ᴇɪɢʜᴛ - 𝘍𝘪𝘳𝘴𝘵 𝘬𝘪𝘴𝘴 𝘩𝘢𝘳𝘥 𝘭𝘪𝘬𝘦 𝘵𝘩𝘢𝘵









episódio oito,
𝘍𝘪𝘳𝘴𝘵 𝘬𝘪𝘴𝘴 𝘩𝘢𝘳𝘥 𝘭𝘪𝘬𝘦 𝘵𝘩𝘢𝘵










     Naquela início de tarde, os raios de sol incidiam através das janelas, transbordando as paredes e fazendo uma linha de suor atravessar a espinha de Aaron, enquanto a garota descia as escadas avidamente. Com seus pés calçados por um par de coturnos pesados, Aaron correu em direção à área externa da casa com um sorriso no rosto. Quando seus pés tocaram a área de gramado verde, seus olhos claros recaíram sobre as duas pessoas que conversavam próximas à piscina.

Keene estava ali, com seu skate debaixo do braço esquerdo, enquanto o direito gesticulava sobre algo que fazia Samantha sorrir.

"Ela não é tão interessante como você a faz parecer", ele dizia, agora fazendo-a soltar gargalhadas. Está tudo bem.

— Robby! O que está fazendo aqui? — Aaron soltou a mochila que tinha nos ombros, antes de andar rápido na direção do garoto e passar seus braços ao redor do pescoço dele, o abraçando saudosamente.

— Vim treinar, não sabia que estaria aqui hoje, senti sua falta essa semana. — Robby disse, enquanto se desvencilhava do abraço e passava o braço livre ao redor do tronco de Aaron.

Gentilmente, Robby soltou o skate na grama para poder ajeitar os fios recém-dourados dela, que ficaram bagunçados em seu rosto.

— Também senti a sua falta! — Disse ela, sorrindo e se afastando dele aos poucos, ficando entre ele e Samantha.

Eles haviam se visto muito pouco naquele mês. Robby tinha conseguido um emprego que o afastou gradualmente de Aaron, que começara a trabalhar à noite como babá de outra família. Na última semana, tinham se visto no máximo duas vezes, cada um treinando em horários diferentes no dojo com Daniel LaRusso. Aaron sabia o básico do Kata e do Karatê, mas, mesmo assim, ainda sentia que não sabia nada.

— Bom, eu ia apresentar vocês, mas acredito que não preciso mais. — Aaron disse, batendo a mão contra o corpo com um sorriso claramente amarelo no rosto.

— Fica tranquila, já conheci a maluca. Foi chorar na sua porta sem você estar em casa. — Ele disse, sorrindo para a loira, tentando fazê-la rir. — É a...

— Samantha. — Nervosa, Aaron disse entre dentes e empurrou o cotovelo esquerdo contra a lateral do tórax dele.

— Não se preocupe, ele sabe. — Samantha disse, revirando os olhos. — Só está fazendo isso pra me irritar. — Samantha começou a rir, e Aaron não entendia o que era tão engraçado.

Os dois começaram a rir simultaneamente, e Aaron quis cavar um buraco para se esconder. Sério, o que era tão divertido?

— Por que nunca me falou sobre ele antes? — Samantha perguntou, passando o braço ao redor da amiga enquanto encarava Robby, tentando soar discreta.

— Eu te disse. — Aaron disse, com a coluna desajeitada perto da amiga muito baixa. — No Halloween.

— Você disse? — Samantha soou desapontada por não se lembrar, mas permaneceu com o sorriso no rosto.

— Eu disse, mais de uma vez. — Aaron soltou o próprio braço, dando passos para trás e tentando escapar da visão caótica de ver os dois juntos e conversando, mas falhou no processo.

Parecia uma atitude tóxica de sua parte, mas ela não se importava naquele momento. Ela só achava horrível a visão dos dois juntos.

— Estamos prontos? — A voz de LaRusso brotou atrás deles. O homem segurava um cooler em uma das mãos e um molho de chaves na outra.

— Com certeza. — Aaron mordeu o lábio inferior, ansiosa. Uma das alças de sua regata amarela escorregou por seu ombro, fazendo-a levantar de maneira desajeitada.

— Você vai também? — Foi a vez de Robby questionar, encarando Samantha, que colocava os óculos de sol, pronta para voltar para a área da piscina.

— O quê? — Ela deu meia volta, sabendo que a atenção de todos estava nela. — Eu? Não. — Ela abanou os braços timidamente.

— Sabe, se você quiser se juntar a nós, Sam, ainda dá tempo. — LaRusso disse, com um sorriso no rosto.

Não, por favor, diga que não vai.

— Na verdade, eu planejei ir ao shopping com a mamãe e a vovó. — Seu sorriso era tímido quando deu um último abraço na melhor amiga, que pegou sua mochila no chão e a colocou nos ombros.

— Bom, isso é bom. Me ligue caso haja algum derramamento de sangue. — Daniel soltou um sorriso sincero com a própria piada, e os olhos de Robby voltaram à órbita quando o braço de Aaron traçou o dele, trazendo-o de volta à realidade. — Estamos indo, vamos pegar o carro. Tchau, meu amor. — O mais velho se virou, andando em direção ao estacionamento logo depois de deixar o cooler nas mãos de Robby.

— Tchau, pai. Divirtam-se. — Samantha deu um sorriso de lado e voltou o olhar à garota à sua frente, que abriu a boca para dizer algo, mas desistiu.

— Foi um prazer te conhecer oficialmente. — Robby disse, acenando com uma mão livre uma última vez.

— Digo o mesmo. — Ela disse uma última vez, se virando para voltar para a piscina. — E boa sorte com a árvore.

— Árvore? Que árvore? Onde nós vamos? — Suas sobrancelhas se uniram em confusão.

— Não se preocupe. Vai entender quando ver. — Sr. LaRusso sorriu, dando um tapinha no ombro de Robby e procurando algum ponto de confirmação na melhor amiga, que apenas deu de ombros, confusa. Ela não fazia ideia.

— Por que não te convidaram para ir ao shopping? — Robby tocou o ombro de Aaron antes que a garota tocasse a maçaneta.

Daniel LaRusso já estava dentro do carro, ligando-o.

— A avó deles não é muito chegada à minha presença, sabe? — A menina fez uma careta, que fez Robby rir.

A mão dele tocou a maçaneta e ele abriu a porta do lado dela, para que Aaron entrasse primeiro, e ela o fez.

— Eu te disse para parar de andar com esse tipo de gente riquinha. — Ele sorriu, se abaixando ao ponto de chegar perto do rosto dela.

— E me parece que você não ouviu seu próprio conselho, Keene. — Ela disse, provocando.

— Touché. — O garoto piscou em sua direção antes de fechar a porta e atravessar o carro para entrar do outro lado.





— Quando eu tinha a idade de vocês, o Sr. Miyagi me levou a um lago no Norte para treinar. Tentei levar a Samantha lá uma vez, mas depois da seca, não tinha sobrado mais do que uma poça. Então, encontrei esse lugar.

Andando animadamente com sua bolsa nos ombros, o Sr. LaRusso quase pulava de ansiedade enquanto contava sua história, desviando de galhos e folhas que quase batiam em seu rosto enquanto caminhava pela reserva florestal.

— Consegue ouvir isso? — Ele questionou. — Só fechem os olhos e ouçam.

Os olhos de Aaron e Robby se encontraram, confusos, sem ter certeza se fariam isso ou não.

— Vamos, fechem. — ele disse, de maneira intuitiva e segurando uma risada ansiosa, os dois fecharam os olhos e respiraram fundo. — Ouvem algo?

— Hm, nada. Não ouço nada. — Robby disse, guardando as mãos no bolso da calça.

— Exatamente. Sem ligações, sem internet, sem brigas ou problemas familiares. Só vocês e a mãe natureza. Por isso estamos aqui, é isso que o Karatê Miyagi-Do significa.

Seus olhos orgulhosos encontraram os da menor, que respirou fundo, sabendo o peso daquela responsabilidade, uma responsabilidade que ela teria orgulho de carregar.



— Ok, preciso que você tente atacá-la. — instruiu o LaRusso

— Espera, o quê? — Aaron recolheu os braços para mais próximo do corpo, assustada

Já era mais de duas da tarde. Aaron já tinha aprendido todos os movimentos práticos, mas precisava entrar em uma luta pela primeira vez. O medo a assolava, mesmo sabendo que Robby nunca a machucaria.

Bater em Yasmine foi fácil; ela não estava esperando.
Ameaçar Kyler também foi fácil; o pavor que ele sentia dela o assustava mais do que qualquer soco que ela pudesse desferir. Mas as coisas eram diferentes quando a luta era real.

— Robby vai tentar te atacar, e com os movimentos que eu te ensinei, você vai desviar. Ele não vai com força; é só para treinar. — O Sr. LaRusso gesticulou, como se fosse algo óbvio.

— E se a mão dele sem querer acabar, não sei, indo parar no meu olho?

Sua voz não soou indignada, soou como a de um pássaro assustado, que não conseguia sair do ninho por ainda ter um pé preso entre os cascalhos. Mas esses cascalhos não eram o medo de falhar. Eram o medo de tentar e acertar, consequentemente nunca mais tendo que voltar para o ninho.

— Não se preocupe, Aaron. Nada vai dar errado. Eu vou estar aqui, do lado de vocês. Vai ser como treinamos. — A voz do maior era firme, então Aaron ajeitou seus pés em posição de guarda e respirou fundo, pronta para entrar em sua primeira luta.

Robby deu um passo à frente, com seu punho cerrado em sua direção. Seus corpos começaram a se movimentar quando Aaron desviou de seu golpe.

Aaron começou a andar de ré e quase não reparou quando os dois estavam chegando próximos à beirada do cais rochoso, que cedia lugar para o vasto lago. Antes que encostassem na borda, em sincronia, a garota se abaixou, desviando de Robby e mudando para a direção contrária, quando um de seus pés passou por debaixo da perna dele, fazendo-o cair. Ela o imobilizou.

— Muito bom, Aaron! — LaRusso disse, orgulhoso.

— Não chore, Robby, só porque sou melhor do que você. — Aaron sorriu, antes de estender a mão para o garoto abaixo dela.

— Isso foi tão injusto. Com você, ele pulou a baboseira de encerar o piso e partiu direto para a ação. — Robby disse, segurando a mão dela, e Aaron começou a rir.

— Eu ouvi isso, Keene. — LaRusso resmungou, virando-se de costas por um segundo, olhando para a tela de seu celular.

Percebendo a distração, Robby puxou o braço de Aaron, fazendo-a tropeçar, e uma de suas pernas deslizou sob a dela, fazendo-a cair e invertendo as posições. Agora ele estava por cima dela, rindo.

— Senhor LaRusso! Ele não pode fazer isso. — Resmungou Aaron, imobilizada.

— Nunca se distraia no meio de uma luta. — Ele sorriu, segurando um de seus braços contra o peito dela. — Nunca tire os olhos do seu oponente; eles podem não ter compaixão.

Robby sorria, com o rosto bem próximo ao dela.

— Eu odeio você, Keene. Odeio sua próxima geração e todas que vierem depois, se vierem. — Aaron soou como a péssima perdedora que sempre foi.

— Não se estresse, amor. Não chore só porque eu sou melhor do que você. — Ele disse, lançando-lhe uma piscada.

— Senhor LaRusso!

— Tecnicamente, ele está certo sobre a compaixão. E eu não vi o golpe; estava de costas. — O mais velho deu de ombros, como um pedido de desculpas silencioso. Robby a soltou, levando uma de suas mãos ao encontro dela para que a garota se levantasse.

Aaron segurou sua mão, e LaRusso se movia para que os três continuassem andando em sua trilha.

O lago estava próximo. Bem próximo. O que ela podia perder?

Quando a garota estava quase de pé, ela puxou o braço de Robby para que ele caísse ao seu lado e tropeçasse, caindo de costas dentro do lago.

O que a garota não esperava era o punho de Robby se cerrando contra sua cintura, segundos antes, fazendo-a cair junto com ele dentro d'água.

— Pelo amor de Deus! Saiam dessa água. Parem de brigar! Vocês dois são amigos, parceiros. Não estão em um campeonato. Não precisam ser inimigos dentro do tatame. Aaron, vá pegar uma toalha.

A voz serena e firme do mais velho fez com que Aaron se movimentasse rapidamente, saindo da água, enquanto o braço de Daniel se esticava para ajudar Robby a sair também.

Aaron andou em direção à sua mochila e a abriu, puxando uma toalha azul de dentro dela.

— Vocês não têm equilíbrio, não estão concentrados. Vocês podem saber os movimentos, mas nada disso importa sem equilíbrio. O equilíbrio move a vida, ele os torna quem são.

As mãos de Aaron esfregaram os ombros de Robby, como um pedido de desculpas pelo banho, e LaRusso começou a andar na direção contrária a deles, e os dois se levantaram rapidamente, o seguindo.

— Me desculpe, senhor LaRusso. Não era nossa intenção desrespeitar o treino. — foi o que Aaron disse, com as mãos cruzadas ao redor do corpo para se esquentar. Robby não disse nada, seus braços agora secos, afagavam e tentavam esquentar a garota, que estava enrolada na toalha, em seu abraço.

— Hoje vocês vão aprender a ter equilíbrio.

Eles pararam de andar, quando deram de encontro com um enorme tronco de árvore retorcido.

— Eu me equilibro no skate todo dia. — Robby sorriuz tentando descontrair.

— Não quis dizer equilíbrio do corpo, estou falando do equilíbrio mental, a balança da vida de vocês. O trabalho em equipe. Não é fácil, mas vocês conseguem.

Os três caminharam até uma área mais aberta, onde havia espaço suficiente para treinarem sem interrupções. LaRusso parou e se virou para encarar os dois jovens.

— Vamos começar com alguns exercícios de equilíbrio. Quero que fiquem de pé em uma perna só e mantenham-se assim pelo maior tempo possível. Isso vai ajudar a melhorar a estabilidade e a concentração.

Aaron e Robby fizeram o que ele disse, levantando uma perna e tentando manter o equilíbrio. No início, ambos balançaram um pouco, mas logo encontraram um ponto de estabilidade.

— Isso, muito bom. Agora, fechem os olhos. — LaRusso instruiu.

Aaron sentiu a dificuldade aumentar instantaneamente. Sem a visão para ajudar a equilibrar, ela teve que confiar apenas nos outros sentidos. Sentiu-se vacilar, mas conseguiu manter-se em pé.

— O equilíbrio não é apenas físico. — LaRusso continuou. — É mental também. Quando vocês conseguirem manter o equilíbrio com os olhos fechados, estarão prontos para enfrentar qualquer coisa.

Depois de alguns minutos, LaRusso permitiu que eles baixassem as pernas. Aaron abriu os olhos, sentindo-se um pouco tonta, mas também orgulhosa de si mesma. Aquilo era o Kata.

— Muito bem. Agora, vamos tentar algo mais difícil. Robby, você vai atacar Aaron novamente, mas desta vez, quero que ela use apenas o equilíbrio para se defender. Nada de golpes, apenas esquivas e movimentos de redirecionamento.

Robby assentiu, posicionando-se para atacar. Aaron respirou fundo e se preparou. Quando ele avançou, ela se moveu de maneira fluida, desviando do ataque com elegância. Sentiu-se como se estivesse dançando, cada movimento calculado para manter o equilíbrio.

— Excelente, Aaron. — LaRusso elogiou. — Robby, continue. Aumente a intensidade gradualmente.

Conforme os ataques de Robby se tornavam mais rápidos e fortes, Aaron se viu desafiada a manter o equilíbrio e a concentração. No entanto, com cada desvio, ela se sentia mais confiante e segura.

Finalmente, após vários minutos, LaRusso pediu para que parassem.

— Muito bem, vocês dois. — Ele disse, claramente satisfeito. — Aaron, você fez um ótimo trabalho. E Robby, você também. Agora, quero que vocês se lembrem de uma coisa importante: o equilíbrio não é apenas sobre se manter em pé. É sobre encontrar a harmonia dentro de si mesmos.

Aaron e Robby assentiram, absorvendo as palavras do sensei.

— Senhor LaRusso, eu tenho que te contar uma coisa. — Os olhos de Aaron se arregalaram, e ela olhou para cima. Ela conseguia ver a mandíbula tensa de Robby, que estava claramente lutando para dizer algo importante. A boca dele se abriu e fechou várias vezes, tentando decidir o que dizer, ou se deveria dizer algo. Aaron implorava mentalmente para que ele dissesse.

— Eu só queria agradecer por você nos aguentar hoje. Sei que a gente pode ser difícil. — Robby sorriu, com sua mentira amarga.

Aaron suspirou, decepcionada.

— Não me agradeça. Vocês estão a um passo de me odiarem. Larguem suas coisas e subam naquela árvore.

Os dois se entreolharam, confusos, mas fizeram o que ele pediu. Logo, estavam em uma árvore robusta, equilibrando-se nos galhos.

— O que a gente faz agora? — Aaron disse olhando para o céu, com medo de encarar o chão folhado e se desequilibrar.

— Me mostre o chute frontal.

A menina o fez, levantando lentamente a perna no ar, com medo de cair. Seu pé, que antes estava estável, escorregou quando o pedaço do tronco que estava sob o pé de Robby cedeu.

— Não consigo! — Ela gritou, colocando os braços à frente do corpo para não cair.

— Eu sei que não. Vocês precisam um do outro para que a árvore não ceda do lado contrário a vocês e acabem caindo.

— Mas e se a gente cair? — Robby perguntou com os olhos arregalados.

— Não é uma queda alta, vocês vão ficar bem. Só me chamem quando conseguirem fazer todos os movimentos sem cair.

LaRusso tirou seu celular do bolso e começou a andar na direção contrária.

— Espera! Aonde você vai? — Aaron gritou.

— O Devils está jogando contra os Islanders. — Ele balançou o aparelho na mão, como se fosse uma informação óbvia. — Vou procurar um lugar com um sinal melhor.

— O que houve com o "sem distrações"? — Robby levantou os braços, inconformado.

— Isso não conta quando estamos falando de hóquei.




O peso do corpo de Aaron caindo contra o chão fez um barulho insuportavelmente reconhecível e recorrente pela terceira vez. A garota bufou ao se levantar com folhas no cabelo.

— Pela terceira vez, Robby. Temos que girar ao mesmo tempo! Qual a dificuldade de chutar ao mesmo tempo que eu? — Ela bufou ao se levantar e tentar subir no tronco novamente.

— Não aja como se eu estivesse gostando disso, eu também não aguento mais girar no mesmo lugar, Aaron.— a garota se segurou nos mesmos galhos da primeira vez que subiu na árvore, agora que já eram conhecidos pela menina, sem medo de cair. — Vem, vamos tentar de novo.

E eles tentaram mais oito vezes.

Agora os dois estavam com seus pés encaixados na mesma direção, e o tronco retorcido parou de ranger. Seus corpos estavam estáticos e os olhos de Aaron estavam focados nos tênis de Robby, e os olhos dele não saíam de seus coturnos.

Giro frontal. Giro circular.

— Por que não contou a verdade pra ele? — Ela questionou, e Robby se desequilibrou.

— Golpe baixíssimo, até mesmo pra você. — ele reclamou, devolvendo seu pé para o lugar de antes

— Você sabe que ele não te julgaria, podia ter dito. — Ela começou a se mover circularmente, o que fez Robby rodar na direção contrária a dela, senão os dois cairiam.

— Não sei, tá legal? Não sabia se era a hora certa — ele se defendeu, cruzando-nos punhos no mesmo instante que ela. — E essa definitivamente não é a hora certa de termos essa conversa.

— Não existe hora certa pra se contar esse tipo de coisa. — Sua mão direita o atacou, fazendo-o se esquivar.

Eles estavam dançando, a mesma dança lenta de movimentos, onde os dois sabiam o próximo passo de cada um. Sem agressão, só resguarda e ataques muito bem expressivos, onde o foco significava seu equilíbrio.

— Eu estava com medo, ok? Eu fiquei com medo do que ele pensaria, fiquei com medo da gente, e não sei, eu simplesmente não quis ferrar com tudo. Uma reação errada dele acabaria com o nosso dia, com o seu dia! Porque eu sei que você quer isso há muito tempo. Não podia estragar isso pra você, não seria justo. — ele proferiu as palavras rapidamente, como um desabafo antigo, e então encarou os olhos claros dela, esperando por sua reação

— Está dizendo que fez isso por mim? — Aaron não esperava por aquela resposta e Robby não esperava por essa reação vindo dela. — Você mentiu por mim?

Então, quando ela foi desviar de seu chute frontal, ela simplesmente se esqueceu da existência daquele chute, ou de onde estavam, ou como se respirava. O chute dele veio involuntariamente, com seu cérebro já programado por terem repetido os mesmos passos tantas vezes. Dessa vez, o braço dela enroscou nele, fazendo os dois caírem um sobre o outro na enorme pilha de folhas.

Um silêncio ensurdecedor se instalou quando Aaron começou a retirar as folhas do rosto dele e a jogá-las longe, antes que ela conseguisse ter os olhos dele presos em cada movimento que ela fazia.

— Não precisava fazer isso. — ela disse, dando um tapinha em sua barriga, antes de se ajeitar no chão duro

— Eu sei, mas eu fiz. — ele disse dando de ombros, então os dois caíram na gargalhada, tranquilos com a presença um do outro. Começaram a rodar entre as folhas, jogando-as um no outro enquanto o sol da tarde ameaçava ir embora.

Um pé adiante, uma pedra escorregou ao longo do tronco e caiu entre as folhas. O pé de Aaron recuou, e os dois corpos rodaram no tronco graciosamente enquanto chutes foram desferidos no ar. Cada um fechou o próprio chute giratório, acabando na mesma posição, sincronizadamente. Seus olhos se encontraram em confirmação. Agora, seus corpos estavam do lado contrário do tronco em que começaram os movimentos. Eles tinham conseguido.

— A gente conseguiu? — Aaron encarou a altura abaixo dela. Agora, sem medo. — Robby, a gente conseguiu! Nós conseguimos!

O rosto de Robby era indescritível. Seus lábios se uniram em um sorriso, e, dando os mesmos passos em direção um do outro, o casal se abraçou fortemente, com o corpo de Robby praticamente a cobrindo.

A adrenalina no peito de Aaron gritava como na manhã da véspera de Halloween quando ele a chamou para sair. Foi como quando ele a ajudou com seu pai em agosto e como em todas as outras vezes que Robby a olhava daquele jeito. Como se a quisesse.

E ela o queria de volta.

— Eu não devia ter te jogado na água, não foi legal. — ela disse, balançando os pés contra o ar. Estavam sentados no tronco, esperando que Daniel LaRusso aparecesse enquanto o céu laranja se dissipava, como se fosse uma boa tarde de verão, em outono.

— Me desculpe por não me concentrar o suficiente e te fazer cair da árvore dezenas de vezes. — Robby sorriu, enquanto passava seu braço ao redor do ombro dela. — Mas não me arrependo, foi engraçado.

— Também não me arrependo de te empurrar no lago — Ela cutucou suas costelas e ele riu com a provocação. — Mas sendo sincera, obrigada. Foi um dia muito legal.

— Todos os nossos dias juntos são legais. — ele disse, sorrindo para ela e logo desviando o olhar para o sol. Ela conseguia ver as pontinhas pretas em seus olhos verdes, o que a deixava concentrada nele. — Prometo que vou contar a verdade pra ele, só preciso de tempo. — Robby passou sua mão livre sobre suas mechas, afastando uma de seu rosto.

— Tudo bem, faça isso no seu tempo, — ela deu de ombros, sorrindo para ele, então se aproximou mais um pouco dele e, sorrindo, tirou uma folha de seu cabelo, a jogando longe — mas enquanto isso, não podemos deixar que ele descubra sozinho.

— Obrigado. — ele sorriu, então seus olhos se dispersaram no rosto de Aaron, a enquadrando. Se o sol estivesse em sua luz mais potente do dia, o garoto conseguiria ver suas bochechas no tom mais rosado que pudesse existir.

O rosto de Robby estava mais próximo, suas mãos encontraram com as laterais de seu rosto, e em segundos, a encarando umedecer os lábios, Robby juntou seus lábios contra os dela, em um beijo gentil.

Aquele não era seu primeiro beijo, e ela se odiou por isso, aquele beijo era muito melhor. A língua de Robby contra a sua, o calor subindo por sua nuca por todo o desejo e esperança acumulados por meses. Meses fingindo que não queria seus lábios nos dela, quando no fundo aquilo sempre foi o que ela mais almejava.

Aaron agiria como se fosse seu primeiro beijo, por toda uma eternidade se pudesse. Porque para ela, essa era a definição de um primeiro beijo perfeito. Ser beijada, bem ali, sob uma árvore retorcida, com galhos sobre o chão e folhas secas em seus cabelos bagunçados.

Naquele momento, o primeiro beijo naquela festa na piscina nunca aconteceu e agora ela estava com a boca de Robby sobre a dela, a mão dele em sua cintura, sob a luz do sol que se esvaía em uma tarde quente, com a única pessoa que a conhecia de verdade e beijava suas cicatrizes. Robby e ela finalmente aconteceu, e o gosto de seu beijo era surreal.

É, aquele tinha sido um não primeiro beijo perfeito.

Enquanto estavam ali, aproveitando o momento, Aaron se perguntou como as coisas poderiam ter sido diferentes. Pensou em todas as vezes que hesitou, que deixou o medo e a incerteza tomarem conta. Mas agora, sentindo o calor de Robby tão próximo, ela sabia que cada passo, cada erro, cada hesitação a levaram até esse momento. E ela não trocaria isso por nada.

— Eu estava pensando — Robby disse, ainda segurando seu rosto com delicadeza, afastando o próprio rosto — A gente devia fazer isso mais vezes. Não só o treino na árvore, mas tudo isso. Estar junto, sem pressa, sem medo.

Aaron riu, sentindo uma onda de felicidade a envolver. — Você está sendo bem corajoso hoje, hein? Quem diria, Keene.

— Pessoas mudam — ele respondeu, sorrindo. — E algumas pessoas fazem a gente querer mudar. Você é essa pessoa pra mim.

— Eu estou feliz que estamos aqui, juntos. — ela sorriu, animadamente. Não parecia haver barreiras entre eles, eram os mesmos de sempre, mas haviam acabado de se beijar — Sem mentiras, sem esconder nada.

— Sem esconder nada — ele concordou, selando a promessa com outro beijo, ainda mais profundo e cheio de significado do que o primeiro e ela conseguiu sentir sua língua passar pelo céu de sua boca de maneira provocativa

Eles permaneceram ali, sob a árvore, conversando sobre tudo e nada. Aaron sabia que com Robby ao seu lado, ela sentia que poderia enfrentar qualquer coisa.

— Acho que é melhor a gente descer antes que o Sr. LaRusso volte e nos encontre aqui em cima — ela sugeriu, rindo.

— Boa ideia — Robby concordou, ajudando-a a descer com cuidado. Quando finalmente estavam de volta ao chão, ele a puxou para mais um abraço, como se quisesse garantir que aquele momento fosse real.

— Sabe, eu nunca vou esquecer esse dia — ele disse, com sinceridade.

— Eu também não, Robby. — Aaron disse, passando o cabelo por detrás da orelha — Eu também não.














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[4633 palavras]


como eu amo um beijo 😝
Me digam o que acham!
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Amo vcs,
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