014
~ Sim ~
Eles nem mesmo desligaram o carro, seus pés deslizando pelos corredores, a falta de poderes os tornando mais frágeis e lentos.
Si-young sabia a senha de Do-hee, mas não era necessário, a porta estava aberta para seu total medo. Os dois trocaram um olhar agitado, antes de adentrar o espaço da humana.
O demônio correu mais rápido, tendo a Ki em seu encalço, chegando de encontro a humana, que estava em sua sacada, pendurada, a poucos fios de cair todos os lances do prédio alto.
Gu-won enrolou o tecido no braço, a mantendo o mais segura possível, seus olhos se encontrando em meio ao desespero, Kiki estava tensa, o coração batendo forte, enquanto Gu-won tentava puxar a humana de volta em segurança.
"Ao redor."
Não precisava dos avisos de Do-hee ou do próprio agressor, a guardiã sentiu o perigo antes de ver, virando o corpo e dando uma rasteira no homem, mas não foi rápida o suficiente para escapar de um empurrão.
Suas pernas balançaram no ar, o cabelo curto para todos os lados, a guardiã fechou os olhos em meio ao vento da queda. Seu corpo colidindo com outros dois, de forma quase poética, se não fosse um desastre.
O dever de um guardião é proteger e assegurar a segurança daqueles sob sua responsabilidade, mesmo quando o perigo é iminente. Kiki sabia disso melhor do que ninguém, e a adrenalina corria por suas veias enquanto lutava para manter Do-hee a salvo. A queda que quase sentiram era um lembrete cruel de quão frágil a vida humana pode ser, e de como a presença de um guardião é vital para garantir a segurança.
—— Merda —— chiou com a mudança de ambiente, seu corpo batendo contra uma parede, uma mão impedindo sua cabeça de doer, ela sentiu os joelhos ceder, a levando a se sentar no chão frio—— Jesus...
Gu-won, com seus poderes, conseguiu teletransportar todos para um espaço seguro, um corredor do prédio.
Do-hee caiu ao seu lado, e ela só soube quando a humana chorou contra seus ombros. Si-young não conseguia sequer esboçar uma reação digna, o rosto congelado como se ainda caísse.
Ela não sentia nada.
—— Está tudo bem, Do-hee —— Kiki sussurrou, a voz suave e reconfortante, passando um braço pelo corpo dela.—— Estamos seguras agora.
Mas sua protegida sentia.
O corpo de Do-hee tremia incontrolavelmente, e Kiki podia sentir o medo da amiga através do abraço apertado.
—— Eu pensei que ia morrer —— Do-hee choramingou, suas lágrimas molhando o ombro de Kiki. —— foi horrível...
Eu não senti. Sem medo. Nada.
—— Eu sei —— Kiki respondeu, acariciando os cabelos de Do-hee. —— Mas você está a salvo. Eu prometo.
Gu-won se aproximou e abraçou as duas, envolvendo-as em seus braços fortes. Ele prometeu mentalmente que protegeria aquelas mulheres a qualquer custo. A sensação de quase perder Do-hee e Kiki era insuportável, e ele sabia que não podia permitir que algo assim acontecesse novamente.
—— Eu estou aqui, não vou deixar que nada aconteça a vocês.
Kiki sentiu o calor do corpo de Gu-won ao redor dela, e por um momento, ela deixou-se relaxar no abraço dele. Havia algo reconfortante na força e na presença dele, uma promessa silenciosa de que ele faria qualquer coisa para mantê-las seguras.
A guardiã estava assustada em não conseguir compreender os próprios sentimentos, era a falha, como se sua mente estivesse a lembrando de que só estava ali por castigo.
Como se sua lider ainda estivesse ao seu lado, falando que cuidar de um demônio não era bom, que deveria desistir do casamento, de Do-hee e tudo o que fazia.
Ela não sentiu o perigo quando deveria.
Normalmente não precisava dos poderes, ela sentia falta de falar mentalmente e de sentir a magia em seu corpo. Mas um guardião tem seus próprios atalhos, seus caminhos e poderes.
—— Vamos sair daqui —— Gu-won sugeriu suavemente, ajudando-as a se levantarem.
Ela não havia sentido, porque uma parte sua estava morrendo, com ou sem casamento.
Sua mente gritou, que estava deixando de ser uma guardiã.
—— Você vai se casar com a humana maluquinha? E a senhora Ki? Vocês são casados a anos... achei que não queria se apegar a alguém, mas está pedindo outra mulher em casamento já sendo casado. O Senhor não tem vergonha?
Kiki gargalhou. Sua risada chamando a atenção de muitas pessoas no Hall do prédio, Gu-won, sentado ao seu lado revirou os olhos para o Park.
—— Eu quem mandei.
O Park abriu a boca incrédulo, como se fosse gritar algo novamente, movimento que fez o Jeong se apressar em colocar uma mão em sua boca.
A Ki riu novamente, pegando o pote de comida para si, usando um garfo para comer com tranquilidade. Gu-won bufou para sua calma.
Acontecia, que na noite anterior Do-hee recebeu dois pedidos de casamento, depois de seu ataque e horas que passou abraçada a Ki.
A guardiã não poderia cuidar da humana o tempo todo, Gu-won precisava da tatuagem, dos poderes. E isso seria mais fácil se fossem apenas os três como sempre.
Bastou segurar o pulso de Do-hee e mandar a ele um pensamento único. A mulher teve que passar por cima do próprio ciúmes, sendo claramente alguém que odiava dividir suas obras da prateleira, mas esperava que aquilo fosse bom para todos.
"Peça."
—— Porque fez isso, senhora Ki? —— o mais velho quase chorou, a fazendo engolir a comida com rapidez —— Vocês são um casal perfeito, não precisam disso...
—— Nessas identidades não somos casados —— deu de ombros, sinalizando para o marido se afastar do homem —— é melhor que ele seja o marido do que explicar para outra pessoa o que somos.
O Senhor Park suspirou. Parecendo bem triste com a ideia, isso que nem era o casamento dele.
—— O senhor vai ter suas esposas —— resmungou comendo uma uva. —— Isso é bem injusto.
Gu-won engasgou com um pão que mordeu, e Kiki gargalhou novamente. Alguém estava se divertindo muito com a ideia de ver seu marido, com outra mulher.
Para ela era cômico a ideia de ver Gu-won tendo que se acostumar a uma nova pessoa, ainda mais com um contrato no meio, o matrimonial. Eles haviam passado anos em estranheza, depois da noite de núpcias, para depois decidirem ser bons amigos.
Com uma escapada ou outra, entre as décadas em que passavam juntos.
Ele já estava ficando maluco antes de Si-young entrar naquele banho e o beijar, agir como o marido que ele era a muito tempo, não era seu plano.
Ela estava se esquecendo, de um pequeno detalhe não contado a ele, uma pequena proposta recebida, que o faria desistir do plano Do-hee antes de acontecer.
O plano aconteceria.
Do Do-hee pediu a ajuda especial de Si-young para se arrumar, depois de um contrato assinado pelos três na noite anterior.
Sim. Os três.
••• ••• •••
—— Porque quer casar comigo agora?
—— Não quero que morra. —— disse simplesmente, os olhos na estrada.
Ele pode ouvir Kiki e Do-hee bufar ao mesmo tempo. As observando pelo retrovisor com olhos curiosos.
—— E eu já sou casado...
Si-young sentiu a cabeça virar com tanta velocidade, que doeu, sua mão indo para a nuca verificar se ainda estava viva ou estava sendo arrastada ao purgatório.
—— VOCÊ O QUE?
Foi a vez do demônio rir, vendo com diversão as duas abrir e fechar a boca chocadas.
Ele achou engraçado que sua esposa estivesse tão perdida e sem palavras, como ele esteve horas antes, no Hall da mirae alimentos.
Nenhuma das duas esperava aquela resposta. Si-young achou que aquele seria o segredinho deles por mais alguns séculos, só o senhor Park sabia, e ela mal sabia como.
—— Sou casado com a Kiki.
Do-hee se virou para a amiga ainda mais chocada, vendo a guardiã que tinha os olhos arregalados. A humana ofegou, unindo vários detalhes que já havia notado, mas ignorava.
A maneira como eles se entendiam, não era só protegido e protetora. Ele cuidava dela da mesma que a Ki o fazia, com tanto carinho e cumplicidade, que a Do se sentiu burra de não definir aquilo antes.
—— PORQUE NÃO ME CONTARAM?
Si-young saiu do choque brevemente, se inclinando para frente para espalhar vários tapas no braço do marido, o rosto vermelho de raiva.
—— Nós tentamos ser discretos —— a guardiã cedeu, se sentando novamente —— mas eu tenho um marido tagarela...
••• ••• •••
A humana estava linda, o vestido que Si-young desenhou a deixou radiante, mas havia algo de errado naquilo. Talvez fosse o fato do vestido não ser realmente dela.
Um vestido de noiva é especial, único.
Mas Do-hee nunca se interessou por nada naquela peça, a guardiã fez tudo da maneira que decidiu ser melhor e pronto.
Ela estava bela, mas faltava alguma coisa, porque não parecia ser realmente um casamento.
Kiki usava um terno rosa claro, de três peças e detalhes pratas, um salto alto, e brincos de corações pequenos. Ela havia posado para fotos ao lado dos noivos, sorrindo de forma grandiosa e contente.
Seu coração dividido entre alívio, de saber que poderia oficialmente cuidar dos dois, ou ao menos tentar, e ter ciúmes da ideia de dividir o que antes era só sua atenção.
Havia Ga-young em suas vidas, mas era diferente. Kiki nunca se sentiu ameaçada por ela, mas Do-hee tornava as coisas estranhas desde o primeiro almoço deles, quando nem imaginavam o que aconteceria.
"Os três agirão de comum acordo para cumprimento do contrato."
"As partes A e B, deverão agir como um casal publicamente."
Kiki suspirou.
"A parte C estará por perto sempre que possível."
Ela mordeu o lábio inferior, se perguntando no que aquilo interferia em seu dia a dia. Ela já estava muito próxima deles.
"O contrato acaba quando os acordos forem compridos."
Si-young se levantou junto do Senhor Park, os dois batendo palmas animados para o sim.
Mas algo mudou instantaneamente, Si-young franziu o cenho ao observar aquele casal acima do palco cerimonial.
Havia alguma falha no contrato?
Do-hee seria como sua esposa?
Kiki engoliu os questionamentos, os olhos castanhos observando os convidados.
Havia uma pessoa em específico entre eles, cabelos castanhos ondulados, olhos escuros e unhas longas vermelhas. Estava observando ao casal também, mas não demonstrava qualquer expressão.
A mulher a encarou, com um pequeno sorriso fechado, os olhos calmos e um pequeno sussurro, que só sentiu pelo poder ainda restante em seu corpo.
"Boa sorte."
As palmas continuaram, o casal sorria para os convidados. Mas o noivo também reconheceu aquela figura entre eles, sua testa se franzindo em confusão, porque não entendia o que a lider dos guardiões estava fazendo ali.
Até que engoliu em seco, e seu olhar caiu sobre onde estava Kiki. No passado, porque não havia qualquer sinal da guardiã ali.
Até Breve
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