sᴇᴠᴇɴ - 𝘵𝘩𝘦 𝘥𝘦𝘢𝘭 𝘰𝘧 𝘯𝘰𝘵 𝘣𝘦𝘪𝘯𝘨 𝘤𝘩𝘰𝘰𝘴𝘦.
Episódio sete,
𝘵𝘩𝘦 𝘥𝘦𝘢𝘭 𝘰𝘧 𝘯𝘰𝘵 𝘣𝘦𝘪𝘯𝘨 𝘤𝘩𝘰𝘰𝘴𝘦.
— Me mostre como lavar as janelas. — A mão de Robby colidiu com o braço de LaRusso, que rapidamente se defendeu do golpe do garoto.
— Agora me mostre como você passou a cera. — Daniel avançou contra Robby, tentando golpear seu rosto com o punho.
— Espera! — Robby ofegava, tentando se esquivar quando o soco estava prestes a atingir seu rosto. Seu braço esquerdo bloqueou o golpe, e a confusão tomou conta de seus olhos ao perceber o que estava conseguindo fazer.
— Agora com a mão direita. — Daniel instruiu. Quando o punho esquerdo de Daniel avançou novamente, Robby conseguiu se defender mais uma vez.
Os movimentos de lavar janelas, encerar carros e limpar o chão foram testados a cada golpe desferido contra o garoto.
— Merda! — Robby exclamou, depois de levar um chute na costela.
— Use seus reflexos. — Daniel disse com seriedade. Novamente levantou a perna para golpear, mas desta vez Robby se defendeu, empurrando Daniel para longe e provocando um sorriso orgulhoso no rosto de seu sensei.
Johnny Lawrence folheava uma revista em seu pequeno e apertado escritório, quando encontrou o anúncio que procurava. "Torneio Regional de Karatê Sub-18, 19 de maio. Inscreva-se já!"Seus olhos brilharam.
— Sensei, uma pergunta. — Miguel entrou no escritório com as mãos atrás das costas.
— Temos curativos no balcão, caso alguém esteja sangrando. — Johnny disse, abrindo uma cerveja e ignorando a aula que deveria estar supervisionando no outro cômodo do dojo. Era loucura como um vídeo no YouTube e um aluno sentando a porrada em outro fariam com que de uma hora para outra seu dojo fosse de dois alunos a quarenta. Ele tinha finalmente uma nova expectativa, um novo horizonte.
— Não, ninguém está ferido. Tem sim, bastante sangue, mas eu queria conversar sobre outra coisa. — Miguel parecia inseguro ao dar alguns passos à frente
— Tudo bem, o que foi? — Johnny fechou a revista, bebendo um gole de sua cerveja Coor's.
— Tem uma garota na escola... — Miguel começou, mas foi interrompido.
— Ela é gostosa?
— Ela é bem inteligente, legal e bonita. — Miguel tentou desviar, elogiando-a
— Gostosa? — Johnny insistiu, levantando uma sobrancelha.
— Sim, ela é muito gostosa. — Miguel se deu por vencido, concordando
— Legal. — Johnny sorriu, encostando-se na escrivaninha.
— Você iria gostar dela. Ela gosta de karatê, é super gente boa, e eu... — Miguel hesitou. — Eu queria chamá-la para um encontro, mas não sei como.
— Como assim você não sabe? — Johnny franziu o cenho. — Ela é gata e todas essas coisas.
— Mas e se ela me recusar? — Johnny se levantou e se aproximou do latino.
— Nunca aceite a derrota, Diaz. Não existe "não". — Johnny ajeitou seu próprio kimono com confiança.
— Na verdade, não significa não. — Miguel corrigiu, um pouco irritado. Como um feminista orgulhoso.
— Se estamos falando de contato físico, essa regra é válida. Mas se estamos falando de convidá-la para sair... — Johnny fez uma pausa, como se uma ideia tivesse surgido. — Você é um Cobra Kai. Todos querem namorar um Cobra Kai. — Seu ego inflou.
— Todas, menos a Aaron. — Miguel riu, lembrando-se da amiga.
— Ela se faz de difícil, igualzinha à mãe. — Johnny olhou para a parede atrás dele, lembrando-se de sua melhor amiga.
— Sensei... O senhor realmente conheceu a mãe dela? — Miguel perguntou, curioso.
— Conheci. A desgraçada era minha melhor amiga. — Johnny respondeu, sem entender por que estava falando sobre isso, e deu outra golada em sua cerveja — Rayken Macgyver. — sua voz soou melancólica. — Lembro da primeira vez que ela me convidou para tomar limonada, devíamos ter dez anos.
— Uau, isso parece uma história bem... romântica. — Miguel comentou, sorrindo.
— Sinto muito, garoto. Tivemos tudo, menos uma história romântica. — Johnny se sentou na escrivaninha, dando de ombros — Rayken nunca me amou, aquela vadia só amava a si mesma. — Ele tomou outro gole da cerveja. — Por isso largou a própria filha.
— O que? A mãe da Aaron foi embora? — Miguel se mexeu desconfortável, algo dentro dele se identificava com a menina, ele sabia a dor não ter um pai por perto — Então foi por isso que ela se sentiu tão mal na noite do baile, ela viu você e pensou na mãe dela.
Johnny sentiu o incômodo subir pela garganta.
— Chame a garota para sair. — Johnny puxou a revista e saiu da pequena sala, prometendo a si mesmo não tocar mais naquele assunto.
Samantha LaRusso não havia recusado.
Aaron entrou pela porta larga do fliperama com um Eli de moicano de um lado e Miguel preocupado do outro. Os dois haviam saído do dojo e se encontraram com Aisha e Aaron no local. Como de costume.
— Eu preciso de um lugar romântico, mas não pode ser exagerado. — Miguel disse ao pegar suas moedas no balcão. Aisha revirou os olhos.
— Leva ela para fazer uma tatuagem. — Eli sugeriu, sorrindo e se virando de costas.
— O que? — Aaron riu, achando a ideia absurda.
— Eu conheço um cara. — Eli afirmou. — Ele fez essa belezinha para mim. — O mais alto puxou a camiseta, mostrando uma enorme tatuagem de um falcão. Aaron rapidamente associou a nova imagem ao estilo de Eli, era aquilo que ele queria transmitir agora e Aaron não sabia se aquilo tudo era culpa do Cobra Kai e dos comentários a seu respeito, a respeito de seu lábio leporino. Ela realmente esperava que não, que fosse somente ele se sentindo mais confiante.
— Puta merda! — A loira riu ao tocar a pele recém-tatuada.
— Isso é demais! — Aisha comentou, sorrindo.
— Fiquei catorze horas na cadeira. — Eli disse, abaixando a blusa para cobrir a tatuagem e levantou um de seus braços, forçando seus bíceps para fora
— Espera, seus pais estão de boa com isso? — Miguel perguntou, enquanto se aproximavam dos melhores jogos de joystick
— Eles não fazem ideia. Não vou tirar a camisa até a faculdade — Eli riu animado e olhou para Aaron enquanto andava, ela parecia super intrigada a cada coisa que ele dizia, como se fosse outra pessoa — Não conte para eles.
— Alguma outra sugestão? — Miguel se aproximou de Aisha em um pulo.
— Não olhe para mim. Eu e a Samantha éramos amigas, mas não somos mais. — Aisha levantou os braços em rendição.
— Bem, eu acho que se for do coração, ela vai gostar. — Aaron disse, colocando a mão no ombro de Miguel para confortá-lo.
— Só não leve ela ao cinema. A última vez foi traumática. — Eli sorriu, jogando algumas balas na boca, Aaron deu um leve empurrão nele, fazendo-o se tocar.
— Ela gosta de chocolates e astronomia, gosta de conversar e se sentir ouvida e adora elogios sobre seu cabelo. — Aaron começou a listar características de sua melhor amiga. — Mas, nada de mais, o que você fizer ela vai gostar. Leve-a a algum lugar legal e a de um presente. — Aaron sorriu timidamente.
— Bom, isso já é algo, está ótimo. — Miguel disse, segurando as bochechas de Aaron e dando um beijo estalado em sua testa. — Obrigado, Aay.
— Eu desisto! — Robby reclamou, quando um galho inteiro de bonsai caiu em seu colo após um corte errado. — Acho que não sirvo para isso.
Ele murmurou para ninguém em particular, sem notar que seu sensei havia entrado no ambiente.
— Não se preocupe, eu também não sabia fazer isso no início. — Daniel riu, pegando um dos vários bonsais no balcão. — O senhor Miyagi teve muita paciência comigo.
— Senhor Miyagi é o cara que te ensinou o kata, não é? — Robby sorriu, virando-se para Daniel.
— Sim. Ele era um homem muito especial. — Daniel olhou para o bonsai, melancólico. — Ele me ensinou muito. — Tudo o que você precisa fazer, — Daniel colocou a planta no balcão e retirou uma pinça do bolso. — É fechar os olhos, limpar a mente e visualizar a árvore. — Robby fechou os olhos, tentando imaginar a árvore e o valor do seu trabalho. — Depois de visualizar, pense em como quer que a árvore fique e faça acontecer.
Quando Robby abriu os olhos, segurou a planta com os dedos e começou a retirar delicadamente as folhas secas com a pinça.
— Isso mesmo. — Daniel sorriu orgulhoso.
— Então, isso é uma metáfora tosca? A árvore representa meus sentimentos ou algo assim? — Robby riu, largando a pinça no balcão de mármore.
— Não, Robby. Você é a árvore. Você tem raízes fortes e sabe quem você é, certo? — Daniel deu um tapinha motivacional no ombro do garoto e saiu do galpão, deixando Robby com um sorriso orgulhoso. — Agora só precisa visualizar seu futuro e fazer acontecer.
— Aaron? — Depois de quinze bipes, o telefone foi atendido. Robby se sentia arrependido de mais para ficar mais tempo sozinho. Não adiantava, se sentia culpado por estar enganando Daniel LaRusso, que só o que tinha feito até agora era ser gentil e tentar ajudá-lo. A culpa corroía a mente do menino como um parasita inquieto.
— Ei, Robby! — Aaron sorriu através da chamada. — Como você está? Não aparece há um tempo. — Era perceptível que havia vozes rindo e conversando ao fundo, e Robby se perguntou com quem ela estava e se tinha muitos amigos além dele.
— Sim, eu sei. — Robby coçou a nuca nervoso. — Arranjei um emprego.
— Eu sei, Robby. — Aaron franziu o cenho, sem entender porque ele a ligava para falar daquilo.
— Hm, eu sei que... — um silêncio de segundos pareceu durar horas. A tensão no telefone era palpável. — Eu sei que você deve estar, não sei, ocupada. Mas hm, eu podei um Bonsai hoje. — Ele deu de ombros, sua boca se tornando uma linha fina e reta, arrependendo-se de a ter ligado por algo tão inoportuno.
— Um Bonsai? — A confusão se instalou na morena que tampou o ouvido esquerdo com o dedo para que conseguisse ouvi-lo melhor.
— Sim, um Bonsai. — Ele assentiu com a cabeça ainda sentado no banquinho conjunto da bancada de mármore. — São aquelas mini arvorezinhas que parecem um brócolis...
— Um segundo! — Aaron se distanciou de seus amigos, andando em direção aos banheiros do fliperama, se colocando entre uma das cabines. A demora fez Robby se sentir besta. — Você disse Bonsai? — Ela voltou à chamada como se nada tivesse interferido seu assunto e se sentou na privada tampada, encostando-se na parede.
— Foi mal, eu sei que você não se importa. — ele deu de ombros, girando de leve na cadeira que estava sentado, se sentindo um completo panaca. — Me desculpa, vou desligar.
— Robby, se você está falando de Bonsai, você-
— O lance não era só o Bonsai, Aaron. — Disse esbravejante, a interrompendo no meio de seu raciocínio.
— Se está falando de Bonsai — repetiu ela. — Está trabalhando para o Daniel LaRusso. — Flagrado.
— O quê? Não! — Tentou se defender, e se remexeu impaciente no banco, ele não sabia como mentir para ela — Você tem ideia de quantas lojas de Bonsai existem em Los Angeles? Se liga, Aaron.
— Por isso mesmo, nenhuma, Keene. Todas falharam porque são um negócio muito merda. — Ela riu pelo telefone ao flagrar o melhor amigo.
— Ok, talvez eu esteja... — ele assumiu, encarando o teto a cima de sua cabeça, sentia que os bonsais a sua frente que o flagravam sendo um panaca o impediriam de mentir naquele momento. — Talvez eu esteja trabalhando pro riquinho do LaRusso, só talvez.
— Merda! — ela tentou não rir com a situação — O que ele disse ao ler Robby Keene Lawrence na sua ficha? Tipo, ele é o LaRusso, e você é tipo, o filho do pior inimigo dele! — Ela recostou seus braços cansados de segurar o telefone nas paredes laterais da cabine, intrigada em ouvir a história.
— Eu não contei.
— O quê? — Gritou no microfone. Alguém bateu na porta da cabine, fale mais baixo, ecoou. — O quê?? — sussurrou.
— Eu disse que sou emancipado e que já estou na faculdade... Foi um papo muito mal feito, não sei como ele caiu. — Robby cruzou os braços, e sussurrou junto da amiga.
— Você não precisa sussurrar, você não está em um banheiro feminino de fliperama cheio de nerds. — ela sussurrou de volta para Keene, sem perceber que tinha um sorriso bobo nos lábios.
Agora ele sabia onde ela estava.
— Eu posso sussurrar com você pra você não se sentir sozinha. — Sussurrou Robby.
— Você planeja dizer a verdade pra ele? — Aaron questionou. — Uma hora ou outra ele vai descobrir, e não vai ser legal.
— Ele aceitou você. — disse, tentando se defender do que havia feito.
— Eu era uma criança quando nos conhecemos e eu não tive que fingir não ser filha da Rayken. E acredite, carregar o fardo de ser filha da garota que fazia bullying com ele por anos não é legal.
— Você está certa, eu deveria. — Robby cruzou os braços, e ela conseguia visualizar Keene mordendo o lábio inferior de maneira pensativa, sabia que estava em um enrascada imensa.
— Sim, você deveria. — ela concordou com ele, deixando que seus lábios se prendessem em uma linha fina, pensativa — Mas eu sei que você não vai fazer.
— Que bom que você me conhece. — Robby sorriu finalmente, e a garota bufou, quase o ensurdecendo do outro lado da linha.
— Eu me sinto mal, me sinto culpado. Ele começou a me ensinar um karatê esquisito, e ele estava tão empolgado, não quero que ele se decepcione comigo só por ser filho de quem eu sou. Eu não escolhi essa merda. — O mais novo respirou fundo, se recostando no próprio banquinho.
— Espera, está me dizendo que ele aceitou te ensinar o Kata e tudo isso? — Aaron se levantou, fazendo o mictório fazer barulho. Ela não esperou o loiro responder. — Mais que canalha filho da puta! — Esbravejou.
— Aaron, mas o que? — Robby perguntou, completamente confuso antes de sentir o celular vibrar contra sua orelha, encerrando a ligação.
Ela se desconectou da chamada e, decepcionada, a garota se levantou, e cruzou a porta azul da cabine, atravessou o banheiro e o corredor principal do lugar. Algo rondava em sua mente, sua visão turvou, e um aperto no peito aumentava a cada passo, junto do barulho ensurdecedor de seu coração no ouvido.
Era a sensação de não se sentir o suficiente.
Enquanto ela traçava a porta corta-fogo sem se despedir de nenhum de seus amigos, ela só conseguia pensar: por que não eu?
— Vovó! — Anthony se animou ao abrir a porta da frente, e Samantha e Aaron, que estavam no sofá, se levantaram para cumprimentá-la.
— Me dê um abraço! — a idosa de cabelos grisalhos sorriu, agarrando o menino gordinho entre os braços e o apertando.
— Sammie, Ronnie! Quando vão parar de crescer? Estão cada vez mais bonitas. — Ela se desvencilhou de Anthony, pegando as duas em um abraço caloroso.
Sempre que a mãe do Sr. LaRusso aparecia, era motivo de alegria e descontração. Principalmente para Aaron e Samantha, que acabavam aos risos com as brigas entre ela e Amanda. Mas não significava que a mulher mais velha realmente gostasse de Aaron, pelo contrário. Para ela, a menina estava na casa do seu filho tempo demais, o que sempre fazia a menina se sentir desconfortável. Com medo de estar sempre atrapalhando, mas algo dentro dela a impedia de recusar os convites para comparecer a qualquer evento ou qualquer hora na casa dos LaRusso. Ela se sentia em casa, familiarizada com tudo aquilo.
— Já é ruim deixarem aquele monstro ensinar aqueles garotos. Agora ele convenceu o conselho a deixar o Cobra Kai voltar a competir nos torneios. — Daniel desabafou com a mãe da churrasqueira, onde ele virava alguns pares de salsicha.
Aaron engoliu a seco seu pedaço de carne, engolindo junto a vontade de iniciar uma discussão a respeito da decisão dele de ensinar a um garoto desconhecido para ele, ao invés dela. Não que não estivesse contente por Robby, mas que merda, por que não ela? O que fazia Robby ser melhor do que ela? O que ele tinha que ela não?
— Isso é terrível! — A mãe dele concordou, se apoiando na cadeira de madeira. — Não podem deixar que voltem. Não passam de valentões.
— Sem exceção? Acho que não devem ser todos valentões, certo? — Sam receou, sentada ao seu lado.
Ela tinha beijado Miguel. E sua nova insegurança era que ele fosse como Kyler, e se tornasse mais um na lista de pessoas que a machucaram.
Ele ser automaticamente um valentão só por treinar em um lugar como o Cobra Kai lhe parecia uma ideia ridícula. Aaron era amiga dele, e mesmo que odiasse a ideia do dojo, não deixaram de ser amigos. Miguel era literalmente uma das pessoas mais gentis que Aaron já havia conhecido em toda sua vida e precisava reafirmar isso a Samantha, antes que seu pai fizesse sua cabeça com aquele discurso premeditado.
Espere? Era isso mesmo? Ela estava defendendo o Cobra Kai em sua mente?
— Com certeza são! — a idosa afirmou. — Você não sabe da metade das histórias. Aqueles idiotas do Cobra Kai fizeram a vida do seu pai um inferno.
Anthony se ajeitou na cadeira, levando seus dedos gordinhos à procura de um snack no centro da mesa. Amanda se aproximou, com mais alimentos em mãos, os depositando na mesa, antes de se sentar.
— Diga como eles te empurraram daquele morro! — A vovó disse, entusiasmada.
— Não era um penhasco? — O menino disse, e mordeu um pedaço de seu snack de cenoura.
— Minha mãe disse que foi um barranco. — Aaron riu no ouvido de Samantha, que a acompanhou.
— Salada de macarrão? — Amanda passou a embalagem para a sogra.
— Não, obrigada. Eu não como essas comidas prontas de mercado. — contorceu o rosto.
— Eu teria feito um pouco, mas cheguei muito tarde da concessionária. — Remexeu a massa dentro do pote, levemente incomodada com o comentário.
— Eu aceito. — Aaron tirou o pote de sua mão e colocou um pouco em seu prato com o garfo, mesmo que não fosse comer.
— É difícil ser mãe e trabalhar, eu entendo, mas pelo menos você tem um parceiro. — Apontou para o próprio filho, que chegava à mesa com as últimas carnes prontas. — Se lembra que eu voltava do trabalho tarde e tinha que fazer o jantar do zero? — Disse, provocando Amanda, que mordeu a parte interna de sua bochecha para não falar algo que não devia.
— Pai, mas e se o Cobra Kai mudou? Eu tenho amigos na minha escola que lutam lá, não significa que não prestem. — Ela cruzou os braços contra o corpo.
— Cobra Kai nunca muda. — Seu olhar chegou em Aaron, que fingia se debulhar na salada de macarrão. — Me prometa que ficarão longe das pessoas de lá. — Sam olhou para o chão, incomodada.
— E aí, soube que voltou com o karatê. — Ela desviou o assunto, tocando o braço do filho, orgulhosa. Daniel encarou Aaron por sua visão periférica, não era hora de falar daquilo, não queria se vangloriar em sua frente.
— Tenho treinado um pouco sozinho, tem me feito bem. — Ele respirou fundo e deu uma garfada em seu almoço. — Já fazia muito tempo.
— Não precisa fingir que não está treinando o Robby, diga quão orgulhoso está. — Aaron sorriu em sua direção, seus olhos azuis raivosos brilhavam com o sol que batia em sua cabeça.
— O quê? Ele não aceitou treinar com você mas treina seu vizinho? — Samantha desbocou, chocada.
— Vizinho? Que história é essa de vizinho? — LaRusso semicerrrou os olhos, balançando as mãos,
confuso.
— Espera, o que estão falando? — A idosa bebeu um pouco de sua água, confusa.
— Tem um garoto, Robby, que trabalha na concessionária. — Ele remexeu seu prato, incomodado. — Que eu não sabia que conhecia Aaron. — Apontou, como se aquilo fizesse alguma diferença. — Tenho treinado com ele. — Disse por fim. — De onde se conhecem?
— Eu quem deveria fazer as perguntas aqui, Daniel. — Aaron se apoiou como em um interrogatório. Tentou ser engraçada, mas só queria desviar as perguntas sobre Robby para não entregá-lo. — Tudo bem você não querer me treinar, mas treinar um garoto que você nem conhece, logo depois de me recusar, é golpe baixo! Baixo não, baixíssimo.
— Você fez isso? — Amanda questionou, incrédula ao lado do marido, se irritando.
— Olha, não é assim... — ele gesticulou, tentando se defender — Eu posso explicar.
— É melhor mesmo. — As duas LaRusso disseram em uníssono.
— Ei, seja legal. — A idosa repreendeu Amanda, defendendo instintivamente o próprio filho. — Ele só cometeu um erro.
— Olha, uma coisa seria se ele tivesse recusado Aaron e ficado na dele, o que eu sinto muito, meu amor, mas eu concordei. — Apontou para a garota carrancuda com um aceno, tentando consola-la. — Agora, treinar outro garoto e deixar ele no lugar dela, é algo que temos que discutir, então, fique fora disso. — A mais velha apontou, defendendo a menina.
— Fique fora disso? — Repetiu ela, em escárnio. — Ótimo jeito de falar com sua sogra. E ainda mais defendendo a garota que, me perdoe, não é nem do nosso sangue.
— Mãe! Ela não quis dizer isso. — Daniel sorriu para a idosa, tentando amenizar a situação.
— Não, não. Foi exatamente o que eu quis dizer. Porque ela tem direito de reclamar da minha comida ou de como deixo a casa, mas das minha família, ela não pode falar. — Amanda gesticulou.
— Amanda...
— Você mesma me ensinou que se deve defender a família. E pelo menos pra mim, não é só como quando temos que aturar o incompetente do Louie, que além de termos que ver todo dia na concessionária, temos que aturá-lo na ação de graças, natal, páscoa...
— Não estou dizendo que não gosto da presença da garota, eu só acho que não deve tratar o Daniel dessa forma.... — ela interrompeu amanda, levantando a mão — Eu amo Aaron, porém... Qual é, vocês sabem de quem ela é filha.
Aaron cansou de ser citada em uma conversa de forma tão rude só para ser insultada por não quererem sua presença. Foi por isso que se levantou, e andou em direção ao interior da casa, se sentindo tola.
— Mãe! — Daniel tentou calá-la.
— Ok, é por causa da salada de macarrão? — Amanda cruzou os braços e se jogou na cadeira, cansada daquela conversa. — Porque se for, Lucille, eu vou para a cozinha agora e preparo o que a senhora quiser.
— Ok, ok, esqueça. — Abanou os braços, desistindo de seu argumento.
Samantha se levantou para ir atrás da melhor amiga, mas foi parada por Amanda, que a fez se sentar novamente, indo em seu lugar.
Quando entrou no quarto de Samantha, a loira estava sentada de qualquer jeito no puff ao lado da cama, com sua mochila em mãos. Amanda bateu no batente, pedindo permissão para entrar, como se aquele quarto fosse dela.
— Eu pensei em ir embora — apontou para a própria mochila ao lado do enorme estofado confortável. — mas meu pai saiu há três dias para uma viagem do trabalho, como tínhamos combinado de fazer, e meu vizinho não está neste final de semana. — Deu de ombros enquanto mentia, ela fazia isso muito bem. Não queria ver Robby, havia uma semana que não se viam e não queria que ele soubesse que ela estava claramente invejada por suas conquistas. Ele não merecia aquilo.
E seu pai? Estava guardando mais dinheiro do que realmente entregava para ela para conseguir suprir o aluguel atrasado. Então ele simplesmente saiu para tomar uma cerveja e não havia voltado há dois dias, já tinha acontecido antes.
— Eu sinto muito pelo que aconteceu lá embaixo. — Amanda disse, cautelosamente.
— Está tudo bem, não é como se o que ela disse não fosse verdade. — se ajeitou no estofado, que farfalhou com seus movimentos. — Eu só venho pra cá porque vocês têm pena de mim, e honestamente sabem que não tenho para onde ir quando ele viaja, já que eu era coisa de mais para minha mãe suportar. — As palavras saíram cruas da boca, sem remorso. Estava cansada de fingir, e Amanda desviou o olhar para um ponto fixo que não fosse ela, para conseguir respirar.
— Te deixamos vir aqui porque você é uma boa garota. Você é especial, e gentil. — seus olhares se encontraram. — Desde que você era garotinha. — afirmou reflexiva. — Quando te conhecemos, seus olhos eram tão expressivos para uma garota da sua idade e seu sorriso tão simples. Que me lembro de Daniel questionar se você era filha dos seus pais mesmo.
Aaron cruzou os braços contra o corpo, procurando achar uma feição rígida. — O que quer dizer? — disse tentando soar fria.
— O que estou querendo dizer é que, não temos pena de você. Nós te amamos, você entrou em nossa vida mais do que só uma amiga, você é uma pessoa especial para mim, para nós e principalmente para o Daniel.
— Por que ele não me escolheu? — ela questionou, com os olhos involuntariamente se enchendo de lágrimas — Ninguém nunca me escolhe.
— Ele só tem medo que você se machuque, assim como ele se machucou na sua idade, do que o Cobra Kai pode fazer, pode parecer uma preocupação boba, mas ela existe. — ela disse, com um meio sorriso nos lábios e continuou, passando a mão pelo rosto da menina — Pode ter certeza disso. Você pode não ser de sangue, mas quem se importa? Eu sei como é se sentir descartável, principalmente da própria família. Acredite, eu entendo, Aay. Vai ficar tudo bem.
Os punhos de Miguel Diaz se colidiram contra o oponente à sua frente, um enorme boneco de espuma para socos. Despejando ali todas as suas energias, ele amaciava o rosto do boneco em golpes contínuos.
— Não mate o cara, guarda um pouquinho disso aí pro torneio — Lawrence disse, interrompendo-o.
— Fala sério, por que sou o único aqui, Sensei?
Miguel resmungou, exausto, e encarou o dojo gélido e vazio.
— Sabemos que você é o único que pode vencer essa coisa.
— Sou seu melhor aluno, é? — Ele sorriu, convencido, e passou as mãos pelas faixas em seus pulsos.
— Não fica se achando, você viu os outros? — A voz de Johnny era orgulhosa.
Miguel se afastou dele, andando em direção ao banco onde tinha deixado seu telefone, e ao passar os dedos pela tela, começou a sorrir.
— Qual a graça?
— Ah, é só uma foto engraçada que a minha namorada postou — ele sorriu e virou a tela do celular na direção do sensei.
— Espera um pouco — Johnny puxou o celular agressivamente, passando pelas fotos — É a filha do Daniel LaRusso?
— É sim, você conhece a Samantha? — As sobrancelhas do moreno se uniram em confusão.
— Está namorando uma LaRusso? E ainda é amigo da MacGyver? Você só me decepciona.
Os olhos de Johnny pareciam receosos; Miguel não conseguia decifrá-los.
— Eu... eu estou... Algum problema?
— Temos que conversar. Pegue uma cerveja — ele jogou o celular do menino para o ar, como se fosse inquebrável. Miguel correu na direção do aparelho e o pegou no ar por um triz.
O meio-fio era quente, o sol batia em suas costas, as mãos de Miguel eram trêmulas e seguravam uma latinha de Coca-Cola já pela metade.
— Era verão de setenta e sete, eu devia ser um muleque ainda. Eu lembro que tinha levado uma surra do meu padrasto naquele dia, estava na garagem. Eu tinha tipo um saco de enchimento que fingia ser seu rosto, eu o batia até meus punhos doerem. Acho que tropecei em algo; naquele dia, deixei a porta da garagem lateral aberta, e quando caí, o som foi audível do outro lado da cerca. Era ela. Rayken, com seus cabelos presos em uma trança, perguntando se eu estava bem.
— Vocês eram vizinhos? — disse Miguel.
— Sim, ela devia ter se mudado há pouco tempo, com o pai e os irmãos. Ela me convidou para tomar uma limonada que o irmão dela tinha feito. Então nos tornamos amigos ali. O irmão dela era um lunático, mas eu adorava o cara. Aaron, o nome dele, dizia que o karatê do Cobra Kai era fraco, então fugiu para a Coreia para aprender alguma arte maluca, mas nunca mais apareceu.
— Então é por isso que a Aaron tem esse nome — Miguel estava pasmo e concentrado na história.
— Também fiquei surpreso quando descobri, mas Rayken era muito apegada ao irmão. Foi em oitenta quando ele foi embora; a mansão dos MacGyver fez uma baita festa de despedida. Nós dois já estávamos no Cobra Kai e já tínhamos nossa galera.
— Espera, o Cobra Kai aceitava mulheres? Pensei que o torneio fosse masculino.
— Não, nunca aceitou. Mas Rayken era uma exceção, ela era incrível. A melhor lutadora que eu já conheci, acredite, garoto, ela te quebrava ao meio — Johnny apontou sua lata de cerveja na direção de Miguel, que riu nervoso. — Eu era apaixonado por ela.
— Você a chamou para sair? Já que eram amigos.
— Esse era o problema. Éramos amigos. Eu não podia estragar tudo o que tínhamos feito por uma paixão boba, então não a convidei. Mas a beijei naquela festa, e ela nunca mais tocou no assunto. Era como se tivesse vergonha do que tinha acontecido entre nós. Ela simplesmente voltou a conversar comigo como se não se lembrasse, e eu desisti de tentar ficar com ela.
— Nossa, mas que vaca! — Miguel disse intrigado e tomou um gole de sua Coca-Cola diet.
— Não é? Mas ela era minha melhor amiga. Então preferi fingir que nunca tinha ferrado as coisas. Era verão de oitenta e dois, Rocky 3 tinha acabado de sair. Meu amigo Dutch era fã do Mr. T, então fomos assistir. Na nossa frente tinha um grupo de garotas comendo pipoca; o Dutch começou a jogar pipoca nelas.
— O quê? — Miguel engasgou com a Coca-Cola — Por que ele faria isso?
— Porque era um filme pra macho, e elas adoram ser tratadas como lixo.
— Rayken não gostava, não é? — Miguel perguntou.
— Não, ela não gostava... Ela estava sentada do meu lado no dia. Era como se ela fosse uma exceção para todos nós, ela era a Rayken. Com ela era diferente.
— Nossa, Sensei. Isso é muito fofo — disse comovido.
— Seria, se ela não fosse uma vadia manipuladora — ele disse, reclamando entre dentes, destruindo toda a visão romântica que Miguel tentava extrair da situação. — Enfim, as meninas ficaram tão bravas que uma se levantou e começou a gritar com a gente. Foi quando a vi pela primeira vez.
— Viu quem?
— Ali. Ela jogou pipoca no Dutch e sujou ele de manteiga.
— Caramba — Miguel começou a rir.
— Eu soube na hora que ela era perfeita pra mim, seu jeito explosivo. Incontrolável.
— Chamou ela pra sair? — Miguel deu um gole em sua bebida.
— Dei em cima dela algumas vezes, não sabia se era certo. Só o que eu conseguia pensar era em Rayken e se isso a faria sentir ciúmes de mim. Não importava o quanto eu fingisse, ela ainda estava ali. No meu coração, enchendo meu saco. Então eu chamei a Ali para sair.
— E ela sentiu ciúmes?
— Sentiu, hoje eu sei que sentiu. Dois dias depois começou um rumor de que Rayken estava saindo com o Jay J. Aquilo me deixou irado; ele nem era bom lutador, só estava na equipe porque o pai dele lavava dinheiro e subornava nosso sensei. O cara era um chato.
— Por que o senhor não deu uma surra nele? Ao estilo Cobra Kai!
— Eu não podia — Johnny lamentou. — O máximo que fiz foi ferrar o cara para que ele não competisse mais. Mas mesmo assim não era justo, Rayken não era minha. No meu primeiro encontro com a Ali, fomos a um parque de diversões, e eu a beijei na roda-gigante. Naquele momento, eu esqueci de qualquer sentimento que podia existir sobre Rayken. Era como se ela não existisse mais. Nós namoramos por dois anos, e eu e Rayken continuamos amigos. Ainda éramos inseparáveis, mesmo que Ali não gostasse nada daquilo — ele riu e deu de ombros. — No Dia dos Namorados, ao invés de dar uma aliança para Ali, eu dei a ela uma pulseira cor-de-rosa. E ela me deu isso — A mão de Johnny foi contra seu bolso, puxando de dentro dele sua faixa de cabeça, que ele usava toda vez que entrava em um tatame.
— Você gostava mesmo dela? Ou só queria suprir o que você não conseguiu ter com sua melhor amiga? — Miguel estava receoso de perguntar, mas sua curiosidade falava mais alto.
— Não sei, essa é uma pergunta muito difícil. Eu amei a Ali, mas eu também amava a Rayken. Era diferente — respondeu inquieto.
— O que aconteceu depois?
— Nas férias antes do último ano, a gente brigou. Achei que ia dar tudo certo. Mas Daniel LaRusso chegou na cidade. E eu peguei os dois flertando.
— Meu Deus, e o que você fez? — Miguel estava mais intrigado do que deveria.
— Eu fui conversar educadamente com ela, mas o LaRusso se meteu. Falei para ele ir embora, cuidar da vida dele, mas do nada o maluco me deu um soco.
— Mas que completo babaca! — O mais novo soou indignado.
— Eu sei! E eu fiz o que qualquer cara faria, eu me defendi. Ali terminou comigo naquele dia, e eu fiquei completamente sozinho. A conclusão que cheguei foi de que o LaRusso não me deixaria mais em paz. No baile de Halloween, descobri que Rayken estava solteira de novo, e a gente ficou. Eu finalmente estava tendo o que sempre sonhei, mas do nada o cara nos molhou com uma mangueira. Eu não via o cara há meses, e do nada o maluco abriu uma torneira na minha cabeça. Então juntei a minha turma e fomos atrás dele para poder acabar com isso de uma vez. Acontece que o cara tinha seu próprio mestre de karatê. O cara apareceu do nada e começou a dar uma surra na gente.
Johnny bebeu o último gole de sua latinha de cerveja e a lançou longe, respirando fundo.
—Meu amigo Tommy teve uma lesão no cérebro por conta disso; a única que continuou de pé foi Rayken, que conseguiu derrubá-lo no chão, mas isso teve um preço. A rasteira que ele deu nela foi tão forte que deslocou o próprio quadril, e ela ficou lesionada por meses. Pra me defender, por culpa do LaRusso. Então resolvemos acertar as coisas no torneio regional de karatê. Rayken participaria dessa vez, mas a fratura a deixou irada. Nós brigamos e ela tentou me bater, porque eu não queria que ela piorasse e contei ao nosso sensei que ela estava machucada. Acho que ela nunca me perdoou por isso. Os médicos diziam que se ela lutasse de novo sem repouso como vinha fazendo, teria que usar uma bengala e fazer fisioterapia. O que eu podia fazer?
— Você fez certo, Sensei. Ela devia te agradecer.
— Bom, não foi o que ela fez. Mesmo com todos os avisos do nosso sensei, ela se inscreveu, e quando foi lutar com o Tommy, deu um chute errado que ferrou seu quadril para sempre. É por isso que Aaron me odeia. A garota me culpa pelo que aconteceu com a mãe dela.
— O que aconteceu depois? E a luta com o LaRusso? — Miguel ansiava por respostas.
— Como ela não conseguiu terminar sua luta, eu e o LaRusso fomos para a tão aguardada final. Estava dois a dois. Quem fizesse o ponto, ganhava.
— O que aconteceu? Sensei! Quem ganhou? — O menino se levantou, incomodado com o silêncio repentino.
— Daniel LaRusso ganhou. Eu perdi. Ele me deu um chute no rosto, e eu perdi — Sua voz era trêmula e arrependida, como se nunca tivesse superado aquilo. — Mas o pior de tudo foi ter perdido a Rayken.
— É — Miguel concordou.
— Ela se casou com Jay J no final do último ano, nenhum dos dois foi para a faculdade, e o garoto gastou todo o dinheiro do pai em Las Vegas. Depois de anos, os dois voltaram para Encino como se nunca tivessem saído, gastando todo o dinheiro que Rayken tinha restado do pai com a nova filha e o Country Club. Até Rayken ser a covarde manipuladora que sempre foi e fugir mais uma vez.
— Nossa, isso é muito triste, Sensei. Eu não fazia ideia de que o senhor...
— Eu só te contei tudo isso para você ficar esperto com os LaRusso. Eles não são confiáveis — Johnny disse, se levantando abruptamente, irritado. — Nenhum deles, Miguel.
A A porta do quarto de hóspedes rangeu quando batidas foram desferidas. Daniel LaRusso estava do outro lado, esperando que ela fosse aberta.
Passando as mãos em seus fios desgrenhados, que loiros, agora estavam mais para um tom amendoado, Aaron se levantou, indo em direção à porta. Ela não tinha para onde ir e não queria terminar seu final de semana sozinha naquela casa sombria e sem vida. Aquele não era um lar.
— Bom dia — disse ele com um sorriso branco. Aaron queria poder voar em seu pescoço e lhe dar um tapa. Ela não respondeu à felicitação de bom dia e se virou para dentro do quarto.
— Tudo bem, Aaron, me desculpe. Eu devia ter te contado sobre o Robby. Eu fui um babaca.
— Um babaca?
— Não só um babaca, eu fui um completo e enorme idiota. Me desculpa — disse o homem mais velho, se aproximando, enquanto Aaron se sentava na beirada da cama.
— Está tudo bem — ela disse, acostumada a repetir aquela frase. Ela sempre perdoava, sempre estava tudo bem, principalmente quando havia algum LaRusso envolvido. Ela sempre perdoava.
Algo dentro dela, uma intuição, a dizia que era hora de parar de perdoar tão fácil assim.
— Eu acho que estava com tanto medo de algo dar errado e de você se arrepender que acabei me apegando a um desejo antigo e sem sentido. Acho que o maior medo dela era que você acabasse do mesmo jeito que ela terminou.
— Isso que o senhor não entende, Senhor LaRusso. Essa é a nossa diferença. Eu não quero treinar karatê por raiva ou rancor; quero aprender a me defender, quero aprender o que o Senhor Miyagi te ensinou e poder passar isso para as pessoas, porque esse é o karatê de verdade. Não é?
Ela queria muito que fosse.
As mãos de Aaron se juntaram contra as de Daniel, e sua feição mudou. Ele encarou suas íris grandes e azuis, as mesmas que ele via verdade, as mesmas que ele encarou quando a viu pela primeira vez, quando ela tinha uns seis anos de vida. Ela era verdadeira; Aaron era uma garota boa. Nenhum presentimento ruim poderia mudar isso.
— Tudo bem, desça em vinte minutos — ele sorriu convencido, afagou seus fios caramelo antes de sair pela porta.
Ele a ensinaria karatê, no estilo Miyagi-do.
_________________
[6320 palavras]
Boa madrugada! São 5:26 da manhã.
O que acham da versão do Johnny sobre tudo o que aconteceu em 1984? Acham confiável?
Se esse cap tiver mais do que três comentários eu posto o próximo hoje.
Vocês sabem que eu odeio falar sozinha aqui.
Com amor,
Back.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top