Capítulo 16. Verdade
Revirei os olhos e limpei meu rosto. Satoru estava com um pouco de molho no canto da boca, sorri e aproveitei para provocá-lo. Usei meu polegar para limpar sua boca, e lamber o pouco de molho.
— Não aprendeu a comer em todos esses anos? — Brinquei, ele não respondeu, apenas deu um risada frouxa e me encarou com seus olhos redondos e azulados. Corei, um tanto envergonhada com o que acabara de fazer. — Me ajuda a recolher os pratos.
Ele levantou e levou os pratos até a pia, lavou e secou enquanto eu o esperava limpando a bancada.
— Que arsenal da beleza você tem no banheiro, aposto que impressiona todas. — Mudei de assunto, ele continuou de costas para mim.
— Assim você me magoa lindinha. — Ele brincou num tom sério, terminei de limpar a bancada, soltei um riso sem jeito.
— Você é péssimo nisso. — Resmunguei, ele veio diretamente na minha direção, recuei até me encostar na bancada.
— Eu sou? Ou você que está se fazendo de difícil? — Ele disse, pegou a toalha da minha mão e a usou para secar as suas mãos. Senti meu corpo formigar, como se fosse uma adolescente outra vez.
— Não me chama assim, não somos mais adolescentes. — Resmunguei, saí pisoteando o chão feito uma. De forma hipócrita. Ele riu e me seguiu até a sala.
— É seu ponto fraco? — Brincou e se jogou no sofá, suspirei e guardei minhas coisas na mala para levar para o quarto. — Reviver nosso "casinho" antigo?
— Tinha me esquecido do quanto você é insuportável. Obrigada por lembrar. — Fechei a mala, ela abriu novamente.
— Quer ajuda?
— Não.
— É só pedir.
— Não quero ajuda. — O respondi curta e grossa, Satoru riu. — O que?
— Você não mudou nada.
— Por que eu não preciso da sua ajuda? Pelo amor de deus Satoru. — Enfiei as roupas com agressividade e fechei a mala, a carreguei para o quarto.
— Agradecer sempre foi difícil pra você. — Ele disse enquanto me observava, assim que cheguei no quarto, a mala se abriu novamente. O zíper havia estragado.
— Merda. — Encarei o aglomerado de roupas e suspirei profundamente, fui até a porta. — Me compra uma mala nova.
— Eu não faço caridade. — Ele levantou e foi até a porta, revirei os olhos.
— Então cai fora. — Mandei, ele levantou do sofá e saiu.
Assim que ouvi a porta bater, me joguei na cama e suspirei profundamente. Estava exausta com tudo que estava acontecendo, e ter que esconder dele era ainda pior. Satoru parou do outro lado da porta e riu sozinho, ele foi até o sofá e se jogou mais uma vez. Juntei minhas roupas e me preparei para dormir, enquanto escovava os dentes, pensava no modo como ele agiu na cozinha, e no frio que senti na barriga como se fosse uma adolescente outra vez... cuspi a espuma e fui até a cozinha pegar água, Satoru estava vestindo seu casaco.
— Já vai?
— Falei que não ia ficar. — Ele foi direto, o segui até a porta.
— O que vai fazer? Quer ajuda? Eu posso ir com você...
— Pra alguém que me detesta, você parece muito determinada a querer ficar do meu lado. — Ele riu e virou-se para mim, me encostei na batente da porta.
— Eu não te odeio. — Respondi, ele riu e deu as costas.
— Eu sei.
Olhar para Satoru me fazia lembrar de que ainda não havia lhe contado sobre Suguru, ele me odiaria se soubesse o que omiti para mantê-lo seguro... afinal, era a última coisa que alguém como ele, gostaria de se imaginar.
Deveria achar um meio de contar à ele a verdade?
Eu não sei.
— Tranque tudo, beba alguma coisa e descanse. — Ele dizia seguindo o corredor, cruzei os braços. — Não se preocupa, eu me viro.
— Exibido. — Resmunguei, ele riu outra vez, longe o suficiente para não nota-lo.
Fechei a porta e a tranquei como pediu, juntei as informações do caso na mesa da sala e rabisquei alguns papéis pensando na busca que fiz mais cedo. Lembrei-me de quando encontrei a aberração no corpo de Suguru, quando ele colocou as mãos no meu pescoço. Senti hesito, como se ainda estivesse lá... depois eu apenas acordei no outro dia, como quem acorda de um pesadelo.
Estava começando a me sentir exausta, pensar demais na situação de Suguru fazia minha cabeça latejar. Me levantei e ajeitei as coisas, precisava guardar tudo para não correr o risco de Satoru encontrar tudo e descobrir antes da hora que estava investigando a maldição de nível especial. Encontrei uma foto em minha mala, com Shoko, Suguru, Satoru e eu, lembrei-me de quando éramos apenas jovens que não sabiam que rumo tomar da vida.
— Eu sinto muito Suguru... — Sussurrei para mim, com um pesar em meu peito.
*
Quando acordei, senti cheiro de café e pão quentinho vindo da cozinha. Abri a porta e encontrei Satoru sentado no sofá da sala segurando uma xícara de café e um documento. Peguei um dos pães na cesta e o mordi, fui até o sofá e espiei por cima do seu ombro.
— O que é?
— Um contrato com uma imobiliária, de um prédio na Coreia. — A menção me fez recuar, sem entender seus motivos.
— Pensei que nunca sairia de Shibuya.
— Já saí algumas vezes. — Ele explicou e esboçou um sorriso sem mostrar-me seus dentes. — Mas não é nada demais, só mais uma filial.
— Então além de professor, Satoru Gojo é um CEO? — Perguntei, ele guardou o documento.
— Não. Eu só resolvo algumas coisas no meu tempo livre. — Ele levantou-se e me analisou da cabeça aos pés. Notei que ainda estava de pijama, cruzei os braços, ele riu.
— O que vai fazer agora?
— Vou para a academia, preciso ficar de olho no Itadori. — Ele me respondeu, fui até o banheiro enquanto o ouvia.
— Vamos juntos, só preciso de um banho.
— Deixa pra próxima, você acabou de acordar. Tem que comer alguma coisa, e isso vai demorar. — Satoru me respondeu de pé, afirmei com a cabeça e entrei no banheiro.
Notei que ele não parecia tão animado como sempre. Mesmo diante de todos os acontecimentos, nada o abalava. Pensei ser somente algo da minha cabeça, entrei no box e liguei o chuveiro. A água quente caiu pelo meu corpo, me reconfortando em um momento tão inoportuno.
Assim que saí do banho, peguei uma toalha e me sequei em frente ao espelho. Notei que o hematoma em meu pescoço ainda estava roxo, mas mal dava para notar.
Haviam outros hematomas pelo corpo nos quais não havia visto antes, abaixo dos seios e no quadril, senti um embrulho no estômago tentando lembrar como os consegui. Saí do banheiro sentindo inquietação, como se algo estivesse errado comigo, com meu corpo... algo que deixei passar.
Me vesti, peguei minhas coisas e fui para a academia. Não queria ficar sozinha pensando besteira. Precisava ocupar a mente, antes de tirar conclusões precipitadas.
Quando cheguei, me deparei com um grupo de alunos, Maki estava entre eles. Ela me cumprimentou com a cabeça, fiz o mesmo e passei direto por ela, havia outro aluno com uma parte do moletom cobrindo sua boca, e um panda. Presumi que fossem colegas de classe, conseguia sentir a energia amaldiçoada de ambos os feiticeiros.
Quando entrei na escola, avistei Gojo e seus alunos no fim do corredor, estavam vindo na minha direção. Passei direto por eles, mas uma de suas alunas, me cumprimentou num tom de voz alto e claro.
— Bom dia professora Zenin! Me chamo Nobara Kugisaki, mas você já deve saber disso. — Ela disse, seus cabelos caíram por cima cobrindo seu rosto.
— É um prazer Kugisaki. — Cumprimentei, Megumi e Itadori olharam diretamente para mim. Olhei para Satoru, ele tinha uma faixa cobrindo seus olhos. — O que o Sensei de vocês está planejando desta vez?
— Vamos treinar com alguns veteranos. — Itadori disse animado, estiquei os lábios. Olhei para Satoru esperando uma explicação mais detalhada.
— Eles precisam aprender a lidar com forças maiores. — Ele disse, afirmei.
— Boa sorte.
— Obrigado professora Zenin. — Itadori disse, sorri gentilmente e passei por ele.
Senti como se Gojo soubesse de algo, mas Itadori não parecia nervoso nem nada, imaginei que fosse apenas algo da minha imaginação pensar que Gojo poderia saber de tudo. De qualquer modo... precisava achar um jeito de lhe contar a verdade o quanto antes.
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