ғɪᴠᴇ - 𝘳𝘢𝘺𝘬𝘦𝘯 𝘭𝘦𝘮𝘰𝘯𝘢𝘥𝘦 𝘪𝘯 1977









Episódio cinco,
𝘳𝘢𝘺𝘬𝘦𝘯 𝘭𝘦𝘮𝘰𝘯𝘢𝘥𝘦 𝘪𝘯 1977



   







Foi em agosto de 1977 quando mais uma família com muito dinheiro se mudou para um dos bairros mais caros de Los Angeles.

A família Macgyver, composta pelo pai e pelos irmãos mais velhos da doce e pequena Rayken, saiu de Nova York devido a uma grande proposta de emprego e começou a residir ali.

Rayken, uma loira doce e gentil, tinha dez anos na época. Todos que a conheciam diziam ser uma criança esperançosa e amável, completamente diferente de seus irmãos adolescentes, que eram rebeldes e indisciplinados. Diziam que a loira poderia ser considerada a salvação daquela família, se não fosse pela ausência materna, que a fadava ao fracasso como era de costume familiar.

Era uma quinta-feira, o sol já se punha no horizonte, e o vento ficava cada vez mais ácido. Rayken estava deitada na grama do enorme jardim da casa de seu pai, encarando o céu laranja se misturar ao roxo da noite. A garota tinha o costume de contemplar o pôr do sol, era como se entrasse em outra realidade, onde não tinha que lidar com nada além da beleza do céu, que a menina afirmava ser sua mãe, falecida anos antes.

O sol já se punha, dando lugar a uma nuvem escura de estrelas, quando a garota ouviu um ruído vindo da casa do outro lado da cerca. Um gemido, de dor. Alguém tinha se machucado.

Rayken se levantou, ajeitando seu vestido rosa de babados amassados, e andou em direção à cerca que dividia as propriedades de luxo. Quando colocou a mão na cerca branca para tentar olhar do outro lado, uma figura apareceu no seu campo de visão, fazendo-a se assustar e dar um passo para trás com medo.

Era um menino, talvez um pouco maior que ela, com cabelos loiros e olhos azuis radiantes, como os dela. No entanto, ele tinha uma rodela vermelha ao redor do olho esquerdo, como se estivesse machucado.

— Estava espionando? — o garoto disse, projetando sua raiva nela ao se aproximar da cerca.

— Está sangrando? — Rayken colocou os pés na cerca e, subindo nela, gentilmente tentou alcançar a altura do loiro, apontando para seu supercílio esquerdo.

— Eu tropecei na garagem — ele disse, desviando o olhar.

— O que fazia na garagem para acabar com o olho roxo? — Os olhos grandes de Rayken se espremeram em confusão.

— Carros, motos... — o menino procurava uma desculpa. — Coisas que se fazem em garagens, ora! Eu só tropecei — defendeu-se, Johnny.

— Sinto muito — ela disse com um sorriso doce.

E pela primeira vez em bastante tempo, o garoto não se sentiu incomodado com a presença de uma garota que não fosse sua mãe.

— Não tem por que se preocupar, eu só caí — ele sorriu desleixadamente. — Não sabia que tinha gente morando nessa casa. Dizem que é assombrada — ele desviou o assunto.

— Nos mudamos há pouco tempo, meu pai e meus irmãos — Rayken encarou a cerca, querendo muito poder dizer que estava com sua mãe também.

— E sua mãe? — ele perguntou, de forma indelicada.

— Morreu — respondeu sem rodeios, com um sorriso triste nos lábios.

— Meu pai também morreu — ele disse em forma de consolo e segurou a mão da nova amiga por cima da cerca.

— Sinto muito — ela disse, encarando seus olhos pequenos e machucados.

— Não sinta. Estou melhor sem ele.

— Está? — Os olhos de Rayken brilharam. — Como fez pra se sentir assim?

— Ele me machucava. Quem te machuca, não te ama. Então, ele não merece que eu me sinta mal por ele.

A voz de Johnny era doce, e aquela frase se transcendeu pelas memórias de Rayken durante toda sua juventude.

— Se quiser entrar, peço para a minha governanta arrumar esses machucados pra você — ela disse, descendo da cerca, agora ficando bem mais baixa que ele. Inconscientemente, Johnny se segurou na cerca branca, tentando trazer a garota de volta ao seu campo de visão.

— Não precisa, quando eu for um grande lutador, vou me machucar o tempo todo — disse com orgulho. — Tenho que me acostumar desde cedo.

— Lutador? Que demais! — a menina dentuça sorriu, mostrando todos os dentes e a ausência de um dianteiro. — Como os da televisão?

— Como os da televisão! Eu comecei faz pouco tempo, mas serei o melhor que já existiu — ela percebeu como aquilo parecia importante para ele. — Como um rei do Karatê.

— Caso você se canse de tanto lutar algum dia, pode vir tomar limonada aqui em casa — convidou a loira. — Lutadores também sentem sede, e eu sei fazer uma ótima limonada...

Ela não sabia fazer, tinha quem fizesse para ela. Seu irmão mais velho, Aaron, era o melhor em preparar limonadas suíças, e Rayken queria poder se mostrar um pouco para o novo amigo, fingindo que sabia cozinhar.

— Eu adoraria! — Em muito tempo, ele estava animado com algo.

A garota sorriu em despedida e foi se afastando para voltar para dentro da enorme casa.

— Qual seu nome? — o loiro gritou do outro lado da cerca como se fosse uma informação valiosa, um segredo que ele precisava obter.

— Rayken! — ela gritou de volta, rindo. — Rayken com R! Nunca com H!

— Sou Johnny! — ele disse, se apoiado na cerca. — Johnny com... Hum, dois enes!

As duas crianças não sabiam naquele tempo, mas ali se formava a maior dupla que o Cobra Kai sequer imaginava receber.




   Johnny Lawrence se matriculou oficialmente no dojo de luxo, Cobra Kai, no verão de 1979, com doze anos.

Ele segurava a mão macia de sua melhor amiga loira, Rayken, um pouco antes de entrar no dojo vazio naquela manhã de segunda-feira. Ela tinha os cabelos presos em maria-chiquinhas no topo da cabeça e um sorriso encorajador de aparelho para Johnny. A menina usava um macacão jeans e uma blusa colorida, um visual que Johnny nunca se deu ao trabalho de esquecer, pois era habitual da garota.

Rayken apertou a mão dele, trazendo-o de volta à realidade e encorajando-o a entrar no estabelecimento deserto. Não seria a primeira vez de Johnny lutando ou sequer entrando no lugar. Ele conhecera seu sensei anos antes, mas se encontravam de forma clandestina devido às regras de idade para luta na época, além da negligência constante de seu padrasto.

Johnny era o melhor lutador de sua faixa etária, e, ao se comparar com os garotos à sua frente, ele sabia que seria melhor do que eles na mesma idade. E o garoto de ego inflado adorava ter plena convicção disso.

O lugar estava silencioso, apenas as engrenagens dos ventiladores de teto eram audíveis, e a brisa fria deixava Rayken arrepiada. Johnny soltou a mão dela quando um homem de meia-idade entrou no ambiente, chamando-os para o balcão. Ela percebeu a tensão no pescoço do amigo, mas não comentou nada.

— Sensei. — o loiro cumprimentou, recebendo um aceno de cabeça.

O homem usava um kimono branco sem mangas com detalhes em preto. Era perceptível para a garota uma tatuagem em seu braço, uma cobra sendo esmagada por um punho forte. Ela se lembrava de se apegar aos detalhes, pois não era uma marca muito comum em pessoas adultas, pelo menos não em seu ciclo de conhecidos.

— Lawrence. — O homem disse por fim, depois de analisar bem a garota, que, intimidada, se sentiu infantilizada e se arrependeu de ter feito aquele penteado pela manhã.

— Sensei, hm. Essa é Rayken. — O loiro apontou, sorrindo, encostando no ombro da amiga.

— Olá, criança bonita. — Ele sorriu para ela de forma terna, e Rayken se esqueceu do porquê havia sentido medo ou desconfiança do homem à primeira vista. — Finalmente posso ter meu campeão na minha equipe de forma oficial? — ele disse, fechando uma das gavetas do balcão e indo em direção aos dois pré-adolescentes.

— Sim! Eu... Digo, meu padrasto já assinou. — O garoto abriu a bolsa da amiga e puxou de dentro dois formulários com o símbolo do Cobra Kai. — Ela quer entrar também.

— O Cobra Kai não aceita mulheres. — Kreese encarou a menina de cima a baixo, com desgosto.

— O quê? — A menina cerrou os punhos — Mas que sem noção!

— É exatamente por isso que não aceitamos mulheres. — O homem riu, e Johnny ficou tenso.

— Sensei, por favor. Pense sobre isso, ela pode ser boa! Eu tenho treinado com ela. Se eu sou bom, parte do esforço também foi dela de me ajudar e...

— Mulheres são fracas, e não estou falando só fisicamente, são um atraso dentro do meu dojo. Por que acha que garotas não vão para a guerra, Lawrence? — Ele aumentou o tom de voz, e Rayken deu um passo para trás. — Me diga, Lawrence! — Kreese avançou em direção ao garoto, gritando com raiva por ter sido contrariado pelo menino que nunca dizia uma palavra que o homem não aprovasse.

Então Rayken se pôs à frente do loiro, com toda sua raiva, e encarou o homem enorme à sua frente de forma ameaçadora. Ela era a filha mais nova de um homem solteiro de meia idade com vários irmãos, não aceitava um homem mais velho a inferiorizar e a amedrontar com tanta facilidade.

— Toque nele, e eu arranco suas bolas. — O olhar doce e inocente da menina tinha sumido, e Kreese adorou presenciar aquilo.

Ele enquadrou o rosto puro, gentil e raivoso da menina, e passou a mão pelas maria-chiquinhas dela com ternura. Dando um passo para trás, começou a rir. Rayken se sentiu constrangida e confusa, porém não cedeu a guarda.

— Me desculpe, Sensei... — Johnny começou a se explicar de forma embolada, mas Kreese o calou. — Eu...

— Você que ensinou isso para ela? — ele encarou a garota como se fosse um bichinho de estimação com quem adoraria brincar.

— Eu... — Johnny abriu a boca para se explicar, mas se conteve. — Foi. Fui eu. — Deu de ombros.

— Garotinha — Kreese se abaixou, ficando de joelhos na altura da menina. — Me desculpe.

Ele pegou a ficha de sua mão, dobrou-a e colocou-a no bolso do kimono. Sua mão foi em direção ao rosto dela, e ele sorriu com o gesto de carinho. Rayken não entendia como alguém conseguia ser tão explosivo e romântico ao mesmo tempo.

Kreese começou a se questionar como seria ter uma filha: como teria nascido, em que dia, mês, ano. Teria os traços dela? Ou seria como ele? Se tivesse uma filha, ele a ensinaria como uma garota deveria se portar, a tornaria uma campeã de karatê, a ensinaria como ser sexy e conquistar uma paixão adolescente, ou como tratar as pessoas. Ele a ensinaria como ser uma Cobra.

Mas Kreese não tinha filhos...

No entanto, olhando para os dois pré-adolescentes à sua frente, ele viu algo que não via há tempos. Kreese enxergou um futuro. O homem sádico teve a perspectiva que nunca tivera antes em sua vida. Ele viu parte dele nas duas crianças e faria de tudo para que eles enxergassem a ligação que sentia. Ele podia fazer isso. Podia torná-los o que ele havia acabado de idealizar com muita dedicação e esforço.

E Kreese prometeu a si mesmo explorá-los ao máximo até descobrirem a Cobra que eram.

Os dois eram seu novo projeto.

— Pequena, — Kreese começou, sorrindo. — Bem-vinda ao Cobra Kai. — Ele beijou o topo de sua cabeça e se levantou.

Rayken se sentiu querida de uma forma paterna que nunca havia sentido antes. Aquela pequena demonstração de afeto remexeu com a cabeça em desenvolvimento de uma garota de doze anos que queria ser vista.

Ela amou John Kreese quando ele deu a ela o poder de ser vista. Ela queria que ele suprisse o que nunca tinha sido lhe dado: gana e expectativa. Ela o amou quando ele a mimava, ela o amou quando ele a tratava mal, porque ele havia se tornado seu sensei. E era só isso que importava.

Indo em direção aos armários, Kreese pegou dois kimonos de manga comprida e calça com a cobra estampada. Ele os entregou aos dois.

— Vocês começam amanhã. — Kreese alegou com indiferença, voltando para sua sala. — Não me decepcionem. — Ele apontou com o dedo antes de fechar sua porta com força.

A frase havia sido dirigida aos dois, mas Rayken sabia que o peso daquilo havia sido direcionado a ela.

Quando voltaram para a casa de Johnny, Ray fez com que o garoto a batesse até que tivesse hematomas por todo o corpo e ela aprendesse mais do que o básico para se tornar algo que ela nunca tinha se visto como meta antes: uma Cobra.















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[2300 palavras]

O que acharam de Johnny e Rayken?
Estava muito ansiosa para mostrar pra vocês essa parte da história, porque o que aconteceu com eles e o Kreese muda absolutamente tudo!
Comentem, pfv.
Fim da maratona 3/3, mas espero conseguir revisar mais um e postar ainda hj!
Me sigam no TikTok pfv. @backdavis.wp 💛
Com amor,
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