Capítulo 5. Família
Quando deitei na minha cama naquela noite, não consegui sequer fechar os olhos direito. A imagem de Gojo e da discussão que havíamos tido naquele jantar me deixou tensa, nervosa. Meu corpo reagiu mal a rivalidade entre ele e meu pai, comecei a me mover de um lado para o outro no colchão, até finalmente desistir e me levantar. Vesti minha roupa de ginástica e saí para correr, era madrugada, o clima estava frio quase congelante.
Meu corpo começou a se mover tenso, rígido, mas foi se adaptando ao clima na medida em que ia mais longe. No meio do caminho me senti observada, como se alguém estivesse me seguindo o tempo todo, cortei a esquina e entrei em um beco pouco movimentado. Peguei cobertura em um canto mal iluminado e esperei, meu coração estava disparado e o suor escorria quente pelo meu pescoço.
— Fugindo de quem? — A voz me fez saltar no lugar, me virei.
— Porra Geto. O que está fazendo?!
— Só estava passando. — Ele descansou as mãos em seus bolsos, suspirei e alonguei as costas.
— Você é bizarro. — Retruquei, saí pisoteando o chão, Geto veio atrás de mim. — É isso que faz a noite? Persegue garotas?
— Eu estava em uma missão. — Ele dizia, me virei e notei algumas gotas de sangue em seu rosto.
— A Jujutsu é um lixo. — Afirmei, ele não respondeu.
— Você e Satoru ainda estão brigados?
— Por aí. — Dei de ombros, parei em frente a um mercado. — Espera aí, eu to com fome.
Entrei no mercado e peguei dois oniguiri. Olhei para fora, Geto estava parado com a postura esguia, parecia cansado. Peguei dois vidrinhos de leite fermentado, paguei e saí.
— Aqui. — Arremessei a sacola para Geto, ele buscou o leite fermentado dentro e o abriu.
— Eu não aguento mais ouvir Satoru falando de vocês, se resolvam logo. — Ele disse, engoli um pedaço de Oniguiri.
— Satoru e eu não temos nada. — Expliquei, Geto riu. — O que?
— Vocês se pegaram.
— É claro que ele te contou. — Resmunguei, parei e apontei para Geto. — Isso não aconteceu.
— Teve até mão boba. — Ele acrescentou, me virei e rangi os dentes.
— Gojo acrescentou detalhes demais.
— Eu admito que tenho minhas próprias perguntas. — Brincou, revirei os olhos. Quando me dei conta, já estava perto de casa. — Guarde suas perguntas pra você mesmo. A gente se vê na aula.
Corri para dentro, Geto encarou o chão e saiu caminhando como se nada tivesse acontecido. Suas expressões estavam diferentes do normal, ele parecia mais cansado e pouco comunicativo. Raramente trocávamos apenas duas frases ou três, seu dia devia ter sido péssimo.
Mas o meu dia foi ainda pior, considerando tudo o que havia acontecido. Não conseguia mais parar para pensar na situação de outra pessoa, mesmo sendo um amigo próximo.
Depois de um banho quente, me deitei e deixei meu corpo relaxar. A cama estava diferente desta vez, estava confortável.
*
Assim que amanheceu, acordei e me ajeitei para a aula. A casa estava mais silenciosa que o normal, tomei o café da manhã sozinha. Nem mesmo minha mãe se sentou ao pé da mesa para dividir uma manhã tranquila como em todos os dias, agora eu me sentia uma impostora. O que fiz com Satoru na outra noite, deu resultados mais rápido do que esperava.
— Dormiu bem surtadinha? — A voz de Satoru me tirou de meus pensamentos, quando me dei conta, estava no corredor do colégio. — Pelo visto não.
— Mal consegui dormir, as coisas ficaram estranhas.
— Vocês estão aí. Viram Geto? — Shoko nos encontrou no caminho, neguei, olhei em volta buscando por Geto.
— Aconteceu alguma coisa?
— Aquele malandro me deve. — Ela praguejou e tirou um pirulito do bolso, soltei um riso frouxo.
— Ele vai aparecer. Deve estar cansado. — Respondi, entramos na sala onde encontramos Nanami e os outros. Gojo sentou na minha mesa e se inclinou para frente.
— Um beijinho?
— Sai daqui. — Empurrei seu rosto, ele suspirou e se virou para o professor.
Geto entrou na sala, parecia exausto, estava pálido feito um fantasma e com olheiras profundas. O seguimos com os olhos até sentar em seu lugar e deitar a cabeça na mesa.
— Geto. — Chamei, ele se virou mas não se deu ao trabalho de levantar. — Tudo bem?
Geto levantou a mão e fez joinha com o polegar, engoli em seco. Shoko sentou-se entre nós e apontou o pirulito para ele.
— Aí, você me deve. — Ela apontou para Geto, ele virou a cabeça e fechou os olhos. — Babaca.
— O que acham de nos reunir essa noite?
— Pra beber? Eu topo. — Shoko indicou, franzi o cenho.
— N-não vamos beber.
— Gojo paga o Karaokê.
— To fora. Não vou levar nenhuma bêbada pra casa. — Ele saiu da mesa e foi para o seu lugar, afirmei.
— Vocês não tem mais o que fazer? — Meimei riu do seu lugar, os outros estavam nos encarando. — Isso é coisa de quem não tem o que fazer.
— Sabe que são desocupados. — Nanami respondeu, ela riu entretida.
— Todo o tempo do mundo pra você. — Gojo brincou, o fuzilei com os olhos. — Brincadeirinha.
— Quer saber, esqueçam, esqueci que não sabem agir como pessoas normais. — Me levantei e fui até a porta, Meimei riu.
— Deve ser porque não somos. — Ela acrescentou, afirmei.
— Tem razão. — Voltei à sala, o professor entrou logo depois.
— Vocês estão aí. É a primeira vez que os vejo juntos e sem arrumar nenhum problema. — Ele dizia entrando em sala. — Felizmente não vou precisar de todos, então vocês quatro podem sair. Os outros dois também.
Deixei a sala de cabeça baixa, o professor sempre me fazia pensar nos motivos para nos liberar de uma missão. Sempre me sentia incapaz, fraca... como a ideia que meu pai tinha de mim. Ele não escolheu Satoru ou Suguru por serem fortes demais, era desnecessário. Não escolheu Nanami ou Yu, quase sempre eram dispensados, mas também eram fortes o suficiente. Shoko não se importava com isso, ela preferia aproveitar todas as oportunidades de não fazer nada.
— Por que essa cara? — Ela dizia me seguindo, Geto virou para trás e notou minha chateação.
— É só que... deve ter algo com a gente, Gojo e Geto tiveram que intervir na nossa última missão. Será que somos boas o suficiente?
— Somos feiticeiros Jujutsu. — Gojo disse, nos viramos para ele. — Somos bons só de estar aqui.
— Fale por você. — Resmunguei, Shoko deu de ombros ao meu lado.
— Deve ser de família. — Ela brincou, a fuzilei com os olhos. — Não pensa demais não.
— Isso não tem graça. — Revirei o olhos, ela riu e me deu dois tapinhas no ombro.
— Já que não vamos fazer nada, eu to indo. Até amanhã Zenin. — Shoko se despediu, a segui com os olhos pensando em como queria que as coisas fossem simples para mim.
Gojo parou na minha frente com as mãos no bolso e a postura ereta, me inclinei para o lado e notei Geto indo embora. Estávamos sozinhos.
— Quer sair comigo?
— O que? Não.
— É minha namorada, tem que sair comigo. — Ele mandou, franzi o rosto em uma expressão enjoada. — Qual é Zenin, vou te provar que pode ser divertido.
— Você se aproveita da situação. — Passei por ele, Gojo passou o braço por cima dos meus ombros.
— Você me dá permissão pra isso.
Eu... realmente lhe dava permissão para isso.
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