09

A noite começava intensa, com o som vibrante da boate reverberando por todo o bairro. A festa estava agitada e, como sempre, Maria se mostrava a mais animada da turma. Ela se jogava nas pistas de dança com a energia de quem tem o mundo todo a seus pés. Héctor, por outro lado, se sentia deslocado — um peixe fora d'água, tentando acompanhar o ritmo frenético das músicas brasileiras.

——— Vamos na festa sim, Héctor! — Carol exigiu com firmeza, a voz quase abafada pela música.

——— Eu não quero ir, o filme tá bom... — Héctor protestou, tentando resistir.

——— Bom é o caralho , vamo logo, porra! — Maria respondeu com um sorriso travesso. Ela já sabia que uma vez que tomasse a frente, não teria mais volta.

Na casa de Bruna, a conversa continuava entre risos e confusões. Maria mexia nos armários tentando achar algo para vestir, enquanto Héctor resmungava.

——— Eu não tenho roupa, cara... — ele tentou mais uma vez se esquivar da festa, sem sucesso.

——— Mesmo que a gente ficasse em casa eu não ia te comer... — Maria jogou uma piada seca no ar enquanto mexia nas roupas ——— Mas eu tenho umas roupas do Rodrygo, acho que a Bru deixa pegar.

Héctor riu sem querer. ——— Para de ser bobinha, Maria!

Ela o puxou pelo braço, arrastando-o até o closet de Bruna, onde a indecisão tomou conta. Após alguns minutos de risadas e desentendimentos sobre o que ficaria bom ou não, Maria se decidiu: um vestido branco, tomara que caia, combinado com seus Vans surrados. Simples e estiloso, como ela gostava.

——— Porra, Carol...

——— Gostou? — Deu uma voltinha, colocando as mãos em sua cintura.

——— Porra.

Quando chegaram na boate, o clima quente e abafado os engoliu de imediato. Maria correu direto para o bar, como sempre fazia, e pediu uma tequila. Héctor, por sua vez, olhava ao redor com um sorriso nervoso.

——— Manda leve na tequila, Maria. Já tomou água hoje? — ele perguntou, preocupado com o exagero da bebida.

— Não, não tomei. — Ela respondeu com uma risada descomplicada.

— Então nada de beber mais por hoje. Vamo dançar! — Ele insistiu, puxando Maria pela mão em direção à pista de dança.

As batidas do funk tomaram conta do ambiente. No meio do caos, Maria estava completamente à vontade. Ela começava a dançar, levantando os braços e movendo o corpo com a liberdade de quem não se importa com nada, enquanto Héctor tentava acompanhar, um pouco desengonçado.

— Não acredito que você nunca dançou funk, Héctor! — Maria exclamou, visivelmente surpresa, pois ela parecia dominar todos os ritmos com facilidade.

— Eu já escutei, isso não basta? — Ele tentou justificar, mais preocupado com os movimentos do que com a conversa.

— Você é um boiola! — Maria gargalhou, sabendo que ele provavelmente não entenderia a piada.

— Eu sou um boiola divertido? — Héctor fez pose, tentando imitar o estilo "cria" que vira no TikTok de Maria. Tenho certeza que sou o mais legal que você já conheceu.

— Olha, você não é tão chato como eu achava, mas também não se ilude, viu? — Carol se aproximou e agarrando a mão dele com confiança.

— O que isso significa? — Héctor perguntou, confuso.

Maria apenas sorriu de canto, não querendo explicar o que já sabia.

A Conversa sobre Kevin:

Mais tarde, o clima na festa começou a esfriar um pouco. Maria e Héctor, exaustos da dança, se afastaram da pista e começaram a explorar o lugar. Quando chegaram à parede onde estavam expostas algumas fotos antigas de artistas brasileiros, Carol parou diante de uma imagem de MC Kevin.

— Aqui é o MC Kevin, sabe quem é? — Carol perguntou, passando a mão pela moldura.

Héctor olhou a foto e, com um sorriso torto, perguntou. — Ele morreu, é?

Carol ficou séria por um momento, a emoção visível nos olhos. — Sim, ele morreu... Ela fez uma pausa, com a voz mais baixa. Saudades dele. Para sempre inabalável.

Héctor, sem saber o que dizer, abaixou a cabeça, sentindo-se um pouco envergonhado pela brincadeira que fizera.

— Desculpa. — Ele murmurou.

— Tudo bem. Vamos sentar, aqui tá muito quente. — Carol se dirigiu ao sofá, onde se jogou sem cerimônia. Héctor a seguiu, mas não antes de soltar uma piada sobre como o ambiente estava abafado.

O Encontro Inesperado:

Enquanto Héctor se levantava para ir ao banheiro, um homem mais velho se aproximou de Maria no sofá. Ela se sentiu desconfortável, mas tentou não demonstrar.

— Tá sozinha aqui, menina? Tão novinha... — O homem, com um bigode grosso, comentou de forma desconcertante.

Maria rolou os olhos e afastou um pouco. — Não, não estou sozinha.

O homem, insistentemente, tentou continuar a conversa. — Vai querer um velhinho, menina?

Maria, sem paciência, levantou a mão e mostrou o dedo do meio, claramente irritada. — Vai comer gente da sua idade, tarado.

Por sorte, Héctor apareceu na hora.

— Eita, coroa é? — Ele disse, rindo.

— Vamo embora daqui, parece um cárcere privado, cheio de louco. — Maria estava quase sem fôlego, claramente incomodada.

Héctor colocou a mão em seu ombro, a guiando para fora da boate.







.







Quando saíram da boate, o ar fresco da noite foi como um alívio imediato. Maria respirou fundo, deixando escapar um suspiro de alívio. O calor sufocante do interior parecia agora um pesadelo distante.

— Quer meu casaco? Aqui fora tá muito frio. — Héctor disse, tirando o casaco e colocando sobre os ombros dela.

Maria o olhou, mas o sorriso dela era suave. — Sua mão no meu ombro e eu usando seu casaco não significa que vai conseguir me conquistar.

— Eu sei, dona Carol, mas não custa nada tentar, né? — Ele respondeu com um sorriso, que ela retribuiu de maneira divertida.

Sem mais palavras, eles seguiram pela rua, passando por um parquinho até avistarem a praia. Maria, com uma energia renovada, virou-se para Héctor.

— Quer apostar corrida até a areia? — Ela desafiou com um sorriso travesso.

— Aposta feita. — Ele respondeu, se preparando. 1, 2, 3 e já!

Os dois correram pela calçada, rindo enquanto tentavam superar o outro. Quando chegaram à areia, Maria foi a primeira a se jogar na costa fria, com uma risada descompromissada.

— Vem, Héctor. Não quer se sujar, é? — Ela provocou, olhando para ele com os olhos brilhando à luz das estrelas.

Héctor apenas se sentou na areia, sem querer se deitar.

Maria, despreocupada, se deitou e apoiou a cabeça no ombro dele, observando as estrelas. Héctor, com a sensação de estar mais perto dela do que nunca, olhou para o céu, os olhos brilhando com uma mistura de curiosidade e talvez algo mais.

O silêncio da noite pairava ao redor, interrompido apenas pelo som suave das ondas quebrando na areia.

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