#10
☞ " #010/ Vestido.', ও
Eu me olhei no espelho pela décima vez e me senti como uma personagem de um filme em que, no final, a protagonista encontra o vestido perfeito e tudo se resolve. Só que no meu caso, não havia um final feliz garantido. Não havia "aquela" música tocando ao fundo enquanto eu girava, de cabelo solto e com um sorriso radiante. Não, só havia eu, uma pilha de vestidos e um constante sentimento de que nada estava certo.
— Lexie, para de ficar se criticando! — Maju disse do outro lado da cortina, praticamente arrancando as palavras da minha cabeça. Ela estava sentada em uma das cadeiras da loja, olhando pacientemente para mim, mas com um sorriso de quem sabia exatamente o que estava fazendo. — Esse vestido é incrível. Se não fosse tão sensível, eu diria que ele foi feito para você.
Eu dei uma olhada rápida no espelho.
O vestido azul-marinho tinha um corte simples, elegante. Mas parecia que ele não me dizia nada. Eu não sentia aquele frio na barriga que todo mundo dizia que deveria sentir quando encontrava a roupa certa. Na verdade, parecia que ele me engolia — o tecido me achava pequena, como se eu fosse uma pessoa completamente diferente.
— Eu sei que estou parecendo uma pessoa chata, mas é que eu não sei. Nada parece certo — falei, tentando ajustar a saia do vestido, como se isso fosse fazer uma diferença mágica.
Maju fez um gesto de impaciência, levantando-se da cadeira.
— Lexie, você está fazendo de novo! — ela disse com uma expressão quase exagerada. — Olha para você mesma, por favor. Você está linda! Vamos lá, um vestido não vai fazer você se transformar em outra pessoa.
Eu soltei um suspiro longo e deixei o vestido de lado. "Tira e experimenta o próximo", ela disse. Mas o que Maju não entendia é que esse "próximo" não parecia ser tão diferente do anterior. Já tinha sido assim a tarde inteira — uma sucessão de vestidos que não se encaixavam bem, que não me deixavam empolgada.
— Você realmente acha que um vestido vai me deixar mais animada para a festa? — perguntei, meio sem jeito. Eu estava começando a me sentir ridícula, mas ao mesmo tempo, era difícil não pensar na pressão. O aniversário da Maju era importante, claro, mas o que me incomodava era o fato de que todos os outros estavam com expectativa de que eu estivesse animada. Como se isso fosse algo fácil de sentir.
Minha melhor amiga fez uma careta, como se eu tivesse dito algo completamente sem sentido.
— Você está ficando muito neurótica com isso, Lex. Eu te chamei para essa loja porque sei que você vai encontrar algo lindo. E a festa não vai ser sobre o vestido, vai ser sobre você se divertir. E você sabe que o Ollie vai ficar morrendo de vergonha, então tem que estar incrível pra dar o troco! — Maju fez uma pausa dramática e sorriu com malícia. — E vai por mim: ele vai ter que lidar com você. Agora, anda logo, coloca o próximo. Eu quero ver você brilhar.
Eu sabia que Maju estava tentando me animar, mas parte de mim ainda estava desconfortável. Ela parecia saber o que fazer, o que dizer, mas eu sentia que esse tipo de coisa, esse tipo de "brilho", era algo que eu não conseguia encontrar tão facilmente.
Respirei fundo e comecei a tirar o vestido azul-marinho, ouvindo Maju ainda falando lá fora, tentando fazer piadas, tentando me distrair. Mas minha mente estava em outro lugar — no que quer que acontecesse naquela noite.
Eu estava pensando no que seria de mim naquele aniversário, se meu sorriso iria ser suficiente para cobrir a ansiedade que eu estava sentindo por dentro.
E como eu ia me sentir com Ollie lá, com aquele jeito de quem sempre sabe mais do que eu? Sempre aquele irmão mais velho, e ao mesmo tempo, um amigo com quem eu me sentia tão à vontade, mas tão confusa...
Tirei o vestido e peguei o próximo da pilha. Ele era preto com brilho leve, mais ousado, e tinha um decote em V mais profundo do que eu normalmente escolheria. Tentei colocá-lo com um pouco de hesitação, mas quando o vi no espelho, algo parecia diferente. Eu ainda não estava com aquele sentimento de "uau", mas pelo menos, a peça parecia me dar mais confiança. Era mais eu. Sim, era mais ousado do que eu costumava ser, mas talvez fosse exatamente o que eu precisava. Algo fora da minha zona de conforto.
— E aí, o que acha? — Maju entrou na cabine, parecendo mais empolgada do que eu. Ela me deu uma olhada de cima a baixo, os olhos brilhando. — Eu sabia! Você ficou ótima! Está sexy, mas sem exagero. E o melhor, tem a ver com você! Se não me convencer de que vai arrasar na festa agora, vou ter que chamar o Ollie para fazer o trabalho sujo!
Eu olhei para o espelho mais uma vez, e pela primeira vez naquela tarde, algo dentro de mim despertou. Talvez fosse o tom do vestido, talvez fosse a maneira como ele se ajustava ao meu corpo, talvez fosse só o fato de que eu finalmente estava me sentindo um pouco mais eu mesma naquela noite.
— Ok, você ganhou. Eu vou ficar com esse. — Dei um sorriso meio tímido, mas satisfeita, ao olhar para Maju. — Vamos arrasar, então. Vamos mostrar para todo mundo que eu sei como me divertir também.
Aconteça o que acontecer naquela festa, eu finalmente estava pronta para enfrentá-la.
[...]
A porta do meu quarto se abriu com um estalo, e a voz de Franco, meu irmão, ecoou no corredor.
— Lexie, você não vai se atrasar, vai? — Ele entrou de forma tranquila, jogando um olhar rápido na minha direção antes de pegar um casaco. — Maju vai me matar se você não aparecer a tempo.
Eu dei uma risada curta, tentando esconder a tensão.
— Estou quase pronta — respondi, sem desviar o olhar do espelho. Mas então, o vi parado ali, com aquele sorriso de quem sabia que eu estava nervosa, mesmo sem eu dizer uma palavra.
Franco, com seu jeito tranquilo e observador, passou uma mão pelos cabelos e então deu um passo em direção a mim. Ele olhou para o meu reflexo e fez uma careta, como se estivesse considerando a situação.
— Você está bem, Lexizinha? Porque eu sei que você está preocupada com alguma coisa — ele disse, suavemente. Não precisava dizer mais nada. Eu sabia que ele me conhecia bem o suficiente para perceber quando algo estava fora do lugar.
Eu respirei fundo, finalmente me virando para encará-lo, tentando aliviar a tensão que se formava no meu peito.
— Não é nada. — falei, tentando soar mais descontraída do que realmente me sentia. Mas, apesar de tudo, Franco sempre tinha esse jeito de me fazer sentir que não precisava de um "disfarce". Ele me conhecia, sem julgamentos.
Franco riu baixinho e deu um passo mais perto, colocando uma mão no meu ombro.
— Olha, você vai se divertir, e se não se divertir, vai ser porque você não quis. E quem está dizendo isso sou eu, o cara que sempre se esconde das festas, lembra? — era definitivamente mentira — Só... relaxa e curte. Ninguém espera nada de você, além de ser você mesma.
Eu respirei fundo, tentando seguir o conselho. Ele tinha razão. Eu estava me cobrando mais do que precisava. Maju queria ver sua melhor amiga se divertindo, não uma versão de mim que estava tentando agradar aos outros.
— Eu sei... obrigada. — Sorri, mais genuinamente agora. Eu sempre soube que podia contar com ele para me colocar no eixo, mesmo quando eu estava cheia de inseguranças.
Ele levantou uma sobrancelha, com aquele sorriso de quem estava se divertindo mais do que deveria.
— Vê se se diverte, não quero uma irmã nerd lendo livros em plena festa!
Eu ri e dei-lhe um empurrão leve.
Franco sabia exatamente o que dizer para me fazer sorrir, como se soubesse que a leveza era o que eu mais precisava naquele momento.
— Vou, vou — falei, ajeitando o vestido e sentindo a pressão diminuir um pouco. — Mas não se esqueça: a missão de hoje é garantir que Maju tenha a festa que ela merece, sem drama. Nem todo mundo precisa ver o quanto estou me enrolando por dentro, ok?
Franco sorriu, aparentemente satisfeito com a minha resposta.
— Combinado. Agora vai, se você não aparecer em dez minutos, o Ollie vai achar que você se perdeu no caminho.
Saí do meu quarto, sentindo a tensão se desfazer aos poucos. Mesmo com todas as dúvidas e os medos sobre a noite, uma parte de mim estava começando a se convencer de que era só uma festa, e que não havia razão para se preocupar tanto.
Eu não precisava ser perfeita. Eu só precisava ser eu mesma.
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