(isso aqui é basicamente uma ação dela que eu tinha feito e guardado, mas nunca achei brecha para colocar no rpg(: )

❝⸻ Ray teria acordado durante a madrugada, mais uma vez. Nada fora de sua rotina. Ao acordar, teria se sentado rapidamente sobre a superfície macia do colchão, mantendo seu olhar focado em nada específico.
Outro pesadelo. Daqueles péssimos, mas que você não se lembra ao acordar. Lidava com isto boa parte das noites, tanto que tentava ao menos impedir que acontecesse.

Deveria estar chorando, ao menos era a alternativa mais "viável" para a situação. Mas a algum tempo, já não conseguia realizar tal ato. E era uma péssima sensação.

Soltou um suspiro claramente cansado, voltando a se deitar em sua cama mais uma vez, descoberta mesmo em uma noite tão gélida quanto aquela.
Após aquilo, passou longos minutos olhando para o teto de seu quarto, sem saber no que pensava - isto se pensava em algo - no momento. Às vezes, quando tal coisa acontecia, chegava a se perguntar se teria morrido ou algo do tipo.

Beliscou levemente sua pele um tanto pálida, logo percebendo que a região havia tomado um tom mais avermelhado.
É, ainda estava viva. Só não sabia se por sorte ou azar.

⸺ Tudo bem...

Um de seus sussuros se fez audível no cômodo, praticamente ecoando pelo mesmo. Também estava acostumada com aquilo, o pequeno "eco" do meio da noite, horário quando tudo ficava tão silencioso que qualquer barulho feito poderia ecoar pelo quarto onde estivesse.

Forçou "levemente" as unhas sobre sua pele esbranquiçada e sensível, formando pequenos arranhões ali. Pelo mesmo motivo do belisque que teria dado em si mesma pouco antes.
Repetiu algumas vezes em sua mente que estava bem, tentando de maneira falha se convencer daquilo; mas se não conseguia convencer-se, iria fingir.

Passou o resto da madrugada inteira acordada, se virando de um lado para o outro sobre a sua cama. As vezes se levantando da mesma e indo abrir a janela para olhar o lado de fora.
Nada teria tido resultado, claro. Odiava sua insônia, mas já estava um tanto acostumada com aquilo.

⸺ Ray? Vem tomar café da manhã.

Ouviu a voz de seu irmão mais velho soar do outro lado da parede, de tom gentil e voz um tanto animada. Como sempre.
Haruki sempre se preocupava com seu bem-estar e saúde, apesar de a magoar de vez em quando.

Se virou levemente sobre o colchão, apenas para pegar seu aparelho celular que se encontrava abaixo do travesseiro. Ligou-o e viu a hora que seu visor indicava, desligando o eletrônico em seguida e o devolvendo ao seu lugar. Oito da manhã, fazia tempo que o de cabelos platinados não acordava tão cedo.

⸺ Eu já vou.

Murmurou, porém alto suficiente para que pudessem a ouvir do lado de fora. Uma pequena mentira, mas que não faria mal a ninguém - ao menos, ninguém além de si mesma.
Não levantaria daquela cama por nada, muito menos por Haruki ou qualquer de seus irmãos.

Não estava disposta a levantar-se, era mais fácil simplesmente passar seu dia em um quarto trancado sem fazer nada. E talvez no dia seguinte aquilo fosse diferente.
De qualquer forma, não julgou ser tão ruim passar o dia ali, esperando que algum de seus pensamentos fosse sobre algo interessante, mesmo que pouco provável deixar de "pensar" em simplesmente nada.

Aquilo a agoniava muito, de uma forma até dolorosa e desgastante. Parecia que estava ali, apenas respirando. A única ideia que teria se passado durante a madrugada quase inteira por sua mente, era a de comer doces, o máximo que conseguisse; mas sabia que logo após aquilo teria uma overdose de açúcar e poderia ficar um tanto pior do que já estava.

Os arranhões que fez propositalmente em seu braço começaram a arder, mas agiu como se não fosse nada demais.
Tendo ignorado a pequena ardência - que ia ficando de pouco a pouco maior - em seu braço, voltou seu olhar ao teto. Algumas mechas de seu cabelo negro um tanto bagunçado caíam sobre seu rosto de forma desregulada, algumas delas estando quase sobre seus olhos. Não que se importasse com aquilo também.

Mesmo que não gostasse nada da ideia de admitir aquilo, Ray sentia que desistir daquilo fosse melhor, as vezes tendo até vontade de "finalmente" o fazer. Mas sabia que caso acontecesse, sentiria falta de tudo; das manhãs que passava com os irmãos, de suas conversas com Natasha, e de pessoas em si, como Asta, Raion, dentre outros.
Doía bastante, mas iria sentir falta de tantas coisas. E com certeza não conseguia imaginar como seria caso não pudesse mais ver sua ""garota especial"" e seus dois melhores amigos.

Sinceramente, tudo seria muito melhor caso Ray entendesse quando podia ficar sozinha e tentar lidar com as coisas do seu próprio jeito, ou quando realmente precisava da ajuda de alguém para melhorar. Quando deveria se manter firme apesar de tudo, ou quando precisava apenas desabafar com alguém.
Mas, como sua irmã mais velha costumava dizer, era apenas uma "criança" com uma mente muito bagunçada por coisas te teriam acontecido a tempo demais, e por outras que aconteciam diariamente, porém poderiam ser facilmente evitadas.

﹏﹏﹏

O dia inteiro - e madrugada - de Ray passaram de tal forma; com seus mirantes alaranjados focados em um lugar qualquer, enquanto tentava pensar em algo que não fosse tão deprimente. Sem sucesso. E não poderia fazer nada quanto aquilo, apenas aceitar e esperar que o próximo dia fosse minimamente melhor.
Seus pensamentos continuaram vazios e sem muito rumo, ao mesmo tempo que sentia dor de cabeça pelo fato de somente pensar em uma parcela do que a fazia estar em tal situação. E ainda sim, tentava - mesmo que falhamente - pensar nas coisas boas e mais positivas possíveis.

Não conseguia de qualquer forma, então novamente, cedeu-se a ficar em sua cama durante o resto da noite também, mesmo com o frio que fazia graças ao ar-condicionado ligado a quase dois dias inteiros, seus lábios que já estavam tomados por um azul escuro cujo tom chegava a parecer roxo, abaixo de seus olhos olheiras bem perceptíveis e escuras. Até mesmo seus dedos começavam a ficar com as pontas de coloração um tanto diferente pelo frio que fazia naquele cômodo. Se seu corpo inteiro já estava tão gélido quanto o de um cadáver, quem dirá os objetos e chão de seu quarto - os quais tinham chances mais altas de estarem inclusive um tanto menos frios que a de cabelos negros em si.

E, quando o amanhecer chegou, pela primeira vez em horas a garota teria se levantado. Era daquela forma que deveria ser, afinal também não poderia passar dias e dias trancada em seu quarto.

Após ter tomado um banho e secado seus cabelos, saiu de seu quarto e foi até o andar de baixo, vendo que seus irmãos, ambos os seus dois melhores amigos e Asta estavam na cozinha, alguns comendo o café da manhã enquanto outros o preparavam.

- Bom dia gente! Desculpa o sumiço de ontem, eu tava estudando para uma coisa importante.