto — tenho passado a semana com Robby aqui, reformando tudo. Vamos abrir e quando isso acontecer, podemos lutar e revidar, acabar com o Cobra kai.
— Eu não quero lutar com eles. — ela disse, discordando — Não são meus inimigos, são meus amigos. Pelo menos, costumavam ser.
— Vamos, tente meditar um pouco — ele disse se levantando do tatame — As coisas vão melhorar com o tempo, eu prometo.
Quando Daniel LaRusso se levantou para sair da pequena casinha do Myagi-Do, começou a pensar em algumas tarefas finais antes de encerrar o dia. O céu escureceu e a iluminação do dojo lançou um brilho suave no gramado.
Enquanto isso, Aaron estava correndo pelo gramado, visivelmente animada. Ela encontrou Robby e o abraçou com força.
— Robby! — disse, ofegante e radiante. — Eu consegui o emprego!
Robby sorriu amplamente, feliz por ela.
— Isso é incrível, Aay! Estou tão feliz por você. — Ele a apertou em um abraço afetuoso, deixando um beijo estalado em seu rosto — Terminamos o dojo. — ele disse, então aponto para a placa amadeirada que tinha acabado de pregar
— Incrível! — ela disse, de maneira animada.
Mas o sorriso de Robby vacilou quando ela viu o Sr. LaRusso sair da casinha. O olhar dele e o dela se cruzaram, e havia uma tensão no ar. Era evidente que algo estava acontecendo entre eles, algo que Aaron não sabia completamente. Ela se lembrou das palavras de Robby e dos seus próprios sentimentos de estar em dívida com a vida de Aaron.
— Desculpa a demora, senhor LaRusso. — Aaron disse, ainda ofegante. — Estava trabalhando e só fui liberada agora. Mas posso encerar o chão a noite toda. — ela riu, se aproximando do mais velho
Robby, com um olhar preocupado, perguntou:
— Aay, você comeu alguma coisa?
— Eu almocei. — Ela respondeu, tentando acalmar o coração acelerado. — Quem se importa, é hora do karatê.
— Fico feliz que no primeiro dia minha equipe já duplicou. — ele disse, sorrindo pra Aaron que abraçou Robby de lado, de maneira animada.
— Então, o que vamos fazer com o Cobra Kai? — Robby perguntou, encarando LaRusso através da luz do fim do dia
— Eu estive meditando sobre essa resposta. — ele disse, encarando os dois adolescentes — A resposta, é que não vamos. O cobra kai não é o inimigo, porque não existem inimigos. O seu pai, os alunos dele. São todos como nós, a diferença é foram mal instruídos. O objetivo do Myagi-Do, não é combater eles, sim mostrar que existe um jeito melhor, pra todos.
Aquele discurso foi o suficiente para Aaron tirar a mão do bolso, onde o cartão amassado de John Kreese estava guardado, e devolvê-lo ao fundo do bolso do seu jeans. Ela havia ouvido o que Daniel LaRusso tinha a dizer e estava convencida de que a presença de Kreese não mudaria nada, muito menos os fundamentos do Myagi-Do. A confiança que Daniel transmitia era reconfortante, e Aaron decidiu que não precisava assustar ninguém com ameaças vazias. A presença de Kreese, por enquanto, permaneceria apenas uma lembrança em seu bolso, sem poder para alterar seu caminho ou suas convicções. Ela estava decidida a seguir em frente, focada em manter a integridade do Myagi-Do e o propósito que isso representava para ela. A volta do aparentemente dono do Cobra Kai, ficaria escondido como um segredo, no fundo de sua mente, por enquanto.
Samantha, do lado de dentro do dojo, apareceu de repente. O rosto de Aaron mudou instantaneamente, sua expressão animada transformando-se em um semblante de desaprovação. Ela sabia quem Samantha era a filha de LaRusso e uma aluna avançada de karatê, sabia que ela podia querer treinar com eles a qualquer momento, ela só não fazia ideia de que ela teria essa coragem. O Myagi-Do parecia ser um espaço que ela compartilhava apenas com Robby, e o fato de Samantha aparecer ali a deixou desconfortável.
Samantha sorriu timidamente e perguntou:
— Tem espaço para mais uma?
Aaron sentiu um frio na barriga ao se dar conta de que o Myagi-Do não era só dela e de Robby. Era um espaço que, aparentemente, também pertencia a Samantha. Ela se perguntou se havia mais coisas que não sabia e o que exatamente significava para ela ter encontrado um lugar ali.
A tensão no ar era palpável enquanto Samantha esperava uma resposta. Aaron, sentindo a mudança na atmosfera, tentou esconder seu desconforto e forçou um sorriso.
— Claro, tem espaço para todos. — Aaron disse, tentando parecer amigável, com um sorriso amarelado no rosto.
Samantha desceu os degraus, e o Sr. LaRusso observou a interação com um olhar pensativo. Robby, sentindo a tensão, tentou relaxar, mas a situação estava longe de ser resolvida. Samantha deu alguns passos na direção dele, posicionando-se no meio, entre ele e Aaron, enquanto sorria para o próprio pai.
— Eu tenho um bom pressentimento sobre esse lugar. — Daniel LaRusso disse, com um sorriso no rosto, ao perceber o quão perfeito seu dojo estava se tornando. — Vocês precisam descansar, porque nesse verão, passaremos muito tempo aqui. — ele completou. Os três se entreolharam, sorrindo entre si. Mesmo que Aaron tivesse, ao contrário dele, um péssimo pressentimento.
— Mas eu acabei de chegar, me deixe lixar alguma coisa, remover algumas calhas... — Aaron pediu, querendo se sentir útil.
— Não precisa, cuidamos do que falta pela manhã. — Daniel disse, encarando Aaron de maneira protetora. — Vá descansar.
— É, Aay. Vamos pra casa, você trabalhou o dia todo. — Robby disse, estranhamente, a levando para longe do dojo enquanto andavam, com o braço dele ao redor do corpo dela. Aaron apenas aceitou, achando a reação dos dois esquisita. Eles estavam tratando-a de forma protetora demais, e ela não conseguia entender o motivo por trás disso. Porque tanta proteção, Robby estava com pena dela? Ela
Tentou apagar esses pensamentos confusos e o seguiu até em casa.
— Só quero dizer uma coisa. — Kreese disse, entrando no dojo. O tilintar da porta de entrada foi o barulho suficiente para Johnny se levantar apressadamente, encarando o mais velho. — Depois eu vou embora.
— O que você quer? — Johnny perguntou, desviando o olhar como a criança de catorze anos que morria de medo dele.
— Me desculpe. — Kreese disse, e Johnny se assustou com a palavra. — Você era jovem, e eu passei dos limites. Você era meu melhor aluno e tinha muito potencial. Rayken era como minha filha; a traição foi amarga para mim. Eu não aguentei ver você perder. — Ele parecia se emocionar. — Posso ter sido um filho da puta cruel com você, mas se tivesse visto algumas das coisas que eu vi... — Ele se corrigiu, respirando fundo. — Bom, isso não muda o que fiz. Passei anos me culpando por aquela noite. Mas quando vi que o Cobra Kai estava reabrindo, pensei que fosse uma chance, uma última chance. Pensei que, não sei, a veria de novo. Então, na primeira noite, encontrei a filha dela. Acredite, garoto... não há nada que eu queira mais do que me redimir. Eu entendo se não quiser mais me ver, mas lembre-se: eu sou o único que sempre torceu por você.
Dito isso, Kreese deu meia volta, segurando sua bolsa de viagem, antes de passar pela porta de cabeça baixa. Johnny não se permitiu dizer uma palavra sequer. Ele não se atreveria.
Antes de sair, Kreese deu meia volta e abriu uma bolsa. No mesmo instante, tirou de lá o troféu de segundo lugar, o mesmo que ele havia quebrado no rosto de Johnny na noite em que perdeu o torneio em 1984. — Eu consertei para você. — Kreese disse, deixando-o no chão. — Pode estar escrito 'segundo lugar', mas para mim, você sempre será o meu primeiro. — Ele se despediu, dando meia volta e saindo de dentro do Cobra Kai.
Foram questões de segundos para o coração manipulável de Johnny dar um pulo, fazendo-o correr atrás do homem, sentindo culpa por mandá-lo embora.
— Kreese! — Ele gritou, passando pela porta do dojo em um pulo. — Espera.
Johnny sabia que, depois disso, não havia mais volta.
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[6500 palavras]
Bem vindos ao ato 2!
O que acharam?
Agora a frequência de postagens vai dar uma diminuída, mas espero que a constância de vcs permaneça a msm, porque vou tentar continuar dando o meu melhor por aqui, msm que não estando mais de férias.
Amo vcs,
Votem e comentem o máximo possível pfv.
Bjs
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