005.
☞ " #005
Lexie Colapinto estava na cozinha, mexendo distraidamente em uma xícara de chá, o aroma suave do chá de camomila preenchendo o ambiente.
Ela tinha o hábito de fazer isso nos momentos em que queria estar sozinha, ainda que, ironicamente, o silêncio da casa raramente fosse absoluto. A grande casa, com seu design moderno e impessoal, ainda tinha algo acolhedor que Franco soubera cultivar. Mas agora, com Ollie morando lá, a dinâmica havia mudado. Não que fosse algo ruim, mas era... diferente. De uma maneira que Lexie ainda não conseguia identificar.
Desde que Ollie Bearman se mudara para lá, a relação deles não era exatamente confortável, mas também não era distante. Era uma relação de convivência forçada, onde as palavras não ditas pesavam mais do que os gestos.
Ollie, que sempre parecera extrovertido e jovial nas poucas vezes que se cruzaram antes, agora se mostrava mais introspectivo e um pouco mais responsável. Algo, talvez, tivesse mudado nele desde que se mudara para a casa de Franco e Lexie.
Mas ela ainda não conseguia ver totalmente onde ele se encaixava em sua vida. Ele sempre fora o melhor amigo de Franco.
Naquela manhã, Franco estava saindo para mais um compromisso de corrida, e Ollie estava sentado na sala, assistindo a um vídeo de uma corrida recente. Ele parecia absorto, mas Lexie sabia que, por mais que estivesse tentando se distrair, havia algo mais ali, algo que ele ainda não tinha se permitido mostrar.
Ela colocou a xícara de chá sobre a mesa e, com um suspiro, decidiu quebrar o silêncio.
— Eu acho que você já conhece a casa o suficiente para não ficar assistindo corridas o dia inteiro, né? — disse Lexie, tentando não soar ríspida. Ela se aproximou da janela, olhando para fora, onde o sol começava a esquentar o dia.
— É... você tem razão. Mas, sinceramente, me ajuda a... sei lá, sair do tédio. — Ollie levantou os olhos para ela, um sorriso leve, quase forçado, apareceu em seu rosto.
— A pelo amor, tédio? Com o dinheiro que tem na sua carteira. — Ela se virou para ele, os olhos estreitos de curiosidade.
— E se eu estiver falindo, hein?
Lexie ficou quieta por um momento, pensando em como responder
Ela se aproximou dele, agora mais suave.
— Eu posso expulsar você de casa por não dividir o aluguel.
Ollie a olhou, como se tentasse entender o que ela queria dizer.
— Eu já moro a um mês nessa a dois nessa casa, minha presença já é costume. — Lexie sorriu, levemente, mas ainda com um revirar de olhos.
— Costume nada, não aguento mais ver cuecas no cesto de lavar. — Ela fez uma pausa.
— Minhas cuecas são limpas e bonitas, você não pode argumentar. — Respondeu, cruzando os braços e direcionando uma piscada.
— Sonha, sr.cueca fedida freada.
Nesse momento, o telefone de Lexie tocou, interrompendo o que parecia ser um raro momento de conexão entre eles. Ela atendeu rapidamente, mas a voz do outro lado era fraca e ansiosa, o que fez seu olhar se distorcer em preocupação.
— O que aconteceu? — Ollie perguntou, notando a mudança na expressão dela.
Lexie fez um gesto de "calma" com a mão, antes de responder ao telefone: "Sim, estou indo agora." Ela desligou, o rosto pálido e apreensivo.
— Problemas? — Ollie perguntou, embora já soubesse que a resposta seria sim. Franco sempre estava no centro de algum problema ou imprevisto.
— Problemas femininos — Ela percebe Ollie arregalar os olhos, então rapidamente nega com a cabeça — Não isso! Minha amiga precisa que eu passe na farmácia. — Ela pegou a bolsa rapidamente.
Ollie ficou parado, observando Lexie pegar suas coisas. Ele nunca tinha visto uma preocupação tão genuína em seus olhos antes.
— Quer que eu te acompanhe até lá? — ele perguntou, sem pensar.
Lexie olhou para ele, surpresa com a oferta. Ollie nunca se oferecera para fazer algo sem que houvesse algum interesse oculto. Ela hesitou por um instante, mas, ao ver que ele estava sendo genuíno, aceitou.
— Sim, por favor. Não quero ir sozinha — disse ela, com um sorriso de agradecimento, embora seus olhos ainda estivessem carregados de preocupação.
— Você não é tão ruim assim, Ollie — Lexie disse, com um sorriso leve.
Ele deu uma risada baixa.
— Obrigado, Lexie. Talvez... esteja começando a aprender.
Ela olhou para ele, com um olhar que dizia mais do que qualquer palavra. Eles estavam começando a entender um ao outro. E, talvez, fosse isso o começo de uma amizade que eles jamais esperavam ter.
[...]
A farmácia estava a uma quadra de distância, mas antes de entrarem, Lexie parou em frente a uma pequena cafeteria. O aroma de café recém-feito invadiu o ar, e ela olhou para Ollie.
— Você toma um café? — perguntou, desconcertada com a própria oferta. Não era comum ela convidar alguém para um simples café.
Ollie hesitou por um momento, mas a ideia de continuar a conversa com ela, longe da pressão de estar em casa, lhe pareceu interessante.
— Pode ser. — Ele respondeu, com um meio sorriso. — Mas não posso prometer que vou parecer o tipo de pessoa que aprecia essas coisas de café.
Lexie riu, um som leve que fez Ollie se sentir um pouco mais à vontade. Eles entraram na cafeteria, e o ambiente estava tranquilo, com poucas pessoas. Encontraram uma mesa perto da janela e se sentaram.
— O que você vai pedir? — Ollie perguntou, olhando para o cardápio que estava na parede.
— Um cappuccino, talvez. — Lexie respondeu, sem muita certeza. Ela não costumava pedir algo tão simples, mas estava em um humor diferente naquele dia. — E você?
Ollie olhou para o cardápio por mais um segundo, antes de responder com um tom brincalhão:
— Vou no básico: café preto. Sem frescura.
Lexie sorriu. Às vezes, Ollie parecia mais simples do que ele realmente era. Ou talvez fosse o contrário. Ela não sabia dizer. Eles fizeram o pedido e ficaram em silêncio enquanto aguardavam as bebidas.
— Sabe, eu não te conheço muito bem — Lexie disse depois de um tempo, olhando para Ollie com uma expressão mais séria. — Mas às vezes, parece que você tem mais peso nas costas do que está disposto a admitir.
Ollie baixou o olhar, tocando a borda da xícara que estava à sua frente. Ele não estava pronto para abrir completamente, mas, de algum modo, sentia que o momento pedia isso.
— Seila, eu só me jogo nas oportunidades, inclusive quando falamos de ... — Nisso Lexie o interrompe, guspindo um pouco do café.
— PORNO? — Falou, rindo. Ela era desse jeito, sempre acrescentando falas desajeitadas em meio de assuntos sérios.
— Fala sério, Colapinto. Ta me chamando de tarado? — Ollie levantou os olhos para ela, a expressão um pouco desconcertada.
— Você é homem, eu não poderia perder a oportunidade.
— Respondeu, mandando um beijo ao ar
Eles ficaram ali por mais alguns minutos, os dois imersos em risadas e rivar de olhos, o tipo de silêncio que não precisa ser quebrado com palavras, mas que ainda assim diz muito.
Quando terminaram o café, Lexie se levantou e olhou para Ollie.
— Vamos lá, a farmácia não vai esperar.
Ele se levantou também, acompanhando-a até a porta.
— Eu.não.vejo.porno — Ele disse, com um tom mais sério, mas ainda caloroso.
Lexie o olhou e, com um sorriso sincero, respondeu:
Uhum.
Enquanto saíam da cafeteria, uma sensação estranha de mudança pairava no ar.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top