O Banco da Espanha


Entrei no banco como qualquer outra pessoa em um dia comum. Minha expressão era relaxada, quase despreocupada. Olhei ao redor, observando os clientes e funcionários que seguiam com suas rotinas, alheios ao que estava prestes a acontecer.

Sorri de leve, um gesto que, para eles, poderia parecer apenas cortesia, mas para mim era pura ironia. Mal sabiam o caos que estava por vir.

Com passos firmes, passei pela segurança. O detector de metais apitou, mas mostrei minha bolsa com naturalidade. O guarda me lançou um olhar rápido, mas logo perdeu o interesse, voltando sua atenção para outra pessoa.

"Perfeito", pensei, ajeitando minha postura e caminhando em direção ao centro do saguão. Tudo estava seguindo conforme o planejado.

A cada passo, a sensação de controle se intensificava. Eu estava em perfeita sintonia com o ambiente ao meu redor, como se tudo tivesse sido feito para que eu estivesse ali, no momento certo. Olhei rapidamente para as câmeras de segurança, ciente de que me observavam, mas não preocupada. Não havia nada que eles pudessem ver ou entender.

Me apoiei na parede, peguei meu celular, coloquei na orelha e liguei meu comunicador.

── Eu já entrei ── disse, calma, observando ao redor.

── A ovelhinha está entrando ── disse Tóquio.

── Tudo bem, Berlim, sua vez ── disse o professor.

Levantei o olhar e vi a nossa ovelha, Alison Parker.

Eu continuei no canto por um tempo até ver dois macacões vermelhos vindo com alguns trabalhadores. Abri um pequeno sorriso e, logo em seguida, comecei a fingir que estava desesperada.

Mesmo com as gritaria dos adolescentes, consegui escutar Tóquio. 

── Professor, temos um problema, não estou vendo a ovelhinha. ── disse Tóquio, enquanto procurava Alison entre os adolescentes. 

Com aquelas palavras, mordi o canto da minha boca, uma parte interna que agora me trazia uma leve sensação de nervosismo.

Observei Denver e Rio colocando as vendas em todos, mantendo a ordem com gestos firmes, mas controlados. Foi então que Berlim se mudou de mim, o olhar avaliado como sempre. Sem dizer nada, deslizei o comunicador discretamente em sua mão. Ele o escondeu com habilidade antes de colocar a venda em mim, mantendo o plano em perfeita sincronia.

Eu preciso continuar no papel. Afinal, o caos só estava começando.

── Em primeiro lugar, bom dia. ── A voz firme de Berlim ecoou pelo salão, impondo silêncio. Ele fez uma breve pausa antes de continuar, como se saboreasse o controle da situação. ── Sou eu quem está no comando aqui e, antes de mais nada, quero pedir desculpas. Sei que essa não é a melhor forma de terminar a semana, mas vocês estão aqui como nossos reféns. Se nos obedecerem, garanto que sairão vivos. 

Enquanto ele falava, pude ouvir Denver lidando com os celulares. 

── Celular. Senha. ── Sua voz soava impaciente. 

── Pra que você precisa da senha? ── questionou um homem com a voz trêmula. 

── Me dá a porra da senha ou eu arranco de você. Você escolhe. ── Denver rebateu seco. 

Por trás da venda, revirei os olhos. Clássico. 

── Senha. ── repetiu Denver, mais ameaçador. 

── 1234... ── murmurou o homem, hesitante. 

O som abafado das risadas de Rio e do próprio Denver me alcançou. 

── Com essa cara de inteligente e usa uma senha de merda? ── debochou Denver. ── Qual é o seu nome? 

── Arthur. 

── Arthur o quê? 

── Arthur Roman. 

Antes que Denver continuasse, Berlim retomou a palavra, mais sério: 

── Vocês são a nossa garantia. Então eu vou proteger vocês. Sigam as instruções e ninguém sairá ferido. 

Senti alguém segurar firme em minhas mãos. Era um dos reféns, desesperado, buscando algum tipo de conforto em meio ao caos. Por trás da venda, continuei imóvel, mas respirei fundo, tentando manter a calma e o papel que estava desempenhando.

A voz de Berlim soava como um comando autoritário, mas havia algo calculadamente tranquilizador em seu tom.

── Por favor, respirem todos comigo. ── disse ele com uma calma quase irritante.

Foi quando o som de um telefone começou a tocar, quebrando o breve silêncio que reinava.

── Por favor, senhorita Mónica Gaztambide. ── pediu Berlim, ainda com aquele tom controlado.

Ouvi Arthur sussurrar algo, mas foi interrompido quando Berlim repetiu, desta vez mais firme:

── Por favor, senhorita Mónica Gaztambide, dê um passo à frente.

O toque do telefone parecia ecoar ainda mais alto, enquanto todos aguardavam para ver o que aconteceria em seguida. O refém que segurava minhas mãos tremia levemente, e eu sabia que aquilo era só o começo.

── Sou eu. ── disse uma voz feminina, provavelmente a senhorita Mónica Gaztambide.

Pude perceber a hesitação em seu tom, mesmo que ela tentasse parecer firme. O ambiente ficou mais silencioso, como se todos estivessem prendendo a respiração. Berlim, no entanto, manteve-se calmo, o que tornava tudo ainda mais tenso.

── Muito bem, senhorita Gaztambide. ── respondeu ele, com aquele tom calculado de sempre. ── Acompanhe o som da minha voz e venha até aqui.

Os passos dela eram quase inaudíveis no piso, mas eu podia sentir a tensão crescendo no ar. Quem segurava minhas mãos apertou com mais força, como se o simples som da movimentação aumentasse o medo do que estava por vir.

Berlim esperou até que ela estivesse próxima antes de continuar:

── Agora, vamos resolver esse pequeno inconveniente, não é mesmo? ── Ele falava como se estivesse tratando de um simples problema burocrático, o que só tornava a situação ainda mais perturbadora.

Um pequeno tempo depois, o ambiente parecia ter mergulhado em um silêncio inquietante. A tensão pairava como uma neblina densa. Quem segurava minhas mãos ainda mantinha o aperto firme, quase como se temesse que algo explodisse a qualquer momento.

── Reféns, para sua segurança, três passos para trás. ── A voz de Berlim ecoou pelo salão, clara e autoritária.

Senti o aperto em minhas mãos afrouxar, mas ainda hesitante. O peso do comando de Berlim era palpável, e os reféns começaram a recuar, passos cautelosos ecoando no chão de mármore.

── Isso mesmo, com calma. ── Ele continuou, quase como se estivesse conduzindo uma dança, mantendo sua voz calma, mas firme. ── Não queremos acidentes, certo?

Eu continuei imóvel, sentindo o ar carregado ao meu redor. Cada movimento parecia milimetricamente calculado, e a tensão só aumentava. Podia ouvir o som abafado das respirações contidas, o murmúrio baixo de alguém que não conseguia segurar o choro e, ao fundo, o leve toque de teclas enquanto alguém mexia em um dispositivo.

Até que escutei Arthur, que estava na minha frente, sussurrar:

── Calma, calma... Estou vendo as bolsas. Eles pegaram o dinheiro e já estão indo embora.

O tom dele era baixo, como se tentasse acalmar a si mesmo ou talvez aos outros ao redor. Suas palavras, no entanto, me arrancaram um leve sorriso, quase imperceptível.

"Que otário", pensei comigo mesma, contendo uma risada. Mal sabia ele que isso era só o começo.

O alarme começou a soar pelo local, cortando o silêncio com sua insistência estridente. O som ecoava pelas paredes, acelerando os batimentos de todos ali. Foi quando ouvi a voz calma, mas firme, de Berlim:

── Dois minutos.

"Dois minutos para a polícia chegar? É foda", pensei comigo mesma. "Enquanto isso, um mini assalto num mercado, com direito a alguns tiroteios, demora de 15 minutos a meia hora para eles aparecerem."

Não pude evitar um suspiro de ironia interna. A eficiência da polícia parecia sempre ser seletiva, e agora estávamos no centro da atenção deles. Olhei rapidamente para o Berlim, que mantinha a compostura, como se cada segundo fosse parte do plano.

O ambiente, já carregado de tensão, ficou ainda mais denso quando ouvi Arthur começar a dialogar com uma possível adolescente próxima a ele. A conversa foi interrompida por Berlim:

── Um minuto e... ── Ele parou de falar e seus passos ecoaram no chão enquanto se aproximava. ── Qual é seu nome? ── perguntou diretamente ao Arthur.

── Arthur... ── murmurou o Romano, com a voz hesitante.

── Arthur, né? ── Berlim repetiu, e logo Arthur disparou em desespero:

── Eu não vi nada, eu não vi nada!

"Esse idiota não fez o que eu estou pensando, né? Tinha que ser homem riquinho de merda", pensei, revirando os olhos mentalmente.

── Olha pra mim, olha pra mim, Arthur ── ouvi Berlim insistir com sua voz controlada. ── Olha aqui, calma. Gosta de cinema?

── Sim, sim, eu gosto muito... ── respondeu Arthur, a voz trêmula, quase implorando para ser poupado.

── Você já percebeu que no começo dos filmes de terror sempre aparece um cara assim, bonitão como você, e a gente pensa: esse não dura muito?

── Já... ── Arthur concordou, quase chorando, arrancando de mim um pequeno sorriso, mesmo que de pura incredulidade.

── É sempre assim ── continuou Berlim. ── Arthur, pode acreditar, você não dura muito.

A frase final de Berlim cortou o ar como uma lâmina, e o choro de Arthur começou quase imediatamente, enquanto Berlim se afastava.

Os tiros vinham do lado de fora do banco, ressoando como trovões abafados, mas ainda assim aterrorizantes. Lá dentro, o som parecia mais distante, mas o impacto era o mesmo: pânico e desespero.

── Meu Deus, o que está acontecendo lá fora? ── alguém perguntou, a voz trêmula.

Os gritos e as orações continuaram, e quem segurava minhas mãos agora tremia visivelmente.

Berlim, no entanto, parecia inabalável. Ele caminhava pelo saguão, sua voz autoritária cortando o ambiente.

── Fiquem onde estão! Isso não tem nada a ver com vocês! ── disse ele, tentando manter a ordem.

Do lado de fora, o barulho dos tiros continuava intermitente, acompanhado pelo som de pneus cantando e sirenes que se aproximavam. A polícia estava lá. O cerco estava começando.

Eu respirei fundo, tentando manter a calma. Esse era o momento em que tudo poderia sair do controle, mas também era o momento em que o plano teria que mostrar sua eficácia. O olhar de Berlim, mesmo que não pudesse ver claramente, transmitia confiança.

Dentro do banco, o tempo parecia congelar, enquanto do lado de fora o caos se intensificava.

O grito de Denver ecoou pelo banco, cortando o ar já carregado de tensão:

── A primeira regra, filha da puta! A primeira regra! ── ele vociferou, a voz cheia de raiva.

Houve um silêncio momentâneo, como se todos estivessem tentando processar o que havia acontecido. O som abafado dos tiros lá fora continuava, mas, dentro do banco, era o grito de Denver que dominava.

── O que está acontecendo? ── sussurrou alguém perto de mim, a voz embargada pelo medo.

Eu não sabia exatamente o que ele havia visto ou o que o havia deixado tão fora de si, mas era evidente que algo tinha saído errado.

E provavelmente sobraria para mim arrumar a bagunça das crianças.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top