003
~ Paixões hospitalares ~
A madrugada envolvia a cidade em um manto escuro, enquanto Ki Si-young, normalmente confiante em seus poderes, agora corria pelas ruas com um desespero crescente. A ausência do elo mágico que a conectava a Jeong Gu-won lançava sombras sobre sua segurança, uma sensação desconhecida que se manifestava como um vazio angustiante.
Cada passo de Si-young era uma corrida contra o tempo, uma busca frenética por seu protegido em meio à escuridão da noite. Seus pensamentos oscilavam entre a incerteza e a determinação, enquanto ela tentava entender o que havia acontecido com a conexão que compartilhava com Gu-won.
A incapacidade de se teletransportar ou acessar a mente de Gu-won a deixava vulnerável, uma sensação incomum para a guardiã que sempre soubera se mover com destreza entre os planos físico e mágico. O desespero crescia a cada momento, como se uma parte essencial de sua força tivesse sido arrancada.
Finalmente, o telefone de Si-young vibrou, quebrando o silêncio, o dia já começava a surgir, a transformando em uma bagunça. Ela agarrou o aparelho com mãos trêmulas, vendo o nome de Gu-won piscar na tela. O alívio momentâneo de ouvir a voz dele transformou-se em tensão quando ela atendeu.
—— Gu-won, o que está acontecendo? Onde você está? Por que não consigo me conectar a você?
A voz de Gu-won, normalmente confiante e leve, soava séria e carregada de urgência.
—— Ki, estou no hospital. Algo aconteceu. Preciso que você venha rápido.
O coração de Si-young disparou ao ouvir essas palavras. Um hospital era um lugar que ela raramente visitava, e a ideia de Gu-won estar lá, em meio a humanos e circunstâncias desconhecidas, a deixava ainda mais apreensiva.
Eles só pisavam naquele local em busca de contratos, humanos em desespero.
—— O que aconteceu? Por que não consigo sentir você?—— A ansiedade transbordava na voz de Si-young, ecoando através do telefone. A guardiã já acenava para um taxi, visando uma troca de roupas antes.
Gu-won suspirou do outro lado da linha, um suspiro que continha uma mistura de desconforto e explicação.
—— Algo alterou nossa ligação, Si-young. Eu não consigo explicar agora, mas preciso que venha até aqui. Há algo que você precisa saber.
Si-young, embora preocupada, afastou as dúvidas e focou na urgência da situação.
Principalmente ao sentir, que ainda estava ligada a alguém. Mesmo que não fosse ele.
—— Estou indo para aí, Gu-won. Fique onde está.
A ligação terminou, e Si-young, com determinação renovada, começou a correr na direção do hospital. Cada passo era uma batalha contra a angústia que a envolvia, uma mistura de medo do desconhecido e a necessidade de proteger aquele que sempre fora seu protegido.
Ao chegar ao hospital, Si-young encontrou Gu-won em uma sala de espera, seu olhar sério contrastando com a habitual expressão descontraída. Ele se levantou quando a viu, e Si-young, sem hesitar, avançou para abraçá-lo, buscando a segurança de sua presença.
—— O que aconteceu, Gu-won? Por que não pude sentir você? —— A preocupação impregnava as palavras de Si-young enquanto ela segurava Gu-won como se dependesse daquilo.
O demônio a segurou com atenção, antes de puxá-la até um dos quartos. A guardiã observou o local com desgosto, as cores a deixando subitamente mal, arrumou seu conjunto marrom com cuidado, antes de arregalar os olhos para a pessoa que dormia na maca hospitalar.
Seu pulso formigou, como quando conheceu Gu-won, e ela franziu a testa.
—— Porque Do Do-hee, esta aqui?
Gu-won engoliu em seco, antes de agir como um garoto desesperado, ele não estava pronto para a grande bronca que levaria de sua guardiã.
—— Perdi minha tatuagem.
Si-young buscou um sinal de brincadeira, encontrando apenas confusão no amigo. Ela olhou para o pulso dele, e de repente sentiu a familitar coceira da magia agindo dentro dela, a levando a andar em passos rápidos até a humana.
A mulher achou a tatuagem no pulso da outra, segurando-o com delicadeza. Naturalmente se sentindo ainda mais atraída por Do Do-hee, ela afastou alguns fios de cabelo do rosto da humana, um pequeno sorriso enfeitando seu rosto, antes de se voltar para o amigo com seriedade.
A Ki apontou para fora do quarto. Para onde Gu-won seguiu contrariado, ela queria bater nele, até que todo seu ego sobre-humano fosse enterrado.
—— Já volto, humaninha —— prometeu, soltando o pulso da Do, que começou a se agitar no sonho imediatamente.
Si-young saiu do quarto, sentindo um pequeno vazio momentâneo, antes de encontrar seu protegido, que fechou os olhos, se encolhendo contra a parede, antes dela o acertar várias vezes contra os braços e peito.
—— Pare com isso, Ki —— pediu sem fôlego, a guardiã o socou no peito novamente, os olhos brilhando em fúria, ele estremeceu —— Não me lembrava de você tão forte.
—— Porque você não tem poderes agora —— rebateu, levantando o mão novamente.
Gu-won voltou a se encolher, causando um riso em uma enfermeira que passava. Possivelmente achando ser uma briga de casal.
—— Sou seu marido, não deveria estar me agredindo.
Ki Si-young revirou os olhos. De repente amaldiçoando o ano de 78, quando decidiu aceitar o plano do protegido.
—— Você só lembra disso, quando te convém —— esnobou, cruzando os braços —— Explica como nos meteu nessa enrascada.
—— Você esta tão lin-
—— Agora!
—— Tudo bem...
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Sua testa franziu em confusão, e seu corpo tensionou quando Jeong Gu-won avançou sobre a humana, recém acordada. Usando seu próprio lenço para auxiliar a mulher confusa
Do-hee inclinou a cabeça para o lado, na tentativa de entender o que se passava diante seus olhos, que pararam na guardiã, sentada na poltrona a alguns passos dela. Si-young sorriu de forma graciosa, acenando para a humana, que retribuiu sem graça.
—— Relaxa um pouco, seu pesadelo já terminou.
Ki jogou a cabeça para trás na poltrona, sabendo que ele estava tentando criar laços com a humana que tinha sua tatuagem.
A Sra Shi, secretária de Do-hee, pareceu até mesmo tocada com o ato dele, forçando Si-young a olhar para outro lado, evitando uma risada escandalosa, que não combinaria com o ambiente. Ela estava ali como uma amiga de ambas 'vítimas', e deveria apresentar apenas preocupação e cautela.
Jeong Gu-won avançou novamente, ignorando os olhares raivosos da guardiã, tocando e empurrando a humana para a maca, como se ela fosse uma boneca sensível.
—— Deixe ela —— disse suave, por mais que estivesse a um passo de enfiar uma caneta nos olhos dele. —— Está a perturbando.
Do-hee voltou a encará-la, quando a mulher de levantou da poltrona, ela ficou ali a maior parte da conversa, evitando que sua terrível dor de cabeça aumentasse.
—— Mas o que aconteceu ontem à noite? E porque Si-young esta aqui? Não que eu esteja reclamando de tê-la aqui...
—— Não se lembra? —— preocupação atingiu a voz da Ki, sendo agora sua vez de segurar o pulso da humana.
O coração da humana saltou, observando seu pulso com total estranheza e calafrio. Seus olhos se fixaram na pequena tatuagem ali, e ela desviou do toque da guardiã, antes de surtar pela novidade.
—— Porque ela não sai? Vou retirar com laser.
—— Não vai funcionar —— a voz da Ki sobressaiu a dos dois, parando a conversa de porquinhos e sumiço —— Não é uma tatuagem comum.
Do-hee se estressou com tantas ordens e com a falta de espaço pessoal, erguendo o braço para bater em Gu-won. O demônio, tendo acesso aos seus poderes originais, a prendeu no local.
—— Mas o que tá acontecendo?
—— Senhor —— Si-young pediu, olhando para o teto, suas mãos unidas como uma oração —— Eles vão me matar, sei que não sou a melhor criatura que colocou na terra, mas mereço mesmo tanta provação?
O som de um grande tapa chamou sua atenção, e ela entendeu aquilo como um não.
Si-young ignorou o protegido, seguindo para Do-hee com rapidez, segurando os ombros da humana e a puxando para si. A Do sentiu suas bochechas ganhar cor novamente, e a Ki achou adorável, enquanto ela tentava explicar que não queria usar tanta força.
—— Eu sei —— garantiu com suavidade, esfregando o ombro da humana com carinho —— se quiser bater nele mais uma vez, estou no apoio.
—— Como é?
—— Muito obrigada —— sorriu a de cabelos longos, um sorriso de zombaria para o demônio, que ainda segurava o rosto com descrença —— gosto da sua amiga, vou roubar para mim.
—— Ela é minha!
—— Não, não sou —— disse simples, voltando para Do-hee com um grande sorriso —— Pode me levar para onde quiser.
Do-hee acenou, lançando outro olhar de zombaria ao homem, e se aproximar mais da Si-young.
—— Eu não deveria ter te salvado —— Gu-won exclamou, voltando a se aproximar delas —— salvei sua vida, você pega a minha tatuagem e a minha amiga.
Si-young empurrou o corpo da humana para trás do seu, encarando o demônio com seriedade. Enquanto Do-hee falava que deveria tê-lo deixado para os peixes, ganhando uma pequena risada da Ki.
—— Os humanos estão aqui —— avisou, antes de se sentar aos pés da cama, para ver o médico entrar na sala.
Ela estava se sentindo estranha. Sem os poderes de Gu-won, era uma guardiã comum, sem muito extraordinário, mas estava achando muito engraçada a interação entre seu antigo protegido e a nova protegida.
—— Senhorita Do, fique longe dos laser e porquinhos —— Guwon avisou, seus olhos parando na guardiã, que permanecia sentada aos pés da maca, segurando o pulso de Do-hee com carinho —— Você vem?
—— Não vou a lugar nenhum com você —— disse honesta, mas soltou o pulso da humana, e saltou para o chão, pegando sua bolsa —— Tenho que resolver uma bagunça Do-hee —— ela se voltou para a mulher na cama, que ficou momentaneamente perdida —— mas nos encontramos em breve?
—— É- Claro.
—— Ótimo —— Si-young sorriu, sabendo que iria deixar a mulher desestabilizada, antes de se inclinar e deixar um beijo suave na bochecha da humana, contente em ver a nova vermelhidão ali —— até...
A saída do hospital deixou um rastro de tensão e frustração para Ki Si-young. Ignorando Jeon Gu-won, que tentava se explicar, ela dirigiu-se à sua galeria, um refúgio onde as expressões artísticas se misturavam à moda e à beleza. O ambiente pulsava com a energia vibrante das lojas de arte, exposições de quadros e boutiques de moda que compartilhavam o mesmo espaço.
Ao chegar em seu escritório, Si-young cumprimentou seus funcionários com sorrisos polidos e palavras gentis. Era habilidosa em manter uma fachada de normalidade, mesmo quando seu mundo interior estava em tumulto. A porta fechou-se atrás dela, e o suspiro exausto escapou de seus lábios enquanto se dirigia à poltrona.
Sentindo o peso do cansaço físico e emocional, Si-young considerou a tentação de se entregar ao sono reparador da tarde. No entanto, a responsabilidade de uma guardiã falava mais alto, e ela sabia que havia questões importantes a serem enfrentadas.
Aguardando o silêncio do escritório, Si-young pegou seu celular e discou para Min Saelin, uma das poucas amigas guardiãs que compartilhava seus ideais de retidão e dever. A chamada foi atendida com a voz calma e controlada de Min Saelin.
Elas se conheciam a anos. Haviam sido treinadas juntas e eram distintas. Uma conquistadora e uma romântica por natureza.
—— Oi, Saelin. Sou eu, Si-young. Eu sei que você está sempre ocupada, mas preciso conversar sobre algo urgente.
A voz de Min Saelin respondeu prontamente, refletindo a confiança e a seriedade que ela sempre transmitia.
Conseguia ouvir risadas altas de fundo, e uma música alta. Apesar disso, a Ki sabia que ela estaria sorrindo.
—— Oi, Si-young. Sempre há tempo para uma amiga. —— ela ouviu passos se afastando —— O que aconteceu?
Si-young respirou fundo, preparando-se para compartilhar o tumulto recente em sua vida.
—— Eu tive um encontro com a guardiã mais velha, algo estranho aconteceu, e agora estou enfrentando questões complexas.
Min Saelin, sempre atenta, perguntou com curiosidade contida. Talvez estivesse observando seu protegido ao longe, já que a Ki não ouvia mais risadas.
—— O que exatamente está acontecendo, Si-young?
Si-young explicou a situação, desde a ligação interrompida com Gu-won até a transferência dos poderes demoníacos para Do Do-hee. Min Saelin escutou em silêncio, absorvendo cada detalhe antes de responder.
—— Isso é realmente incomum, Ki. A interação entre humanos e seres sobrenaturais é sempre um território delicado. —— brincou, mesmo que sincera —— Mas sobre proteger duas pessoas ao mesmo tempo, não é algo que normalmente aconteça. Pode ser um desafio, mas como guardiã, você possui a força para enfrentá-lo.
Si-young assentiu, apreciando as palavras ponderadas de Min Saelin. O otimismo da amiga a fazendo sorrir para o aparelho eletrônico.
—— Eu sei que sou capaz, mas é diferente desta vez. E quanto aos poderes de Gu-won? Como isso pode acontecer?
Min Saelin pausou antes de responder, escolhendo cuidadosamente as palavras.
——O equilíbrio entre os planos é uma dança delicada. Às vezes, eventos imprevisíveis podem causar alterações. Talvez a transferência de poderes seja uma consequência desse desequilíbrio. Você precisa entender melhor as motivações por trás disso.
Si-young suspirou, sentindo a complexidade da situação se aprofundar ainda mais. Ela queria que sua amiga estivesse ali, a sua frente, sabendo que iria ganhar um abraço apertado.
—— Tente compreender o lado dele, mas não hesite em proteger aqueles que você jurou defender. Às vezes, os laços mais fortes são aqueles que enfrentam desafios juntos.
Si-young agradeceu a amiga pelas palavras sábias e desligou o telefone, sabendo que a jornada à frente seria complicada, mas ela estava determinada a enfrentar os desafios e proteger aqueles que eram importantes para ela.
Sua mão alcançou o telefone da mesa, discando o número que a ligava com a secretária ao lado de fora, sabendo o que deveria fazer dali em diante.
—— Preciso que marque uma reunião com Do Do-hee, CEO da Mirae Alimentos. Diga que podemos ajuda-la com marketing digital e propagandas.
Olá pessoas.
Feliz ano novo!!!
Quem conhece minhas outras fics sabe bem quem é Min Saelin, e quem deve ser o protegido dela...
Beijos
BlackTurion
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