Capítulo 4. Clã

   Peças. Éramos apenas peças em um tabuleiro. Para a minha família, não se passava disso.

— Kaori. Suas roupas. — Minha mãe pediu, olhei para as roupas posicionadas na minha cama, um vestido azul escuro oriental com alguns entalhes e um decote em formato V delicado.

— Já vou me vestir. — Afirmei. Minha mãe fechou a porta do meu quarto assim que saiu.

Fazia alguns dias que não via Gojo, desde a nossa discussão e... desde o beijo. As coisas ficaram estranhas depois de ter explodido com ele, e ter dito tudo que eu queria. Me vesti e ajeitei o cabelo, suspirei mais uma vez tentando conter meu nervosismo.

— Onde é o funeral? — A voz de Satoru veio da janela, me virei rapidamente, notei a sacada aberta e a brisa gélida soprando na cortina.

— O que está fazendo aqui?!

— Eu vim ver minha namorada. Não podia ficar brigado com meu docinho. — Brincou, Gojo analisou minhas roupas e penteado. — Onde é a festa? Por que não me avisou?

— É um jantar de família, você não está convidado. — Fui até a porta, Gojo segurou a porta.

— Mas eu sou família. — Ele afirmou. Engoli em seco, lembrei-me do beijo. Empurrei seu peito e passei por ele, Gojo tocou meu braço até a ponta dos meus dedos.

— Não tem graça. Se meus pais te encontrarem aqui... vai haver uma guerra.

— Desculpa surtadinha, não consegui parar de pensar na nossa primeira discussão de casal. — Ele disse e mostrou a língua como uma criança, franzi o cenho.

— Foi nisso que não conseguiu parar de pensar? — Brinquei, Gojo me encarou nos olhos.

Seus olhos eram azuis feito o mar, e os meus, marrons feito terra. Éramos diferentes, mundos diferentes, realidades diferentes. Naquele momento estávamos tão próximos e ao mesmo tempo tão distantes.

— O que é isso? Um flerte? Porque você e péssima nisso.

— Cala a boca.

— To falando sério, é tão fofinha. — Ele apertou minha bochecha, acertei um tapa em seu rosto. — Ai.

— Se encostar em mim eu te mato.

— E o seu plano? Não quer irritar seus pais? — Brincou, engoli em seco, dei as costas e fui até a varanda. Pressionei o corrimão com tanta força que senti meu corpo se contorcer no lugar.

— Bom, se é assim, eu não vou ficar. — Ele dizia indo até o corrimão, segurei seu braço e o encarei. Gojo sorriu e entendeu de imediato meus planos surgindo em meus olhos, e principalmente, minhas inseguranças. Gojo entrelaçou seus dedos nos meus, afirmando que ficaria ao meu lado não importa o que acontecesse.

O puxei pela porta, descemos as escadas rapidamente. Apesar dos passos acelerados, tudo pareceu acontecer em câmera lenta. Meus pais viraram-se para nós, seus olhos arregalados quase mortificados com a presença de Gojo.

— O que ele está fazendo aqui? — Minha mãe perguntou, seus olhos fuzilaram nossas mãos entrelaçadas.

— Satoru é meu namorado. — Envolvi minhas mãos em seu braço, Gojo sorriu de orelha a orelha.

— Ele é seu-

— Se afaste da minha filha e saia da minha casa, por favor. — Meu pai pediu, engoli em seco.

— Não. Ele não vai sair. — Afirmei, bati os pés, meus pais trocaram olhares.

— Senhor, sabe que se tentar fazer qualquer coisa. Vai iniciar algo que não quer. — Ele disse, senti meu corpo hesitar, com medo do que meu pai poderia fazer. Os três trocaram olhares severos, o cômodo ficou completamente silencioso por alguns segundos que pareceram horas.

— Tudo bem. — Meu pai disse, senti meu pulmão soltar o ar trazendo-me alívio. Gojo notou minha respiração, senti sua mão tocar minha costela por cima do tecido, me apoiei nele. — Vamos jantar.

Meu pai nos guiou para a sala de jantar, minha mãe se sentou ao canto da mesa completamente calada enquanto nós nos sentamos juntos no outro lado. Gojo não deixou de analisar a situação, o silêncio mortal e a falta de contato visual.

— Me diga Satoru. — Meu pai foi direto, Gojo virou-se para ele seriamente. — Seus pais conversam sobre o futuro do clã Gojo?

— Não há necessidade. Eu sou o futuro do clã Gojo. — Ele respondeu com tanta facilidade, que senti um embrulho no estômago.

— E você ao menos entende a importância disso? — Ele finalmente tocou a comida com um garfo. — O clã Gojo tem uma base consideravelmente fortificada, não gostaria de vê-la cair... não é?

— Por que está elogiando um clã que você abomina, papai? — Tentei mudar de assunto, ele riu.

— Me diga Satoru, quando minha filha assumir o meu clã. Você vai matá-la?

— Querido. — Minha mãe tentou intervir, ele bateu o garfo na mesa fazendo-a pular no lugar.

— É por isso que está aqui? Veio ver sua mediocridade antes de se desfazer dela feito um fantoche? — Ele disse, suas palavras me atingiram feito golpes com uma faca. Estremeci no lugar, completamente envergonhada.

— P-pai.

— Deveria deixar suas fraquezas menos evidentes diante de um inimigo. Senhor. — Gojo respondeu antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. — Não é sua filha quem decide se o seu clã tem uma base de líderes fracos e medíocres. Deveria se envergonhar em tratar alguém, em quem você confia sua linha de sucessão. Principalmente sangue do seu sangue.

Baixei a cabeça, senti um rubor surgir em minhas bochechas. Meu pai esticou os lábios e então afirmou juntamente com Gojo, surpreendendo à todos.

— Ela é fraca. — Cuspiu, senti um frio na barriga. — Fraca, medíocre, uma piada para o nome que carrega. Uma piada para o clã Zenin.

— Tem razão. — Afirmei, Gojo virou-se para mim, incrédulo. — O senhor está certo.

— Kaori.

— Sem piadas, sem argumentos, o senhor tem razão papai. Eu sou fraca. — Cerrei os punhos em minhas pernas por baixo da mesa, ele riu.

— Ao menos sabe se colocar no seu lugar.

— Bom sou da família agora. — Gojo respondeu quebrando o clima tenso. — Não vou deixar que trate ela desse jeito.

— Gojo... o que está falando? — Sussurrei, ele continuou sem se importar.

— Você nunca será da minha família garoto, estou fazendo um favor em te receber aqui, para um jantar no qual não foi convidado. — Meu pai retrucou engrossando seu tom de voz. — A minha família fará o que eu disser, seguirá os meus planos e objetivos. É a forma como fazemos as coisas, e você não tem nenhum poder aqui.

— Já chega. — Me levantei, chamei a atenção de todos presentes. — Papai o senhor não é criança, pare de discutir com Satoru como se ele fosse um adulto.

— Kaori, sente-se por favor. — Minha mãe pediu, a encarei incrédula.

— Eu não aguento mais ouvir uma palavra neste maldito jantar. Satoru, vai embora.

— O que?

— Vai embora. Agora. — Pedi, meu pai estava adorando assistir a cena. Satoru se levantou sem expressar reação.

— Leve ele até a porta. — Meu pai mandou. Puxei Gojo pelo braço e o empurrei para fora, ele segurou a porta.

— Não volte aqui. — Pedi, fechei a porta na sua frente, esperei alguns instantes.

Me virei e logo senti meu rosto continuar, senti minha bochecha queimar como uma frigideira com óleo quente.

— M-mamãe.

— O que pensa que está fazendo?! Trazer Satoru aqui? Quer matar todos nós? E que história é essa de namoro?! Enlouqueceu?! — Ela sussurrou para que meu pai não pudesse ouvir da sala de jantar.

— Seu pai já estava irritado com alguns acontecimentos. O que achou que ele ia fazer se...

De repente meu pai surgiu no corredor, senti meu corpo estremecer, ele passou por nós sem dizer uma palavra. Minha mãe nunca esteve tão tensa por mim, mas desta vez, ser ignorada me trouxe uma sensação pior do que raiva. A indiferença era gritante.

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