𝗖𝗮𝗽 𝟮. Festa na casa dos Harris
Nora se olhava no espelho observando a roupa que ela vestia,um vestido colado azul escuro que realçava as curvas dela. Nora nunca foi muito fã de coisas curtas ou coladas,porém ela não sabia o porquê mas naquela ocasião ela achava que aquele vestido era o ideal.
Durante a tarde toda ela ficou se perguntando se era uma boa ideia ou não ir naquela festa com Rafe. Ela sabia como aqueles tipos de festa eram e também ela não estava no clima. Quem estaria no clima quando sua família está falida e desesperada por uma escapatória?
A porta foi aberta e Nora se virou para ver sua mãe.
━━━ Você tá linda,vai sair para aonde? - Eleanor perguntou para a filha,que se sentou na cama.
━━━ Vou sair com o Rafe.. Tem problema? - Nora pergunta,no fundo almejando que sua mãe disesse que tinha sim um problema e que não era para ela sair.
Nora não queria ter que se encontrar com Rafe por mais que fosse necessário para que eles botassem o plano em ação.
━━━ Problema nenhum,sabe que eu gosto dos Cameron's e é bom que pelo menos alguém da família esteja tentando manter os status. - Eleanor diz sorrindo para a filha. Nora olhou para a mãe.
━━━ Mãe,eu.. - Nora começou porém a mãe interrompeu ela.
━━━ Chiu.. não vamos falar sobre isso,ok? Tá sendo difícil mas a gente vai passar por isso,filha. - Eleanor diz segurando o rosto da filha e fazendo carícias na bochecha da mais nova.
━━━ Eu sei.. - Nora diz olhando para a mãe.
Eleanor puxou Nora para um abraço,a Winslow mais nova rapidamente retribuindo. Nora não sabia mais o que fazer,sabia que a falência estava fazendo a família deles desmoronar como se não fosse nada. Nora queria concertar as coisas,voltar no tempo ou sei lá. Ela só queria reverter as coisas.
Depois de poucos minutos,Nora soltou um suspiro profundo enquanto encarava sua imagem no espelho mais uma vez. Sua mãe havia saído do quarto, deixando o ar carregado com a sensação de que ela precisava mesmo ir naquela festa. A tensão no peito aumentava a cada segundo. O vestido, embora impecável, parecia pesar toneladas.
Ela desceu as escadas da mansão agora vazia, ecoando a grandiosidade de um passado que parecia mais distante a cada dia. O som de um motor rugindo lá fora fez seu coração acelerar. Era Rafe.
Com o nervosismo crescendo, Nora abriu a porta e se deparou com ele, encostado no carro, um sorriso casual no rosto que, de alguma forma, sempre parecia desdenhoso.
━━━ Você demorou. Pensei que tivesse desistido. — Rafe disse, avaliando-a de cima a baixo, como se registrasse cada detalhe de sua aparência.
━━━ Por que eu desistiria? — Nora respondeu, tentando manter a voz firme, embora fosse difícil com o olhar penetrante de Rafe sobre ela.
Ele sorriu, mas não respondeu, apenas abriu a porta do lado do passageiro, convidando-a a entrar. Nora hesitou por um segundo antes de ceder.
Dentro do carro, o som da música abafada vinha do rádio. Eles não trocaram muitas palavras no caminho, mas Rafe parecia satisfeito com o silêncio.
━━━ Isso vai ser divertido. — Ele disse de repente, quebrando o gelo enquanto fazia uma curva fechada.
Nora arqueou uma sobrancelha, virando-se para ele. — Desde quando você acha que festas são divertidas?
━━━ Desde quando você acha que não? — Ele rebateu, com aquele típico tom provocador. ━━━ Ou você vai ficar de cara amarrada a noite toda só porque agora a família Winslow não tem dinheiro pra bancar essas festas?
━━━ Engraçado. Você fala como se isso não fosse um problema. — Nora retrucou, cruzando os braços.
━━━ Relaxa, Nora. Ninguém precisa saber. Eles vão continuar achando que você é uma princesa intocável. — Rafe lançou um olhar de canto para ela, antes de estacionar o carro em frente à enorme casa dos Harris, que já estava lotada.
O som da música alta e as risadas incontroláveis preencheram o ar assim que eles saíram do carro. Nora respirou fundo antes de caminhar ao lado de Rafe até a entrada, onde vários rostos conhecidos os esperavam.
Dentro da casa, o ambiente era quase sufocante. Luzes coloridas, bebida por todos os lados, pessoas dançando sem nenhuma preocupação com o mundo. Tudo parecia caótico, mas organizado à sua própria maneira.
━━━ Olha só quem resolveu aparecer. — Topper surgiu de repente, um sorriso que oscilava entre animado e irônico. Ele mal disfarçou a surpresa ao ver Nora. ━━━ E acompanhado da grande Nora Winslow.
━━━ Ainda faço sucesso, né? — Rafe brincou, dando um leve tapa nas costas de Topper.
Nora, por outro lado, permaneceu em silêncio. Ela sentiu o olhar de Topper sobre ela, como se estivesse avaliando suas intenções. Ele não havia superado o término, isso era óbvio, e a presença dela ali, ao lado de Rafe, parecia um golpe baixo.
━━━ Que bom te ver, Nora. — Topper finalmente disse, a voz carregada de algo entre saudade e ressentimento.
━━━ É bom te ver também. — Ela respondeu com um sorriso forçado antes de olhar para Rafe.
━━━ Vamos pegar algo pra beber. — Ele anunciou, segurando o braço de Nora e a guiando pela multidão, deixando Topper para trás.
━━━ Isso foi estranho. — Ela murmurou quando chegaram perto do balcão da cozinha que estava repleto de bebidas alcoólicas.
━━━ Ele ainda gosta de você, sabia? — Rafe disse casualmente, enquanto servia dois copos de alguma coisa que cheirava forte.
━━━ Quem? O Topper? Não fala besteira,ele tá com a sua irmã. — Nora rebateu, embora a sensação de ser observada por Topper continuasse incomodando.
━━━ Confia em mim. Ele gosta. — Rafe entregou o copo para ela, inclinando-se para mais perto. ━━━ Mas, sabe, não importa. Hoje você está comigo.
Havia algo no tom de Rafe, na forma como ele a olhava, que fazia sua pele arrepiar. Não era o álcool, não era a festa. Era ele. A intensidade com que ele dizia as coisas, como se sempre soubesse exatamente onde tocar para provocar uma reação.
A noite continuou com conversas entrecortadas e olhares cruzados. Nora sentia o peso da presença de Rafe ao seu lado, como se ele fosse tanto um escudo quanto uma ameaça. Quando a música desacelerou e as luzes ficaram mais fracas, ela percebeu que estava começando a se sentir à vontade demais ao lado dele.
Era perigoso.
Rafe a levou para a varanda nos fundos da casa, onde o som era mais abafado e a brisa noturna cortava o calor sufocante do ambiente interno. Nora apoiou os cotovelos no corrimão da varanda e respirou fundo, sentindo a brisa tocar sua pele. O silêncio do lado de fora era um alívio bem-vindo após o caos da festa, mas não era o suficiente para acalmar os pensamentos que martelavam em sua mente.
━━━ Está se divertindo? — Rafe perguntou, surgindo ao lado dela com um copo na mão. Ele tinha aquela postura descontraída, mas os olhos não mentiam. Estavam atentos, analisando cada reação dela.
━━━ Não sei se “divertindo” é a palavra certa. — Nora respondeu, virando a cabeça para ele. ━━━ Mas é melhor do que ficar em casa.
Rafe riu, um som grave e cheio de desdém. ━━━ A vida em casa anda mesmo uma droga, né?
Nora o encarou, desafiadora. ━━━ Não sabia que você era tão solidário.
━━━ Não sou. — Ele deu de ombros, encostando-se ao corrimão ao lado dela. ━━━ Só acho interessante como as coisas mudam rápido por aqui. Um dia, você é a rainha dos Kooks. No outro, está fazendo um acordo comigo pra salvar o que sobrou da sua reputação.
As palavras dele a atingiram como um soco, mas Nora se recusou a demonstrar. ━━━ Você fala como se estivesse acima de tudo isso. Mas, no fundo, sabemos que você também tem seus próprios motivos pra estar aqui, Rafe.
Ele arqueou uma sobrancelha, como se estivesse impressionado com a resposta dela. ━━━ Tá bom,você ganhou..
O silêncio se instalou entre os dois por alguns segundos, mas não era desconfortável. Na verdade, era quase familiar. Nora lembrou-se de outras noites como aquela, quando eram crianças e costumavam brincar na rua até tarde. Ele sempre foi o garoto que a fazia rir com piadas bobas e brincadeiras imprudentes. Tudo parecia tão simples naquela época.
━━━ Por que você se afastou de mim? — A pergunta escapou antes que Nora pudesse pensar melhor. Ela sentiu o olhar de Rafe sobre ela, mas não se atreveu a olhar para ele.
Rafe desviou o olhar para a linha do horizonte antes de responder à pergunta inesperada de Nora. Sua mandíbula tensionou, e ele inclinou a cabeça, como se tentasse decidir até que ponto seria honesto.
━━━ Não sei. — Ele disse, depois de alguns segundos. ━━━ Acho que você cresceu rápido demais.
Nora finalmente se virou para encará-lo, os olhos estreitos de desconfiança. ━━━ Cresci rápido demais? Isso é desculpa pra quê, exatamente? Pra ignorar a garota que morava do outro lado da rua?
Ele sorriu, mas era aquele sorriso irônico, quase defensivo. ━━━ Tá vendo? Esse tipo de pergunta é o que me faz pensar que talvez tenha sido melhor assim.
Ela bufou, incrédula. ━━━ Você é impossível, sabia?
━━━ E você é teimosa. — Ele rebateu, inclinando-se mais perto. ━━━ Mas, ei, estamos aqui agora, não estamos?
Nora não respondeu. Em vez disso, desviou o olhar, focando nas luzes da piscina abaixo. A festa continuava com força total, e ela se sentiu grata pela distância momentânea daquele caos.
━━━ Tá bom, princesa. — Rafe quebrou o silêncio com um tom provocador, inclinando-se para roubar o copo da mão dela. ━━━ Já tá na hora de voltar. Não quero que pensem que abandonei minha "namorada".
O tom de deboche no final da frase fez Nora revirar os olhos, mas ela o seguiu de volta para a festa. A música parecia ainda mais alta quando eles entraram novamente na sala principal.
Enquanto Rafe se misturava com os amigos, Nora ficou de lado, segurando um novo copo que ele havia insistido em entregar a ela. Bebida não era exatamente a forma preferida dela de lidar com problemas, mas, naquele momento, parecia a única maneira de suportar a situação.
Conforme o tempo passava, a sensação de desconforto foi diminuindo. Talvez fosse a música, ou talvez fosse o álcool começando a fazer efeito, mas Nora percebeu que estava rindo das piadas de Topper e até mesmo dançando no meio da sala.
━━━ Olha só quem resolveu se soltar. — A voz de Rafe ecoou perto do ouvido dela, e Nora se virou para vê-lo segurando outro copo. ━━━ Tá gostando da festa, afinal?
━━━ Não enche. — Ela respondeu com um sorriso desafiador, embora estivesse corada. ━━━ Mas, sim, talvez seja melhor do que eu esperava.
━━━ Sabia que você ia se divertir. — Ele disse, inclinando-se para ela.
Nora não pôde evitar notar a proximidade. O cheiro amadeirado dele misturado ao leve aroma de álcool era quase hipnotizante. Antes que pudesse pensar em se afastar, ele puxou sua mão.
━━━ Vem comigo.
━━━ O quê? Pra onde?
━━━ Só vem.
Antes que ela pudesse protestar, Rafe a guiou pela multidão, atravessando a sala até uma escada lateral que levava ao andar de cima da casa. Nora hesitou, mas seguiu, a curiosidade vencendo o bom senso.
Quando chegaram ao topo, ele abriu a porta de um dos quartos. Era luxuoso, com uma enorme janela que dava para o jardim iluminado pela lua.
━━━ Precisava de um lugar mais tranquilo. — Rafe explicou, jogando-se no sofá de couro preto que ficava perto da janela.
Nora permaneceu em pé, cruzando os braços. ━━━ E eu precisava de uma boa desculpa pra sair daqui.
Ele riu, apontando para o espaço ao lado dele. ━━━ Relaxa, não mordo.
Depois de alguns segundos de hesitação, ela se sentou, mas manteve uma distância segura. A brisa noturna que entrava pela janela aberta era refrescante, aliviando o calor que ainda sentia do ambiente lá embaixo.
━━━ Por que fez aquilo? — Ela perguntou de repente, olhando para ele.
━━━ Aquilo o quê?
━━━ Se afastar. — Ela repetiu, insistindo. ━━━ Você disse que eu "cresci rápido demais", mas isso não é uma resposta de verdade.
Rafe respirou fundo, passando a mão pelo cabelo. ━━━ Porque achei que era o certo.
━━━ O certo? Por quê?
Ele a encarou, e por um momento, Nora achou que ele fosse desviar o olhar, mas não desviou. ━━━ Porque você sempre foi diferente de todo mundo. Melhor. E eu sabia que, se continuasse por perto, só ia te arrastar pra baixo.
As palavras dele a pegaram de surpresa, e Nora não conseguiu encontrar uma resposta imediata.
━━━ Acho que falhei, no final das contas. — Ele acrescentou com um sorriso triste. ━━━ Porque, agora, você tá presa nesse acordo comigo.
━━━ Rafe...
Antes que ela pudesse terminar, Rafe interrompeu ela.
━━━ Acho que a noite acabou.
Mas, no fundo, Nora sabia que aquilo era só o começo. O começo de algo que ela não tinha certeza se queria enfrentar.
NO DIA seguinte, Nora acordou com uma dor de cabeça latejante. O quarto estava escuro, as cortinas fechadas, mas os raios de sol escapavam pelas frestas, denunciando que já passava do meio da manhã.
Ela piscou algumas vezes, tentando organizar os pensamentos. A memória da noite anterior veio em flashes: a música alta, os olhares intensos de Rafe, as conversas cortadas na varanda e, claro, os olhares de Topper.
Com um suspiro pesado, ela se levantou da cama, os pés descalços tocando o chão frio de madeira. Na cômoda, encontrou uma garrafa de água que sua mãe provavelmente havia deixado ali enquanto ela dormia. Bebeu tudo em grandes goles, esperando que ajudasse a aliviar a ressaca.
Lentamente, foi até o espelho e encarou seu reflexo. O cabelo estava bagunçado, e a maquiagem que ela havia esquecido de tirar manchava levemente seus olhos.
━━━ Ótimo. — Ela murmurou para si mesma, antes de ir ao banheiro.
Após um banho rápido, Nora desceu as escadas, encontrando Eleanor na cozinha, elegantemente vestida, como sempre. A mãe estava sentada à mesa, lendo o jornal com uma xícara de café ao lado.
━━━ Bom dia, querida. — Eleanor disse, sem desviar o olhar do jornal. ━━━ Parece que você se divertiu ontem.
Nora hesitou antes de responder. ━━━ Acho que sim.
Eleanor finalmente olhou para ela, uma sobrancelha arqueada. ━━━ Rafe te trouxe em segurança?
━━━ Trouxe. — Nora respondeu, evitando o olhar da mãe enquanto pegava uma xícara e servia café para si mesma.
━━━ Ele sempre foi um bom menino. Meio problemático, mas bom. — Eleanor comentou de forma casual, voltando a focar no jornal. ━━━ Talvez ele seja o que precisamos agora, Nora.
As palavras da mãe pesaram sobre ela. Eleanor via Rafe como uma solução, um bilhete de resgate para a família Winslow. Mas Nora sabia que as coisas não eram tão simples assim.
━━━ Mãe, eu vou dar uma volta. Preciso de um pouco de ar.
━━━ Tudo bem, querida. Toma cuidado.
Nora assentiu e saiu de casa.
O CALOR do sol era intenso enquanto Nora caminhava pela rua, mas ela quase não notava. Seus pensamentos estavam presos em Rafe. Ele sempre foi um mistério para ela, um garoto complicado que cresceu para se tornar um homem ainda mais confuso.
Sem perceber, seus passos a levaram até a casa dos Cameron. Era um hábito inconsciente, algo que ela fazia desde criança. A mansão parecia mais imponente à luz do dia, mas a familiaridade a fazia parecer menos intimidante.
Antes que pudesse decidir se deveria ir embora, o som de passos atrás dela chamou sua atenção.
━━━ Tá me seguindo agora? — A voz de Rafe soou, carregada com aquele tom despreocupado que ele usava para mascarar qualquer vulnerabilidade.
Nora se virou, cruzando os braços. ━━━ Quem disse que eu vim aqui por sua causa?
Rafe sorriu de canto, descendo os últimos degraus da entrada principal. Ele estava vestindo uma camiseta branca simples e calças de moletom cinza, o que o fazia parecer surpreendentemente descontraído.
━━━ Então, o que te traz aqui?
Ela hesitou antes de responder. ━━━ Não sei. Talvez só... costume.
Rafe arqueou uma sobrancelha, intrigado. ━━━ Costume?
━━━ É. Quando éramos crianças, eu costumava vir aqui sempre que as coisas ficavam difíceis em casa. Era o único lugar onde eu sentia que podia respirar.
Ele a encarou por um longo momento, como se estivesse tentando decifrar as palavras dela.
━━━ Bom, você ainda pode. — Ele disse, finalmente. ━━━ Vamos.
Surpresa, Nora seguiu Rafe até os fundos da propriedade, onde ficava a piscina. Era um lugar que ela não visitava há anos, mas parecia exatamente o mesmo.
━━━ Lembra de quando você pulou nessa piscina com o vestido da sua mãe? — Rafe perguntou, apontando para a água cristalina.
Nora riu, um som leve que escapou antes que ela pudesse controlar. ━━━ Você me desafiou, lembra? Disse que eu nunca teria coragem.
━━━ E você provou que eu estava errado. — Ele disse, com um sorriso genuíno que a pegou de surpresa.
Os dois se sentaram perto da borda da piscina, deixando que o silêncio confortável se instalasse entre eles.
━━━ Por que você veio mesmo? — Rafe perguntou, olhando para ela de lado.
Nora suspirou, encarando a água. ━━━ Acho que só queria lembrar como era antes de tudo desmoronar. Antes da minha família virar... isso.
━━━ Nora, nada disso é sua culpa. — Ele disse, a voz mais séria do que o habitual. ━━━ Nem tudo dá pra consertar, mas isso não significa que você tem que carregar o peso de tudo sozinha.
Ela não sabia o que responder. As palavras de Rafe eram inesperadas, quase desconcertantes.
━━━ Talvez eu só esteja cansada de fingir que tenho tudo sob controle.
Ele assentiu, como se entendesse exatamente o que ela queria dizer.
━━━ Então para de fingir. Pelo menos comigo.
Nora o olhou, surpresa com a sinceridade. Pela primeira vez, Rafe parecia genuinamente vulnerável, e isso a fez perceber que talvez ele não fosse tão diferente dela quanto imaginava.
Era estranho, mas também reconfortante.
Nora sustentou o olhar de Rafe por um instante, tentando absorver o que ele acabara de dizer. Era raro ver alguém como ele, sempre carregado de sarcasmo e desprezo, baixando a guarda daquele jeito.
━━━ É difícil, Rafe. — Ela admitiu, finalmente desviando os olhos para a água. ━━━ Fingir é o que mantém tudo de pé. Se eu parar, tudo desmorona.
Rafe inclinou a cabeça, analisando-a. ━━━ Você acha que alguém aqui realmente se importa? Esses Kooks só ligam para o que parece bonito por fora. Lá no fundo, todo mundo tá caindo aos pedaços, Nora. Você não tá sozinha nisso.
Ela não respondeu de imediato. Apenas deixou as palavras dele pairarem no ar, enquanto o silêncio da manhã tomava conta do ambiente. Por mais que tentasse resistir, havia uma parte de Nora que queria acreditar em Rafe. Que queria confiar que ele entendia o que ela estava passando.
━━━ Talvez você tenha razão. — Ela disse, quase num sussurro. ━━━ Mas ainda assim, é assustador.
Ele sorriu de leve, balançando a cabeça. ━━━ Se tem uma coisa que eu aprendi, é que o medo não muda nada. Você só tem que seguir em frente.
Nora olha para ele.
━━━ Não parece que você está seguindo em frente.. - Nora diz,fazendo Rafe ficar em silêncio.
Rafe não respondeu de imediato. Ele pegou uma pedra pequena que estava ao lado da piscina e a jogou na água, observando as ondulações que se formavam.
━━━ Antes de tudo desmoronar pra você, Nora, as coisas já estavam uma merda pra mim. — Ele finalmente disse, a voz baixa, quase como um desabafo.
Ela o olhou, surpresa pela confissão. Rafe não era exatamente o tipo de pessoa que falava sobre seus problemas. Ele os escondia atrás de piadas, provocações e um comportamento autodestrutivo.
━━━ O que você quer dizer com isso? — Ela perguntou, inclinando-se um pouco na direção dele.
━━━ Quero dizer que, enquanto você achava que a sua vida era difícil, eu estava aqui lidando com o inferno. — Ele respondeu, sem olhar para ela. Sua expressão era dura, mas seus olhos mostravam algo mais. Dor. Ressentimento. ━━━ Meu pai sempre teve grandes expectativas, sabe? Sempre quis que eu fosse perfeito, que eu seguisse as regras dele. Mas eu nunca fui bom o suficiente.
Nora não sabia o que dizer. Ela sempre viu Rafe como alguém que tinha tudo: dinheiro, poder, influência. Mas agora, olhando para ele, ela via alguém que estava tão perdido quanto ela.
━━━ Ninguém é perfeito, Rafe. Nem você, nem eu. — Ela disse suavemente.
━━━ Não é isso que meu pai pensa. Pra ele, é oito ou oitenta. Você segue as regras ou você tá fora. E eu sempre fui o filho que ele queria descartar. — Ele riu, mas não havia humor em sua voz.
Nora sentiu um aperto no peito. Ela sabia como era carregar o peso das expectativas de alguém, mas o que Rafe descrevia parecia insuportável.
━━━ É por isso que você sugeriu esse plano, não é? — Ela perguntou, juntando as peças. ━━━ Você acha que, se fingirmos estar juntos, isso vai fazer o seu pai te respeitar.
Rafe finalmente olhou para ela, os olhos azuis brilhando sob a luz do sol. ━━━ Talvez. Ou talvez eu só tenha achado que seria divertido te arrastar pro meu mundo. Quem sabe?
Nora estreitou os olhos para ele, não acreditando na provocação. ━━━ Você é um idiota, sabia?
━━━ E você não teria aceitado se não precisasse tanto quanto eu. — Ele rebateu, com um sorriso de canto.
Ela não podia negar. O plano era arriscado, mas era sua única chance de salvar o pouco que restava da reputação de sua família.
Por um momento, eles ficaram ali, apenas observando a água, compartilhando um raro momento de paz. Rafe quebrou o silêncio.
━━━ Escuta, sobre ontem à noite... Eu sei que isso tudo é só um acordo, mas não significa que tem que ser insuportável. — Ele disse, a voz mais baixa e cuidadosa do que o normal.
Nora franziu o cenho, surpresa pela mudança de tom. ━━━ O que você quer dizer com isso?
━━━ Quero dizer que... se vamos fingir, podemos pelo menos tentar não nos odiar o tempo todo. — Ele respondeu, virando-se para encará-la. ━━━ Isso vai ser mais fácil pra todo mundo.
Ela ficou em silêncio por um momento, processando as palavras dele. ━━━ Eu não te odeio, Rafe. — Ela finalmente disse, a voz quase um sussurro. ━━━ Só não confio em você.
Ele riu baixinho, mas não parecia ofendido. ━━━ Isso já é mais do que a maioria das pessoas sente por mim.
Nora olhou para ele, tentando decifrar o homem que estava ao seu lado. Por trás da fachada arrogante e do sorriso debochado, havia algo mais. Algo que ela não conseguia identificar, mas que a fazia querer entender.
━━━ Talvez possamos mudar isso. — Ela disse, finalmente, surpreendendo até a si mesma.
Rafe ergueu uma sobrancelha, claramente curioso. ━━━ Mudar o quê?
━━━ Quem sabe eu consiga aprender a confiar em você... se você me der um motivo pra isso.
Ele sorriu, mas era um sorriso diferente dessa vez — mais honesto, quase vulnerável. ━━━ Desafio aceito, princesa.
Nora revirou os olhos, mas não pôde evitar sorrir. Talvez, só talvez, aquela parceria fosse mais do que apenas um acordo. Eles ficaram em silêncio por longos minutos.
Rafe desviou o olhar para a piscina, os dedos brincando com uma pequena pedra que ele havia encontrado no chão. ━━━ Antes de tudo desmoronar, você era a garota perfeita, a princesa dos Kooks. Você tinha tudo.
━━━ Não tudo. — Nora corrigiu, a voz baixa, mas firme. ━━━ Às vezes, parece que eu só tinha o que eles achavam que eu deveria ter.
Rafe a observou por alguns segundos, o olhar intenso que parecia alcançar algo que ela não queria mostrar. ━━━ E o que você queria, então?
A pergunta pairou no ar, pesada. Nora não sabia como responder. O que ela queria de verdade? Talvez fosse essa a pergunta que vinha tentando evitar desde que tudo começou a desmoronar.
━━━ Liberdade. — Ela disse finalmente, quase num sussurro. ━━━ De ser quem eu sou, e não o que esperam de mim.
Rafe sorriu de canto, o tipo de sorriso que misturava ironia e compreensão. ━━━ Bem-vinda ao clube.
Eles ficaram em silêncio, mas dessa vez havia algo diferente. Era como se, por um momento, eles estivessem conectados de uma forma que nem o plano, nem o passado, nem as expectativas de ninguém poderiam interferir.
━━━ Você não precisa fazer isso, sabia? — Rafe quebrou o silêncio, a voz mais suave do que Nora já tinha ouvido antes.
━━━ Fazer o quê?
━━━ Fingir. Fingir que está bem com isso tudo. — Ele disse, gesticulando vagamente. ━━━ Comigo, com sua mãe, com essa farsa.
Ela riu sem humor, o som escapando antes que pudesse evitar. ━━━ E o que eu deveria fazer, então? Desistir? Deixar tudo desmoronar de vez?
━━━ Talvez. Às vezes, deixar tudo desmoronar é a única maneira de começar de novo.
As palavras dele a atingiram com força, porque, no fundo, Nora sabia que havia uma verdade nelas. Mas ela não tinha certeza se estava pronta para lidar com isso.
━━━ Isso é fácil pra você dizer. Você sempre foi bom em destruir as coisas.
Rafe inclinou a cabeça, como se aceitasse o golpe. ━━━ Talvez. Mas, pelo menos, sou honesto sobre isso.
O silêncio voltou, mas, dessa vez, era mais carregado. Nora sentiu o peso das palavras dele, a intensidade do momento, e percebeu que não havia mais como voltar atrás. Seja lá o que estivesse acontecendo entre eles, era algo que ela não poderia ignorar.
━━━ Eu preciso ir. — Ela disse abruptamente, levantando-se e ajeitando o vestido.
Rafe não tentou impedi-la, mas seus olhos a seguiram enquanto ela se afastava. ━━━ Nora.
Ela parou, mas não se virou. O coração batia forte, e ela sabia que, se olhasse para ele agora, não conseguiria esconder o turbilhão dentro dela.
━━━ Você sabe onde me encontrar. — Ele disse, a voz baixa, mas firme.
Nora continuou andando, sem olhar para trás, mas as palavras dele ficaram com ela. Porque, no fundo, ela sabia que aquilo era verdade. E isso era o mais assustador de tudo.
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