Pequenos Erros


Senti Berlim me puxando, a tensão no ar era palpável. Com um movimento rápido, retirei a máscara, já sem paciência para manter a fachada.

── Que merda aconteceu? ── sussurrei, enquanto subíamos as escadas. A raiva e a curiosidade misturavam-se em minha voz.

Ele não respondeu de imediato. O silêncio entre nós dois aumentava a cada passo, até que, finalmente, Berlim falou, com um tom mais pesado que o normal:

── Você vai ver.

Quando ele finalmente abriu a porta, eu dei um passo para dentro e fui recebida por olhares fixos. Denver, Nairobi, Rio e Tóquio estavam ali, e todos pareciam mais tensos do que antes. Seus olhos se voltaram para mim, e o ambiente ficou ainda mais carregado.

Não sabia se a tensão era por Berlim, por mim ou, talvez, por ambos. Meu disfarce como refém tinha sido mantido por tanto tempo, mas agora, com os outros nos observando, tudo estava prestes a desmoronar. A sala estava estranhamente silenciosa, e os olhares estavam fixos em mim, como se esperassem uma reação.

── O que está acontecendo? ── a pergunta saiu da minha boca sem que eu planejasse, mas era inevitável. Minha curiosidade estava em alta, e a necessidade de entender o que estava acontecendo me consumia.

── Já estão levando os policiais feridos.

Com essas palavras, olhei para ele, depois para o grupo em minha frente. A tensão crescia a cada segundo, e minha mente começou a fazer conexões. O que havia acontecido? O que eles aprontaram?

── Que merda vocês fizeram? ── Perguntei, minha voz saindo mais baixa, mas carregada de um desconforto crescente.

Foi então que eu percebi. Rio, com um pouco de sangue visível no rosto, me fez sentir um calafrio. Instintivamente, me aproximei dele e segurei seu rosto, examinando-o com mais atenção.

── Mais que porra... ── murmurei para mim mesma, soltando o rosto dele imediatamente, ainda sem entender a situação. Eu não sabia o que exatamente tinha acontecido, mas agora estava óbvio que algo estava muito errado.

── Os telefones já foram conectados? ── escutei Berlim perguntar, com um tom calmo, mas sua pergunta carregava uma tensão que contrastava com a tentativa de manter o controle da situação.

Observei Rio pegando o telefone vermelho e colocando-o em cima da mesa. O som do aparelho sendo posicionado no móvel parecia um sinal de que as coisas estavam prestes a ficar ainda mais sérias.

── Depois você vai contar tudo o que aconteceu, garoto ── disse para ele com um tom de ordem, me afastando um pouco de Rio, ainda sem saber o que pensar sobre a situação. O sangue no rosto dele me deixava inquieta, mas eu precisava manter o controle.

Berlim não perdeu tempo. Seu olhar estava fixo, sua postura rígida, enquanto ele falava com a calma de quem já tinha tudo planejado.

── Não quero nenhum sinal de fio ou de rádio ── disse ele com firmeza, e logo começou a pegar os comunicadores dos outros.

O ambiente parecia mais tenso a cada segundo, e cada movimento que Berlim fazia aumentava essa tensão. Ele se aproximou de Tóquio, ainda mantendo aquela calma peculiar, mas que por dentro refletia a urgência da situação.

── Só sinal analógico ── Berlim disse, e eu observei Tóquio entregando o comunicador com um olhar carregado de raiva. Ela parecia estar se controlando, mas eu sabia que por dentro a irritação estava crescendo.

Berlim, então, se aproximou de um aquário que estava no canto da sala e, com um gesto impiedoso, jogou os comunicadores lá dentro. O som dos aparelhos submergindo na água soou como um alerta, como se ele estivesse apagando qualquer vestígio de comunicação, de qualquer forma que pudesse impedir o controle total que ele queria ter da situação.

Berlim deu a ordem com sua calma característica, mas a intensidade em seu olhar não podia ser ignorada.

── Liga pro professor ── disse ele, sua voz baixa, mas firme, como se não fosse uma sugestão, mas uma imposição.

Rio, sem hesitar, pegou o telefone e começou a discar rapidamente. A sala ficou em silêncio novamente, o único som vindo do som das teclas sendo pressionadas.

Eu observei Berlim enquanto ele se aproximava. A tensão no ar parecia aumentar a cada segundo, e eu sabia que ele tinha um plano maior em mente, um plano que eu ainda não conseguia entender completamente.

Quando o telefone finalmente foi atendido, a expressão de Berlim ficou mais concentrada, como se estivesse esperando uma resposta crucial. Ele esperou alguns segundos, e eu vi sua mandíbula se tensionar enquanto ele aguardava.

Quando puxei Rio pelo braço, senti a tensão entre nós dois. Ele parecia surpreso, mas não resistiu. O ambiente da sala estava carregado, e eu sabia que precisava tirar o foco de tudo aquilo. Precisava entender o que estava acontecendo, e Rio era a pessoa mais próxima que poderia me dar respostas.

Entrei rapidamente no banheiro masculino, empurrando-o para dentro e trancando a porta. O som das paredes abafadas e o eco dos meus próprios pensamentos me cercaram. Rio olhou para mim com uma mistura de confusão e desconforto, mas não tentou reagir.

── Me explique o que aconteceu ── minha voz saiu fria, mas não pude esconder o tom de exigência. A pressão estava no ar, e a sensação de estar no controle fazia com que minha paciência se esgotasse rapidamente.

Ele hesitou por um instante, a respiração um pouco mais agitada, mas não demorou muito para que sua expressão de relutância fosse substituída por algo mais sombrio. Ele sabia que não poderia fugir das minhas perguntas.

── Eu... ── Rio começou a falar, mas as palavras não saíram imediatamente. Ele estava processando o que acontecera, como se tentasse encontrar as palavras certas. — A situação saiu de controle rápido. Eu não esperava que fosse dar nisso. 

── Vamos, Rio. ── olhei para ele seriamente. 

── A Tóquio saiu sem o Berlim autorizar e eu logo a segui. Começamos a atirar sem sentido, mas um policial me acertou de raspão e, com o impacto, eu caí no chão. A Tóquio começou a atirar nos policiais, não mais nas viaturas. ── ele disse, gesticulando as mãos nervosamente. 

── Tem algo mais? ── perguntei, agora mais calma. 

── Eu e ela... nós... estamos meio que juntos. ── disse ele rapidamente.

Eu franzi a testa, tentando processar o que Rio acabara de dizer. A situação já estava complicada o suficiente, e agora essa bomba. Toquio e Rio? Juntos? Isso mudava completamente o quadro das coisas.

── Aí merda... ── murmurei mais uma vez, fechando os olhos por um momento, tentando organizar os pensamentos. A cabeça estava uma bagunça.

Quando abri os olhos novamente, encarei-o com um olhar mais compreensivo, mas ainda firme. Respirei fundo, suavizando minha expressão antes de falar.

── Está apaixonado por ela pra valer ou é só sexo? ── perguntei, agora com um tom mais calmo.

Rio hesitou, mordendo o lábio, e desviou o olhar.

── Eu... não sei. Acho que é mais do que só isso. Ela... ela me faz sentir vivo, sabe? Como se nada mais importasse quando estamos juntos. ── Sua voz tremia levemente, como alguém que ainda estava tentando se entender.

Suspirei, me aproximando e colocando uma mão leve no ombro dele. Ele parecia tão jovem naquele momento, tão confuso quanto um garoto tentando entender o que é o amor.

── Rio... eu entendo. Essas coisas acontecem, e acredite, eu sei como é sentir algo tão forte assim. Mas, você precisa pensar. Isso aqui não é o lugar nem o momento pra esse tipo de emoção. A gente tá no meio de algo muito maior, algo perigoso, e sentimentos assim podem complicar tudo.

── Eu sei! ── Ele levantou a voz, mas logo abaixou o tom, parecendo se arrepender de ter reagido daquela forma. ── Eu sei que não devia, Roma, mas não escolhi sentir isso. Simplesmente aconteceu.

── Eu entendo, de verdade. O coração da gente não tem botão de ligar e desligar. Mas, Rio, você precisa separar as coisas. Esse assalto, o que estamos fazendo, não pode ser guiado por sentimentos. Você tá colocando a si mesmo e a ela em risco. 

Ele engoliu em seco, o nervosismo evidente em seu rosto.

── Eu... não vou deixar isso atrapalhar. Prometo. Eu vou focar no plano, eu juro.

Passei a mão pelos cabelos dele, e dei um sorriso triste.

── Eu acredito em você, Rio. Sei que seu coração tá no lugar certo. Mas me promete que vai pensar antes de agir, tá? A gente precisa de cabeça fria agora.

Ele assentiu, com os olhos brilhando como se estivesse prestes a chorar.

── Tá... tá bom. Eu prometo.

── Isso, garoto. ── Dei um leve tapinha no ombro dele, tentando aliviar a tensão. ── Agora limpa essa cabeça, respira fundo, e vamos voltar. Tô aqui por você, tá bom? Sempre.

Quando terminei de falar, Rio abaixou a cabeça por um instante, parecendo absorver tudo o que eu havia dito. Em seguida, para minha surpresa, ele deu um passo à frente e me envolveu em um abraço apertado.

── Obrigado, Roma. De verdade... Obrigado por não me julgar ── ele disse, a voz abafada contra meu ombro.

Suspirei, retribuindo o abraço com a mesma intensidade. Passei a mão suavemente pelas costas dele, como se estivesse tentando acalmá-lo.

── Ei, garoto, tá tudo bem. Todo mundo erra, todo mundo sente. O importante é você não deixar isso te dominar, entende? ── murmurei, com um tom quase maternal.

Ele apenas assentiu contra mim, e pude sentir o peso de sua respiração começar a se estabilizar. Era como se, naquele momento, ele estivesse deixando escapar toda a pressão e o medo que havia acumulado até então.

── Você é jovem, Rio. Tem o coração no lugar certo, mas precisa ser esperto também. A gente tá no meio de uma tempestade, e se você deixar seus sentimentos te guiarem, pode acabar se perdendo ── continuei, enquanto ele ainda me abraçava.

── Eu sei. É que... às vezes parece que tudo isso é demais, sabe? E aí, ela... ela me faz esquecer um pouco dessa loucura toda ── ele confessou, se afastando apenas o suficiente para me encarar, com um olhar sincero e quase desesperado.

Segurei o rosto dele entre minhas mãos, olhando bem em seus olhos.

── Você tem um bom coração, Rio. Só não deixe ele te levar pra caminhos que você não consegue voltar, tá? A gente precisa de você inteiro aqui.

Ele sorriu de leve, apesar do peso que ainda parecia carregar.

── Tá bom, Roma. Eu prometo.

── É isso que eu quero ouvir ── falei, bagunçando o cabelo dele como se fosse meu próprio filho.

Com um último aperto em seu ombro, indiquei a porta com a cabeça.

── Vamos voltar antes que alguém ache que você tá chorando no banheiro ── brinquei, tentando aliviar o clima.

Rio soltou uma risada curta, mas genuína, antes de seguir em direção à porta.









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