²⁰|Gatinho preto fofinho
Está para nascer alguém que consiga me irritar mais facilmente do que Kathryn.
Eu quero curvá-la sobre o meu colo e lhe dar a surra que prometi, mas sua punição terá que ficar para depois. Agora eu a solto e chamo Anthony. Eu poderia ir até lá fora, mas não quero tirar meus olhos de Kathryn.
- Preciso do seu carro - digo ao meu irmão quando ele aparece e jogo a chave da minha moto para ele. - Se tiver um único arranhão, eu sufoco você durante o sono.
Anthony ignora a minha ameaça, sorrindo largamente ao me passar as chaves do carro. Eu nunca deixo ele pilotar minha moto.
Kathryn, que estava digitando no celular, guarda o aparelho e cruza os braços, olhando feio para nós. Espero que ela tenha mandado mensagem para esse tal de Gregory para que ele vá embora ou eu mesmo irei lá. Com certeza não serei gentil.
- Vamos. - Pego seu braço, mas ela se afasta.
- Não me toca. Babaca.
- Resmungona.
- Imbecil.
- Demônia.
- Bobão.
Já estamos do lado de fora e eu estou abrindo a porta do carro para ela quando paro e arqueio a sobrancelha.
- Sério?
Kathryn dá de ombros, entrando no veículo.
Há alguns metros, o carro do seu amigo está indo embora. Bom. Eu não estava muito ansioso para terminar de ferrar a minha mão, mas também não recusaria a oportunidade.
Depois de dar a volta, entro no carro.
- Ponha o cinto.
- Para de falar o que eu tenho que fazer.
Depois de ligar o carro, viro-me para ela e faço menção de pôr eu mesmo o maldito cinto nela, mas Kathryn pega primeiro e afasta minha mão.
- Eu vou colocar essa porcaria - ela rosna, puxando o cinto com força. - Ai, meu Deus, como eu te odeio. Você é tão insuportável e irritante e... Argh! - Suas mãos se atrapalham e ela não consegue colocar o encaixe do cinto no lugar certo.
- Deixa que eu faço.
- Não.
- Kathryn.
Ela bufa, fazendo alguns fios do seu cabelo se moverem.
- É sempre "Kathryn" pra lá e "Kathryn" pra cá. É tão difícil falar Kate? São só quatro letras: K-A-T-E. - Ela olha para mim, seu cenho e lábios franzidos. É fofo e eu encaro sua boca por alguns segundos.
- Eu sei soletrar - digo calmamente.
Kathryn estava respirando rapidamente por causa da sua explosão, mas aos poucos ela relaxa. O suficiente para deixar eu pegar o cinto e encaixar no suporte.
- Ainda te odeio - resmunga.
- Dizer uma coisa repetidamente faz parecer que você está reforçando uma mentira. - Com ela segura, começo a dirigir para longe da casa do meu irmão.
- Ou que eu estou reforçando uma verdade.
- O que não é o seu caso.
- Você se acha muito esperto, não é?
- Você que está dizendo, não eu.
Praticamente posso ouvi-la revirando os olhos.
Kathryn murmura algo que acho ser "Deus, você é tão detestável", mas fica quieta logo depois.
Fico me perguntando se ela teria mesmo ido com esse Gregory caso eu não estivesse aqui. Eu sei que Eros e Anthony, apesar de não acharem uma boa ideia, nunca teriam impedido ela como eu fiz.
Eu nem estava pensando em acompanhar Anthony essa noite, mas ele disse que Kathryn estaria lá e como ela passou o dia inteiro fugindo de mim, eu quis fazer uma surpresa. Provocá-la por mensagem não estava nos planos, mas foi interessante vê-la corar de raiva e me provocar de volta. Antes, claro, de ela vir com essa história de Gregory. Ela também estava mandando mensagem para ele enquanto falava comigo? Talvez eu não devesse ter mandado ela cancelar, eu poderia ter socado a cara desse filho da puta.
Quando já estamos na área movimentada da cidade e Kathryn está imóvel no banco do passageiro, sinto sua mão na minha coxa, mostrando como eu estava errado sobre ela estar dormindo.
- O que você está fazendo? - indago, olhando para suas unhas pintadas com desenhos na curva da minha coxa e depois para seu rosto. Seus olhos estão meio desfocados, com certeza por causa do vinho, mas isso não esconde a malícia neles, que está presente também em seu sorriso.
- Eu fui uma garota má, lembra? - Kathryn se inclina no espaço entre nós, usando sua outra mão para pôr seu cabelo atrás da orelha. - Quero me desculpar pelo meu comportamento.
- Não é lugar nem hora para isso, além de você estar bêbada. - Esperando encerrar a discussão, tiro sua mão da minha perna. Em outra ocasião, eu não recusaria isso, mas ela não está plenamente consciente das suas ações.
Olho de relance para Kathryn, vendo que ela faz beicinho.
Mas quando volto a prestar atenção no tráfego, sinto sua mão novamente na minha coxa.
- Vou amarrar você - ameaço.
- Ok, Christian Grey - ronrona.
Balanço a cabeça, nenhum pouco surpreso por ela saber quem é esse cara.
Ignorando o que eu disse, Kathryn sobe sua mão até a braguilha da minha calça. Lhe dou um olhar de aviso, que ela também ignora, dando uma risadinha de merda.
- Parece que alguém está bem acordado - ronrona, me acariciando por cima do tecido.
Tentei impedi-la, mas isso não significa que meu pau teria a mesma consideração. Então, sim, estou ficando duro com ela me acariciando.
- Kathryn. - Aperto com as duas mãos o volante, tensionando minha mandíbula. A desgraçada apenas dá risada.
- Sim?
- Pare.
- Eu só quero agradar o meu daddy.
Filha da puta.
E porque ela deve achar pouco o que está fazendo, sua mão acha o caminho para dentro das minhas calças e logo seus dedos estão ao redor do meu pau. Não sei qual de nós dois suspira, mas engulo em seco, semicerrando os olhos para a pista, sem realmente ver nada. Faz... muito tempo desde que outra pessoa além de mim me deu prazer, então o fato do meu controle estar por um fio não é surpresa.
Ouço um gemido baixinho e olho para o lado, para ela. Kathryn está olhando para onde sua mão está, masturbando meu pau. Seus lábios estão entreabertos e seus olhos parecem pesados e concentrados, como se ela não pudesse desviar o olhar.
Porra.
A vontade que tenho é de encostar o carro e fodê-la aqui mesmo, mas...
Meus pensamentos são interrompidos quando uma luz forte demais cega nossos olhos temporariamente.
Eu ajo por instinto, girando o volante do carro para o lado contrário da luz e em algum lugar ouço uma buzina alta e alguns xingamentos.
Freando, pisco repetidamente até perceber que não houve nenhum acidente, mas o carro está parado de modo irregular na pista.
Olho para Kathryn.
- Você está bem? - pergunto, afastando seu cabelo do rosto para eu olhá-la nos olhos.
Kathryn engole em seco, seus olhos mais lúcidos do que antes e assustados.
- Sim. E você?
Anuo e relaxo no banco enquanto passo minha mão pelo meu cabelo. Não foi a primeira vez que quase causei um acidente de trânsito - já dirigi mais bêbado ou drogado do que sóbrio -, mas nunca com alguém comigo. E mesmo se houvesse, as drogas e o álcool teriam entorpecido meus sentidos e eu provavelmente não teria me preocupado. Totalmente contrário do que está acontecendo agora.
É estranho isso, sentir meu coração acelerado.
- Desculpe. Eu não deveria... Deus, eu não sei o que eu... - Kathryn balança a cabeça, o olhar culpado.
- Sou eu quem estou dirigindo.
- Sim, mas...
- Kate. - Ao som do seu apelido que eu nunca uso, Kathryn congela. - Apenas cale a boca.
- Grosso.
- Você ainda está falando?
Suas bochechas ganham tons de rosa. Bom. É melhor ela ficar com raiva do que ficar se culpando atoa e enchendo meus ouvidos com suas desculpas.
Com ela calada, retomo os movimentos do meu corpo e volto a dirigir antes que realmente aconteça um acidente.
Quando chegamos ao prédio de Kathryn, ela está adormecida no carro. Quem dera fosse sempre assim: ela apenas me obedecer. Nossas vidas seriam mais simples. E chatas, eu confesso.
- Kathryn - chamo, mas ela continua imóvel.
Saio do carro, fechando a porta e vou até o lado do passageiro. Ela não acorda quando eu abro a porta ou tiro seu cinto.
Apenas quando pego-a no colo, ouço-a murmurar.
- O que você tá fazendo?
- O que você acha? - Como ela já está com a bolsa, apenas fecho a porta do carro e travo com a chave.
- Por que você é tão grosso comigo?
- Você é irritante.
- E você é um babacão.
- Viu? Você também é grossa comigo.
Kathryn resmuga, apoiando sua cabeça em meu ombro.
Paro na frente do seu portão e da placa.
- Qual o seu código?
- Não vou dizer meu código a você, idiota.
Ela se remexe e se afasta para alcança a placa, mas para e olha para mim.
- Fecha os olhos.
- Não.
- Fecha. Os. Olhos. Eu não vou digitar com você olhando.
Jesus Cristo, que mulher irritante.
Suspirando, fecho meus olhos. Kathryn, porém, parece muito empenhada em não me deixar descobrir o código do seu prédio porque cobre minhas pálpebras com sua mão.
Reviro mentalmente os olhos.
Quando ouço o clique do portão, sua mão some e ela volta a apoiar sua bochecha em meu ombro, se acomodando. Nem parece que estava me insultando a poucos minutos.
Entro no prédio, deixando o portão fechar com um baque atrás de mim e caminho até o elevador. Kathryn se inclina, apertando o botão.
Isso me lembra de quando ela desmaiou no hospital e eu a peguei. Como naquele dia, seu corpo muito menor que o meu se encaixa perfeitamente em meus braços. Ela não pesa quase nada, o que me intriga. Kathryn parece comer bem pouco. Mas compensa com o vinho. Isso é verdade, ela é uma boa degustadora, tenho que confessar, e tem mais controle do que eu, o que é bom.
Sua unha desenha círculos na minha camisa, chamando minha atenção para os desenhos em suas unhas. São emojis sorridentes. Emojis sorridentes. Essa mulher é realmente intrigante.
Mas antes que eu faça algum comentário sobre isso, o elevador chega. Ao mesmo tempo, ouvimos o portão abrir e passos apressados depois que ele é fechado.
Quando as portas do elevador estão quase fechando após entrarmos, um braço é colocado entre as portas, impedindo que se fechem e um homem entra. Ele aperta o botão do sexto andar e olha para mim e depois para Kathryn.
- Kate?
- Ei, Brody.
- Tudo bem? - Quando ele tenta chegar mais perto, lhe dou um olhar de aviso que o faz hesitar.
- Ela está ótima - respondo por Kathryn. Ela empurra meu peito.
- Ele não falou com você. - Para Brody, diz: - Sim. Só bebi demais.
- Qual o seu andar? - Olho para ela, esperando uma resposta.
- Sexto.
Ela e Brody moram no mesmo andar, então.
Todo o trajeto até o sexto andar, Brody não tira os olhos de Kathryn. Há preocupação lá e mais alguma coisa. Carinho. Ele tem uma queda por ela?
Quero rir, mas tudo o que faço é lhe encarar. Conheço Kathryn o suficiente para saber que ela nunca deu ou dará alguma chance a esse almofadinha, mas é bom deixar claro algumas coisas aqui.
Quando chegamos no andar deles, saio primeiro com Kathryn.
- Qual o seu apartamento?
- Hum?
Olho para baixo, para o seu rosto. Ela está piscando lentamente, como se fosse um grande trabalho se manter acordada.
- Qual o seu apartamento.
- Planta - murmura.
- É o com a planta na porta - Brody, o Almofadinha, diz atrás de nós.
Avistando a planta, paro na porta do apartamento dela e coloco Kathryn no chão, deixando um braço ao seu redor para mantê-la de pé. Ela oscila, buscando apoio em meus braços ao me segurar. Enquanto ela se recupera, procuro sua chave em sua bolsa.
- Kate, tá tudo bem mesmo? - Almofadinha questiona atrás de nós.
- Relaxa, Brody. Esse cara aqui é o maior bacana de todos os tempos, mas é inofensivo. - Kathryn dá risada quando lhe dou um olhar.
- Ele não parece inofensivo pra mim.
E eu não sou, idiota.
- Posso ajudar...
- Manda ele ir embora ou eu quebro o nariz dele - digo seriamente a ela, finalmente achando sua bolsa. Ela carrega um monte de bugigangas dentro dessa coisa.
Kathryn revira os olhos.
- Não liga pra ele, Brody. Khalil gosta de se fingir de mau, mas ele é só um gatinho preto fofinho.
É oficial. Eu odeio a Kathryn bêbada.
Abro a porta do seu apartamento e estou prestes a entrar com ela, quando Kathryn põe a mão em meu peito e me empurra.
- Na-na-ni-na-não. Você não vai entrar no meu apartamento.
- Kathryn...
- Não venha com esse "Kathryn" - ela faz uma voz grossa e suponho que esteja querendo me imitar. - Eu estou bem. Obrigada pela carona. Tchau.
Ela pega a bolsa da minha mão e entra no apartamento, batendo a porta na minha cara.
Solto um suspiro e olho para o teto por alguns segundos, me perguntando porque eu apenas não deixei ela dormindo no carro. Teria me causado menos irritação.
- Brody? - Olho para o homem que ainda está parado no corredor. - Fique longe dela.
☠️
Dean sabe fazer ótimas panquecas com bacon. Descubro isso na manhã seguinte, depois de tomar banho e me vestir para o trabalho.
Quando cheguei ontem a noite, Dean já estava dormindo no sofá, a televisão ligada enquanto passava algum filme idiota de super-herói na tela. Na manhã de ontem, falei que conversaríamos quando eu chegasse, mas quando voltei da empresa, ele passou mais tempo tagarelando sobre um noticiário que ele assistiu. Eu ouvia tudo enquanto tentava não queimar o jantar. Não lembro quando foi a última vez que fiz uma refeição que não fosse só para mim e como a maioria das coisas que eu como é porcaria industrializada, havia muitas chances de eu estragar tudo.
Mas felizmente não aconteceu e tivemos um jantar decente, com mais tagarelice de Dean. Ele e Freya não podem se conhecer. Estarei acabado se isso acontecer.
Depois Anthony me ligou dizendo se eu sabia onde nossos pais estavam porque eles não atendiam seus telefones e nem estavam em casa. E quando eu disse que eles foram para ópera, Anthony resmungou e falou que ia para casa de Eros então, que Kathryn estava lá também. Então teve todo o resto a partir daí.
Resumindo, Dean e eu ainda não conversamos seriamente sobre o futuro dele.
- Você não precisava fazer o café da manhã - lembro a Dean quando termino de comer. Ele está sentado do outro lado da ilha e dá de ombros.
- Sempre fazia pra minha mãe antes de ir trabalhar.
- Sente falta dela?
De novo, um dar de ombros.
- Acho que sim. Ela é, sabe, minha mãe.
Sim, mas ela é uma vaca escrota também que se importa mais com o namorado dela do que com você.
- E você quer voltar a morar com ela? - Pego seu prato e o meu, indo colocar na lava-louça.
- Não. - Dean faz uma pausa. - Mas eu também não posso ficar aqui morando com você, né?
- Não.
Mentir para ele não vai fazer sua situação mudar, então sou sincero. E apesar de esconder bem seus sentimentos, Dean não é tão bom nisso quanto pensa que é. Eu vejo a decepção e a tristeza que ele tenta esconder.
- Tá. É melhor eu ir logo então...
- Você não vai embora.
Dean franze as sobrancelhas.
- Mas você disse...
- Eu disse que você não pode ficar, porque é o certo, mas não sou muito conhecido por fazer as coisas da forma certa.
Dean solta uma risada.
- Verdade. Você parece ser bem encrenqueiro.
Isso é um eufemismo, mas apenas dou um olhar a Dean que diz que ele está certo.
- Mas o que isso quer dizer, então?
- Quer dizer que você ficará aqui até descobrirmos o que vamos fazer.
- Tem certeza? Eu não...
- A não ser que você tenha outro lugar para ir.
- Eu disse que não tenho, mas...
- Então você fica.
Ele apenas me encara.
- Sabe, tenho dó dos seus funcionários. Você manda demais.
Sorrio um pouco.
- Tenho uma funcionária específica que concordaria com você.
- Aposto que é aquela moça bonita que teve aqui ontem.
Arqueio a sobrancelha.
- Acha ela bonita?
Dean me dá um olhar incrédulo.
- Cara, eu uso óculos, mas não sou cego.
Preciso concordar com ele, pois apenas um cego não acharia Kathryn bonita. Outro eufemismo, essa palavra, aliás.
Olho o relógio em meu pulso. Preciso ir.
- Você tem um caderno, certo? - pergunto a Dean. Ele anue. - Vá pegá-lo e faça uma lista.
- De quê?
Dou de ombros.
- Coisas. Ficar aqui sozinho o dia todo é entediante.
- Na verdade é bem legal. Não tem ninguém gritando comigo, posso dormir a hora que eu quiser e assistir o que eu quiser.
Nunca achei que fosse sentir tanto desprezo assim por mais alguém além de Olivia, mas a cada relato de Dean, a mãe dele vai subindo mais um número na minha lista de pessoas desprezíveis e que eu mataria se pudesse.
- Faça uma lista mesmo assim.
Ele não discute mais e vai fazer a lista.
☠️
Não me surpreendo ao chegar na empresa e Kathryn não estar na sua mesa ainda. Ela não é conhecida por seus atrasos, mas ultimamente ela tem se atrasado bastante. E eu não estou sendo o que ela chamaria de "idiota" dessa vez, usando a justificativa que ela tem que chegar antes de mim. São 08h, o horário que ela deveria estar aqui.
Depois de passar na sua mesa, vou para minha sala. Anseio por um cigarro, mas tento afogar esse desejo no trabalho, lendo documentos e fazendo outras coisas chatas.
A porta do escritório se abre exatamente às 08h34. Sei disso porque dou uma rápida olhada no relógio do notebook.
- Eu vim de metrô. Genevieve trouxe meu carro para a empresa.
Ergo meus olhos para ela. Observo seu rosto corado e sua respiração acelerada. Ela parece ter corrido até aqui. Com esses saltos -vermelhos dessa vez-, é uma surpresa que não tenha caído. Seu cabelo está preso por um prendedor, dando mais sentido a minha teoria de que algo está acontecendo na vida dela. Algo que eu não sei. Eu seria muito presunçoso em achar que tem algo a ver com o que vem acontecendo entre nós recentemente, por isso descarto essa teoria. O que significa que não tenho nada.
- Bom dia, Kathryn.
Seu olhar desconfiado me encara de volta.
- Bom dia... - Suas bochechas atingem um tom mais profundo de rosa. - Obrigada pelo suco e pelo remédio. Eu vi na minha mesa quando passei.
- Você não deveria beber daquele jeito. - Volto minha atenção para os documentos, descartando seu agradecimento.
Ouço Kathryn suspirar.
- Você não pode ser legal, né? Sempre tem que abrir essa boca idiota.
- Você não deveria falar assim com o seu chefe, Kathryn.
- Mudarei meu comportamento quando meu chefe deixar de ser um idiota.
É impressionante como uma boca tão bonita pode ser usada para tantos insultos.
Antes que ela saia, lhe entrego a lista de Dean.
Kathryn lê e depois franze as sobrancelhas.
- Quebra-cabeça, cubo mágico, apostila e um livro...? - Sua voz some quando ela faz uma pausa. - Isso tem a ver com o Dean?
- Compre pela internet e mande para o meu apartamento. E compre um videogame também. - Dean disse que gosta, mas imagino que não colocou na sua lista porque não queria que eu gastasse dinheiro com ele, o que explica as coisas da sua lista serem tão simples.
- Você ainda não me disse quem é ele exatamente e por que ele está dormindo no seu sofá.
- Meu apartamento só tem um quarto, infelizmente.
Kathryn revira os olhos, mas dobra a lista.
- Mais alguma coisa, senhor?
Faço que não, dispensando-a. Kathryn me lança um último olhar antes de rebolar para fora do escritório. Rápido demais, para o meu gosto. Não aprecio sua bunda o suficiente antes que ela já esteja fechando a porta.
Trabalho até o meio-dia, quando saio no horário do almoço. Eu sei que existem muitos CEO's por aí que ignoram esse horário para continuarem trabalhando, mas nunca serei assim. Para a vergonha do meu pai, o horário do almoço é a minha segunda hora preferida do dia, quando posso fazer uma pausa de todos os documentos e números e reuniões. A primeira é quando vou embora.
Mas apesar de apreciar essa hora sagrada, não vou almoçar quando saio com a minha moto da garagem da Blackburn Empire. Pensando bem agora, acho que a melhor parte do meu dia é quando estou com Bessie. Ela não reclama, me leva para onde eu quero e é rápida pra caralho. Nunca me deixou na mão e por isso, se um dia me fizessem escolher um ser humano ou a Bessie, eu escolheria ela.
Deixo Bessie estacionada na frente do estúdio quando chego, sabendo que ninguém se atreveria a roubá-la, então entro no lugar.
O estúdio de tatuagens Dickson é basicamente como qualquer outro que você irá encontrar: paredes pichadas com desenhos, quadros que nem todos irão apreciar, uma estética macabra no geral e música de rock in roll tocando.
- E aí, cara - Dick, o proprietário, me comprimenta de onde ele está, atrás do balcão, fazendo sabe-se Deus o quê, já que além de tatuador, Dick também é o faz tudo.
Eu aceno de volta enquanto tiro meu sobretudo e ponho no cabideiro. Lá fora está frio pra caralho, mas aqui dentro o aquecedor está ligado.
- A sala dois está pronta para você - Dick avisa ao mesmo tempo que ouvimos a porta da frente abrir. - Quem é vivo sempre aparece, não é mesmo?
Atrás de mim, ouço a risada sussurrada de Eros conforme ele caminha até Dick para cumprimentá-lo. Enquanto os dois agem como se fossem melhores amigos falando das suas esposas e filhas, eu vou para a sala que Dick apontou, uma das quatro que têm aqui no estúdio.
Eu já estou familiarizado com o lugar porque venho aqui sempre que posso, geralmente duas vezes na semana. Antes era apenas para fazer tatuagens - Dick fez quase todas as minhas -, mas há alguns anos comecei a me interessar pelo processo em si e uma noite, quando Dick e eu estávamos bêbados, ele me deixou tatuar seu braço. Ficou horrível. Eu não tinha prática e estava bêbado, mas foi assim que começou. Aos poucos fui aprendendo e venho sempre que Dick tem um trabalho para mim.
Depois que já lavei minhas mãos e preparei tudo o que vou precisar, Eros finalmente entra na sala. Faz quase duas semanas que ele falou sobre fazer outra tatuagem, mas aparentemente só hoje sua agenda estava livre.
Como eu, meu irmão tem tatuagens, mas apenas do lado direito do peito, descendo por seu braço até os dedos da mão. Muitas das suas tatuagens foi eu que fiz. Eu nunca tinha pensado nisso dessa forma, mas acho que Eros me deixou fazê-lo de cobaia enquanto eu aprendia. Claro que ele só deixava se eu estivesse sóbrio no dia, mas ele nunca fez ou disse nada para desacreditar o meu trabalho. Pelo contrário, aparentemente, e eu só notei agora.
Enquanto Eros ocupa a cadeira atrás da mesa que vou usar, visto as luvas de látex e ponho a máscara descartável.
- Genevieve está pensando em fazer uma nova tatuagem também - Eros comenta, pensativo. Seu outro braço, aquele sem nenhuma tatuagem, já está estendido na mesa.
Ocupo a outra cadeira e ajeito a luz para focar no seu pulso virado para cima.
- Ela já tem uma? - pergunto sem pensar, intrigado com essa revelação. Nunca vi nenhuma tatuagem nela ou imaginei que ela teria uma.
- Sim.
Um olhar para o seu rosto me diz que é só isso que ele dirá e que é melhor eu não tentar imaginar onde essa tatuagem fica.
Depois de limpar sua pele, passo a vaselina sobre ela e aplico o desenho, que na verdade é o nome de Freya, e que servirá de modelo para mim.
Após ele aprovar, começo a trabalhar e a sala é preenchida com o zumbido da máquina conforme a agulha perfura sua pele.
- Sabe, desde que Genevieve escondeu toda a história com Tobias, ela não mente mais para mim.
Paro por um só segundo para registrar suas palavras antes de voltar ao trabalho.
Não digo nada. Quando Eros percebe que não terá nenhuma outra reação minha, continua:
- Mas nos últimos dias ela estava estranha. Parecia que estava escondendo alguma coisa de novo.
- Você deveria falar sobre isso com a sua terapeuta.
- Talvez. E talvez você devesse falar comigo sobre Olivia.
Levanto meus olhos, parando de cobrir o decalque. Eros me encara de volta. Confesso que fico surpreso com a falta de aborrecimento em seu olhar. Ele parece muito calmo sobre isso.
Volto meu olhar para seu pulso e retomo o processo da tatuagem.
- Não tenho nada a dizer sobre aquela mulher.
- Não vai me contar nem o que você fez? Porque faz três dias que ela não liga lá para casa. E eu sei que você fez alguma coisa.
- O que você acha que eu fiz? - Faço essa pergunta realmente curioso para ouvir sua resposta.
Sinto Eros hesitar.
- Não sei. Você prometeu... Você disse que a mataria se ela chegasse perto de nós. E você tentou, naquele dia no hospital.
- Mas você me impediu. - Lhe dou um olhar rápido. - Você a perdoou?
- Claro que não. Eu jamais conseguiria perdoá-la.
- Mas você queria?
- Não.
Acredito nele. Não sei por que eu insisti no assunto, para início de conversa, mas acredito no meu irmão. Podemos ter poços profundos de raiva e rancor relacionado a essa mulher, mas os sentimentos ainda são mútuos.
- Devo me preocupar... com alguma coisa?
Arqueio a sobrancelha, olhando de relance para ele de novo.
- O que exatamente você está perguntando?
- Jesus. - Eros passa a mão livre no rosto antes de me olhar com aborrecimento. - Você está me torturando, não é?
Encolho os ombros e Eros suspira.
- Você a matou?
- Não. - Limpo a tatuagem rapidamente. - Mas eu queria.
Eros fica em silêncio por um momento. Muito tempo, na verdade, e só volta a falar quando já estou terminando a tatuagem. Algo simples comparado às suas outras, mas a mais simbólica de todas, tenho certeza.
- Eu seria o seu álibi, se você tivesse feito - a seriedade que ele diz isso não dá lugar a dúvidas. E eu acredito nele.
☠️
Nós voltamos separadamente, já que ele veio em seu carro e eu em minha moto. Eu, porém, paro para fazer um almoço rápido antes de voltar para a empresa. O restaurante onde eu paro é perto de uma loja de celular e decido comprar um para Dean. Tem telefone no apartamento, mas o celular é melhor.
Tendo almoçado e passado na loja, estou de volta na empresa.
Bem na hora que estou passando pela recepção, ouço a conversa da recepcionista com um homem que segura uma caixa pequena e chata.
-... tenho ordens de entregar diretamente a senhorita Yamamoto - o homem está dizendo.
- Ela ainda não chegou, mas você pode...
Interrompo a recepcionista, parando perto dos dois.
- Eu entrego a ela.
O entregador olha de mim para a recepcionista.
- Desculpem, mas eu tenho ordens...
- Está vendo aqueles seguranças? - Aponto para os dois homens em ternos feitos sob medida para vestir seus enormes tamanhos. - Pode entregar a eles. Ou eles vão tirar de você. Tanto faz, certo? É difícil falar ou se mover muito quando está incapacitado.
Com os olhos arregalados, ele hesita apenas por mais alguns segundos antes de passar a caixa para mim.
- O senhor pode assinar...
Já estou indo em direção ao elevador antes que ele complete a frase.
Na privacidade da minha sala, inspeciono melhor a caixa rosa claro. Ela tem uma fita em volta de si que termina como um laço no topo. Fácil de abrir e de colocar de volta no lugar.
Eu abro.
Dentro da caixa encontro um colar de diamantes. É sofisticado. Sei que não é obra do meu irmão ou sua noiva, mas que também custa milhares de dólares. Quem daria um colar desse a Kathryn? Não que ela não mereça, só que me intriga que ela receba uma peça tão cara quando não está em um relacionamento. Porque isso é com certeza o presente de um amante. Foi aquele tal de Gregory?
Antes de seguir essa linha de pensamento, acho o cartão dentro da caixa.
Use-o hoje à noite.
20h00; Complexo.
- Alex.
Franzo as sobrancelhas. Quem diabos é Alex? Kathryn tem um namorado?
Não. Kathryn não tem relacionamentos duradouros. Já a ouvi dizer isso uma centena de vezes e não acho que era blefe. Mas se isso não é de um namorado... É de alguém que quer ser namorado dela. E pelo visto eles têm um encontro hoje à noite.
Ponho o cartão de volta no lugar e depois fecho a caixa, ajeitando o laço exatamente do modo que estava. Ela não vai notar que eu mexi.
Quando ocupo minha poltrona e começo a trabalhar, sou interrompido pelo meu notebook. Não está funcionando. A porcaria travou do nada e agora não tenho como trabalhar.
Faço menção de pegar o telefone, mas lembro que Kathryn ainda não voltou do horário de almoço. Não preciso nem me esforçar para saber onde ela está: fofocando com Genevieve em algum restaurante em vez de estar aqui para fazer seu trabalho quando preciso dela.
E só porque estou me sentindo muito mesquinho, vou até a mesa de Kathryn e pego seu notebook. Tenho uma reunião daqui a pouco e preciso me preparar, então ela pode dar o seu chilique depois.
Enquanto volto a trabalhar, um pensamento me ocorre. Estou com o notebook de Kathryn em minhas mãos. Isso nunca aconteceu. Ela com certeza nunca deixaria eu pegá-lo apenas para reforçar a sua tese de que me odiar é a sua felicidade. Mas aqui está, todo meu por sabe-se lá mais quantos minutos ela irá demorar.
Vou direto no seu histórico de pesquisa porque nada mais pode revelar tanto sobre você quanto o seu histórico no Google.
No início há apenas coisas chatas, principalmente muitas visitas a sites de lojas de roupas e saltos altos. Mas após rolar por seu histórico por cinco minutos, algo me chama atenção. Um site. Especificamente, um site pornô.
Ora, ora, quais são suas fantasias, Kathryn?
Entro no site, percebendo também que não é qualquer site, mas um pago. Claro que Kathryn seria exigente até no tipo de pornô que ela vê.
Vou no histórico de vídeos assistidos e minhas sobrancelhas se erguem quando leio os títulos. É raro eu me surpreender com algo, admito, mas Kathryn conseguiu fazer isso.
Amarrada e fodida.
Sexo violento com um atacante.
Mulher que gosta de ser agredida e fodida.
Mulher sendo castigada no sexo.
Mulher sendo atacada, sexo violento.
Mulher sendo fodida por dois homens.
Enquanto leio os títulos, a primeira vez que a castiguei volta à minha mente. Eu sabia que ela tinha algo de obscuro dentro dela, mas não imaginei que fosse algo que ela já havia aceitado, pois ela lutou comigo naquele dia. E agora sei que era uma farsa. Mas é dessa parte que ela mais gosta, não é? De lutar e fingir que não está gostando? De ser empurrada até o seu limite?
Todos sempre vêem Kathryn como ela quer que vejam: uma mulher bem resolvida que sempre toma todas as decisões. Ela é sempre perspicaz e jamais abaixa a cabeça, jamais desvia o olhar ou demonstra medo. A prova disso é que lutamos desde o primeiro momento que nos conhecemos e a partir daí, ela nunca deixou que eu falasse alguma merda e ficasse por isso mesmo, sempre me desafiando e batendo de frente comigo.
Mas agora me pergunto se não há outra parte dela, um pedacinho bem pequeno, que não quer estar sempre no controle. Ela é tão boa em parecer sempre despreocupada e segura, que ninguém nunca vê o que ela anseia: alguém que possa dominá-la e fazê-la ceder o controle, fazer com que ela goste disso.
Eu disse ao meu irmão, oito anos atrás, que Kathryn era perfeita para mim. Eu não podia estar mais certo sobre isso.
Porque serei eu a não só fazê-la gostar de ser dominada, mas a implorar por isso também.
☠️
Obrigada pelos 6K🖤
Eu amo a primeira parte dessa capítulo, o g̶a̶t̶i̶n̶h̶o̶ p̶r̶e̶t̶o̶ f̶o̶f̶i̶n̶h̶o̶ Khalil levando a Kate pra casa e eles implicando um com o outro 😩😩.
Khalil tatuador, já esperavam??
E ESSE HISTÓRICO DA KATE?👀👀👀👀🙈
aiai. até mais, môres. terça feira temmmmm🙃🖤
2bjs🖤
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2bjs, môres♥
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