ᴇɪɢʜᴛᴇᴇɴ - 𝘮𝘰𝘰𝘯'𝘴 𝘱𝘢𝘳𝘵𝘺 𝘴𝘩𝘪𝘵






Episódio dezoito,
𝘮𝘰𝘰𝘯'𝘴 𝘱𝘢𝘳𝘵𝘺 𝘴𝘩𝘪𝘵











Não tinha sido difícil entrar para o Cobra Kai.
Na verdade, foi até fácil demais.

Aaron MacGyver estava ocupada com seu emprego de férias, trabalhando quase todos os dias da semana, mas quando recebeu uma mensagem de John Kreese, um sentimento diferente a tomou. Tory havia plantado a dúvida semanas antes, questionando o porquê de ela continuar no Miyagi-Do, onde seus esforços eram constantemente subestimados. Aaron quase venceu o torneio regional para Johnny Lawrence, mas ele mal agradeceu. Ela sabia que era a melhor da idade deles, então por que continuar num lugar onde era tratada como se não fosse nada?

A porta do dojo quase se abriu sozinha quando Aaron chegou. Se ela tivesse parado para pensar por um segundo, teria voltado para casa, mas algo a empurrou para frente. Talvez fosse o desejo de provar algo, de se afirmar. Mesmo com seu emprego consumindo a maior parte do tempo, ela não conseguiu resistir ao chamado.

Miguel praticamente abriu a porta para ela, como se fosse o destino que a trouxesse até ali, e agora ela estava parada, diante de Johnny Lawrence.

— Então, quer dizer que você quer entrar para o Cobra Kai? — Johnny perguntou, uma risada presa na garganta, mantendo o típico tom desafiador e sarcástico.

— Kreese me convidou. — Aaron disse, encolhendo os ombros e cruzando os braços, como se estivesse se defendendo de algo invisível.

— Kreese não dá mais aula aqui. — Johnny respondeu de forma direta.

— Que estranho, a mensagem veio ontem. — Aaron replicou, surpresa.

— Foi exatamente ontem que eu o mandei embora. — Johnny deu de ombros, como se fosse a coisa mais natural do mundo. — Aliás, você não deveria estar trocando mensagens com ele.

— Por que não? — Aaron perguntou, mas Johnny hesitou em responder. Queria alertá-la sobre o encontro que teve com Rayken, sobre como Kreese era perigoso e manipulador, mas se conteve.

— Ai, garota. Só vaza. Volta pro seu Miyagi-Do e continua falando com as plantinhas. — Johnny disse, impaciente.

— É um bonsai, sensei. — Miguel interveio, finalmente se manifestando.

— Tanto faz. — Johnny balançou a cabeça.

— Eu não estou mais no Miyagi-Do. — Aaron anunciou, o tom frio.

— Deu pra perceber. — Johnny a olhou de cima a baixo, o sarcasmo gotejando de cada palavra. — Que foi, o Robby te deu um pé na bunda?

— Não me deu um pé na bunda porque não tínhamos nada. Se você soubesse o básico sobre seu filho, saberia disso.

A provocação acertou em cheio, mas Johnny não ficou para trás. — Como se a sua família fosse exemplo de união e paternidade.

— Vai à merda! — Aaron gritou, empurrando-o com força, a raiva transbordando.

— Vai você! — Johnny revidou, cutucando-a de volta, como uma criança teimosa.

— Beleza, gente, chega! Isso já foi o suficiente, ok? — Miguel interveio, colocando-se entre os dois. — Ela é boa, sensei. Talvez a melhor.

— Duvido. — Johnny negou, balançando a cabeça como uma criança birrenta.

— Eu quase ganhei o regional para você, seu ingrato. — Aaron rebateu, a frustração evidente.

— Você disse bem, quase. — Johnny retrucou com um sorriso desdenhoso.

— Eu ganhei o Coyote Creek. — Aaron afirmou, deixando Johnny surpreso. Aquilo significava que Kreese estava se aproximando, rondando-a, o que preocupava Johnny. Ele sabia que nada vindo de Kreese era bom. — E eu chutaria a bunda do Miguel aqui e agora, se você pedisse. Sem ofensa. — Aaron disse, lançando um sorriso para Miguel, ciente de que ele era melhor que ela no karatê, mas não resistindo ao blefe.

Johnny respirou fundo, pensando por um momento, antes de finalmente ceder. — Beleza. Tem aula amanhã. Não venha com aquele kimono horrível de planta.

— O quê? — Aaron perguntou, confusa, enquanto o via se afastar em direção ao escritório e retornar com uma cerveja. — É sério? — ela perguntou, ainda incrédula.

— É. — Johnny confirmou com um dar de ombros, abrindo a latinha que fez um barulho ao esguichar um pouco de líquido. — Você é boa. E eu odeio o LaRusso.

— Tudo bem. Aula amanhã. — Aaron disse, um sorriso agradecido surgindo em seu rosto.

Ela sabia que deveria deixar o karatê de lado, mas algo a impedia. Quando se viu quebrando um jarro de planta contra a parede, depois de horas sentindo-se sufocada no pequeno apartamento, a raiva crescendo dentro dela, percebeu que a ausência do karatê, da meditação e das lutas estava cobrando seu preço. Talvez fosse essa ausência que estava despertando a vontade avassaladora de quebrar tudo ao seu redor, inclusive a si mesma.

Aaron tinha a teoria de que o karatê a ajudava a manter o foco, a encontrar algum controle, e agora estava apostando todas as suas fichas nisso.






A MacGyver não se importava com o Cobra Kai. As poucas vezes que apareceu nas aulas, observava Johnny Lawrence pregando seus métodos agressivos e infantis, incitando a raiva e a imprudência entre os alunos. Ele era um babaca, simples assim. Toda vez que ele fazia um discurso vazio, Aaron se perguntava por que ainda estava ali. Durante esses momentos, ela sentia uma saudade inesperada de Daniel LaRusso, com seu jeito calmo e as práticas quase ridículas, como fazê-la girar em círculos no lago. Talvez, no fundo, não fosse LaRusso quem ela realmente sentia falta. Talvez fosse Robby, mas esse era um pensamento que ela se recusava a admitir.

Quando ela aparecia no dojo, fazia o básico. Treinava, servia de exemplo para os alunos mais jovens, como Bert, mas sua presença era meramente física. Ela não estava envolvida de verdade, não se comprometia. Entretanto, uma mudança sutil começou a ocorrer. O olhar de repúdio que Falcão lhe lançava desde que chegou ao Cobra Kai havia se transformado em breves cumprimentos, como "bom dia" sussurrados, e uma aceitação relutante para treinar em dupla. Summer, por outro lado, sempre foi gentil. Ela não era tão boa no karatê quanto Aaron, mas tinha uma leveza e uma alegria que Aaron quase invejava. Summer não estava ali por amor ao karatê; seu sonho era ser artista, e ela estava no dojo principalmente por causa de Falcão, aproveitando a experiência pelo lado divertido.

Era estranho pensar que Summer estava se dedicando a algo que não amava de verdade, e mais estranho ainda era que a mãe dela não sabia de nada. O pai de Summer pagava as mensalidades em segredo, e isso fez Aaron se perguntar por que Johnny nunca cobrava nada dela. Nenhum centavo. Talvez fosse porque ele reconhecia o talento dela, ou talvez por ser péssimo com contabilidade. Ela até duvidava de ser Miguel quem arrumava as contas do lugar.

Quando ouvia Summer falar sobre arte, Aaron era transportada para uma época em que ela mesma sonhava em ser desenhista. Lembrava-se de usar tinta a óleo em folhas de aquarela, desafiando as regras básicas do mundo da arte. E agora, ao olhar para seus punhos enfaixados, sentia falta do toque delicado e gentil do pincel no papel. A suavidade dos movimentos, o prazer de criar algo bonito e pessoal, contrastava com os golpes brutais que ela praticava no dojo.

Mas aquele era um sonho bobo, pensava Aaron. Arte nunca traria dinheiro, e o karatê, além de aliviar o estresse, era aparentemente de graça. O toque gentil do pincel foi substituído pelos golpes duros e precisos que ela aplicava contra Tory. E, de alguma forma, ela se convenceu de que isso era suficiente. Mas no fundo, ela sabia que algo estava faltando. O vazio que sentia enquanto treinava no Cobra Kai, cercada por gritos de "Sem misericórdia", era um lembrete constante de que, às vezes, os sonhos deixados para trás têm um custo maior do que o imaginado.

Aaron mal teve tempo de entender o que Falcão estava dizendo quando sentiu o impacto de seu próprio corpo sendo jogado no chão. A força do golpe que ele desferiu foi suficiente para que ela girasse no tatame e perdesse o equilíbrio, algo que raramente acontecia. Ainda assim, havia algo estranho naquela luta, como se ele estivesse segurando a força e desviando a atenção para longe do que estava acontecendo.

— Moon me disse que vai dar uma festa no sábado — Falcão repetiu, o tom de sua voz mais claro agora, como se tentasse assegurar que ela o entendesse desta vez.

Aaron piscou, confusa, enquanto ambos se levantavam quase ao mesmo tempo. Havia algo de diferente nele, uma gentileza inesperada que a deixou ainda mais perplexa.

— O quê? — ela perguntou novamente, tentando recuperar o foco, mas ainda atordoada pela abordagem inesperada.

— A Moon vai dar uma festa no sábado — ele repetiu, mais uma vez, como se estivesse tentando quebrar uma barreira invisível entre os dois. Ele estava sendo... gentil? Isso era muito estranho, ainda mais vindo de Falcão. — Você quer ir?

— Por que está me perguntando isso? — Aaron perguntou, tentando entender as intenções dele. Não era comum que ele a tratasse dessa forma, e algo na maneira como ele a encarava a deixava desconfortável.

— Pensei que você fosse querer ir — Falcão respondeu, o tom de voz quase casual, mas havia algo subjacente ali, algo que ela não conseguia identificar.

Aaron ficou em silêncio por um momento, tentando decifrar o que realmente estava acontecendo. Falcão inclinou a cabeça levemente, observando Aaron com um olhar que misturava curiosidade e algo que ela não conseguia definir completamente.

— Bom, agora que você parece estar mesmo no Cobra Kai, não tem por que a gente ficar se tratando mal — ele disse, com um tom de voz mais descontraído, quase como se estivesse tentando estabelecer uma trégua.

Aaron ergueu uma sobrancelha, ainda desconfiada daquela súbita mudança de comportamento. Falcão nunca foi de dar espaço para gentilezas, então essa abordagem a deixava um pouco desconcertada.

— É, pode ser — ela respondeu, tentando manter a voz neutra, mas não pôde evitar que uma pitada de ceticismo escapasse. Ela deu de ombros, como se aquilo não importasse tanto para ela, mas na verdade estava tentando entender o que ele realmente queria com aquela aproximação.

— Talvez eu vá — disse, sem se comprometer totalmente, sua desconfiança evidente na forma como olhava para ele. Aaron não era do tipo que se deixava levar facilmente por mudanças súbitas de atitude, especialmente quando vinham de alguém como Falcão.

Ele pareceu satisfeito com a resposta, mas antes que a conversa pudesse continuar, Johnny Lawrence chamou por eles novamente, interrompendo o que quer que estivesse se desenrolando ali. Aaron se afastou, ainda com a mente cheia de perguntas, mas decidida a não baixar a guarda tão cedo. Ela sabia que no Cobra Kai, qualquer fraqueza podia ser usada contra ela.




Dias depois, do outro lado da cidade, Samantha estava sentada na cama, envolta em um cobertor felpudo e colorido, navegando pela internet. Ao percorrer o próprio feed, deparou-se com uma nova publicação de Aaron. Não se lembrava de terem deixado de se seguir, o que a fez ficar obcecada em ver o que a antiga amiga andava postando. O vídeo mostrava Tory dando chutes potentes em um saco de pancadas, enquanto Aaron filmava, destacando suas próprias mãos enfaixadas com um sorriso no rosto. O hematoma da briga no shopping parecia ter desaparecido do rosto de Aaron, o que era um alívio, mas também um doloroso lembrete de que já faziam semanas desde a última vez que trocaram uma palavra. Samantha sentia falta de Aaron, mas não conseguia se arrepender de suas ações.

— Você deveria vir aqui mais tarde! — A voz de Moon soou animada do outro lado do computador, trazendo Samantha de volta ao presente. — Minha mãe viajou. Pode trazer seus amigos do karatê.

— Você vai dar uma festa? — Samantha perguntou, encarando a parede atrás do computador, pensativa. O clima em sua casa estava insuportável desde que Robby pediu para eles se afastarem. Ela precisava desesperadamente de uma distração. Quando o beijou pela primeira vez e ouviu um "a gente não devia fazer isso", pensou que era só um medo bobo do pai dela descobrir. Mas, depois da conversa no estacionamento da pista de patinação, onde Robby deixou claro que não sentia nada por ela, percebeu que estava apenas tentando fazer Miguel se sentir mal pelo que ele tinha feito.

Usando Robby para aquilo.

— Sam? — Moon chamou novamente, tirando-a dos devaneios. — Sim, vou dar uma festa. Vai ser irado.

— Legal, vou tentar ir — Samantha respondeu com um sorriso, fechando o computador e se dirigindo ao armário para procurar algo para vestir.

Enquanto Samantha vasculhava as roupas, seus pensamentos continuavam a girar em torno de Aaron e da distância que se criou entre elas. O vídeo no feed de Aaron era um lembrete constante de tudo que estava errado. A amizade, antes tão forte, agora parecia um eco distante, corroída pelo orgulho, pelas decisões impensadas e, talvez, pelos caminhos que cada uma escolheu seguir.

Pegando uma blusa, ela a segurou por um momento antes de jogá-la de volta no armário com um suspiro frustrado. A lembrança de Robby também não ajudava. Desde o término abrupto e confuso, as coisas em casa só pioraram. A ideia de ir à festa de Moon parecia uma boa oportunidade para fugir de tudo isso, pelo menos por algumas horas.

Finalmente, Samantha encontrou um vestido simples, mas bonito. Talvez a festa de Moon fosse o que ela precisava para se distrair e, quem sabe, começar a resolver a bagunça em sua vida. Vestiu-se lentamente, tentando afastar os pensamentos negativos, mas não conseguiu evitar dar uma última olhada no vídeo de Aaron antes de sair do quarto. Havia uma parte dela que queria estender a mão, mandar uma mensagem, tentar reparar as coisas... Mas o orgulho a impediu. Mais uma vez.

Determinada a não se deixar abater, guardou o celular, pegou uma jaqueta e desceu as escadas, decidida a aproveitar a noite e, quem sabe, encontrar um pouco de paz em meio ao caos que sua vida tinha se tornado.




Aaron MacGyver estava parada no gramado da casa de Moon, tentando absorver o cenário à sua frente. A propriedade era muito maior do que ela havia imaginado, com um jardim bem cuidado que parecia se estender infinitamente e uma piscina iluminada que refletia as luzes coloridas da festa. Quando recebeu o convite por meio de Falcão, pensou que seria uma reunião simples, talvez uma daquelas festas caseiras onde as pessoas se aglomeravam na sala de estar ou na varanda. Mas isso? Isso era um evento.

Ela ajeitou o short jeans rasgado, o mesmo que usava quase todos os dias depois do trabalho na lanchonete, sentindo o tecido familiar contra a pele. O short, que já começava a andar sozinho, era uma lembrança constante de como sua vida estava desgastada. Ela vinha considerando seriamente a sugestão de Tory: abandonar o emprego de garçonete e começar a animar festas infantis. Tory sempre falava que, em alguns dias, ganhava mais dinheiro fazendo isso do que servindo mesas, e Aaron começava a achar que essa poderia ser uma saída para seu cansaço acumulado.

Enquanto caminhavam em direção à entrada lateral da casa, Moon falava animadamente sobre o conservadorismo da mãe em relação à maconha. Aaron, ao ouvi-la, se deu conta de como queria ter problemas simples como esse. Lidar com pais que pegavam no pé por causa de um baseado parecia tão trivial comparado ao que ela enfrentava. Mas ela não estava mais em posição de escolher os tipos de problemas que gostaria de ter.

Seu pai não mandava uma mensagem sequer há semanas. O silêncio dele era um vazio que ela não sabia como preencher. Em contraste, Amanda LaRusso havia enchido sua caixa de mensagens com tentativas de contato. Cada nova notificação era um lembrete do que Aaron queria esquecer, uma presença incômoda que ela não conseguia simplesmente bloquear. Mas responder? Não, isso estava fora de questão. Aaron não via sentido em continuar esse contato. Se afastar era a única escolha que fazia sentido.

Robby também não a deixava em paz. Nos últimos dias, ele havia enviado cinco mensagens, todas insistentes, algumas pedindo que ela voltasse para o Miyagi-Do, outras sugerindo que precisavam conversar. A cada nova mensagem, Aaron sentia uma mistura de raiva e mágoa. Era como se ele não compreendesse o que ela havia passado, como se ele achasse que bastava pedir para que tudo voltasse ao normal. Mas não era assim que funcionava. Não para ela.

Moon continuava a falar, e Aaron tentou se concentrar no que a garota dizia, mas sua mente vagava, presa em um emaranhado de pensamentos. Elas caminhavam pelo jardim, e Aaron observava as lanternas penduradas nas árvores, as cores suaves contrastando com o céu escuro. Havia algo quase mágico na cena, uma sensação de normalidade que Aaron mal se lembrava de como era.

Quando elas chegaram à entrada lateral da casa, a música estava alta e as vozes das pessoas se misturavam em um zumbido alegre. Moon virou-se para Aaron, ainda rindo de algo que havia dito, mas Aaron mal prestava atenção. Ela estava perdida em suas próprias reflexões, pensando em como tudo ao seu redor parecia tão distante da realidade que vivia. Seus problemas, suas preocupações, tudo parecia irrelevante em comparação à leveza que pairava no ar daquela festa.

Enquanto as duas entravam na casa, Tory apareceu do nada, animada, segurando um copo vermelho nas mãos e com Miguel a reboque, a mão dele repousando possessivamente na cintura dela. Tory estava radiante, falando rápido, os olhos brilhando como se a festa fosse um palco onde ela pudesse finalmente brilhar. Aaron sentiu uma pontada de inveja ao observar a cena. Tory parecia tão à vontade, tão em casa naquele ambiente, enquanto Aaron se sentia como uma estranha, uma intrusa.

Elas continuaram caminhando até a sala de estar, e foi então que Aaron percebeu a tensão no ar. O pessoal do Miyagi-Do estava de pé, com os rostos fechados, encarando os membros do Cobra Kai que estavam esparramados no sofá, relaxados e conversando como se não houvesse um grupo rival a poucos metros de distância. A atmosfera, que antes era leve e festiva, ficou pesada de repente, como se uma nuvem negra tivesse se formado sobre todos eles.

Tory foi a primeira a reagir, lançando um olhar fulminante para Samantha, que por sua vez a ignorou com uma frieza calculada, concentrando seu olhar em Aaron. Era como se Samantha estivesse medindo cada centímetro dela, buscando algum ponto fraco, alguma razão para atacar. Aaron sentiu uma onda de frustração ao ver Robby ali, logo atrás de Samantha, parecendo perdido, mas ainda assim obediente. Ele não disse uma palavra, apenas permaneceu parado, como se estivesse esperando o momento certo para agir.

Moon, percebendo o clima tenso, tentou intervir, caminhando até Samantha com um sorriso largo e acolhedor, que parecia deslocado naquela situação.

— Oi, Sam! Que bom que vocês vieram — disse Moon, tentando dissipar a tensão com sua habitual energia positiva.

Aaron observou a interação, mas seus olhos foram atraídos por Demetri, que estava do outro lado da sala, tentando sorrir para ela, apesar da evidente confusão que tomava conta de todos. Ela sentiu uma pontada no peito. Sentia falta de Demetri, de como as coisas eram antes de tudo girar em torno de karatê e rivalidades. Mas agora, tudo era sobre isso, e era impossível fugir.

— Tem barril de cerveja lá fora, bebidas na cozinha e salgadinhos veganos que acabei de tirar do forno! — Moon continuou, como se tentasse manter a festa viva com sua própria energia.

Samantha, no entanto, estava claramente irritada. Seus olhos faiscaram ao ouvir a palavra "Cobra Kai" e, em um tom baixo, mas cheio de desdém, respondeu:

— Você não disse que o pessoal do Cobra Kai vinha.

A voz dela estava cheia de desprezo, mas baixa o suficiente para que apenas os mais próximos pudessem ouvir. Aaron sentiu o sangue ferver. Como ela ousava? Sem hesitar, deu um passo à frente, sua voz cortante.

— Não gostou? Pode voltar por onde você veio.

A provocação estava clara em cada palavra, e Aaron quase sorriu ao ver o rosto de Samantha endurecer. A menina LaRusso parecia prestes a explodir, e por um momento, Aaron pensou que ela avançaria para se defender, mas antes que isso pudesse acontecer, Moon se colocou entre as duas, levantando as mãos em um gesto conciliador.

— Ei, gente! Calma! — disse Moon, ainda com aquele sorriso pacificador que parecia fora de lugar. — Achei que, com o fim do verão e o início das aulas, poderíamos parar de brigar e fazer as pazes.

— Não acho que isso vá rolar — Samantha respondeu, desviando o olhar de Aaron para Moon, com uma expressão pesada de desaprovação.

Moon, no entanto, não se deixava abater facilmente. Ela balançou os braços de um lado para o outro, como se tentasse afastar a má energia.

— Que isso, Sam. Confia em mim. Se limpa dessa energia negativa! Vamos curtir a festa!

Aaron sentiu um riso amargo se formar em sua garganta. Samantha estava parada, com os punhos cerrados, e a tensão entre elas era quase palpável. Aaron se inclinou para frente, um sorriso desdenhoso nos lábios.

— Vai lá, Sam. Ouviu a Moon. Limpa seus chacras.

A provocação estava clara, e Aaron quase podia sentir o veneno na própria voz. Sem esperar uma resposta, virou-se e caminhou em direção à cozinha, à procura de uma bebida forte o suficiente para entorpecer seus sentidos e fazer a tensão desaparecer. A música alta voltou a preencher o ambiente, e a festa retomou seu ritmo, como se a breve tensão não tivesse sequer existido.

Enquanto Aaron servia a si mesma uma dose generosa de vodka, ela não pôde deixar de pensar em como tudo havia se tornado tão complicado. A nostalgia de tempos mais simples, antes de todas as rivalidades, a atingiu com força. Mas agora, não havia mais volta. A única coisa que podia fazer era sobreviver a mais uma noite, um drink de cada vez.

Aaron estava tão imersa em seus pensamentos que quase deu um salto quando ouviu a voz de Tory atrás dela.

— Ei, MacGyver. — A voz de Tory tinha aquela entonação característica, meio brincalhona, meio séria. Aaron se virou de repente, surpresa por não ter percebido a chegada da amiga.

— Jesus, Tory — Aaron suspirou, tentando disfarçar o susto enquanto jogava a cabeça para trás e terminava mais um copo de vodka. — Quer me matar de susto?

— Vai com calma, garota — Tory disse com um sorriso meio torto. — A vodka não vai sumir, tá?

Aaron riu de leve, mas o sorriso não chegou aos olhos. Ela só havia bebido três vezes na vida. No Canion com Miguel, o que ela se arrependeu, no clube com Tory, em que ela não bebeu mais do que um copo e no hospital, afogando as mágoas de sua vida de merda.

Sentia-se sufocada pelos últimos dias, especialmente com a lembrança do hospital. Tinha sido uma completa idiota ao se preocupar tanto com o pai, só para ele desaparecer como um covarde. Isso doía mais do que ela gostaria de admitir.

— Eu sei, mas esses copos são minúsculos... — Aaron resmungou, empurrando uma mecha de cabelo para trás da orelha enquanto preenchia mais um copo. — E, honestamente, eu preciso me perder um pouco.

Tory observou a amiga por um momento, vendo o quanto ela estava se forçando a afundar naquela bebida. Sabia que Aaron estava passando por muita coisa, mas não queria vê-la se destruindo desse jeito.

— Isso aqui tá com cara de que vai ser um desastre — Tory comentou, mas sua voz tinha uma leveza que tentava suavizar a preocupação. — Olha, eu ouvi dizer que vai rolar um jogo de shots no jardim. Que tal você sair dessa cozinha escura e se divertir um pouco?

Aaron sorriu, mas era um sorriso forçado, cheio de ironia. — Não valeu, Tory. Acho que prefiro ficar aqui afogando as mágoas sobre a bancada da cozinha.

Tory revirou os olhos, recusando-se a aceitar a resposta. — Por favor, né? Não vou deixar você se afogar na vodka sozinha. — Ela se aproximou, pegando o braço de Aaron com firmeza, mas sem ser rude. — Você quer se embebedar? Beleza, mas pelo menos faz isso do jeito certo. Esse jogo de shots vai ser o melhor jeito de afundar esses seus problemas, pelo menos por hoje.

Aaron hesitou, olhando para o copo vazio em sua mão. Parte dela queria recusar, continuar ali onde a dor parecia mais controlável. Mas a outra parte, a que lembrava dos momentos em que se sentia viva, sabia que Tory estava certa. Se ia se perder naquela noite, que fosse em boa companhia.

— Tá bom, tá bom, você venceu. — Aaron suspirou, finalmente se permitindo relaxar um pouco. — Vamos ver do que esse jogo é capaz.

Tory sorriu, puxando Aaron para fora da cozinha. A música do lado de fora estava alta, e as risadas e vozes animadas do jardim preenchiam o ar com uma energia que Aaron quase tinha esquecido que existia. Enquanto saíam, ela lançou um último olhar para a bancada, onde havia planejado passar a noite sozinha. Talvez fosse melhor assim — uma noite de diversão forçada, mas necessária.

E enquanto caminhavam para o jardim, Aaron não pôde deixar de pensar que, por mais fodida que estivesse, ainda havia algo de bom em ser arrastada de volta à vida por alguém que se importava o suficiente para não deixá-la desistir.





A festa já havia se transformado em uma mistura de risadas e competitividade amigável quando Aaron e Tory se encontraram sentadas sobre um banco íngreme no gramado do jardim de Moon. O som da festa ecoava ao fundo, mas ali, naquela pequena porção de grama, tudo parecia mais simples e descontraído. O jogo que haviam improvisado consistia em levantar uma perna no alto sem perder o equilíbrio enquanto bebiam uma mistura esquisita de álcool no copo. Quem caísse, perdia.

Elas começaram apenas por diversão, rindo cada vez que uma das duas quase tombava para o lado. O álcool estava relaxando Aaron de um jeito bom, distanciando-a de seus problemas e trazendo de volta um pouco daquela sensação de leveza que havia perdido.

A bebida a lembrava do pai dela. A bebida era agressiva. A bebida tinha feito a mãe dela ir embora e nunca mais voltar. Mas porque a bebida era tão boa e tão doce quando descia pela garganta dela? De maneira involuntária e gentil como se a abraçasse apertado como nunca tinha sido abraçada antes? Aaron amava aquela leveza. A fazia se sentir livre.

Tory, por sua vez, estava claramente se divertindo, rindo cada vez que Aaron a vencia por uma fração de segundo.

— Quando vocês vão perder? — um moleque interrompeu, aparecendo ao lado do banco com um sorriso travesso. — Eu quero jogar!

Aaron desceu do banco com um pequeno salto, ainda rindo da derrota de Tory. — A gente não tá jogando sério, cara — disse, balançando a cabeça.

— Vamos lá, a gente aposta uma grana. Vai ser legal — o garoto insistiu, apontando para o dinheiro que começava a acumular nas mãos de Tory.

Aaron trocou um olhar com Tory, e algo na expressão da amiga a fez decidir. Tory apenas levantou uma sobrancelha, como se dissesse "por que não?". Aaron sorriu, sentindo a adrenalina começando a tomar conta. Era como se o desafio repentino tivesse acendido algo dentro dela.

— Tá bom, então. — Aaron respondeu, voltando para o banco. Ela se equilibrou novamente, erguendo uma perna e preparando-se para a próxima rodada, dessa vez com seriedade. — Vamos ver se ganham de mim.

Com o incentivo de uma aposta, o jogo ganhou uma nova intensidade. Os garotos se revezavam tentando derrubar Aaron, mas ela estava incrivelmente focada, usando, sem perceber, as técnicas de concentração que havia aprendido no Miyagi-Do. Era como se o mundo ao redor sumisse, deixando apenas o desafio e a necessidade de vencer. Cada vez que um dos garotos caía, Tory, que havia descido para o solo, estendia a mão para pegar o dinheiro das apostas, rindo e provocando os derrotados.

— Mais sorte na próxima, parceiro — Tory zombava, enquanto os garotos saíam, um a um, frustrados com suas derrotas.

Aaron, por outro lado, parecia cada vez mais invencível. A cada nova tentativa, ela se mantinha firme, o copo equilibrado na mão, a perna levantada sem tremer. O banco íngreme, que no início parecia um desafio bobo, agora se tornava uma arena onde ela reinava suprema. Ela se equilibrava como havia feito tantas vezes no lago. Era da mesma consistência e espessura, o que a deixava familiarizada com tudo aquilo.

Mas o álcool era algo a parte, o que a fazia de vez em quando, titubear um pouco, sentindo o efeito em suas veias.

A tarde avançava, e o monte de dinheiro nas mãos de Tory crescia. Aaron estava no topo do banco, ofegante mas satisfeita, sentindo a adrenalina correr em suas veias. Era uma pequena vitória, mas naquele momento, parecia significar muito mais. Enquanto ela vencia mais um garoto, ouvindo as risadas e provocações ao seu redor, um raro sorriso genuíno surgiu em seu rosto.

Era quase como se, por um breve instante, ela tivesse se esquecido de todos os problemas que a cercavam. E naquele banco, com a grama sob seus pés e o copo na mão, Aaron encontrou um pouco de paz em meio ao caos.

— E a campeã invicta ainda é a Aaron! — Miguel gritou animadamente, sua voz ecoando pela área do jardim. O último garoto finalmente caiu da cadeira, derrotado pelo desafio. Aaron, com um largo sorriso de vitória, desceu do banco com os braços erguidos, mesmo que o peso do álcool começasse a se fazer sentir. Ela estava claramente animada, mas ainda não bêbada, apenas em um estágio de euforia e provocação.

Tory, rápida e atenta, segurou o ombro de Aaron para evitar que ela perdesse o equilíbrio e se machucasse. Depois de passar tanto tempo sobre o banquinho, Aaron estava um pouco desajeitada ao descer, mas conseguiu se ajustar com a ajuda de Tory. No mesmo instante, Samantha apareceu na entrada da casa de Moon, com os braços cruzados, acompanhada de Robby que a seguia de perto.

— Olha só quem está aqui! — Aaron exclamou, erguendo o copo vazio em um gesto triunfante, como se ainda houvesse algo dentro. Sua voz estava carregada de um entusiasmo desafiador. — Quer brincar? — Ela provocou Samantha com um olhar desafiador, sua expressão revelando uma mistura de diversão e audácia. — Ou prefere voltar lá para dentro e brincar de casinha?

Miguel, notando a crescente tensão, tentou puxar Aaron para longe, tentando evitar uma possível cena. No entanto, com a obstinação característica de Aaron, ele não conseguiu contê-la completamente.

— Só me dê um copo. — Samantha respondeu, sua voz carregada de provocação enquanto se dirigia para a mesa de bebidas. Aaron, ainda vibrante e com a adrenalina em alta, caminhou em direção à mesa, levantando as mãos em uma espécie de celebração desajeitada.

— Melhor não. — Robby interveio, posicionando-se entre Samantha e Aaron com um olhar sério. — Você já bebeu demais, nem é justo. — Ele estava defendendo Aaron sem que ela sequer pedisse ajuda. Era evidente que Aaron já havia bebido bastante, e conseguir ficar em pé era uma questão de pura sorte, enquanto Samantha, ainda sóbria, parecia não ter tocado em uma gota de álcool.

— O que foi? Acha que eu não consigo ganhar da sua namoradinha? — Aaron perguntou, sua voz cheia de desafio enquanto se aproximava de Robby. Ele estava tentando tirar o copo de sua mão e colocá-lo de volta na mesa.

— Ela não é minha namorada. — Robby respondeu, a voz tensa, dando um passo em direção a Aaron. Não era uma ameaça, mas sim um desejo de estar perto dela, talvez tentando captar um pouco da intimidade perdida após tanto tempo.

— Ah, claro. É que o pai dela te adotou, é? — Aaron continuou a provocar, sua voz arrastada e cheia de sarcasmo, claramente se divertindo com a situação e a irritação evidente de Robby.

— Para com isso, Aaron. — Robby pediu, vendo-a se virar para pegar o copo na mesa e dar outro gole. — Você não precisa... — No instante seguinte, Tory, percebendo que Robby tentaria novamente pegar o copo de Aaron, se posicionou entre eles com uma determinação firme.

— Beleza. Eu vou com a LaRusso. — Tory declarou, pegando o copo da mão de Aaron com uma mão firme, enquanto Aaron resmungava, mas não fez uma tentativa real de resistir.

— Vai se ferrar. — Aaron murmurou, lançando um olhar irritado para Robby antes de se dirigir a Miguel.

— Se é para ser justo, sejamos justos então. — Tory disse, segurando a mão de Miguel enquanto subia no banco, pronta para equilibrar-se e enfrentar Samantha.

— Coloque o dinheiro no pote, princesa. — Aaron provocou, com um sorriso de desafio, observando Samantha subir no banco e colocar uma nota dobrada no pote das apostas, indicando que estava pronta para o próximo round. A tensão e a excitação no ar eram palpáveis, com todos ansiosos para ver quem sairia vencedor dessa rodada.




No restaurante mexicano, o clima na mesa estava sufocante. As mesas eram quase coladas umas às outras, e o ambiente barulhento contrastava com o silêncio mórbido que pairava entre os dois homens. Daniel LaRusso mal conseguia esconder o desconforto enquanto esperava ansiosamente pelo retorno de sua esposa do banheiro. Carmen, a mãe de Miguel e acompanhante de Johnny, também ainda não havia voltado, deixando os dois rivais presos em uma interação forçada.

Johnny Lawrence, sentado à frente de Daniel, mastigava uma tortilla, tentando ignorar a tensão no ar. Mas Daniel não aguentava mais aquele silêncio insuportável e, finalmente, decidiu falar.

— Não pensei que te veria em um lugar como esse — Daniel comentou, com uma tentativa mal disfarçada de sarcasmo.

Johnny ergueu os olhos, claramente irritado, antes de responder com uma ponta de provocação na voz.

— Acha que eu pego comida do lixo? — Ele pegou a cerveja da mesa e deu um longo gole, como se quisesse evitar a conversa.

— Qual o seu problema, Lawrence? — Daniel retrucou, seu tom de voz subindo levemente.

— Você, LaRusso. — Johnny respondeu, sem hesitar, a irritação agora bem evidente. — Você tem sido um pé no saco o verão todo.

— Não fui eu quem vandalizou o dojo dos outros. — Daniel rebateu, seus olhos se estreitando em desconfiança.

— Já disse que não fui eu. — Johnny respondeu, revirando os olhos, frustrado. — Eu só quero cuidar do meu negócio em paz.

— Claro. E com certeza não foi você quem fez aquela bagunça no festival. — Daniel continuou, com um tom amargurado, sua desconfiança transformando-se em acusação.

Johnny riu secamente, bebendo mais um gole de sua cerveja antes de responder.

— É, aquilo lá também não fui eu. — Ele disse, deixando a frase pairar no ar, sua voz carregada de exasperação. — Mesmo que tenha sido genial.

O silêncio voltou a dominar a mesa por um momento, mas dessa vez foi Daniel quem quebrou a quietude, sua voz carregada de frustração.

— Vocês são dois psicopatas, você e o Kreese. Diga a ele que se tentar voltar ao meu dojo e ameaçar meus alunos, eu vou direto à polícia.

Johnny parou, confuso. A raiva em sua voz se dissipou, substituída por uma genuína curiosidade e preocupação.

— Ele fez isso? — Johnny perguntou, agora realmente intrigado, sua expressão mudando para algo mais sério. — Eu não sabia. Mandei ele embora faz pouco tempo.

Daniel o encarou, sem esconder o desprezo em sua voz.

— Não sei como você pode ter deixado ele voltar, para início de conversa.

Johnny suspirou, sentindo o peso da culpa e das escolhas erradas que fizera.

— Pensei que pudesse ser diferente. — Ele admitiu, sua voz mais baixa, quase triste. Ele se lembrou de Rayken, de como ele tinha sido enganado, e percebeu que talvez Daniel estivesse certo sobre as pessoas não mudarem. — Queria que fosse diferente.

Daniel o observou por um momento, sua expressão suavizando um pouco.

— Bom, sempre estive aqui para te alertar que não, as pessoas não mudam. — Daniel disse, embora sem a mesma dureza de antes. Johnny baixou a cabeça, sentindo a verdade nas palavras de Daniel.

Johnny finalmente quebrou o silêncio, sua voz cheia de uma honestidade crua.

— Eu quero que o Cobra Kai seja melhor. — Ele disse, sua determinação clara. — Kreese não volta para lá. Não dessa vez.

O silêncio que se seguiu foi pesado, mas diferente do anterior. Havia algo novo no ar, um entendimento silencioso entre os dois homens.

O clima ainda estava tenso quando Amanda e Carmen voltaram do banheiro e se sentaram à mesa. As conversas ao redor eram animadas, mas a energia entre Johnny e Daniel parecia absorver todo o calor do ambiente. Carmen, usando um vestido vermelho florido que destacava seus cachos soltos, sorriu ao ver Johnny, dissipando um pouco da tensão.

— Perdemos alguma coisa? — Carmen perguntou, sua voz suave cortando o silêncio denso enquanto se acomodava de frente para Johnny.

Johnny olhou para ela e, por um instante, algo dentro dele suavizou. Carmen era tão diferente das mulheres com quem ele costumava se envolver. Sempre loiras, de cabelos lisos e com um ar de despreocupação inconsequente, como Rayken MacGyver, que parecia ser um molde para suas escolhas passadas. Mas Carmen era o oposto. Havia algo em seu sorriso tranquilo e no jeito como encarava o mundo que o desarmava. E Johnny gostava disso, gostava daquela diferença.

— Estávamos falando que não vemos a hora do volta às aulas. — Carmen continuou, enquanto Amanda, já sentada, petiscava algo em seu prato. — Ela me disse que Robby vai estudar na West Valley.

Johnny se ajeitou na cadeira, sentindo uma pontada de culpa ao ouvir aquilo.

— Ele vai? — Ele perguntou, tentando esconder o desconforto por não saber nada da vida do próprio filho. Como a mulher de LaRusso sabia disso e ele não? Quando foi que ele achou tudo bem que o filho simplesmente morasse na casa dos outros?

— É, nós matriculamos ele. — Amanda respondeu, com um sorriso gentil, mas Johnny podia sentir a leve provocação naquelas palavras.

— A regra é simples, — Daniel interveio, mantendo sua postura superior — Quem fica com a gente, estuda.

Johnny percebeu o tom de crítica velada na voz de Daniel, como se jogasse em sua cara a ausência de paternidade.

— Com exceção da MacGyver, claro. — Johnny respondeu com um sorriso sarcástico, jogando uma provocação de volta. — Essa vocês chutam para longe e deixam que eu pegue os cacos.

Daniel se inclinou para frente, claramente irritado e disposto a levar a discussão adiante.

— O que quer dizer com isso? — LaRusso perguntou, a tensão em sua voz visível.

— Nada, esqueça. — Johnny respondeu, tentando se desvencilhar da situação, mas a provocação estava feita.

— Não. Me diga, Johnny. — Daniel insistiu, exigindo respostas.

Antes que Johnny pudesse responder, Carmen interveio com uma revelação inesperada.

— A Aaron entrou para o Cobra Kai. — Carmen disse com um sorriso tímido, colocando a mão contra o peito, como se tentasse aliviar a tensão que havia se formado.

Daniel largou o garfo sobre a mesa com um suspiro de decepção.

— Ah, claro que entrou. — Ele disse, claramente desapontado.

Johnny não pôde evitar defender a garota, apesar de todas as complicações.

— Ela é uma boa garota. Não é porque está no Cobra Kai que ela não presta. — Johnny disse, sua voz mais firme. Ele sabia o que significava estar em um caminho ruim e não queria que Aaron fosse julgada por isso. — E ela também não vai parar de estudar, te garanto isso.

Amanda suspirou, ajeitando-se na cadeira.

— Tenho tentado falar com ela. — Ela confessou, seus olhos refletindo uma preocupação genuína. — A matrícula dela ainda está feita, o que é bom. Mas Aaron não quer nos ver. Não fala com a gente.

Johnny assentiu, sabendo mais do que gostaria sobre essa distância.

— É, Kreese me disse. — Ele disse, sem querer revelar muito.

Daniel o olhou com desconfiança.

— O que quer dizer com 'Kreese me disse'? — Ele perguntou, a voz carregada de suspeita.

Johnny se mexeu na cadeira, incomodado.

— Nada, esqueça. Ele não é mais nosso problema. — Ele respondeu, tentando encerrar o assunto, mas sabia que a semente da dúvida já estava plantada. — É bom que o Robby volte pra escola, ele não devia ter saído.

O jantar continuava, mas o desconforto entre os dois homens era palpável, mesmo com a tentativa de suas companheiras de aliviar o clima. O peso das escolhas passadas e a incerteza do futuro pareciam pairar sobre a mesa, como uma nuvem que ninguém conseguia dissipar.



Tory tinha perdido. A queda foi rápida, mas para ela, parecia que o tempo se arrastava enquanto caía da cadeira, o chão se aproximando em câmera lenta. Aaron tentou avisá-la, gritou o nome dela, mas foi tarde demais. Tory se desequilibrou, o copo escorregou de sua mão, e logo ela estava estirada no chão, molhada pela bebida que havia derramado. Humilhada e furiosa, Tory recusou a ajuda que Aaron lhe ofereceu. Com a cabeça erguida, mas o orgulho ferido, ela se levantou sozinha e saiu pisando forte pelo gramado, ignorando todos ao redor. Aaron tentou falar com ela mais tarde, mas a única resposta que recebeu foi um resmungo seco, o que a fez entender que Tory não queria papo.

Agora, Aaron estava jogada no sofá da casa de Moon, uma garrafa pela metade em mãos. Não fazia ideia do que estava bebendo, mas tinha gosto de caramelo misturado com álcool barato. Ao seu lado, Aisha conversava com alguns membros do Cobra Kai, mas Aaron não estava prestando atenção. As palavras passavam por seus ouvidos sem significado. Ela estava exausta daquela farsa, cansada de fingir que o Cobra Kai era seu lugar para pertencer, quando na verdade só estava ali por falta de opções melhores.

Quando seus olhos encontraram Samantha na cozinha, enchendo um copo, algo dentro dela estalou. Era a desculpa perfeita para aliviar o peso que sentia. Levantou-se com um esforço mal disfarçado, tropeçando levemente enquanto caminhava até a cozinha. O álcool tornava seus passos incertos, mas ela não se importava.

— Olha só quem está aqui! — Aaron exclamou, erguendo o copo na direção de Samantha, antes de se apoiar na bancada para não cair. — Sam LaRusso.

Samantha revirou os olhos, claramente exausta daquilo.

— Volta pra onde você veio, Aaron. — Ela respondeu, sem paciência. — Não quero brigar.

— Ah, que foi? — Aaron provocou, um sorriso torto no rosto. — Pensei que você lutasse bem, que fosse melhor que eu... que todo mundo aqui.

Samantha suspirou, já farta.

— Você só tá assim porque eu ganhei da sua amiguinha. — Ela disse, referindo-se a Tory. — Só me vinguei pelo que fizeram com o dojo.

Aaron riu, um riso seco e carregado de ironia.

— Eu não fiz nada com o seu dojo. Nem a Tory, muito menos o Miguel. — Ela afirmou com a certeza que ainda restava, mesmo embriagada. — Por que acha que eu faria o Miguel devolver a medalha para vocês? — Aaron deu de ombros, como se Samantha fosse a pessoa mais ingênua do mundo. — Eu peguei ela de volta para vocês.

Aaron colocou a mão no peito, orgulhosa de si mesma, como se dissesse "vocês são uns ingratos, mas eu peguei a medalha de volta". Mas a resposta de Samantha veio rápida e com uma pitada de desprezo.

— Não, não pegou não. — Samantha disse, revirando os olhos novamente. — O Demetri achou nos arbustos do dojo.

Aaron mordeu o interior da bochecha, lembrando-se de Robby Keene pegando a medalha das mãos de Miguel. A raiva ferveu dentro dela, mas ela disfarçou, querendo acabar com aquela conversa.

— Claro que ele diria isso. — Ela respondeu amargamente. — Não me importo, acredite no que quiser. — Com essas palavras, ela agarrou a garrafa como se fosse um tesouro, um pouco de dignidade que ainda restava, e saiu pisando duro, irritada demais para continuar ali.

Aisha, que observava a cena de longe, soltou um suspiro e se aproximou de Samantha.

— Não, a Aaron levou a medalha até sua casa. — Aisha disse, como quem tenta explicar algo óbvio. — Mas ela viu vocês dois se beijando... e ficou tão magoada que pediu pro Miguel devolver. Ele entregou para o Robby.

Samantha parou, as palavras de Aisha atingindo-a como um soco no estômago. Ela deu um passo para trás, processando a informação, enquanto Aisha se afastava.

— Esquece... — Samantha murmurou, sentindo o peso da revelação cair sobre seus ombros. — Eu só preciso de um ar.

Aaron não conseguia mais segurar. A raiva que borbulhava dentro dela explodia com a força de uma tempestade. Quando avistou Robby Keene do outro lado da cozinha, algo dentro dela se quebrou, a raiva que sentia transbordou seu sentidos junto dos efeitos do álcool, a fazendo pouco se foder para as consequências.

Ele estava distraído, procurando algo nas prateleiras, completamente alheio ao caos emocional que ela estava prestes a despejar sobre ele. Num ímpeto, ela atravessou a sala e o empurrou contra a parede, onde a luz amarelada fraca da casa de Moon mal tocava.

— Então você achou que era esperto, né? — A voz dela era cortante, cheia de veneno e dor. — Escondeu a medalha no dojo e depois fingiu que a encontrou? — Ela o pressionava contra a parede, os olhos ardendo de raiva e decepção.

Robby a encarou, o choque passando rapidamente para uma frustração que ele tentava conter. Ele estava exausto daquela briga, mas sabia que precisava enfrentá-la.

— Do que você tá falando? — Ele perguntou, a confusão evidente em seu rosto. Mas ele sabia, mesmo antes de terminar a pergunta, que Aaron estava bêbada. Ele sentiu o cheiro de álcool em sua respiração e viu a garrafa balançando perigosamente em sua mão.

— Não se faça de idiota, Robby. — Ela sibilou, a dor em sua voz se misturando com a raiva. — Eu sei o que você fez.

Robby tentou manter a calma, mas a preocupação era clara em sua voz.

— Aaron, quanto você bebeu? — Ele tentou alcançar a garrafa, mas ela recuou, desviando dele com um movimento rápido, embora desajeitado.

— Não importa! — Ela cambaleou para o lado, e ele percebeu que havia lágrimas brilhando nos olhos dela, lágrimas que ela estava tentando desesperadamente esconder a bastante tempo. — Você escondeu a medalha e fingiu que a encontrou! Por quê?  Pra ficar bem com os LaRusso? Engraçado, isso é tão pouco Miyagi-Do da sua parte, Keene!

— Você parou de falar comigo, me largou naquela praia fodida e sumiu! — ele disse, subindo de tom, revelando sua própria frustração. — Não ia deixar o Miguel levar a vitória por fazer o mínimo, não depois de tudo que a gente passou. E você ainda teve a coragem de se meter com o Cobra Kai, Aaron! — Ele praticamente rugiu as palavras, mas havia uma dor crua por trás de sua raiva, algo que ele estava tentando esconder.

— Coragem? — Aaron repetiu, a incredulidade se transformando em puro ódio. — Vai se foder, Robby! — Ela o empurrou com força, como se quisesse machucá-lo fisicamente, tanto quanto ele a tinha machucado emocionalmente. — Eu peguei a medalha de volta, porra! Eu! Não era sobre me gabar, era sobre fazer a coisa certa, e você fodeu com tudo!

Robby recuou, a culpa e o arrependimento começando a emergir através da máscara de raiva que ele usava.

— Aaron, eu... — Ele tentou se desculpar, mas as palavras morreram em sua garganta.

— E sua namoradinha? — Aaron zombou, tentando feri-lo da mesma maneira que estava ferida. — Ela vai gostar de saber que você mentiu pra ela também?

Robby fechou os olhos, irritado com a provocação.

— Ela não é minha namorada, porra. Para com essa merda. — Ele se aproximou de novo, a voz carregada de frustração, mas também de algo mais profundo, algo que ele estava tentando entender.

— Não fode, Keene! — Ela gritou, dando mais um passo para trás, a proximidade dele a queimando por dentro. — Eu vejo vocês juntos!

— Não fode você, MacGyver! Não tem nada acontecendo! — Robby quase gritou de volta, a tensão entre eles tão densa que parecia palpável. — Se você não fosse tão teimosa, a gente já teria conversado sobre isso.

Aaron recuou, mas tropeçou, quase caindo. Tudo ao seu redor girava, e o enjoo a atingiu com força.

— Quer saber? Esquece... — Ela murmurou, segurando o estômago, tentando manter o controle, mas falhando miseravelmente.

— Viu? Teimosa! — Robby avançou para ela, até que percebeu com o simples gesto dela, que algo não estava bem. Ela estava passando mal. Ele se aproximou, ignorando a raiva e a briga, com os olhos cheios de preocupação. — Você não tá bem. Espera... Aay! — ele disse, preocupado e irritado ao vê-la  o ignorar

Aaron começou a se afastar, ignorando o que sentia, mas o enjoo era implacável. Quando entrou na sala, viu Falcão de pé em frente a Demetri, os punhos cerrados e o rosto contorcido de raiva.

— Eu vou acabar com você, nerd. — Falcão ameaçou, avançando um passo, sua voz carregada de violência.

Aaron, ainda lutando contra o mal-estar, se colocou entre eles, levantando uma mão trêmula.

— Não... você não vai acabar com ninguém! — Ela tentou soar firme, mas a fraqueza em sua voz era evidente. — Chega dessa merda.

Summer, ao lado de Falcão, suplicou, os olhos cheios de lágrimas. Ela parecia cansada daquela rivalidade continua, parecia cansada de Falcão.

— Para, Eli, por favor... — ela disse puxando o braço dele, tentando fazê-lo ouvi-la de alguma forma.

— Ouviu ela, Eli. — Aaron disse, o encarando frente a frente, sentindo os garotos do Miyagi-Do se alinharem atrás dela instintivamente para proteger Demetri. — Acabou.

— Eu não sou o Eli. — ele disse, ignorando o fato de Aaron ter dito seu antigo nome, para dizer de forma bruta e raivosa na cara de Summer — Eu sou a porra do Falcão. — Ele gritou, dando mais um passo em direção a Demetri, mas foi interrompido pelo som súbito de uma sirene de polícia. Ele estava claramente bêbado também.

O pânico se espalhou rapidamente, e todos começaram a correr, empurrando-se e gritando. Aaron foi empurrada para o meio da confusão e perdeu o equilíbrio, caindo no sofá, ofegante, a cabeça girando. Robby, que tinha sido afastado dela, a viu e correu para ajudá-la, segurando-a pela cintura.

— Você tá fodido Demetri! — Falcão gritou em meio à confusão com sangue nos olhos, enquanto ria alto — Na escola eu acabo com você! — ele disse apontando para o ex melhor amigo, antes de puxar a namorada pelo pulso e começar a correr.

Robby puxou Aaron em direção à porta lateral, longe do tumulto dentro da casa de Moon. O som das sirenes ficava cada vez mais distante conforme eles corriam pelo jardim escuro, os passos apressados no gramado úmido. As luzes da polícia ainda piscavam ao longe, mas ali fora, apenas o som de suas respirações ofegantes e o farfalhar das folhas os acompanhava.

Eles atravessaram o jardim e chegaram à rua, correndo até o fim dela, onde as luzes da casa já não podiam ser vistas. Aaron, zonza, mal conseguia se manter de pé, e quando finalmente pararam, ela se segurou em Robby, tonta, no meio-fio.

— Vou te levar pra casa. — ele disse, concentrado encarando o fim da rua, enquanto colocava uma mecha de cabelo atrás da orelha, ofegante.

— Não posso... o Kreese... — Aaron começou a falar, mas o enjoo a dominou antes que pudesse terminar, e ela se dobrou, vomitando, o corpo inteiro tremendo de fraqueza.

— O quê? O Kreese o quê? — Robby perguntou, a voz cheia de preocupação, mas Aaron estava fraca demais para responder. Ele olhou ao redor, o pânico evidente em seus olhos, sem saber o que fazer. Desesperado, ele se abaixou, limpando o rosto dela com a manga da própria blusa, tentando ser o mais gentil possível.

— Vamos sair daqui, Aay. — Robby disse com uma voz baixa e suave, tentando esconder a urgência por trás do carinho. Aaron assentiu, as lágrimas se acumulando em seus olhos. Mesmo que a raiva ainda estivesse ali, misturada com a decepção e o ressentimento, ele continuava sendo seu melhor amigo. O único que ela realmente confiava, por mais que quisesse negar.

Robby segurou-a firme, sentindo a fragilidade em seus movimentos, e decidiu não perguntar mais nada sobre o Kreese. Ele sabia que aquele não era o momento para questioná-la. Ao invés disso, ele se inclinou e beijou sua testa, um gesto silencioso de conforto e proteção.

— Vai ficar tudo bem. Eu prometo. Vou te levar pra um lugar seguro. — Ele murmurou, começando a guiá-la para longe dali, as ruas silenciosas sendo o único testemunho daquela promessa. Aaron se apoiou nele, deixando que ele a guiasse, sabendo que, apesar de tudo, ainda podia confiar em Robby para tirá-la daquela confusão.















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8949 palavras!!!


FINALMENTE eu consegui terminar esse último diálogo! Vocês não tem noção de como foi difícil pra mim resolver oq eles jogariam na cara um do outro e  o que realmente deveria ser dito. Pq eles tem TANTO a dizer.... foram TANTAS merdas

Então eu pensei, o quão intensos eles não ja são quando estou sóbrios? E juntei isso com ciúme acumulado.

Eu pensei em fazer ela chorar, pensei nele chorando, pensei em declarações, mas realmente? Não era hora pra isso ainda! E fico feliz da minha decisão, porque os dois são o tipo de pessoa que pedem desculpas com ações e com o olhar ja sabem se se perdoam ou não e esse é um dos pontos que mais tenho achado bonito entre eles desde o ato 1! A intimidade que eles tem e o jeito surreal q eles se conhecem, mesmo com seus b.o's por serem só adolescentes

Eu ia fazer o cap 18 ser completo e o 19 ser a briga na escola, mas quem não ama uma emoção? Hihi
Tipo, o que que o Kreese fez? 😛😛

Vcs vão descobrir no cap 19!!! (Que postarei o mais rápido possível! Deixando esse ato dois com dez capítulos cravadinhos. Que orgulho de mim mesma.)

Obgd por lerem até aqui e sempre me acompanharem mesmo que eu seja meio tantan das ideias.

OBGD PELOS 25K!!! RUMO AOS 30 NO ATO 3!!!! ❤️‍🩹


Agradecimentos  bem mais
que especiais a: honeymoon_04 e piscaralho !! Esse capítulo com certeza não sairia sem a ajuda de vocês! Mt obgd. De verdade🩷

Com amor,
Back!

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