ɴɪɴᴇ - 𝘤𝘢𝘯𝘪𝘰𝘯 𝘱𝘢𝘳𝘵𝘺
episódio nove,
𝘤𝘢𝘯𝘪𝘰𝘯 𝘱𝘢𝘳𝘵𝘺
A área verde do parque era gigante, famílias se juntavam na grama, tomando sorvete de chocolate da carrocinha que passava de hora em hora, casais se sentavam nos pequenos bancos, bem debaixo das árvores em busca de fugir do sol. Aaron estava com um livro em mãos, "Fogo e Sangue", de George R. R. Martin. Mas toda vez que seus olhos se concentravam na tinta que formava as palavras na folha, acabava se distraindo com os gemidos de dor de Bert, atrás dela.
— Não deixe que ele te derrube desse jeito. — Aaron se virou, ficando de frente a Bert, que apanhava facilmente para Falcão. — Reage, Bert.
Ao fechar o livro em mãos, a garota passou uma das mãos por seu rosto, tirando fios loiros que caíam ali por conta da fraca ventania que passava por Walley.
— Não posso, ele é forte demais! — Disse Bert, fazendo o maior drama que conseguia, enquanto Eli tinha seu rosto embaixo de seu braço, fingindo que o enforcava.
— Eu vou te destruir! — Gritou Falcão, antes de agarrá-lo pela camiseta e o lançar no chão de novo, para outra briga.
Aaron suspirou, achando a cena cômica, mas ao mesmo tempo preocupante. Era difícil para ela entender como as coisas tinham chegado a esse ponto, onde lutas e provocações eram tão comuns. Ela estava se acostumando com aquilo. Ela fechou o livro, colocando-o ao seu lado no banco, e se levantou para tentar intervir de alguma forma.
— Ok, você viu ela jantando com outro cara, deve ser só o irmão dela. — Disse Falcão, do chão enquanto usava o pequeno Bert como saco de pancadas
— Não, cara. Irmãos não se olham assim. — Alegou Miguel, possesso.
— Depende da parte do país. — Os olhos de Demétri se espremeram de repulsa, como se tivesse tido a lembrança de uma memória ruim.
— Então chega nesse cara e arrebenta ele pra ele não ter nenhuma chance. — Disse Falcão, orgulhoso.
— É sério, Eli? — Demétri debochou.
— É Falcão agora. — ele disse, travando o maxilar.
— Tudo bem, "Falcão" — disse com desdém. — Vai lá e arrebente ele então.
— Porque arrebentar quem? — Aaron cerrou o cenho confusa. — Ela nunca te trairia, Miguel.
— Eu ouvi o jeito que você falou, e eu não gostei. — Falcão disse, segurando a nuca de Demétri.
— Ele não falou por mal, Falcão. — A loira disse, tentando amenizar a situação.
— Eu só não quero que aconteça comigo, o que aconteceu com o Sensei... — Miguel disse, suspirando de maneira penosa, antes de se virar para Aaron com o nariz torcido — Sem ofensas.
— A questão, é que a Samantha não te deu motivos para não confiar nela. — Demitri disse, racionalmente, o que fez Miguel abaixar a cabeça, concordando.
— Ah! — Aisha ofegou, mexendo no celular. — Que garota mais ridícula!
— O que aconteceu? — Aaron questionou, tomando o celular de sua mão.
— Sabe o vídeo que eu postei quebrando a tábua? Olha o que a Yasmine comentou. — Aisha apontou o aparelho, enquanto seus pequenos dedos o cercavam com força.
Na tela era visível mais um de seus comentários maldosos quais ela desferia a todos nas redes sociais. Principalmente as pessoas que atualmente tinham entrado para o Cobra Kai. E isso incluía Aisha.
— Que horrível, sinto muito. — Miguel disse, cruzando os braços contra o corpo.
— E se nós sequestrássemos ela e pedíssemos para o meu primo tatuar 'vadia' na testa dela? — Encostado no banco, Falcão riu orgulhoso como se acabara de ter a melhor ideia de todas, enquanto Aaron franziu o cenho, sabendo que aquela era a ideia mais estúpida que já tinha ouvido.
— Espera, espera. Tive uma ideia melhor. — Aisha disse, e agora o celular estava no meio do grupo, onde todos podiam ver.
— A Yasmine vai dar uma festa no Cânion? — Aaron questionou.
— Não se nós chegarmos primeiro. — Aisha sorriu maliciosa e todos os outros a acompanharam, concordando como se fosse a ideia mais genial do mundo.
— Eu não entendi. — Foi o que Bert disse, ao tentar se levantar
Aaron observava a todos, sentindo uma mistura de orgulho e preocupação. Eles tinham se unido de uma maneira que ela nunca esperava, mas às vezes a linha entre diversão e maldade parecia muito tênue. Ela sabia que o bullying de Yasmine era cruel, mas se perguntava se responder na mesma moeda era o caminho certo.
— Então, qual é o plano? — Miguel perguntou, ainda com uma expressão séria.
— Nós vamos arruinar a festa dela — Aisha explicou. — Vamos chegar lá primeiro, pegar o lugar pra gente.
— Isso parece... arriscado — Aaron comentou, mordendo o lábio inferior.
— É isso ou deixar ela continuar nos humilhando nas redes sociais — Falcão respondeu. — E eu estou cansado de ser tratado como lixo por alguém como ela.
— Tudo bem, mas precisamos ser inteligentes sobre isso — Demétri disse, se ajeitando no banco. — Não podemos simplesmente invadir e esperar que tudo dê certo. Precisamos de um plano.
— É exatamente isso que nós vamos fazer. — Aisha respondeu, com um brilho nos olhos.
Aaron suspirou, percebendo que não havia como impedir seus amigos. Eles estavam determinados a se vingar, e talvez isso fosse exatamente o que precisavam para recuperar um pouco de sua dignidade. Ela só esperava que nada saísse terrivelmente errado.
— Certo, eu estou dentro — ela disse finalmente, cruzando os braços.
— Tudo bem, — Miguel concordou, acenando com a cabeça. — Vamos fazer isso.
A cozinha da casa dos LaRusso era calma e silenciosa quando Amanda lavava os últimos talheres do lanche, e ao fundo, se você se concentrasse, era audível os barulhos do vídeo game de Anthony no andar de cima da casa.
— Mãe, você viu o papai? Eu tenho que falar com ele. — foi o que Samantha disse, adentrando o local, vestindo um casaco claro bordado de flores e jeans skinny.
— Não, ele saiu, e eu preciso conversar com você. — A mais velha soltou o pano de prato na pia e se aproximou da bancada americana. — Você esteve envolvida em uma batida e fuga há alguns meses? — O silêncio insurdecedor foi o bastante para uma conclusão. — Ai meu Deus, minha filha...
— Eu não estava dirigindo, foi a Yasmine, no carro dela. E a Aaron... — Samantha tentou se defender, desviando a culpa de seus ombros.
— Não importa! — Amanda a censurou em resposta. — Você devia ter me falado. Você tem ideia do problema que causou?
— Me desculpa. — Samantha disse, desviando o olhar.
— Pedir desculpa não basta. — Amanda descansou o braço na cintura. — Não acredito que vou dizer isso, mas está de castigo. Me dê o celular.
Sua mão se esticou, esperando por receber o aparelho.
— O quê? Por quê? Já faz meses!
— Porque enquanto você tiver internet, mandar você para o seu quarto é como te deixar sair. Agora me entrega.
— Não se esqueça do laptop e do Apple Watch dela. — Nenhuma das duas percebeu quando Anthony entrou na cozinha. Mas quando procuraram pela voz, avistaram o menino quase dentro da geladeira com um pote de picles aberto.
— Que sacanagem. — Samantha resmungou, saindo da cozinha.
Anthony riu e pegou mais um picles, enquanto Amanda suspirava, esfregando as têmporas.
— Anthony, volta para o seu livro. — Ela disse, sem muita convicção.
— Tá bom, mãe. — Ele respondeu, fechando a geladeira
A campainha da mansão ecoou por cada cômodo da casa, e então Anthony correu dali pressas, afirmando ser seu possível drone da Amazon e deixando para trás toda a tarefa de casa que ele havia deixado sobre a mesa.
Porém, a decepção se instalou em seu rosto quando abriu a porta e não se deparou com alguém do correio.
— E aí, Anthony. — Robby disse, com um sorriso amigável.
— Argh, é só você. — O menino gorducho disse, decepcionado, e se virou, sem se despedir.
— Ah, oi, Robby! Tudo bem? — Amanda disse, como alguém que praticamente tinha corrido atrás do próprio filho.
— Oi, Senhora L. Como vai? Eu vim aqui para treinar com o senhor LaRusso. Ele me disse também que teria cerca de noventa por cento de chance de Aaron estar por aqui hoje. Ele está lá atrás?
— Ah, não... Ele saiu, ocorreu um imprevisto e ele vai ficar fora o dia todo. — Ela olhou para trás, receosa, e desistiu, trazendo seu olhar de volta ao garoto. — Tudo bem, não esquenta. Entre, você pode esperar por ele aqui.
Então Robby sorriu, tímido, e a acompanhou para dentro da casa.
— Nem pense nisso! — A mulher mais velha gritou, ao flagrar Samantha com as mãos no celular, claramente o usando quando não devia, e então ela o tomou de sua mão, às pressas.
Presenciar a cena fez Robby querer enfiar a cara num buraco e não sair mais.
— Oi, tudo bem? — Sua voz era calma quando Samantha passou por ele.
— Estão me fazendo de prisioneira. Eu preciso sair desse lugar. — Com um toque de drama, Sam saiu da cozinha, como se estivesse sofrendo uma grande injustiça, e só o que Robby pensou foi em rir de seus olhos azuis, antes de pensar em um plano para conseguir dar a Samantha o que ela desejava.
Sorrateiramente, as mãos de Bert enchiam os próprios bolsos da calça com amendoins e pequenos pacotes de goloseimas. A loja de conveniência era quente e abafada, e parecia ter sido largada no tempo como os fundos das lojas americanas.
Ao mesmo tempo, Aisha enchia uma cesta a arrastava no chão com vários pacotes de Pringles. Enquanto quieta, Aaron arremessava nas sacolas de Falcão alguns pacotinhos de Cheez-it, mesmo sabendo que ela era a única que gostava e tolerava o cheiro do salgadinho, e que mesmo sabendo que ele era um dos não gostava, não rejeitaria levar por ela.
— Levem bastante coisa. — Ela disse. — Convidei todo mundo. "Somente vip" — Ela imitou a voz estridente de Yasmine. — Somente vip é o caralho.
— Eu ainda não entendi como vamos comprar álcool. — Demétri resmungou, talvez um pouco alto de mais, quando levantou um enorme pacote de alcaçuz doces.
— Ah, por favor. Nunca subestime o poder do Falcão. — Disse ele, estalando os dentes referindo-se a si mesmo, enquanto abria o freezer de frios e bebidas alcoólicas que possuía o típico rótulo de mais dezoito no vídro.
Do lado de fora, de frente ao estacionamento, Miguel reencaaminhava mais uma das cinquenta mensagens que já tinha mandado para a própria namorada. Até que desistiu, e entrou no local.
Quando seus pés pisaram a pequena loja abafada, um sininho tilindou, e os olhos de Aaron foram de encontro com os do amigo, percebendo que tinha algo de errado.
Miguel não conseguia parar de resmungar e se questionar sobre o que tinha visto na noite anterior. A própria namorada em um jantar com outro garoto, logo depois de dizer que precisava de um tempo antes de apresentá-lo para o próprio pai.
Quando Aaron ouviu a história, ela se lembrava de rir, e o tranquilizar de que não deveria ser ninguém importante. Porém, ela só conseguia imaginar que era Robby o garoto a que ele se referia.
Quem mais estaria passando mais tempo do que o necessário com Daniel LaRusso?
E a pontada de insegurança infectava seu cérebro como uma doença incurável com a possibilidade de Robby ter sido convidado a um jantar no qual ela não tinha sido. E que se fosse um jantar em que ela não poderia estar, provavelmente não era um jantar casual dos LaRusso. E sim algo mais.
— Miguel, desculpa... — ela disse, chegando perto dele de mansinho, sem perceber que tinha acabado de assusta-lo — Mas você se lembra de como era o garoto? Tem certeza de que eles pareciam íntimos?
O costume de ver Samantha ter tudo o que queria sempre fazia Aaron tremer, ela não sabia que ela e Robby tinham se beijado. Samantha não fazia ideia, o que era o suficiente para deixar Aaron preocupada.
Mas não deveria, Samantha estava com o Miguel, não estava? Ela não gostava do Miguel?
— Eu sei que posso parecer ciumento, mas eu sei o que eu vi, Ronnie. — o moreno disse, encarando as íris azuis de Aaron com firmeza, o que a fez engolir em seco, implorando pra si mesma que Robby não respondia suas mensagens por estar ocupado na oficina, ou por qualquer outro motivo que não fosse sua melhor amiga.
Mas sendo honesta, eles sequer estavam juntos para cobrarem algo um do outro?
— Não se preocupe, Miguel. — ela disse, tentando soar gentil ao ver o celular do menino em mãos, aberto em várias mensagens não respondidas — Ela provavelmente está muito ocupada em casa. Ela também não me respondeu a manhã inteira.
O que não era um blefe, as duas não se viam desde o simulado preparatório da manhã, e desde então Samantha não a enviou nenhuma mensagem de texto. Que no final das contas, Aaron preferiu não ser mais um encômodo. Mas sabe quem também não a respondia? Robby Keene.
— Eu sei, provavelmente você está certa. Você a conhece bem até de mais. — Ele balançou o próprio telefone, derrotado. — Só vou ligar mais uma última vez.
E então seus dedos tocaram a tela, e depois o celular foi em direção ao próprio ouvido, e chamou e chamou, e não houve resposta. Então Miguel desistiu, deixando um recado de voz.
" Ei, Samantha. Sou eu, Miguel. Eu só queria te pedir desculpas por hoje mais cedo. Eu estava me sentindo mal, mas eu ia adorar ver você hoje. O Cobra Kai vai dar uma festa hoje lá no Cânion. Se quiser aparecer por lá...."
E então ele desligou o celular, encerrando a chamada, e Aaron se questionou se deveria ligar o próprio celular e convidar Robby para a festa, para ver se assim recebia sinais do garoto. Amigavelmente, a loira passou a mão no ombro de Miguel, o confortando.
— Opa, viu o jogo ontem? Viu o walk-off do Puig? — E então, a voz claramente forçada e grossa de Eli sobressaiu o ambiente, e os olhos curiosos de Aaron o rondadam.
— Não, mas ouvi dizer que ele rodou o bastão até a lua. — O homem mais velho disse do outro lado do balcão. Era difícil conter a risada, por Eli era péssimo com esportes que não fossem o Karatê, e Falcão falava com um ar tão confiante.
— É, ontem eu estava com alguns amigos do trabalho no bar, o lugar foi à loucura. — Falcão disse, continuando sua mentira.
— Eu queria ter ido, mas minha namorada me arrastou para uma peça terrível. — O homem barbudo lamentou, com sua voz arrastada.
— Coisa de mulher. — Ele disse como se tivesse experiência. — Então, quanto que vai custar?
— Preciso ver sua identidade. — O homem disse simples, sem cair no papo furado de Falcão.
Era perceptível o nervosismo dele ao tocar na carteira em seu bolso enquanto dizia
— Eu fico lisonjeado. — Riu, sem graça. — Acha mesmo que sou menor de idade?
Então Aaron se aproximou, com um Bert cheio de balas surripiadas nos bolsos, e o colocou embaixo de seus braços ao se aproximar de Falcão.
— Ei, meu amor. Por que está demorando? — Ela disse com a voz mais angelical que pode.
— Acha que sou menor de idade? Esse aqui é o nosso filho. — Então Falcão passou a mão na cabeça de Bert, grosseiramente, dando seu melhor.
— Nosso lindo, lindo, bebê. — Aaron deu um beijo estalado na bochecha do garoto de moicano, antes de agarrar a cabeça de Bert em um abraço.
— Tudo bem, família feliz. Mas mesmo assim eu preciso ver. Sabe, é a lei. — O homem disse, entendiado, enquanto era perceptível o cu na mão de Demétri e Aisha que fingiam ler alguma revista teen da prateleira.
— Claro, tem que cumprir a lei. Está tudo bem. — Ele finalmente retirou sua carteira do bolso, mas não sem antes dar um beijo no topo da cabeça de Aaron, claramente tirando um pouco de proveito da situação.
— Tudo bem, tanto faz. — ele disse, analisando a carteira de motorista falsa, e começando a embrulhar as bebidas.
— Também quero oito garrafas de vodka. — Falcão disse por último, sorrindo. Saindo da conveniência, Aaron enviou a mensagem.
Quando os pés de Yasmine desceram da caminhonete de Kyler, ela vislumbrou o pior horror que uma garota como ela podia enfrentar. O Cobra Kai tinha roubado o espaço de sua nova festa de aniversário, entrando agora no cânion cheio de pessoas que ela não gostava ou sequer conhecia.
— Nossa! Como essa gente chegou aqui tão cedo? — Disse Moon, feliz e deslumbrada.
— Sério, Moon? Parecem o tipo de pessoas que eu convidaria? — Ela apontou com nojo. — Kyler, manda esses idiotas embora.
— Pode deixar. — Ele disse sem pensar duas vezes. Porém seus olhos avistaram quem ele menos queria em meio à multidão de adolescentes, Miguel Díaz. — Espera aí. — Ele disse, dando um passo atrás. — Quer saber? Acho que seria melhor acharmos outro lugar, ou então vamos lá pra casa... Não estou curtindo aqui.
Enquanto eles argumentavam, os olhos de Moon fitaram cada movimento do garoto de moicano azul em meio à multidão no cânion. Ele tinha acabado de esbarrar em uma garota branca, de cabelos loiro escuro, talvez uns dez centímetros menor que ele, com um sorriso doce, enquanto ele não tirava os olhos de Moon por um segundo, até o pequeno desastre acontecer.
— Vocês são uns covardes! Sabem disso, não sabem? — Yasmine gritou, e os dois garotos entraram na caminhonete, prontos para ir embora.
— Moon! O que você está fazendo? — A loira reclamou.
Os pés de Moon andaram involuntariamente em direção à rampa para a festa, sem olhar para trás.
— Só vou atrás de uma cerveja. — Moon sorriu delicadamente, apontando sua pior mentira.
— A gente tem cerveja! — Gritou ao longe. — Moon!
— Aí meu Deus! Me desculpa! — A menor disse tristemente enquanto esfregava a manga do casaco azul de um desconhecido. — Não foi minha intenção.
— Ei, tudo bem. — Ele disse, com um sorriso sincero, retirando suas mãos ansiosas de cima dele, e ela finalmente pôde ver seu rosto. Era um rosto masculino, porém fino, e seus olhos eram da cor do céu, o que contrastava com todo o estilo de roupas e moicano azul na cabeça.
Ela não diria isso em voz alta, mas era um cara muito atraente.
— Me desculpe, minha primeira semana aqui, e já estraguei tudo. — Ela riu, nervosamente. — Sou Summer. — Ela sorriu docemente e estendeu a mão direita.
— Falcão. — Disse o garoto se apresentando, e segurando a mão estendida dela com prazer, sem parecer algo forçado ou constrangido por ser canhoto. Era como se ela simplesmente soubesse qual mão apertar.
— Disse que é sua primeira semana aqui? — Ele questionou.
— Sim, eu e minha irmã mais velha somos de Denver. Mas minha mãe cresceu aqui. — Summer sorriu e soltou a mão dele.
— E o que te trouxe aqui? — Ele tentou parecer casual, como se garotas conversassem com ele sempre, e que ela não era a primeira menina a se interessar por ele depois dele ter tido a mudança de visual. Apenas casual.
— Ah, meu sonho é fazer artes. E Los Angeles é meio como um point disso.
— Acho que sim. Tenho uma amiga, uma grande amiga, na verdade, que desenha. — Disse ele, se referindo a Aaron com brilho nos olhos. — Ela desenha tipo, de tudo. Devia te apresentar a ela.
E então os dois começaram a conversar, e o assunto se desenrolou ao ponto de os dois se esquecerem que tinham se trombado, até Falcão colocar sua garrafa na boca e engolir ar, porque toda sua cerveja tinha ficado em seu casaco.
— Caramba! — Summer começou a rir desajeitadamente no próprio lugar ao perceber que ele tinha fingido casualidade sobre aquilo também. — Vou te arranjar uma nova. — a menina apontou para a garrafa de Coors vazia.
— Não precisa. — Falcão disse, sem querer se distanciar mais da menina. Ele não tinha experiência sequer com garotas, mesmo que fingisse ser imponente, Summer havia sido a única menina a se interessar por ele.
E a única que não havia perguntado sobre seu novo estilo, ou sobre seu moicano.
— Não tem problema, eu insisto. Reparação de danos, né? — Summer sorriu, o que o fez sorrir. E então ela se virou, tentando se disfarçar na multidão e andar até o cooler, porém Falcão a segurou pelo punho, a parando e a fazendo se virar por um último segundo.
— Você curte artes marciais? — Ele sorriu malicioso ao pronunciar a frase, e Summer franziu o cenho curiosa.
— Nunca pratiquei nada além de judô na infância. — Ela balançou a cabeça no ar, como se puxasse uma memória. — Mas minha mãe namorou um cara que lutava karatê. — Summer riu.
— Então acredito que o bom gosto seja genético. — O garoto de moicano usou sua melhor cantada.
— Desde que você não quebre meu rádio na frente de todo mundo, por mim tudo bem. — Ela deu de ombros. Não percebeu que gritava, mas devido à música e à multidão de pessoas enquanto o sol ia embora.
E então ele soltou seu punho, e Summer correu em direção aos coolers de bebida.
— Nada ainda? — Aisha perguntou, e a cabeça de Aaron e Miguel se viraram ao mesmo tempo em sua direção.
— Nada. — Miguel disse.
E também não havia tido nenhuma resposta da mensagem de Aaron para Robby, o convidando para o Cânion, e isso fez sua ansiedade aflorar um pouco ao pensar que ele podia ter escolhido sair com a Samantha em vez de estar ali. Tudo bem, era compreensível, ele não conhecia seus amigos, ele podia escolher não ir. Mas podia ter respondido à porra da mensagem. Robby sempre respondia as mensagens.
— Vai ver acabou a bateria dela. — Aisha disse, encorajando Miguel.
— Não importa, podemos começar essa festa sem ela. — Então o moreno puxou de um dos coolers uma garrafa de vidro e a abriu com o dente, antes de se afastar, e começar a virá-la. Aaron, cansada de se sentir boba, pegou uma latinha, e a abriu descontando sua raiva nela.
— Com licença. — uma voz calma ecoou atrás de Aaron, a fazendo saltar de susto por um instante. — Você está na frente das bebidas.
— Ah, me desculpa. — Isso foi o suficiente para fazer a loira se mexer e parar de se escorar na tampa de isopor.
— Tudo bem. — A menina aparentava ter a sua idade, seus olhos eram escuros, e seu cabelo um tom marrom escuro quase preto, sua pele era bronzeada, e ela tinha uma linha bem definida no queixo.
— Sou Summer Mills. — Ela sorriu amigável, e estendeu uma das mãos, a mão esquerda dessa vez, e encaixou as duas garrafas de Coors em um único braço.
— Aaron. — sorriu de volta. — Aaron MacGyver.
— Nossa! — Ela suspirou surpresa. — MacGyver?
— Hm, sim. — A loira franziu o cenho confusa.
— Me desculpa pela reação, tudo bem você não associar. Mas minha mãe é Alison Mills, acho que seus pais e minha mãe estudaram juntos no colégio. — Seus lábios se abriram numa linha fina e tímida.
— Uau, Hill Valley é pequena, não é? — Aaron disse, levemente corada de constrangimento.
— Não é? Não acredito que estou te conhecendo, loucura. Eu só sei das histórias que minha mãe me contava. Seus pais ainda estão juntos? Os meus não. — Ela sorriu, revirando os olhos e suas frases pareciam inocente, tentando não ser indelicada. Ela só parecia curiosa e com vontade de fazer amizade — Digo, Johnny e Rayken...
— O quê? — Aaron riu, indiscreta, e teve que bater no peito para tentar conter as risadas. — Meu pai não é Johnny Lawrence. — Seu tom de voz era quase ofendido. Seu sorriso era frouxo, claramente por não estar acostumada a beber, aquela alegria era o primeiro estágio da embriaguês.
— Aí meu Deus, me perdoe, eu achei...
— Não tem problema. — Aaron a tranquilizou sorrindo. — Só é muito estranho alguém dizer isso em voz alta. Meu pai é Jay Foster.
— Nossa, isso faz muito mais sentido. — Summer acompanhou a risada. — Enfim, me desculpe o constrangimento, só achei engraçado a gente se esbarrar assim. Foi um prazer te conhecer.
E então, com a mão livre, Summer a abraçou.
A loira se virou, sem saber como receber aquele tipo de afeto. Abraços eram incomuns na criação de Aaron, mas aparentemente, para a menina Mills, que tinha um sorriso gentil e muito o que dizer, era uma das coisas mais normais do mundo.
Segundos depois, ao solta-la, Summer deu passos à frente, pronta para continuar andando pela areia, equilibrando as garrafas em seus pequenos braços, porém empacou ao ver o mesmo garoto de antes que a tinha feito rir, conversando com outra menina agora. Ela tinha perdido tempo, ele já havia encontrado alguém mais interessante do que ela.
— Notei que já conheceu o Falcão. — Aaron disse, agora estando ao seu lado e presenciando a mesma cena.
— Esse é mesmo o nome dele? — Summer riu triste e envergonhada. Não devia ter insistido nas cervejas.
Aaron sabia que poderia ter dito outra coisa. Podia ter pronunciado Eli Moskowitz. Porém, ele era seu amigo, e se ele queria ser chamado de Falcão, assim seria.
— Não sabia que ele era um garoto disputado.
— Ha, ele não era. Agora pelo visto é, acho que aquele moicano tá estranhamente fazendo uma baita diferença. — A loira disse com um sorriso, sabendo que o que dizia não era sério. Eli era um garoto incrível. Triste era saber que as pessoas só o viam bem com aquele corte de cabelo.
— É um moicano bem legal... — Summer sibilou, abaixando a cabeça — Talvez eu devesse ter dito isso a ele.
Summer retirou uma das garrafas da mão e entregou a Aaron, deixando claro a desistência em voltar a se aproximar de Falcão.
— Bom, você ainda pode, aquela é a Moon. — Aaron apontou, enquanto se aproximava da menor. — Ela não morde, sabe, na verdade, ela é bem calminha. Devia voltar lá. — A loira disse, com um sorriso gentil nos lábios, tentando soar o mais acolhedora possível.
Porém, um celular começou a tocar, e inconscientemente Aaron colocou a mão no bolso, imaginando a possibilidade de ser Robby. Porém, não era o celular dela. Summer colocou o aparelho na orelha direita, e murmurou um pedido de desculpas ao se afastar aos poucos.
O olhar de Aaron desceu em direção à garrafa de cerveja e sentiu um arrepio correr por sua espinha. Olhou ao redor na areia e encarou as garrafas de vodka quebradas e largadas pela praia como se fossem lixo, como se não pudesse cortar alguém e respirou fundo, ao se lembrar do último verão.
Cacos de vidro por toda parte.
Ela colocou a mão sobre a testa, instintivamente, como se sentisse a dor do corte de novo, como se se lembrasse dos hematomas.
— Você precisa superar isso... — Ela sussurrou, debatendo com a garrafa de vidro perto de seu rosto, e enfim a colocou entre os lábios.
— Olha, eu não entendo. Você raspou metade do cabelo, fez uma tatuagem e, de repente, tudo muda? — Demetri disse, ao se sentar ao lado de Falcão com um copo vermelho cheio de cerveja nas mãos.
— Entenda uma coisa: não é só o cabelo ou a tatuagem, é um estilo de vida, cara. Você tem que sentir o momento — respondeu Falcão, dando um tapinha no ombro do moreno, como se tivesse acabado de dar o melhor conselho do mundo.
Falcão se levantou, pegou seu copo na grama e saiu de perto do amigo, com medo de que o associassem a ele. Agora sua reputação estava diferente; as pessoas se importavam com o que ele dizia ou fazia. Ser visto com Demetri não era mais algo bom ou necessário para sobreviver. Agora, ele podia se livrar dele.
— Isso aí tá mais para papinho de livro de autoajuda — o moreno metódico reclamou, balançando a cabeça em negação enquanto via o melhor amigo se afastar.
Demetri deu um gole em sua bebida, respirou fundo e olhou ao redor. O cânion estava cheio; ele conseguia ver os rostos de seus amigos, claramente passados da bebida ao redor da praia, enquanto sentia o vento frio da noite encobrir seus ombros. Até que seu olhar vago encontrou aqueles fios loiros de cabelo, aquele nariz perfeitamente arrebitado, com uma feição irritada e sem vontade nenhuma de estar ali. Yasmine tinha uma expressão de poucos amigos, os braços cruzados ao redor do corpo, enquanto evitava um copo entre os dedos. Ela só estava ali ainda por conta de Moon, que se recusou a ir embora com ela mais cedo.
— Tudo bem, é a sua chance — Demetri disse a si mesmo, antes de respirar fundo e virar toda a sua bebida goela abaixo. — Como vai? Eu vi no Facebook que hoje é o seu aniversário, né? — ele perguntou, tentando sorrir ao andar na direção dela.
Demetri era bem mais alto que Yasmine, o que o fazia se encurvar um pouco para conseguir enxergar seu rosto na pouca iluminação daquela noite.
— Bom, parabéns — ele disse, fazendo um joinha com a mão livre, mas Yasmine apenas o encarou, como se implorasse para que ele parasse de falar com ela. — Me desculpa se eu estou te irritando, é que geralmente eu não falo com o sexo oposto — Demetri deu de ombros, esquecendo-se de que estava falando com a garota mais popular do colégio. — Quero dizer, com exceção da minha mãe. Mas mesmo assim, ainda dá medo. Geralmente eu só observo à distância — ele continuou falando, enquanto as expressões de Yasmine variavam entre nojo e medo de que ele fosse um psicopata.
— Ai meu Deus... — ela finalmente abriu a boca, descruzando os braços e encarando o céu, incrédula. — Aqui só tem fracassado — então ela deu um passo para longe, pisando forte para sair dali.
— Para quem é, isso é bom, né? — ele riu sem graça, respondendo-a enquanto amassava o copo em sua mão, sentindo-se levemente humilhado.
Yasmine deu passos largos até onde Aisha estava, ao lado de Moon, Falcão e Aaron. Aaron tinha uma garrafa de vodka nas mãos, que já estava mais da metade bebida. Ela não conseguia prestar atenção em nada e, em sua mente, já via algumas estrelas no céu. Enquanto isso, Falcão tinha os braços ao redor de Moon, e algo dentro de Aaron dizia que era a primeira vez dele realmente segurando uma mulher. E até que Eli parecia ter se saído bem, já que Moon parecia interessada nele e em seus beijos.
— Você acha engraçado arruinar a minha festa? — Yasmine disse, ao chegar perto de Aisha de maneira ameaçadora, balançando os braços para demonstrar sua indignação.
— Nunca foi a sua festa, porque chegamos primeiro — Aisha sorriu em sua direção, sem deixá-la ter motivos para queixar-se.
— Ah, eu sei o que você tá fazendo — Yasmine balançou a cabeça, mexendo os cabelos loiros de um lado para o outro. — Você e sua ganguezinha de karatê se acham muito legais, mas todo mundo sabe quem vocês são. Você é só uma vadia feia, e seus amigos aberrações — Yasmine disse, destilando seu veneno. Aisha engoliu em seco, enquanto Aaron deu um passo à frente, ao reparar que a loira encarava Eli de cima a baixo ao chamá-lo de aberração. Segurando a garrafa em sua mão, ela a sentiu ficar mais úmida e pôde ver a carne de seus dedos embranquecer ao segurá-la com muita força. Ela estava irritada.
— Venha, Moon. Vamos embora — Yasmine ditou como uma ordem e puxou o braço da morena para tentar desvencilhá-la de Falcão.
— Não. Eu vou ficar. Eu pedi desculpas à Aisha por tudo o que a gente fez, você também devia — Moon retrucou, dando um passo para trás.
— Tanto faz — ela disse, revirando os olhos e agora encarando a melhor amiga com nojo e desgosto. — Fica aí com essa porca gorda — ela disse, fazendo barulho de porco com o nariz, enquanto dava passos à frente, empurrando-os para longe.
— Repete — Aaron disse, dando um passo corajoso à frente, pronta para voar na garota, então sentiu Falcão segurá-la pela garrafa que tinha nas mãos.
— O quê? — ela disse, se virando na direção de Aaron. Ela era no mínimo dez centímetros mais baixa que Magyver, e isso por si só era motivo para enxergar o medo em seus olhos. Ela se lembrava do Halloween, Aaron sabia que sim.
— Quero ver se você tem coragem, anda, Yasmine, repita o que disse — a loira sorriu entre dentes. Ela estava bem bêbada e pronta para arrumar confusão, assim como seu pai faria. — Ou você quer que eu ajeite o seu nariz de novo? — Aaron sorriu, dando um passo para frente, assobiando entre os lábios, assustando-a e fazendo com que Yasmine desse um passo para trás, com medo.
— Você é uma psicopata, garota — ela disse enojada e deu passos para trás, tentando ir embora.
— Ei, Yasmine! — Aisha disse, quando a viu se afastar. Ela tinha passado muito tempo calada, anos demais sendo humilhada. Aisha não deixaria passar dessa vez. Agora ela tinha o karatê a seu favor, tinha amigos. Ela nunca mais deixaria Yasmine falar assim com ela de novo.
— O que foi, hein? O que é, garota? — Yasmine voltou, pronta para a briga, tendo em mente que ainda compunha algum medo em Aisha, ao contrário de Aaron.
— Deixa eu te dar uma mãozinha.
Aisha a puxou pela camiseta, trazendo-a para perto. Segundos depois, ela estava com a mão direita enfiada dentro da calça jeans branca de Yasmine, puxando sua calcinha para cima o máximo que pôde, fazendo nela um cuecão.
— Sem compaixão, sua vadia! — Aisha disse, segurando o corpo dela com uma mão só e a jogando no chão. Todos ao redor começaram a rir da garota, humilhando-a com os piores nomes possíveis. Ao lado de Aaron, Falcão deu um tapinha em seu braço, enquanto apontava para a menina no chão. Aaron engoliu em seco, de certa forma enojada com a cena. Parecia humilhante demais até para alguém como Yasmine.
Aaron não sabia se sentia vontade de vomitar pelo que tinha acabado de ver ou se era efeito do álcool em seu organismo. Ela nunca bebia demais, aquela era a primeira vez. Talvez tivesse a ver com a angústia de não ser respondida por Robby o dia todo. Aliás, onde estava o celular dela? Aaron mexeu nos bolsos e não conseguiu encontrar absolutamente nada. Estava com Miguel? Sua cabeça rodava, ela estava tonta e queria muito vomitar.
Robby não faria aquilo com ela, não a deixaria plantada, não a ignoraria. Ele não ficaria com a Samantha. Ela só era ciumenta, ou Miguel realmente tinha razão.
— Eu gosto de ir rápido, mas cara, você veio correndo — Robby sorriu na direção de Samantha, ao vê-la abrir o porta-malas de seu carro e retirar de lá um cobertor.
— Me desculpa, é que o Miguel tá mesmo me esperando — ela disse, citando seu namorado pela primeira vez, desde que ele a tirara de casa mais cedo. Ele havia mentido para sua mãe para conseguir salvá-la do castigo em que estava e agora ela tinha dirigido até ali, para poderem ir para festa e ela pudesse finalmente conversar com Miguel.
— É, você está atrasada, grande coisa — Robby cruzou os braços encasacados contra o corpo. — Ele não devia te encher por isso.
Samantha deslizou uma mecha de cabelo para trás da orelha enquanto fechava o porta-malas do carro, agradecendo a Robby quando ele gentilmente pegou o cobertor de seus braços, oferecendo-se para carregá-lo para ela.
— Não, não é só isso — ela disse, sua voz suave carregando preocupação — É, obrigada, aliás...
— Tranquilo. — Robby respondeu, seu sorriso acolhedor revelando suas covinhas enquanto ele ajustava o cobertor em seus braços, a ponta de seu nariz levemente avermelhada pelo frio.
— Não, eu to falando sobre mais cedo, com a minha mãe. Obrigada por me ajudar a sair de casa. — ela continuou, dando de ombros e dando um passo à frente, seus olhos brilhando com gratidão enquanto sorria para ele.
— Não foi nada, relaxa. — ele respondeu, seus olhos transmitindo leveza enquanto ele a acompanhava com passos calmos e firmes pela calçada.
— Eu, eu não contei pro meu pai que eu to namorando o Miguel. — ela continuou, enquanto caminhavam lado a lado pela calçada, — E eu acho que ele, o Miguel, tem desconfiado disso.
— Por que o seu pai não sabe? — ele questionou, interessado em entender mais sobre a dinâmica familiar dos Larusso de repente.
Samantha suspirou, uma expressão mista de resignação e preocupação pairando em seu rosto iluminado pela lua, enquanto ela tentava encontrar palavras.
— Eu sei, mas o meu pai odeia o sensei do Miguel, você não tem ideia. — ela explicou, gesticulando com as mãos para enfatizar a gravidade da situação. — Eu sei que se ele descobrir, vai surtar muito, e isso pode ferrar com tudo, sabe? Porque o Miguel não é muito consciente quando falamos de karatê.
Robby assentiu lentamente, compreendendo a delicada posição em que Samantha estava e a pressão que ela enfrentava para manter o segredo de seu relacionamento. Ele imaginou a tensão e o conflito que isso poderia causar em sua vida e se solidarizou com ela, enquanto pensava no próprio pai, na dificuldade que era ter uma simples conversa se quer com ele, quando a merda do karatê estava envolvido. O que mais ecoava em sua mente era na probabilidade daquele namorado dela ser um completo babaca. Na verdade, tinha certeza.
— Foi mal, eu to me sentindo bem culpada, sei que tenho que dizer à ele... — Samantha continuou, sua voz carregada de angústia e incerteza em relação ao futuro.
Robby sorriu gentilmente, seu toque reconfortante em seu ombro transmitindo apoio e compreensão, enquanto eles continuavam a caminhando pelo asfalto, chegando na descida do Cânion.
— Não se preocupe, está tudo bem. — ele disse, sua voz calma e reconfortante, ecoando a tranquilidade da noite ao seu redor. — Eu entendo, Sam.
Só restava mais um gole na garrafa quando Aaron a jogou no chão, despretensiosamente quase caindo para o lado. Ela estava muito bêbada, sentia sua cabeça girar. Quando se aproximou de Miguel, conseguiu reparar que o amigo encarava algo, xingando baixinho. Quando ela se deu conta de olhar naquela direção, sentiu seu peito ficar mais pesado e, de repente, parecia mais difícil de respirar. Porque todas as suas intuições estavam certas. Eles estavam juntos.
Robby Keene segurava a mão de Samantha ao descer a rampa do cânion. Eles riam enquanto se aproximavam da festa, a luz das tochas ao redor criando sombras dançantes em seus rostos. Aaron engoliu em seco, enquanto via Miguel dar um passo adiante, indo na direção deles.
— Não precisava, eu conseguia descer sozinha. — Samantha disse, com um sorriso bobo no rosto, soltando a mão de Robby.
Aaron pensou em recuar, se esconder e fingir que nunca tinha estado ali, mas então a raiva, misturada claramente com a embriaguez, tomou conta de seu corpo ao ouvir o diálogo seguinte e se compadeceu com Miguel.
— Seu pai disse que eu devia ser um cavalheiro. — Robby riu para ela, que colocou uma mecha de cabelo atrás da própria orelha. "Meu Deus, ela estava flertando com ele? Ela estava! Descaradamente bem na sua cara." pensou Aaron.
— Um cavalheiro, não é? — Aaron disse, atropelando Miguel antes que ele pudesse se pronunciar. Robby deu um passo para trás, involuntariamente ao ver a expressão derrotada na face de Aaron.
— Ah, e aí, Aay. — ele disse, com um sorriso tentando parecer simpático, tentando tocar seu braço, até que se deu conta de que Aaron não estava nenhum pouco lúcida.
— Não me chame de Aay. — ela disse, desvencilhando de seu toque.
— Quem é esse cara aí? — Miguel questionou, partindo para cima de Samantha antes mesmo de ela o cumprimentar.
— Ah, oi... Eu... — Samantha começou, mas Robby a interrompeu, parecendo visualmente confuso.
— Espera, esse é o seu namorado? — Robby questionou, cerrando o cenho, reconhecendo-o na hora. Era o único aluno do seu pai fracassado e ele estava ao lado de Aaron. Como se fossem amigos, como se fossem íntimos.
— É, Keene. Ficou surpreso dela ser comprometida? — Aaron disse, provocando, e ele tentou dar um passo à frente, sem entender o porquê de ela estar visualmente tão agressiva.
— Relaxa, é só o Robby. Ele trabalha para o meu pai... É o amigo da Aaron. — Samantha continuou, tentando parecer o mais compassiva possível. Aaron estava desgastada e enojada ao ponto de sentir raiva da voz dela.
— Espera, o seu Robby? — Miguel riu em escárnio na direção de Aaron, percebendo que os dois tinham sido feitos de bobos. — Ah, entendi. Faz muito sentido.
— O quê? Não, o que quer dizer? — Sam questionou, tentando fazer com que Miguel encarasse seus olhos.
Aaron bufou alto, rindo da situação patética, e jogou a garrafa que tinha em mãos na areia, engolindo em seco sua raiva.
— Quer dizer que você é só o meu amigo? — Aaron disse, tentando empurrar Robby para trás com a veracidade da sua raiva enquanto, ao seu lado, Samantha e Miguel brigavam abertamente. — Devia avisar para ela te chamar de meu vizinho, Keene. Ou melhor, serviçal do pai dela.
— Ronnie, você andou bebendo? — Robby questionou, dando um passo na direção da loira, ignorando seus protestos e jogando o cobertor que tinha em mãos no chão, claramente preocupado com ela.
Ele tinha a mão pronta para colocá-la no rosto de Aaron, preocupado, mas a loira desviou, dando um tapa nele.
— Não venha com essa. Eu te liguei o dia inteiro! Pros dois. — ela disse, cuspindo as palavras neles.
— Eu não podia responder, estava sem celular. Minha mãe pegou... — Samantha tentou se defender, parando de brigar com Miguel por um instante, tornando aquilo uma briga aberta entre os quatro.
— Você também estava sem celular? — Aaron questionou, encarando as íris verdes de Robby, totalmente decepcionada.
Robby tentou responder, mas Aaron não lhe deu chance, avançando alguns passos à frente, aproximando-se dele com raiva.
— Ficamos aqui o dia todo igual dois idiotas enquanto vocês estavam juntos, nos ignorando?
— Ela estava sem celular, eu precisava arranjar um jeito de a mãe dela a deixar sair de casa. — Robby disse, dando um passo a frente, ficando claramente impaciente
— É sério, Robby? Eu tenho cara de otária? Como se você não estivesse se divertindo com ela.
— É sério, qual o seu problema, Aaron? — ele disse, gesticulando com os braços, sem saber mais como se defender — Eu estou errado?
— Sim, você claramente vem mentindo para mim. Muito ocupado na concessionária, sério? Miguel viu vocês dois jantando juntos. — Aaron disse, cuspindo as palavras, com uma embriaguês clara
— Eu venho escondendo coisas? — ele riu, passando a mão pela boca, desacreditado — Que tal falarmos sobre você estar saindo com o garoto que meu pai treina sem me falar nada. Que tal isso?
— Isso é tão conveniente. — Miguel disse revirando os olhos, antes de Samantha o empurrar para longe dela
— Ei, cara. — Robby disse, ignorando Aaron por um momento, para se enfiar na briga dos dois, ao perceber que Miguel estava avançando contra ela — Sai de perto dela, se controla. — ele disse, cerrando os punhos e no mesmo segundo Miguel o empurrou longe, o jogando contra a areia, fazendo-o cair no chão com tudo
— Miguel, para com isso! — Samantha disse, com sua doce voz assustada, o que fez Aaron rir em escárnio, era sério que ela ainda achava que não tinha feito nada?
— E aí, — Robby disse levantando no mesmo instante, de maneira rígida pronto para ir para cima de Miguel — 'Cê quer tentar de novo? — Robby disse, andando na direção dele com os punhos cerrados, o que fez Aaron revirar os olhos involuntariamente, e se enfiar entre eles.
Se alguém iria sair na mão com Robby, seria ela.
Então a loira avançou contra ele, fechando os punhos e apontando na direção dele, antes de desferir um golpe que o fez desviar, mas Miguel se colocou no meio, e no instante que Robby desviou dele, o braço de Miguel voou contra o rosto de Samantha, a fazendo cair no chão. O impacto foi o suficiente para Aaron acordar para vida e perceber que tinha acabado de ajudar a jogar a melhor amiga no chão.
— Sam, Samantha! — Miguel disse se abaixando instintivamente para poder ajudá-la, tinha sido sem querer e Aaron via isso nos olhos preocupados dele.
— Seu idiota! — ela xingou, o afastando dela — Que merda foi essa? Meu pai estava certo sobre o Cobra Kai... — Samantha disse, chorando, ao se levantar. Robby tinha sua mão sobre a coluna dela, ajudando-a, o que fez Aaron se corroer de ciúmes. — Divirta-se no torneio. Porque eu não vou. — ela disse, cuspindo as palavras no rosto de Miguel e então deu meia-volta, se sentindo humilhada e indo embora.
— Pensei que estivéssemos mudando. — Robby disse, com seus lábios para baixo, como se estivesse triste. Enquanto não tirava seus olhos do dela. A noite fazia com que a luz da fogueira fosse a única coisa que o deixava vê-la de verdade.
— Às vezes as pessoas não mudam. — Aaron deu de ombros, desviando o olhar do dele.
— Vai se tornar um deles? — Robby disse, claramente a julgando, mas a menina não respondeu, não disse uma palavra sequer, apenas deu um passo ao lado de Miguel, sua linguagem corporal deixando claro que estava do lado dele. — Tudo bem, quer saber? — ele disse levantando os braços em rendição totalmente descrente da situação em que os dois estavam — Que se foda essa merda.
— Ótimo! — Aaron disse com rancor. — Você não tinha chance mesmo. — ela disse, encarando Robby de cima a baixo, vendo seu olhar ir de preocupado com ela a decepcionado. Ela sabia que aquela frase teria o impacto suficiente para ferir seu ego, e ela honestamente não dava a mínima.
E o que doeu mais foi que, quando ela deu meia-volta e pegou a garrafa recém-bebida da mão de Falcão, entornando-a, tentando se mesclar de novo a festa, não ouviu Robby chamar seu nome; ela o ouviu gritar por Samantha, que estava saindo às pressas do cânion, com os olhos cheios de lágrimas.
Lágrimas eram o suficiente para que ele tivesse compaixão por ela? Era isso que ela precisava ser? Uma vítima delicada e perfeita? Ela não era assim, e Robby sabia disso. Ela nunca seria igual a Samantha e talvez fosse isso que o fez ir atrás dela desde o começo.
Aaron não se importava, na verdade, queria que toda aquela merda de compaixão, vitimismo e karatê se fodessem. Ela estava certa, os dois tinham enganado ela.
Ela iria se inscrever naquele torneio e ganhar sozinha. Não precisava de Robby, podia aceitar isso, ela iria aceitar. Ela pagaria suas dívidas com o dinheiro do prêmio e então se livraria do seu pai de merda.
Ela não precisava de Robby Keene para aquilo.
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[7659 palavras]
Maior capítulo até agora hihi
Mais um capítulo, que bomba
Me digam o que acharam e comentem!
Felicidade de pobre dura pouco né?
Bjs,
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