5-
Chegamos em casa, meu pai foi para o apartamento do Miguel e bateu na porta, que logo foi aberta por ele.
—Oi sensei. O que foi?—perguntou o Miguel, ele parecia chateado.
—Vamo dar uma volta?—perguntou o meu pai.
O Miguel aceitou e fomos até uma lanchonete em frente a um hospital, pedimos hambúrgueres, meu pai e o Miguel pediram refrigerante e eu pedi um suco de laranja.
—Bom né?—perguntou o meu pai sobre o hambúrguer.
—É.—concordou o Miguel.
—O segredo é a cebola picada, aqui tudo é simples. Nada de vegetariano.—disse o meu pai, eu achei que ele explicaria sobre o Robby, não que falaria de hambúrguer. —Uma grelha quente e uma boa carne. Tá vendo aquele prédio ali?—disse se referindo ao hospital.
—O hospital?—perguntou o Miguel.
—Foi ali que o Robby nasceu. Quatro de fevereiro de 2002.
Aposto que ele nem sabe o dia do meu aniversário, quem dirá aonde eu nasci.
—Era uma segunda feira. A mãe ficou em trabalho de parto por 17 horas.
—Deve ter sido uma loucura.—eu disse.
—É deve ter sido. Eu não tava lá. Minha mãe tinha acabado de morrer. Eu tava bem zoado. Eu não conheci o meu pai, eu só tinha ela. Ai eu descobri que ia ser pai. E eu fiquei apavorado. Então, em vez de estar lá em cima dando as boas vindas para o meu filho, eu tava aqui em baixo curando uma ressaca de três dias, tentando criar coragem para atravessar a rua. Eu nunca cheguei lá. Eu falhei com meu filho no primeiro dia dele nesse mundo. E continuo falhando com ele até hoje.
—Sensei isso é pessoal, você não precisa me contar.—disse o Miguel.
—Não, eu... já devia ter te contado. É uma das piores coisas da minha vida. Mas umas das melhores foi ensinar você.—disse meu pai, e eu revirei os olhos de leve, ele trata o Miguel como um filho mas do que eu. —E quero que sabia que, aconteça o que acontecer, eu prometo... que vou estar sempre do seu lado.
Por que eu aceitei vir aqui?
—Eu sempre vou querer o melhor pra você.
—Valeu.—disse o Miguel.
Estava um climão, eu sobrando, o Miguel com uma cara triste e alegre ao mesmo tempo, e meu pai raciocinando tudo que acabou te falar. O clima foi "interrompido" pelo meu celular e o de Miguel vibrarem.
—É a Aisha.—disse olhando a mensagem que ela tinha mandado no grupo do Cobra Kai.
—Ela ficou sabendo que o Miyagi-Do vai fazer uma apresentação no festival.—completou o Miguel.
—Ah vai é.
(...)
Depois de voltarmos para a casa meu pai anunciou que faríamos uma apresentação também, então ficamos um bom tempo ensaindo para sair tudo sincronizado. Meu pai também pediu pra levar o kimono preto pra apresentação, mas eu não tinha o que era um bom motivo pra eu não participar já que eu não queria.
—Por favor, pai.—continuei insistindo para ele deixar eu ficar de fora.
—Você é minha filha, tem que estar lá.—disse meu pai e eu revirei os olhos, nessas horas ele lembra de mim.
—Mas eu nem tenho esse kimono preto que vocês estão falando.
—Eu já cuidei disso.—disse o Miguel. —O Falcão tem dois kimono pretos, ele disse que pode te emprestar e acho que o tamanho da certo.
—Por que ele tem dois kimonos?
—Beleza, nós te deixamos na casa dele, você se arruma e nos encontramos no festival.
—Tenho outra escolha?—perguntei já desistindo.
—Não.—respondeu meu pai simples.
—Ta esperai aí então.—entrei no meu quarto e peguei algumas coisas, um top, um short de academia, e algumas coisas de maquiagem—Vamos?
Chegamos na casa do Falcão, o Miguel e meu pai não esperaram nem ele atender a porta pra já irem embora.
Toquei a campainha e ele logo abriu a porta, o moicano estava desfeito, ele estava sem camiseta e com uma calça de moletom preta.
—Acho que você desconhece a vestimenta chamada camiseta.—disse com um sorriso forçado.
—Oi pra você também.—respondeu o Falcão dando um espaço pra mim entrar. —Só subir pro meu quarto.
—Eu não sei aonde é o seu quarto. —Ele passou por mim revirando os olhos e subiu até as escadas.
O quarto dele era até que bonito, tinha alguém pôsteres e a led azul estava ligada.
—Pronto.—Falcão disse fechando a porta. —Aqui está o kimono, se ficar grande a gente pede pra minha mãe apertar um pouco. O banheiro é ali.—ele apontou para uma porta
—Valeu.—disse indo em direção ao banheiro, eu entrei, antes de eu fechar a porta observei ele pegar os pesos e começar a se exercitar.
—Cuidado pra não babar.—ele disse dando um sorriso convencido.
—Você é muito convencido né?—disse fechando a porta do banheiro.
Tirei a camiseta e ouvi ele bater na porta. Abri sem deixar que ele visse nada de mais.
—O que foi?—perguntei com cara de tédio.
—Primeiro, da pra te ver pelo espelho então dá pra abrir a porta inteira? E eu também já te vi de biquíni.
—Tarado.—murmurei abrindo o resto da perta.
—Me passa aquilo ali.—disse apontando para um negócio de cabelo.
—Toma.—disse entregando pra ele.—só isso?
—É valeu.
Ele saiu e eu continuei a me vestir. A roupa ficou muito muito grande. Merda!
—O kimono ficou grande pra caralho —disse saindo do banheiro. —Por favor não me faz ter que conhecer a sua mãe.
—Merda!—ele disse vindo até mim e olhando o kimono. —Vou tentar dar um jeito.
Depois de um bom tempo sendo espetada com um alfinete ele conseguiu dar um jeito e até que não ficou tão ruim.
—Você já está pronta? —o Falcão perguntou.
—Só falta eu fazer uma maquiagem.—respondi
—Beleza, enquanto você faz isso eu vou terminar o moicano.
Foi aí que eu percebi que ele estava com o cabelo todo estranho, umas partes levantadas e outras normais.
Concentrei em fazer minha maquiagem, passei um pouco de corretivo, e rímel. Não gostava muito de maquiagem.
—Tô pronta, e você?
—Também.—respondeu o Falcão passando a mão no moicano.
Descemos e fomos para o carro dele. Não falamos nada praticamente no caminho inteiro. Encostei minha cabeça na janela para observar as ruas movimentadas enquanto lembrava de tudo o que aconteceu hoje lá na lanchonete.
—Já chegamos. Ei Olivia, você tá bem?—Falcão tocou meu ombro e eu me assustei.
—Ah o que foi?
—Já chegamos.—Falcão tirou o cinto e eu fiz o mesmo.
Descemos do carro e fomos andando até onde estavam os outros alunos.
—Você tá bem mesmo? Tava estranha lá no carro.
—É só o meu pai. O jeito que ele olha para o Miguel como se ele fosse mais filho dele do que eu. Hoje saímos com o Miguel e sabe o que ele disse para ele? "Eu quero que sabia que acontecer o que acontecer eu prometo que vou estar sempre do seu lado" Eu não ligo dele falar isso para o Miguel. Mas porra... aposto que ele nem sabe o dia do meu aniversário.
—Porra... isso é uma merda.—disse o Falcão.
—Eu não sei nem porque eu tô te contando isso.
—Somos amigos agora, eu acho. Pode contar essas coisas se você quiser—Ele sorriu amigavelmente e eu sorri de volta.
—Vocês demoraram.— Sensei disse assim que nos viu.
—A culpa não é minha se o kimono era imenso.
—Vai. Em formação. Daqui a pouco já vamos entrar.—gritou o sensei.
Olhei para o outro palco, o Miyagi-Do estava dando uma apresentação super entediante.
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