Capítulo 8. Chuva
Eu não consegui. Não fui capaz de enfrentar uma mísera maldição sozinha... nunca me senti tão pouco. Não conseguia olhar para Gojo, a culpa nem era dele, era minha mesma... por não ser capaz de lidar com a decepção.
— Você fez isso de propósito! — Minha mãe gritou, enfurecida. — Está querendo contradizer o seu pai, e está colocando sua VIDA em risco.
— Eu não estou.
— Quer saber? É igualzinha à ele. — Ela disse, senti uma vergonha indescritível.
— Me desculpa. — Deixei o cômodo, voltei ao meu quarto para estudar. Fiquei um tempo olhando para o livro de didática pensando sobre as palavras da minha mãe, ela falou sem hesitar, com tanta naturalidade que me senti ainda pior.
Os dias se passaram como se eu não estivesse lá, fingir tudo... estava ficando cada vez mais difícil. Para Gojo as coisas estavam normais desde que tudo aconteceu, mas no fundo ele sabia que eu me sentia insuficiente perto dele. Já Geto, sabia exatamente pelo que eu estava passando, e Shoko parecia não dar a mínima. Ela tinha seus próprios problemas para resolver.
— Não é? Eu to de boa. — Gojo se jogou para trás na cadeira e descansou as mãos atrás da cabeça, Geto riu, meio sem graça, e olhou para mim mais uma vez.
— O que ta rolando com você Zenin? — Shoko perguntou, me virei para ela, todos olharam para mim esperando uma resposta.
— Estou bem. Preciso ir pra casa, a gente se vê. — Me levantei e guardei meu material, Gojo se levantou alongando as costas. — N-não precisa ir.
— Claro que eu vou, é minha namorada. — Ele levantou e me puxou pelo braço, levei minha mochila em uma das mãos enquanto Gojo me puxava em silêncio.
— Tem algo errado?
— Não. Nada. — Respondi, Gojo soltou minha mão e suspirou, parei.
— Eu sei que se sente mal pelo que aconteceu, mas não se preocupa. — Ele parou na minha frente, franzi o cenho. — Eu sou Satoru Gojo, você não precisa se preocupar em ser me alcançar, porque ninguém é melhor que eu.
— Você me surpreende a cada dia. — Soltei um riso frouxo, ele passou a mão por cima do meu ombro e me puxou para perto. — É melhor parar Satoru. Não quero que meu pai nos... veja juntos.
— Certeza? Eu posso acabar com ele.
— O que deu em você hoje? — Sussurrei, ele deu de ombros.
— Ta legal, mas não pensa besteira quando estiver sozinha. — Apontou, levantei as mãos em rendição. Gojo deixou um beijo em minha bochecha e saiu perambulando.
Voltei para casa naquele fim de tarde, ouvi meus pais conversando na cozinha, me aproximei sem ser notada.
— Vou para lá neste final de semana, e não planejo voltar tão cedo. Cuide bem das meninas enquanto eu estiver fora. — Ele dizia, minha mãe apenas concordava com tudo. — Avise à ela que saímos às seis.
— Avisar quem? — Entrei no cômodo, minha mãe desviou o olhar.
— Você vai para a academia no exterior. — Ele disse e passou por mim sem sequer me perguntar, meus olhos foram ao chão.
— O-o que?
— Acha que quero que você fique correndo atrás do Gojo igual uma... não é isso que eu quero para a minha família. Não seremos envergonhados desta forma. — Ele disse, suas palavras me cortaram como uma faca.
— N-no exterior? Mamãe, isso é verdade?! — Recuei, ela não respondeu, seu silêncio me serviu de resposta. — Não! Eu não quero!
— Desculpe querida, mas é melhor assim, você estava colocando sua vida em risco.
— Eu não vou! Vocês vão me matar!
— Ninguém vai te matar. Agora vá arrumar suas coisas. — Meu pai disse, frio feito gelo, neguei e corri para fora.
— Kaori!
Uma barreira me impedia de sair, bati contra ela repetidas vezes até meu pai me alcançar.
— Você não vai vê-lo outra vez. — Ele disse, cerrei os punhos. — Se fizer isso, vou começar uma guerra e não me importa quem vai perder. Quer ter sangue em suas mãos por que foi fraca e inconsequente?
— Está blefando. — Bati o pé, ele recuou e desfez a barreira bem atrás de mim.
— Vá em frente e descubra.
— Kaori! — Minha mãe pediu, dei as costas, um raio cortou o céu fazendo-me arrepiar a espinha. — Não faz isso.
— Quer mesmo se tornar um animalzinho da família Gojo? — Ele perguntou, engoli em seco. — Porque é isso que significa para ele. Apenas um brinquedo.
Senti um embrulho no estômago, meu corpo estava paralisado. Eu não conseguia tomar qualquer decisão, me sentia errada, no fundo sentia que meu pai... tinha razão. Que eu talvez não fosse nada para Satoru, e ele não significava muito além de alguém que aceitou um tratado em troca de afeto.
A chuva começou a cair, quebrando o silêncio que se instalou no momento em que meu pai deu sua última palavra. Brinquedo. Eu não queria mais me sentir inferior a nenhum deles, a ele, ou a família, a Satoru Gojo, aos Zenin. Para isso, precisava me humilhar para recuperar minha dignidade.
— Kaori vamos entrar, está começando a chover, amanhã conversamos. — Minha mãe pediu, dei meia-volta e passei pelo meu pai, ele esboçou um breve sorriso.
Fechei a porta do meu quarto e senti um peso deixando meus ombros, chorei feito uma criança, chorei como se houvesse sofrido violência física. Meus braços ainda tinham sequelas da maldição, e meu corpo não estava totalmente curado.
*
A chuva se estendeu para a manhã, coloquei minhas coisas no carro com a ajuda do motorista. Meu pai havia ido na frente para preparar os documentos, entrei no carro e encarei minhas mãos vazias.
— Tenho ordens do seu pai para ir direto para o aeroporto, tudo pronto?
— Claro. — Afirmei, ele ligou o carro, senti um embrulho no estômago. — Espera. Podemos passar em um lugar antes?
Meio hesitante, ele parou e pensou sobre, não tinha nada a ver com qualquer situação que o ligasse a minha família. Mas ele sabia exatamente a sensação que eu estava sentindo.
— Sim.
O motorista dirigiu até a escola Jujutsu e parou em frente, suspirei, e saí do carro. Nem me importei com a chuva fria deixando meu corpo molhado. Um guarda-chuva se abriu acima de mim, ele esticou os lábios, e sorriu mesmo com um olhar cansado e com suas olheiras profundas.
— Ta atrasada. — Geto disse, ele notou meu olhar melancólico e franziu o cenho.
— Senhorita, vamos nos atrasar. Não demore.
— Indo a algum lugar? — Ele perguntou, não expressei reação.
— Diga à ele... que eu estou morta.
— O que quer dizer? — Me perguntou, o encarei uma última vez.
Entrei no carro deixando Geto imobilizado, ele entendeu exatamente o que eu quis dizer e não fez esforços para me impedir. O guarda-chuva caiu de sua mão e afundou na lama bem na sua frente, assim como eu, Suguru se deixou molhar.
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