Promesas


O telefone tocava. Isabela Cruz andava de um lado para o outro no pequeno apartamento, o aparelho em uma mão enquanto a outra tentava inutilmente aliviar a tensão no pescoço. A decisão não tinha sido fácil. Foram dias de dúvida, noites mal dormidas e horas encarando o teto, perguntando a si mesma se estava prestes a cometer o maior erro de sua vida.

Quando a chamada foi atendida, uma voz familiar soou do outro lado, calma e meticulosa como sempre.

── Sérgio Marquina.

Isabela hesitou por um instante, respirando fundo antes de finalmente falar:

── Oi.

A palavra saiu quase como um murmúrio, mas foi o suficiente para chamar a atenção dele.

── Isabela ── respondeu Sérgio, a surpresa evidente na voz.

Ela fechou os olhos por um momento, reunindo coragem para continuar.

── Eu aceito.

Houve uma pausa do outro lado da linha. Era como se Sérgio estivesse processando o que acabara de ouvir, analisando cada sílaba.

── Você tem certeza?

── Tenho. Mas quero deixar uma coisa bem clara ── disse Isabela, o tom agora mais firme. ── Se isso der errado, e eu perder a minha filha por causa disso...

Ela parou, sua voz carregada de uma determinação quase ameaçadora.

── Você está ferrado, Marquina.

Do outro lado, Sérgio permaneceu em silêncio por um momento antes de responder, a seriedade de suas palavras clara.

── Eu entendo. E prometo que isso não vai acontecer.

Isabela soltou uma risada curta, sem humor.

── Promessas não significam nada para mim, Sérgio. Vou fazer isso porque sei que vocês precisam de alguém que pense no pior cenário ── e, pelo jeito, isso sou eu.

Sérgio soltou um suspiro leve, quase como se estivesse aliviado.

── Nós não vamos falhar. E, Isabela, você não está sozinha nisso.

Ela mordeu o lábio, sentindo uma pontada de incerteza. Apesar de tudo, havia algo na voz dele que a fazia querer acreditar.

── Me diga quando e onde ── disse ela finalmente, cortando qualquer possibilidade de uma longa conversa.

── Vou te enviar as instruções em breve. E, Isabela... obrigado.

Ela não respondeu, encerrando a ligação com um toque seco. Enquanto encarava o telefone em suas mãos, uma mistura de medo e adrenalina tomava conta de seu corpo.

Isabela imediatamente foi até o quarto, onde sua filha Zoe, de quinze anos, estava sentada na cama, mexendo no celular.

── Mãe?

── Oi, minha flor ── disse Isabela, sentando-se ao lado dela e acariciando seus cabelos castanhos.

Enquanto Zoe se aninhava em seus braços, Isabela olhou pela janela do pequeno quarto. As luzes de Madri brilhavam como estrelas artificiais, e ela se perguntou se estava prestes a arriscar tudo pelo maior desafio de sua vida.

Ela sabia que não havia mais volta.

── Vai ficar tudo bem , Zoe ── murmurou, beijando a testa da filha.

Mas, em seu coração, Isabela sabia que as promessas feitas naquela noite seriam testadas como nunca antes.


Isabela estava dobrando a última peça de roupa na mala, quando a garota se aproximou, com seus grandes olhos curiosos e os cabelos castanhos levemente bagunçados. Ela ficou observando a mãe por um momento, como se pudesse sentir a mudança no ar, a tensão que Isabela tentava esconder.

Isabela parou por um instante, olhando para a filha, e seu coração apertou. Como poderia explicar tudo o que estava prestes a acontecer?

Zoe levantou os olhos para ela, com uma expressão um tanto preocupada, e Isabela sorriu, tentando passar um pouco de segurança.

── Você ficará com a vovó por um tempinho, tá bom, minha princesa? ── Isabela disse, sua voz suave, mas com um tom de despedida que ela tentava disfarçar.

Zoe assentiu lentamente, embora ainda houvesse uma dúvida em seu olhar.

── Vai viajar a negócios, mãe? ── ela perguntou, os lábios formando uma linha curiosa.

Isabela se aproxima da filha e segura uma de suas mãos.

── Eu só vou cuidar de algumas coisas, mas não se preocupa, tá? Logo você vai estar com a vovó, e eu volto rapidinho.

Zoe pareceu relaxar um pouco, mas não completamente.

── Eu vou sentir sua falta...

Isabela sentiu o peito apertar. As palavras da filha ressoaram dentro dela como um lembrete doloroso de tudo o que estava arriscando.

── Eu também vou sentir sua falta, minha flor ── ela disse com a voz embargada, dando um beijo suave na testa de Zoe. ── Mas eu volto logo, prometo.

Zoe deu um pequeno sorriso, abraçando sua mãe apertado. Isabela a apertou de volta, segurando firme como se quisesse gravar aquele momento na memória, como se fosse o último. Mas não seria, ela sabia. Não era o fim, apenas uma pausa antes de um caminho imprevisível.

── Agora vamos pro carro, vovó já deve estar esperando ── Isabela disse, tentando aliviar o clima. Ela pegou a mala de Zoe e caminhou em direção ao carro, sentindo um nó de ansiedade se formar no estômago.

Chegando ao estacionamento da casa da avó, Isabela estacionou e saiu do carro, logo sendo seguida por Zoe.

── Vovó! ── disse a garota, correndo até a entrada da casa, com um sorriso brilhante no rosto.

Isabela observou enquanto Zoe se jogava nos braços da avó, que a recebeu com um abraço caloroso. No fundo, Isabela sentiu uma ponta de alívio por deixar Zoe com alguém que ela sabia que a amava incondicionalmente.

Ela permaneceu parada por um momento, assistindo a cena com um misto de emoção e tristeza. Ao vê-las juntas, percebeu que não havia mais volta; a partir daquele momento, seu mundo mudaria para sempre.

── Eu te amo, vovó ── Zoe disse, ainda abraçando a avó.

── Eu também te amo, meu amor ── respondeu a avó, com um tom doce e afetuoso.

Isabela sentiu um aperto no peito ao ver a conexão entre elas. Era difícil para ela se afastar, mas sabia que precisava continuar com o plano que havia se comprometido a seguir.

── Está tudo bem, Isabela ── disse a avó, percebendo o olhar de Isabela. ── Ela está em boas mãos.

Isabela sorriu fracamente, tentando manter a calma.

── Eu sei ── respondeu, embora ainda estivesse lutando contra o sentimento de culpa que a invadia.

Antes de sair, Isabela se aproximou da avó de Zoe e lhe entregou um envelope discreto.

── Aqui ── disse Isabela, tentando manter a voz firme enquanto colocava o envelope nas mãos da mãe. ── Tem dinheiro suficiente para qualquer emergência. Use para cuidar da Zoe, por favor.

A avó olhou para o envelope com surpresa e preocupação, mas antes que pudesse protestar, Isabela continuou:

── Não discuta, mãe. Apenas aceite.

A mulher mais velha balançou a cabeça, entendendo que Isabela já tinha tomado sua decisão.

── Eu não sei o que você está planejando, mas espero que saiba o que está fazendo, minha filha.

Isabela desviou o olhar por um momento, tentando conter as emoções que ameaçavam transbordar.

── É por ela. Tudo o que eu faço é por ela.

Ela se inclinou, beijando a testa da mãe e, em seguida, a de Zoe, que ainda estava abraçada à avó.

── Eu volto logo, meu amor ── sussurrou para a filha, tentando parecer confiante. ── Comporte-se, tá bom?

── Tá bom, mãe ── respondeu Zoe, com um sorriso pequeno, mas cheio de confiança na mãe.

Isabela caminhou até o carro, sentindo cada passo pesar como uma âncora. Quando se sentou no banco do motorista, olhou pela janela uma última vez. Lá estavam sua mãe e sua filha, acenando com um misto de despedida e esperança.

Ela respirou fundo, ligou o carro e se afastou. As luzes da rua pareciam mais brilhantes naquela noite, quase ofuscantes, mas não podiam apagar o que Isabela sentia.

No fundo, ela sabia que estava entrando em um mundo perigoso, mas não havia escolha. A partir daquele momento, cada passo seria para garantir o futuro de Zoe.

Amo escrever personagem que sempre tem um motivo pra fazer o que vai fazer.

Isabela aparenta ser uma mulher certa, mas não é. Ela tem várias dívidas no banco, e sem contar que a mãe dela tem uma doença séria e que o tratamento custa caro, e em relação a filha é obviamente para dar um futuro melhor.

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