¹|Diversão perversa

Há momentos na vida que tudo o que você quer fazer é ficar no sofá assistindo sua série preferida enquanto se entope de sorvete.

É exatamente o que eu queria estar fazendo agora, mas ao invés disso estou sorrindo e me esforçando para prestar atenção no homem sentado à minha frente.

Ele não é feio. É alto, com cabelo castanho e um sorriso brilhante e alguns músculos por debaixo das roupas casuais. Ele foi muito educado e atencioso até agora, e eu realmente me sinto mal por não estar interessada, principalmente porque esse restaurante é maravilhoso e você precisa ter muita influência para conseguir uma reserva de última hora ou então esperar por meses, o que eu sei que não foi o caso porque nós só nos conhecemos há duas semanas.

Ele pode ser o seu perseguidor.

Eu não tenho um perseguidor.

Tem certeza?

Sinto os pelos da minha nuca arrepiarem e olho distraidamente por cima do ombro.

É claro que eu não vejo ninguém suspeito porque isso é coisa da minha cabeça.

E daí que algumas vezes eu tenho a sensação de que tem alguém me observando? Me seguindo? Toda população feminina se sente assim, certo? Esse é o preço de ser mulher.

O seu "em algum momento" dura oito anos.

O que só prova a minha teoria de que isso é coisa da minha cabeça fodida: se tivesse alguém me perseguindo - o que não tem -, essa pessoa já teria me sequestrado ou me matado. Quer dizer, quem persegue alguém por oito anos e não faz nada além disso? Fora que sou uma presa fácil: jovem, solteira e mora com um gato. É basicamente um convite para quem quiser me sequestrar ou me matar.

- Estou entediando você, não é? - Gregory pergunta de repente.

- O quê? - Encaro seus olhos azuis. Como aconteceu da primeira vez, nada acontece. Eu tenho noventa e nove por cento de certeza que esse negócio de borboletas no estômago é um mito do caralho.

- Você está franzindo as sobrancelhas. Sinto muito, às vezes eu falo demais. - Suas bochechas ganham cor e ele desvia o olhar para o prato.

- Não. Não se desculpe, a culpa é minha. Sério. Eu só tô um pouco... aérea hoje. Desculpe - peço outra vez, porque estou mesmo envergonhada. Gregory merece mais do que isso.

Ele anue e depois inclina a cabeça para o lado, me analisando.

- Tá tudo bem? Posso te levar pra casa. A gente marca outro dia.

Como ele não me esperou responder se eu estou bem e foi logo se oferecendo para me levar embora, suponho que minha companhia deve ser mesmo horrível essa noite.

Anuo para poupar nós dois de mais constrangimento, e Gregory pede a conta. Ele tenta pagar por tudo, mas depois do fracasso que foi esse jantar, não acho justo e insisto para dividirmos a conta. Pelo o seu cenho franzido, eu diria que Gregory não gostou muito da ideia. Bem, dane-se ele, eu posso pagar meu próprio jantar (veja, ser solteira e morar com o seu gato não é tão ruim, garotas).

E para ser sincera, eu gosto de ser solteira. Não tenho nenhuma história triste de vários relacionamentos fracassados. A verdade é só que não gosto de compromisso. Gosto de ser livre, da liberdade de poder ficar com uma pessoa diferente sempre que surgir a oportunidade. Se a sociedade me considera uma vadia por isso, foda-se. Tudo tem validade, inclusive um pau. Então, como diria a Ariana Grande: "Thank U, Next".

Apesar do que Gregory ofereceu, também não deixo ele me levar em casa. Passar mais quinze minutos desconfortáveis no carro? Não, obrigada.

Nós nos despedimos com um beijo na bochecha e eu entro no primeiro táxi que consigo.

E como não quero dar a noite como um total fracasso, não é o meu endereço que dou ao motorista.

☠️

A porta é aberta apenas alguns segundos depois de eu tocar a campainha.

- Cheguei a tempo da sobremesa? - pergunto assim que o rosto da única ruiva que eu conheço aparece.

Minha melhor amiga sorri, seus olhos azuis brilhando um pouco.

- Ei... Oh, uau. Você está linda. - Suas sobrancelhas estão erguidas e ela me lança um olhar malicioso antes de me puxar para dentro da casa.

Instantâneamente sou grata pelo calor do ambiente. Estou usando apenas um vestidinho vermelho, de alças finas com um decote que favorece meus seios não tão grandes, mas também não tão pequenos; e um par de saltos que me deixa com 1,70 de altura, quando na verdade tenho 1,60.

- Achei que você fosse para um encontro - Genevieve enlaça seu braço no meu e me leva para o corredor que dá para a cozinha. Ela e Eros - que também é meu melhor amigo -, moram nessa linda casa totalmente afastada da civilização com um design moderno que você só encontra em revistas.

- Assunto sensível. Mas para resumir: foi horrível. Já vou avisando que vou assaltar o estoque de vinho do Eros.

Genevieve dá uma risadinha, sabendo que estou falando sério. Pelo menos sobre o vinho. Tenho certeza que ela não acredita que o jantar foi ruim. Como uma romântica que lê muitos livros de romance - e está vivendo um, diga-se de passagem -, minha amiga não consegue me entender quando digo que não nasci para dar certo com alguém. Não que eu tenha procurado por isso especificamente, como já disse. É apenas um fato que constatei ao perceber que relacionamentos exigem mais do que estou disposta a oferecer.

- A gente já jantou, mas posso fazer alguma coisa para você.

Aperto seu braço e pressiono minha bochecha em seu ombro.

- Eu te amo. Casa comigo?

Novamente, ela ri, me tirando um sorriso.

- Desculpe, eu já fui pedida em casamento e aceitei, mas prometo que na próxima vida esse privilégio será todo seu.

Brincadeiras à parte, estou feliz pelos dois. Ambos passaram por uma loucura antes de ficarem juntos de verdade, com direito a noivado falso e testes de paternidade, além de um ex-namorado pirado.

Assim que chegamos na cozinha, qualquer divertimento que eu estava sentindo, some quando encaro a figura vestida de preto encostada na parede.

Como sempre acontece quando estamos no mesmo ambiente, sinto o ar mudar.

Aqueles olhos verdes escuros encontram os meus e sinto minha coluna enrijecer.

Eu gostaria de ignorá-lo, mas não posso. Por mais que eu deteste o homem com todas as minhas forças, teria que ser cega para não notá-lo.

Para mim, Khalil Blackburn é dono de um tipo de beleza intensa. Os traços do seu rosto são lindos: seu maxilar bem definido, as maçãs do rosto altas, as sobrancelhas grossas e cílios maiores que os meus (o que é um absurdo). Seu nariz é um pouco torto se você olhar por muito tempo e tenho certeza que isso se deve às muitas brigas que ele já entrou. Seu cabelo é de um tom de castanho muito escuro, quase preto, assim como os pelos da sua barba de dois dias sem fazer.

Mas nada se compara ao seu olhar. Khalil é do tipo que ignora a presença de quem não lhe interessa. Quando ele não está olhando, você quer que ele olhe, mas quando esses olhos verdes estão sobre você, é desconcertante e extasiante e, de fato, intenso.

Eu o conheço há praticamente dez anos e tenho detestado-o desde então, mas nunca fui capaz de superar o efeito que seu olhar tem em mim.

Percebo então que estamos nos encarando e tento desviar, mas seus olhos me mantém refém. Com suas roupas pretas, botas de estilo militar e a fiel jaqueta de couro preta, Khalil se encaixa no quesito "bad boy", tendo até várias tatuagens pelo corpo, além de uma moto que ele vive pilotando por aí. Com um 1,86 - conheço a ficha médica dele -, ele também ostenta um belo físico - e eu só sei disso porque o vi sem camisa um punhado de vezes nos últimos anos - magro, mas com músculos o suficiente para delinear sua jaqueta.

Ele é um idiota, mas é gostoso. Correção: só um pouco gostoso. Nada mais.

- Tia Kate! - O grito animado me faz piscar e mesmo sabendo que se passaram apenas alguns poucos segundos, pareceu uma eternidade.

Desvio meus olhos de Khalil para a mini Genevieve. Ok, o nome dela é Freya e ela tem seis anos, mas a garota é a cara da mãe. O que significa que Gen não é a única ruiva que conheço.

- Oi, criança. Tudo bem? - Abraço-a de volta, sorrindo para o fato de ela estar usando sua fantasia do Homem-Aranha.

- Sim! Você veio ver o Hércules?

- Quem é Hércules? - Ergo as sobrancelhas, confusa.

- O filhote! Papai achou ele na rua e trouxe pra cá. Ele vai morar com a gente agora. Vou pegar ele pra você conhecer. - Num piscar de olhos, Freya está correndo pelo corredor. - Hércules, Hércules, Hércules, cadê vocêêêêê?

- Sabe, vocês terão que construir uma segunda casa para todos esses cachorros - comento, ganhando risadas. Eles sabem que estou certa. Contando com o filhote Hércules, são sete cães morando com eles agora.

Sento num banquinho na ilha, fazendo de conta que Khalil não está logo ali como uma sombra. É infantil ignorá-lo, mas fazemos isso há anos. Nada de novo.

- Você não tinha um encontro? - Eros questiona. Ele está me lançando aquele olhar de irmão mais velho todo preocupado que me faz querer revirar os olhos apesar de apreciar sua preocupação.

- Tive. - Pego um cacho de uva da fruteira em cima da mesa e ponho algumas na boca, esperando que Eros entenda que não vou falar mais do que isso sobre o assunto.

Fazendo a escolha certa, ele deixa o assunto de lado e volta a guardar a louça. Como o irmão do meio, meu melhor amigo também exibe uma certa beleza. Ele parece um modelo saído diretamente da GQ. Para mim ele é apenas meu melhor amigo que me ajudou num momento muito ruim da minha vida, então eu não olho para ele mais do que uma irmã olha para um irmão, mas nem todas as mulheres pensam assim e não dá para culpá-las: suas horas na academia lhe deu muitos músculos e Eros também se exibe em seus mais de 1,80, com cabelos escuros, olhos castanhos-esverdeados e uma barba por fazer.

Antes de Genevieve entrar em cena, as pessoas achavam que a gente tinha algum caso. Eu sempre morria de rir todas as vezes, além de me deixar enjoada porque seria como ficar com um irmão.

- Como vão os preparativos para o casamento? - pergunto.

Odeio que, enquanto tento prestar atenção no que meus amigos falam, uma parte minha ainda está ciente do outro homem na cozinha. Eu quero saber o que ele está fazendo aqui, mas não há como eu perguntar. Quando Genevieve me chamou para jantar aqui hoje, ela não disse que Khalil estaria aqui. Não teria feito diferença na hora porque eu já tinha um encontro, mas certamente não teria vindo para cá quando as coisas com Gregory não deram certo.

Me surpreende, na verdade, que Khalil esteja aqui. Ele é sempre tão contra reuniões de família.

Queria que Anthony - o terceiro irmão Blackburn e secretamente o meu preferido - estivesse aqui. Pensando bem, faz um tempo que a gente não sai.

- ... e já que estamos nesse assunto, queríamos pedir a vocês dois que fossem nossos padrinhos.

E assim, a uva que eu coloquei na boca escorrega pela minha garganta antes que eu tenha a chance de mastigar. Caso não tenha ficado claro: isso não é legal.

- ... Deus... Kate... água... - Ouço alguém dizer.

Tossindo como se minha vida dependesse disso (para falar a verdade não me sinto com muita vontade de viver no momento), consigo colocar a uva para fora e ela cai no chão.

- Você está bem? - Genevieve me entrega um copo de água e eu bebo avidamente.

Pela borda do copo, eu encontro o olhar de Khalil, que está inegavelmente se divertindo com tudo isso. Os cantos da sua boca se erguem e ele morde o lábio para que o sorriso não se forme totalmente. É inútil, pois seus olhos brilham com diversão perversa.

Demônio.

- Desculpe, o que você estava dizendo? - pergunto a Genevieve, desviando meu olhar.

Eu ouvi muito bem o que Genevieve disse, no entanto, mas estou torcendo para estar errada.

- Queremos que você e Khalil sejam nossos padrinhos.

E assim, eu sei que estou fodida.

☠️

Oi, morês!

Eu sei que o capítulo foi pequeno, mas como aconteceu em Amor Insano, eu ainda tava me acostumando com a nova história, então os próximos capítulos podem conter menos de 3K.

O próximo capítulo vai ser EXTREMAMENTE pequeno, por isso vou postar dois de uma vez, então já sabem: TERÇA-FEIRA TEM CAPÍTULOOOOO.

Por enquanto, é isso. E VÃO ME SEGUIR NO INSTAGRAM, HEIN. AUTORA.STELLA.

Espero que estejam gostando ❤️. Tô muito feliz de ter voltado!

até☠️

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2bjs, môres♥

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