⁵¹|Amaya
Foi o seu relógio. Aquilo no que a luz refletiu. Ele está há alguns passos de nós, então posso ver muito bem o relógio de ouro com respingos de sangue enquanto ele aponta uma arma para mim. Sinto um estranho aperto em meu estômago. Ele também matou Alex? Eu sei que ele não é muito melhor que Cedric, mas ele ainda é meu tio.
Ergo meus olhos para o assassino à minha frente. Eu já conhecia seu rosto por causa das fotos, mas vê-lo ao vivo ainda me surpreende. Passei meses imaginando qual parte do seu corpo eu cortaria primeiro, então aqui está ele, bem na minha frente. Cedric é alto, e parece muito bem para sua idade, como Alex. Seus cabelos escuros não são nada parecidos com os do seu filho, mas o que os dois têm em comum são os olhos cinzas. No entanto, enquanto os de Gavin expressam todas as suas emoções, os de Cedric não demonstram nada.
Pelo menos, pelos cinco primeiros segundos. Depois, alguma coisa se passa por eles. Não consigo decifrar. Ele está me reconhecendo? Está lembrando da minha mãe? Lembra-se agora do exato momento que a matou?
Com a memória da bala disparando no crânio dela, eu chuto a perna de Gavin quando a raiva me domina. Ele geme ao cair de joelhos no chão. Mas Cedric nem sequer pisca quando empurro o cano da arma contra o crânio do seu filho.
— Abaixe a arma ou irei matá-lo — digo calmamente, esperando que Cedric não note o leve tremor na minha mão.
— Amaya — sussurra. Por um momento, eu posso jurar que reconheço sua voz.
Cedric dá mais um passo à frente. Movo meu dedo para o gatilho. Ele percebe, porque para imediatamente.
— Não hesitarei em matá-lo, assim como você não hesitou em matar a minha mãe.
Lentamente, seus olhos percorrem meu corpo, como se ele estivesse procurando por algo.
— Não pode ser você — diz, sua voz baixa. Parece incrédulo. Seus olhos retornam para os meus. — Amaya…
— Você a matou — as palavras saem antes que eu pense melhor. Posso sentir todo meu corpo tremendo e meus olhos ardendo com lágrimas não derramadas. — Você a matou bem na minha frente. E tudo porque ela não te amava. Você matou o meu pai. E você matou Yuna. — Meu dedo flexiona levemente. Apenas um movimento e eu posso matar Gavin. — E eu vou matar o seu filho, mesmo que ele não tenha nada a ver com isso. Porque você, ao tirar minha família de mim, criou um buraco negro na minha alma e aqui tem muito ódio e muita mágoa. E farei você sentir essa mesma dor, mesmo que isso me torne um monstro.
Eu estou pronta. Não tenho peso na minha consciência. Eu quero vingar meus pais. Eu quero.
Então porque não consigo puxar o gatilho?
Cedric deve ver meu conflito, porque usa essa oportunidade para dar mais um passo à frente.
— Amaya — diz, sua voz mais firme. — Eu não sei o que ele fez com você, mas precisa me ouvir.
Aponto minha arma para ele. Eu sei que não deveria. Gavin é o meu melhor triunfo. Mas há uma dor tão grande em meu peito. Um ódio tão forte que me domina a cada minuto, que eu não consigo suportar mais a ideia desse monstro ainda estar respirando enquanto meus pais apodrecem em suas covas.
— Vou matar você, depois ele.
Cedric balança a cabeça. Depois, ergue as mãos. Lentamente, ele se abaixa para colocar sua arma no chão e a chuta para longe em seguida.
— Você cometeu um grande erro — informo.
Novamente erguido, ele mantém as mãos no alto em sinal de rendição. Não sei qual o seu jogo aqui, mas não estou caindo nesse teatrinho.
Mate-o. Mate-o agora.
— Deus… — Cedric sussurra, me observando. — Você é igualzinha a ela — completa com um tipo de afeto.
— De joelhos.
— Amaya…
— Para de me chamar assim! — Minhas mãos tremem. Parece haver um tipo de força maior me impedindo de atirar nele. Luto contra isso.
— Eu não sei o que Alex contou, mas ele claramente mentiu para você. Sobre tudo. Você precisa me escutar.
— Eu disse — sussurro —, De. Joelhos. Agora!
Mas Cedric não me escuta. Ele continua falando. De novo, sinto a estranha sensação de que já ouvi sua voz antes. Minha mente se embaralha. Memórias que eu não lembrava que existiam. Rostos que eu não sabia que conhecia.
— Não matei sua mãe, Amaya. Eu a amava. Foi Alex, ele a matou.
Franzo as sobrancelhas, balançando a cabeça. Ele está mentindo. Cedric é um homem experiente, é claro que ele tentaria mexer com a minha cabeça. Mas Alex me treinou bem. Alex me deu fotos. Provas. Ele me contou tudo. E eu tenho aquela lembrança. A morte da minha mãe…
— Ele estava com raiva de mim porque matei Sean…
— Porque você consegue confessar que matou o meu pai, mas não consegue admitir que matou a minha mãe? — Encaro seus olhos. Parecem familiar. Claro que parecem, você passou cinco horas olhando para os olhos de Gavin. Você mesmo disse que são idênticos.
— Não matei seu pai, Amaya. Porque seu pai sou eu.
Dou um passo para trás, sentindo que levei um soco.
Eu sei que não é verdade. Sei disso tanto quanto sei que sou capaz de matá-lo se conseguir desligar minhas emoções. Mas porque eu ainda vacilo? Porque ainda estou ouvindo o que ele está dizendo? Onde está Alex?
— Você só tinha seis anos — Cedric continua. Seus olhos estão brilhando com emoção. — Você era muito pequena para lembrar de tudo corretamente agora, mas você precisa acreditar em mim: não matei a Kira. E eu sofro todos os dias por não ter sido capaz de protegê-la.
— Pare. Pare com essas mentiras! — Por que estou discutindo? Por que não estou atirando? Por quê? Por quê? Por quê?
— Você tinha uma caixinha de música, lembra? Com uma bailarina — Cedric pressiona. Ele parece mais perto. Minha visão se confunde. Sinto-me doente. — Eu dei a você, no seu aniversário de cinco anos. Você ficava tocando aquilo sem parar. Lembra-se disso?
Novamente balanço a cabeça. Eu lembro da caixinha. Eu a achei nas coisas de Yuna e tive um flashback com a minha mãe biológica, Kira, mas não há como Cedric saber disso.
A não ser que ele esteja falando a verdade…
Não. Ele não está. Também lembro de Alex contando que Cedric e minha mãe eram amigos. Existe, inclusive, uma foto deles juntos comigo. Ela pode ter lhe contado isso. Ele era apaixonado por ela, afinal.
— Ela te chamava de Coração — a voz de Cedric me alcança outra vez. — Kira te chamava assim porque dizia que você era seu coração fora do peito. Ela te amava. E nós amávamos você, Amaya. Você era nossa menina…
— Falei para você parar — sem me dar conta, dou mais alguns passos para trás. Olho para os lados, procurando por Alex. — Eu não acredito em uma palavra do você diz.
— Porque ele fez uma lavagem cerebral em você. Amaya, olhe para mim…
— Meu nome é Kate. — Encaro-o. —Eu deixei de ser Amaya quando você matou meus pais.
— Procurei por você — sussurra. Ele parece estar sofrendo. — Nunca deixei de procurar por você.
Faça-o parar.
— Depois que Alex tirou Kira de mim, ele roubou você também.
Mentiras, mentiras, mentiras… Tudo mentira.
— Mas eu nunca parei de procurar. E aqui está você, minha menininha…
— Chega! — grito, então puxo o gatilho.
Meu ouvidos zumbem. Minhas mãos tremem. Meu coração bate descontrolado em meu peito. Estou perdendo o controle. Eu sinto escorrendo por entre meus dedos como sangue. Eu deveria sentir satisfação. Fiz isso pelos meus pais. Minha mãe e meu verdadeiro pai. Sean.
Minha visão entra em foco de novo e eu olho para o chão, onde Cedric está caído. Gavin está ajoelhado ao seu lado. Uma mancha vermelha se forma no ombro do primeiro. Eu errei. Eu nunca errei um tiro antes.
Mas não tenho forças para erguer minha arma novamente e lhe dar um tiro fatal.
Ouço um barulho. Alguém está batendo palmas. Ergo o rosto e observo Alex entrar no galpão. Ele não está sozinho. Pelo menos uma dúzia de homens armados adentram a sala com ele. Cada um fica em posição.
Alex finalmente para de bater palmas, então sorri para mim.
— Isso foi tudo muito comovente. E Kate, querida, você deveria ter acreditado nele, porque você realmente atirou no seu pai biológico.
Com dezesseis palavras, meu chão simplesmente desaba.
☠️
Mds, eu sei que esse capítulo é pequeno, mas não me matem.
Me digam suas sinceras e honestas reações e o que estão achando de tudo isso?????
Enfim, espero não ter decepcionado ninguém KKKKKKKKKKK💘.
Beijo e até terça-feira 💋
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2bjs, môres♥
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