11ª Cap- O espelho de Ojesed.

O Natal se aproximava, e certa manhã em meados de dezembro, Hogwarts acordou sob um manto de neve, com mais de um metro cobrindo os terrenos da escola. O castelo, já imponente, parecia agora uma fortaleza encantada, cercada por um deserto branco e silencioso. O lago, que antes refletia o céu como um espelho escuro, havia congelado, transformando-se em uma extensão prateada e reluzente, capturando os fracos raios de sol que conseguiam atravessar as nuvens carregadas. As árvores da Floresta Proibida, pesadas com a neve, inclinavam-se sob o peso, criando arcos naturais que delineavam caminhos misteriosos por entre as sombras geladas.

Os gêmeos Weasley, sempre prontos para uma travessura, aproveitaram o cenário invernal para criar mais um de seus planos mirabolantes. Receberam uma detenção por encantarem bolas de neve que, com uma precisão mágica, seguiram o professor Quirrell por todo o terreno da escola, quicando insistentemente nas costas de seu turbante. Os alunos que testemunharam a cena mal conseguiam conter o riso, e o som das gargalhadas ecoava nos corredores frios, trazendo um pouco de calor ao ambiente gélido.

A paisagem coberta de branco transformou a escola em um cenário mágico, mas também trouxe desafios inesperados. As corujas, responsáveis por entregar correspondências, tiveram dificuldades em voar através das tempestades de neve que cobriam o céu. O vento, carregado de flocos de neve que cortavam como pequenas lâminas de gelo, tornava cada voo uma jornada árdua. Hagrid, com seu coração bondoso e mãos habilidosas, dedicou-se a cuidar das aves exaustas, fornecendo-lhes alimento e abrigo em sua cabana aconchegante até que recuperassem as forças necessárias para retomar suas viagens.

A ansiedade pelas férias de Natal crescia entre os alunos, que mal podiam esperar para se reunirem com suas famílias e escapar do frio intenso de Hogwarts. Embora as chamas ardentes nas lareiras da sala comunal da Sonserina e do Salão Principal proporcionassem algum conforto, elas não conseguiam afastar completamente o frio que se infiltrava pelos corredores. O vento cortante assobiava através das rachaduras nas janelas das salas de aula, fazendo-as estremecerem em resposta. O gelo se acumulava nos peitoris das janelas e nos cantos das paredes, criando padrões delicados e intricados que pareciam verdadeiras obras de arte da natureza.

Nas masmorras, onde as aulas de Poções ocorriam, o frio era ainda mais penetrante. A pedra nua das paredes parecia absorver o calor dos corpos dos alunos, devolvendo-o em um sopro gelado que fazia a pele arrepiar. Durante as aulas, a respiração dos estudantes se transformava em uma névoa diante deles, flutuando no ar frio antes de desaparecer. Todos procuravam ficar o mais próximo possível dos caldeirões fumegantes, usando o calor das poções como uma espécie de aquecedor improvisado. Mesmo ali, onde o trabalho manual exigia concentração e precisão, o inverno havia se instalado com sua beleza gélida e desafiadora, lembrando a todos que a magia de Hogwarts também residia na luta constante contra os elementos, tornando cada dia uma prova de resistência e maravilha.

O Salão Principal estava verdadeiramente espetacular, mergulhado em uma atmosfera mágica e festiva. Festões exuberantes de azevinho e visco adornavam as paredes, proporcionando um aroma suave que se misturava com o cheiro delicioso dos pratos natalinos. Não menos que doze imponentes árvores de Natal ocupavam o espaço, cada uma delas uma obra-prima decorativa. Algumas brilhavam com cristais de neve reluzentes, refletindo a luz das velas que dançavam em castiçais dourados. O ambiente estava repleto de cores festivas, enchendo os corações dos alunos com antecipação e alegria para as celebrações vindouras.

— Quantos dias ainda faltam até as férias? — perguntou Hagrid.

— Um — respondeu Hermione.

— Ah, isso me lembra: Mione, Rony, Harry, faltam meia hora para o almoço. Deveríamos estar na biblioteca.

— Ih, é mesmo — disse Rony, despregando os olhos do Prof. Flitwick, que fazia sair bolhas azuis da ponta da varinha e as levava para os galhos da árvore que acabara de chegar.

— Biblioteca? — espantou-se Hagrid, acompanhando-os para fora da sala. — Na véspera das férias? Não estão estudando demais?

— Ah, não estamos estudando — respondeu Harry, animado. — Desde que você mencionou o Nicolau Flamel, estamos tentando descobrir quem ele é.

— Ah, sim... — a ficha dele caiu — VOCÊS ESTÃO O QUÊ?! — Hagrid parecia chocado. — Ouçam aqui, já disse a vocês, parem com isso. Não é da conta de vocês o que o cão guarda.

— Só queremos saber quem é Nicolau Flamel, só isso — falou Hermione.

— A não ser que você queira nos poupar o trabalho — acrescentou Harry.

— Já devemos ter consultado uns cem livros e não encontramos em lugar nenhum. Sei que já li sobre ele em algum lugar — disse Audrey, pensativa, com um tom de doçura.

— Que tal nos dar uma pista? — sugeriu Rony.

— Não digo nenhuma palavra — respondeu Hagrid, decidido.

— Então vamos descobrir sozinhos — disse Audrey, e saíram depressa para a biblioteca, deixando Hagrid desapontado.

A busca pelo nome de Flamel levava Hermione a explorar uma lista meticulosamente elaborada de assuntos e títulos, enquanto Rony, de maneira mais impulsiva, pegava livros aleatórios das prateleiras na esperança de encontrar alguma pista. Audrey, por sua vez, vagava até a seção reservada da biblioteca, uma área envolta em mistério. Era um local onde as obras mais antigas e obscuras repousavam, e a ideia de que Flamel pudesse estar registrado ali não parecia absurda.

A atmosfera na biblioteca era carregada de tensão e expectativa, os três amigos mergulhados em um mistério que os conduzia por entre os corredores intermináveis de estantes repletas de conhecimento. O silêncio era quebrado apenas pelo som das páginas sendo viradas e pelos sussurros abafados dos estudantes que também buscavam respostas.

A luz suave das luminárias realçava o brilho das capas gastas dos livros, criando um cenário digno de uma aventura mágica. Enquanto os minutos se transformavam em horas, a determinação nos olhos deles permanecia inabalável, ansiosos por desvendar o enigma que envolvia o misterioso Nicolau Flamel.

— Você também acha que ele pode estar aí, Drey? — Harry perguntou, parando ao lado dela e encarando aquele corredor.

— Para ser sincera, eu não sei — Audrey respondeu, pensativa. — Pensei nisso, mas acho que Flamel fez algo grandioso e não proibido. Tenho a sensação de que sei o que é, mas não consigo me lembrar, e isso está me estressando! — Falou rápido, soltando um suspiro frustrado. — Alunos do primeiro ano precisam de um bilhete assinado por um professor para pegar qualquer livro daí — comentou.

Os corredores da seção reservada da biblioteca exalavam uma aura de mistério, e Audrey estava consciente de que os livros ali guardados continham uma magia negra poderosa, uma sabedoria proibida para a maioria dos alunos de Hogwarts. Apenas os estudantes mais avançados em Defesa Contra as Artes das Trevas (D.C.A.T.) tinham acesso a esse conhecimento sombrio.

— Você não pode pegar um com o Snape? — Harry perguntou, esperançoso, e ela riu.

— Claro, vou chegar nele e dizer — imitou uma voz de falsete — "Morcegão, você pode me dar um bilhete para eu procurar um livro na seção reservada com o Potter, Weasley e Granger? Estamos procurando o Nicolau Flamel, porque descobrimos um alçapão no corredor proibido quando estávamos andando depois da hora nos corredores e fugimos do Filch. Ah, e o Hagrid soltou esse nome quando falamos a ele que sabemos que o pacote do cofre 713 de Gringotes está naquele alçapão que o cão está guardando."

Ela debochou do moreno, rindo de sua inocência.

— Também não precisa falar assim. Fala com ele com um jeitinho — Harry sugeriu.

— O que os dois estão procurando?

— Nada — disse Harry rápido, em sua cabeça não havia parecido nada suspeito, mas o olhar da mulher foi justamente o contrário. Audrey deu um tapa na própria testa com a atitude do amigo.

Madame Pince, a bibliotecária de Hogwarts, era uma figura peculiar e imponente. Sua pele parecia tão antiga quanto o pergaminho, com bochechas encovadas e um rosto enrugado que contava histórias de incontáveis páginas viradas. O nariz longo e curvo dava-lhe uma aparência distinta, enquanto sua magreza a fazia parecer quase etérea, como se fosse uma guardiã dos segredos acumulados ao longo dos séculos.

Seu olhar rabugento e sua postura austera não deixavam dúvidas de que ela levava seu papel como guardiã do conhecimento muito a sério. Madame Pince era conhecida por seu fetiche peculiar: balançar o aspirador de pó como se fosse uma arma, mantendo os alunos em respeito e silêncio absoluto nas preciosas prateleiras repletas de sabedoria mágica. A cada varredura do aspirador, era como se ela estivesse afastando intrusos do santuário do conhecimento.

— Então é melhor saírem daqui. Vamos!

— Você poderia ter inventado algo melhor — Audrey falou enquanto saíam da biblioteca. Eles já haviam concordado que não era seguro perguntar a Madame Pince onde poderiam encontrar Flamel. Ela provavelmente saberia lhes dizer, mas não podiam correr o risco de alguém ouvir o que estavam procurando.

Audrey e Harry aguardavam com ansiedade do lado de fora da biblioteca, recostados na parede e sentados no chão do corredor, respectivamente. Enquanto esperavam, Audrey encontrou consolo nas páginas de um livro sobre animais míticos que havia apanhado antes de sair. A espera era permeada pela incerteza, pois procuravam respostas há vinte dias, mas as breves pausas entre as aulas não permitiam uma busca mais aprofundada.

Não nutriam muitas esperanças, considerando os desafios temporais que enfrentavam. A busca precisava de um tempo mais extenso, sem a constante presença vigilante de Madame Pince respirando em seus pescoços. Rony e Hermione, após dez minutos, se juntaram a eles, balançando negativamente a cabeça em sinal de frustração. Era hora de deixar as pesquisas de lado e seguir para o almoço.

— Vocês vão continuar procurando enquanto eu estiver fora, né? — recomendou Hermione quando entraram no Salão. — E me mandem uma coruja se encontrarem algo.

— E você poderia perguntar aos seus pais se sabem quem é Flamel — sugeriu Rony.

— Verdade, não haveria perigo em perguntar a eles — Harry concordou.

— Perigo nenhum, eles são dentistas.

Os dois garotos se olharam confusos, e Audrey respirou fundo com a lerdeza dos dois. Hermione, sem paciência, marchou até a mesa dos leões.

— Eles são trouxas, se toquem, parem de ser tão lerdos assim — e ela deixou os dois para trás, indo até a mesa das cobras.

— Onde estava, Drey? — Theo perguntou enquanto atacava uma coxa de frango.

— Estava na biblioteca, ajudando os outros a encontrarem Nicolau Flamel nos livros — ela respondeu, sentando-se ao lado de Malfoy.

— Nicolau Flamel? Não foi ele quem inventou a pedra filosofal junto com o velho? — Malfoy perguntou, e Audrey riu.

— Esse mesmo.

— Então é isso que está no alçapão? — Ele questionou, curioso.

— Exato — ela respondeu, servindo-se de lasanha, enquanto recebia olhares confusos dos amigos.

— Vem cá, se você já sabe de tudo isso, e eles não, por que não abre o jogo? — Zabini perguntou, balançando o garfo como se fosse uma arma.

— Porque não sou eu quem tem que resolver tudo, eles são o trio de ouro, não eu — respondeu, tomando um gole do suco.

— Resolva tudo sozinha, então! — Pansy exclamou.

— Não sou eu quem Voldemort quer, é o Harry — ela respondeu com simplicidade.

— Entendi — Malfoy falou, e os outros o encararam. — Audrey sabe de tudo, mas não é ela quem tem que resolver as coisas, isso não é a profecia dela. Lorde Voldemort vai voltar, e é Harry quem tem que ir atrás dele, não ela. Ela só precisa ajudá-lo, esse é o dever dela.

Os cinco ficaram encarando os dois, piscando os olhos em sincronia.

— Que merda, hein — Zabini comentou.

— Querem saber o que eu acho...? — Theo perguntou retoricamente.

— Não — Pansy o cortou.

— ... Eu acho que alguma coisa vai mudar nessa história! Audrey ainda será a responsável por salvar o mundo, e não limpar a bagunça do Potter — ele disse, ignorando a interrupção.

— Concordo com o Theo — Todos olharam surpresos para Malfoy.

— Concorda? — Theo perguntou.

— O destino de Audrey será brilhante, porque ela é brilhante. E o Potter? Sem o Weasley, a Granger e, principalmente, a Audrey, ele não é nada. Já a Audrey, não precisa deles para nada, nem da gente. Ela consegue resolver tudo sozinha. Ela já é uma mulher poderosa, e será muito mais no futuro. Ela salvará todos nós, é só aguardar. Nós ainda veremos grandes feitos da nossa ruivinha.

Audrey ouviu as palavras de Draco com um sorriso no rosto. Era fascinante perceber como ele compartilhava sua visão sobre o futuro. A autoconfiança e a independência de Audrey eram admiradas por ele, e a ruiva reconhecia sua própria força. No entanto, ela também valorizava a importância da amizade, ciente de que, apesar de sua capacidade de enfrentar desafios sozinha, a união com amigos era um poderoso recurso. O entendimento mútuo entre ela e Draco criava uma ligação peculiar, uma amizade que transcendia as diferenças e fortalecia a confiança entre eles. O futuro prometia grandes feitos para a ruivinha.

O dormitório estava imerso em uma atmosfera festiva, com as risadas de Rony e Harry ecoando pelas paredes enquanto eles se divertiam e tramavam planos travessos. A sala comunal, mais vazia do que o habitual, permitia que eles aproveitassem as poltronas confortáveis ao pé da lareira, onde passavam o tempo saboreando uma variedade de guloseimas espetadas em garfos de assar.

Entre as atividades descontraídas, Rony e Audrey se propuseram a ensinar Harry a jogar xadrez de bruxo. O jogo, similar ao xadrez trouxa, ganhava vida com peças animadas, transformando a partida em uma verdadeira batalha mágica. O conjunto de xadrez de Rony, embora desgastado pelo tempo e herdado de seu avô, revelava-se uma ferramenta habilidosa nas mãos do ruivo, que conhecia cada peça intimamente e as manipulava com maestria.

No entanto, as peças emprestadas por Audrey a Harry não compartilhavam da mesma confiança em seu jogador. O jovem bruxo ainda estava aprimorando suas habilidades no jogo, e as peças não hesitavam em gritar conselhos divergentes, criando confusão e divertindo os amigos. A noite de Natal trouxe a promessa de comida farta e diversão, mas Audrey não esperava receber presentes, exceto o de seu tio.

Na manhã seguinte, ao despertar, seus olhos se depararam com uma pequena pilha de embrulhos carinhosamente disposta ao pé de sua cama.

— Feliz Natal, Drey — disseram Rony e Harry, sonolentos, enquanto Audrey pulava da cama de Simas Finnigan e vestia o roupão.

— Para vocês também, um Feliz Natal — respondeu ela, com um sorriso no rosto. — Olhe só isso! Eu só esperava ganhar um presente.

— Sério? — disse Rony, virando-se para sua própria pilha de presentes.

Audrey pegou um pacote cuidadosamente embrulhado com papel pardo grosso, onde estava rabiscado "Para Audrey, de Hagrid". Ao abrir, deparou-se com uma flauta tosca de madeira. Era evidente que Hagrid a esculpira pessoalmente, assim como as que Harry e Rony receberam. O som das flautas era reminiscente do pio de corujas, conferindo um toque peculiar ao presente artesanal de Hagrid.

— É simples, mas é bem a cara do Hagrid — comentou Audrey, admirando o presente com um sorriso genuíno.

— Sim, e é único, feito por ele mesmo — acrescentou Harry, com um tom de apreciação.

Eles continuaram a abrir os presentes, trocando risadas e agradecimentos, enquanto o espírito natalino preenchia o dormitório. Audrey olhou para o o segundo embrulho, revelando um bilhete cuidadosamente colocado no interior.

Espero que seja esse o vestido que você queria.

Com carinho, Morcegão.

Audrey desfez o segundo embrulho com expectativa e, para sua surpresa, encontrou um vestido deslumbrante. Era de um verde profundo, com detalhes intrincados de flores douradas que pareciam dançar ao longo do tecido. A textura suave sob seus dedos revelava a qualidade do material, e o corte elegante prometia realçar sua beleza natural. Era uma peça encantadora, feita sob medida para uma ocasião especial, e Audrey sentiu uma mistura de alegria e gratidão ao imaginar a cuidadosa escolha de Snape para o presente.

— Uau, que lindo, Drey! Vai ficar perfeito em você — disse Rony, olhando para Harry, que o encarava fixamente.

— Que foi? — Rony perguntou, um tanto confuso.

Harry revirou os olhos e tirou algo do embrulho que segurava.

— Que esquisito! — disse Rony. — Que formato! Isso é dinheiro?

— Pode ficar com ela — disse Harry, rindo ao ver a satisfação de Rony. — É uma moeda de cinquenta pences, trouxa.

Audrey viu seis pacotinhos empilhados e presos por um laço, cada um com um nome. Ela pegou o cartão anexado:

Eu e os outros compramos isso para você. Claro que eu poderia ter pago sozinho, mas aqueles enxeridos quiseram lhe dar um pingente também. Espero que o seu gosto requintado goste, feliz Natal.

P.S.: Crabbe e Goyle brigaram quando viram que seus presentes eram iguais. Eu e os outros rimos muito!

Do seu Loirinho.

Audrey observou os pingentes cuidadosamente dispostos em sua pulseira de prata, cada um representando uma amizade única. O pingente de coruja, seu animal favorito, era presente de Draco, um toque pessoal que a fez sorrir. Crabbe e Goyle contribuíram com pingentes verdes, enquanto Theo escolheu duas corujas diferentes, destacando-se do pingente de Draco. Zabine presenteou-a com um tipo de totem, adicionando uma pitada de mistério à coleção. Pansy, por sua vez, deu a Audrey pingentes de rosas, um gesto delicado e feminino.

Audrey examinou os pingentes na pulseira com admiração, apreciando cada detalhe. Sentia-se tocada pela consideração e atenção dos amigos, percebendo o esforço que cada um colocou na escolha dos presentes. A pulseira tornou-se mais do que uma peça de joalheria; era um símbolo de amizade e momentos compartilhados.

Ao abrir a caixa de sapos de chocolate, a expressão de Audrey iluminou-se com alegria. Ela apreciava os doces mágicos, e o gesto de Hermione lhe trouxe um sorriso caloroso. Saber que seus amigos pensaram com carinho em presentes tão personalizados aqueceu seu coração.

— Rúbeo, meu tio, Draco, Pansy, Theo, Zabine, Crabbe, Goyle e Hermione. Mas quem mandou esses dois? — Audrey questionou.

— Acho que sei quem mandou esse — disse Rony, ficando um pouco vermelho e apontando para um embrulho disforme. — Mamãe. Eu disse a ela que vocês dois não estavam esperando presentes... Ah, não... — gemeu —, ela fez para vocês um suéter Weasley.

Ao rasgar o papel, Audrey deparou-se com um suéter de lã verde, adornado com um "S" em forma de cobra. Deduziu imediatamente que a Sra. Weasley havia dedicado seu tempo e carinho para confeccionar um suéter da Sonserina especialmente para ela. A peça era aconchegante e exibia um toque pessoal que a fez sentir-se apreciada.

Além do suéter, uma grande caixa de barras de chocolate caseiras complementava o presente. Audrey mal podia conter a alegria ao imaginar as delícias que aguardavam por ela naquela caixa.

— Todos os anos ela faz para nós um suéter — disse Rony, desembrulhando o dele —, e o meu é sempre cor de tijolo.

— Foi realmente muita gentileza dela — disse Harry, mordendo uma barra de chocolate.

— Verdade, afinal, ela nem nos conhece pessoalmente — disse Audrey, experimentando as barrinhas de chocolate, que, para sua surpresa, estavam deliciosas.

Restava apenas mais um último embrulho, tanto para Harry quanto para Audrey, e decidiram abri-los simultaneamente. Ao rasgarem o papel, duas peças de seda prateada deslizaram dos pacotes, revelando-se em dobras refulgentes. Rony não pôde conter uma exclamação de surpresa, enquanto ambos os presentes capturavam a atenção de todos.

— Já ouvi falar disso — disse Rony em voz baixa, deixando cair a caixa de feijõezinhos de todos os sabores que ganhara de Hermione. — Se é isso o que eu penso que é, é realmente raro e realmente valioso.

— Não pode ser — Audrey disse, perplexa.

— E o que é? — Harry perguntou.

Os dois apanharam o tecido brilhante e prateado do chão. Tinham uma textura estranha, como se fossem tecidos com fios de água, dando-lhes um toque peculiar e mágico.

— São duas capas da invisibilidade — disse Rony, com uma expressão de assombro no rosto. — Tenho certeza. Experimentem.

Harry jogou a capa em volta dos ombros, e Rony deu um berro, enquanto Audrey estava parada, segurando a capa, ainda perplexa.

— É, sim! Olhe para baixo.

Eles olharam para os pés de Harry, mas eles tinham desaparecido. Com um misto de surpresa e espanto, Harry correu até o espelho. Não deu outra: o espelho refletiu somente a cabeça dele suspensa no ar, enquanto o corpo estava completamente invisível.

— Tem dois cartões! — disse Rony de repente. — Caíram dois cartões, talvez são da mesma pessoa.

Audrey e Harry apanharam os cartões. Escritas numa caligrafia fina e rebuscada que eles nunca tinham visto antes, estavam as seguintes palavras:

Seu pai deixou isto comigo antes de morrer. Está na hora de devolvê-la a você.

Use-a bem.

Um Natal muito feliz para você.

— Está escrito a mesma coisa nos dois cartões — Audrey disse, ainda tentando processar o que aquilo significava.

Não havia assinaturas. Os dois ficaram olhando os cartões. Rony admirava as capas.

— Eu daria qualquer coisa para ter uma dessas. Qualquer coisa... que foi?

— Nada — disseram os dois juntos, ainda sentindo-se meio estranhos. Quem mandara as capas? Será que realmente pertenciam aos seus pais? Será que seus pais se conheciam?

Antes que pudessem articular qualquer palavra ou processar o que acabara de acontecer, a porta do dormitório se escancarou, e Fred e Jorge Weasley irromperam no recinto com pulos entusiasmados. Num átimo, eles fizeram as capas desaparecerem. Parecia que, por enquanto, a revelação ficaria restrita ao círculo seleto de observadores.

— Feliz Natal! — os cinco disseram em coro.

— Ei, olhem só, a Audrey e o Harry também ganharam um suéter Weasley — Jorge exclamou.

Fred e Jorge estavam usando suéteres azuis, um com um grande "F" e outro com um "J".

— Mas o deles é melhor do que o nosso — comentou Fred, erguendo o suéter de Audrey, que era verde com um grande "S" em forma de cobra. — Ela com certeza capricha mais se a pessoa não é da família.

— Ah, deixa de ser chato — Audrey disse, rindo enquanto pegava seu suéter das mãos de Fred. — Arrumenti!

Ela entoou o feitiço, e uma nuvem semelhante à névoa a envolveu. Quando a névoa se dissipou, Audrey estava vestida com o suéter Weasley, uma calça legging preta, sapatilhas combinando e adotando um penteado à moda Yorkshire, que fazia sucesso no mundo trouxa. Como toque final, exibia seu delineado de gatinho, batom vermelho e suas joias de prata em forma de cobra: colar, pulseira e alguns anéis, incluindo a pulseira especial dada pelos amigos.

Os Weasleys, Harry e Audrey trocaram olhares surpresos e sorrisos, todos maravilhados. Os quatro garotos olhavam fixamente para ela.

— Então, como eu estou? — Audrey perguntou, girando ligeiramente para que eles vissem o suéter novo que acabara de vestir.

— Você está... — Jorge começou.

— Totalmente... — Rony tentou completar, mas Fred interrompeu, batendo palmas e sorrindo.

— Linda, maravilhosa, perfeita, deslumbrante, incrível! — exclamou Fred com entusiasmo.

— Não é à toa que ela é a Imperatriz da Sonserina — brincou Harry, provocando risadas.

— Ela devia ser a Imperatriz de Hogwarts, isso sim — Rony comentou, com um sorriso malicioso.

— Obrigada, meninos, vocês são realmente ótimos fãs — Audrey sorriu, sentindo-se à vontade na companhia dos amigos. — Por que vocês não estão usando os seus? Vamos, vistam logo, eles são ótimos, fofinhos e quentes.

— Detesto cor de tijolo — lamentou-se Rony, desanimado.

Audrey levantou a varinha, apontando-a para o suéter de Rony, que imediatamente assumiu uma vibrante cor vermelho-vivo.

— Posso dar um jeito nisso — Audrey disse, piscando para Rony, que agora sorria.

— Obrigado, Drey — ele respondeu, admirando a mudança.

— Pelo menos você não tem uma letra na sua — comentou Fred, examinando o próprio suéter.

— Ela deve pensar que você não esquece seu nome. Mas nós não somos burros — Jorge riu. — Sabemos que nos chamamos Jred e Forge.

Nesse momento, a porta se abriu bruscamente, revelando Percy Weasley, que entrou na sala com uma expressão de censura. Ele já havia desembrulhado seus presentes e segurava um suéter Weasley no braço. Fred rapidamente capturou a peça.

— M de Monitor! Vista logo, Percy, todos nós estamos usando os nossos. Até Audrey e Harry ganharam um — disse Jorge, enquanto ele e Fred empurravam a suéter sobre a cabeça de Percy, que protestava inutilmente.

— Que cabeção, hein? Meu Merlin! — Fred zombou, enxugando a testa após o esforço.

— E hoje você não vai se sentar com os monitores — Jorge decretou. — Natal é uma festa em família.

Os gêmeos arrastaram Percy para fora do quarto, deixando Audrey sorrindo com a cena caótica e familiar.

— Acho melhor eu... ficar por aqui — disse Audrey, hesitante, o que fez com que os cinco voltassem para trás.

— Por quê? — perguntaram todos em coro, claramente desapontados.

— Bem, como Jorge disse, "Natal é uma festa em família". E eu não sou da família de vocês — ela respondeu, um tom de tristeza em sua voz, fazendo Fred dar um tapa na cabeça de Jorge.

— Você é nossa amiga, Drey. O que automaticamente te inclui em nossa família — Fred disse, abraçando-a com um sorriso.

Audrey sorriu, sentindo-se acolhida.

— Como eu amo esse sorriso — disse Fred, fazendo carinho na bochecha dela. — Vem!

Fred a puxou para subir em suas costas, carregando-a até o salão como se fosse uma criança montada em um cavalo.

A ceia de Natal foi uma experiência inesquecível para Audrey. Nunca tinha vivido um Natal como aquele.

A mesa estava repleta de cem perus assados, montanhas de batatas cozidas e assadas, travessas de salsichas, terrinas de ervilhas passadas na manteiga e molheiras com uva-do-monte em molho espesso e bem temperado. A cada pequeno intervalo sobre a mesa, pilhas de bombinhas de bruxo encantavam o ambiente, explodindo com um estampido de canhão e liberando uma nuvem de fumaça azul, acompanhada por camundongos brancos vivos caindo de um chapéu de almirante.

Dumbledore, agora usando um toucado florido, ria alegremente de uma piada contada por Professor Flitwick. Pudins de Natal flamejantes sucederam o peru, e Percy quase quebrou os dentes em uma foice de prata escondida em sua fatia. A cena se desenrolava com Hagrid pedindo mais vinho e beijando a bochecha da professora McGonagall, que ria e corava, usando um chapéu de bruxa enviesado.

Após a refeição, Audrey saiu da mesa carregando uma montanha de brinquedos das bombinhas nos bolsos. Os camundongos haviam desaparecido, e ela suspeitava que poderiam se tornar o jantar de Natal para Madame Nor-r-r-a.

Audrey, Harry e os Weasleys passaram uma tarde feliz em uma guerra de bolinhas de neve, seguida de um retorno à lareira na sala comunal, onde Harry estreou seu novo jogo de xadrez bruxo, presente de Audrey. Após um lanche, todos se sentiram fartos e sonolentos, assistindo a uma divertida perseguição de Percy atrás de Fred e Jorge, que haviam pegado seu crachá de monitor.

Apesar de ser o melhor Natal da vida de Audrey, uma preocupação persistia em sua mente. Somente quando se deitou, teve tempo para pensar na capa de invisibilidade e na pessoa que a enviara.

Rony, saciado e sem mistérios para perturbar, adormeceu assim que fechou as cortinas de sua cama. Audrey se debruçou na borda da cama e pegou a capa que havia escondido ali.

"Presente do meu pai... Aquilo foi do meu pai...", pensou, sentindo uma curiosidade sem precedentes sobre quem ele era e como se sentia naquele momento. Ela nunca soube nomes. Deixou a capa escorregar por suas mãos, mais macia que seda e leve como o ar. "Use-a bem", dizia o cartão.

Ela precisava experimentá-la agora. Levantou-se da cama e envolveu-se na capa, olhando para as próprias pernas e vendo apenas o luar e sombras. Era uma sensação engraçada.

Use-a bem.

As inquietantes interrogações sobre o destino de seus pais pairavam incessantemente na mente de Audrey, instigando dúvidas acerca de quem eram e por que haviam perecido. A precocidade de seus pensamentos, aos onze anos, não a imunizava contra a incerteza sobre a bondade de seus progenitores. Essa incursão em seus pensamentos a perturbava, e a curiosidade apenas intensificava o desconforto. A capa tornava-se, gradativamente, uma janela para as memórias, uma recordação dos pais, uma herança afetiva que agora lhe pertencia. Ela nutria um amor profundo por eles, mesmo sem compreender totalmente suas vidas ou entender as circunstâncias de sua morte. Contudo, esse amor, por mais genuíno, também era acompanhado por uma sombra de dor.

Em suas mãos, a capa adquiria um significado mais profundo, como se abrisse as portas de toda a escola para Audrey. Sentindo-se plenamente desperta, a emoção a envolvia enquanto permanecia imersa na escuridão silenciosa do dormitório. A sensação de liberdade era avassaladora, e a ideia de explorar qualquer lugar sem ser detectada por olhares curiosos era mais do que empolgante.

Sem causar o mínimo ruído, Audrey abandonou o aconchego do dormitório, desceu as escadas com passos leves, atravessou a sala comunal como uma sombra e deslizou pelo buraco do retrato. O mundo aguardava, e ela se aventuraria por seus recantos sob o manto invisível da capa, ansiando desvendar os segredos que Hogwarts e a vida ainda reservavam para ela.

— Quem está aí? — perguntou esganiçada a Mulher Gorda. Audrey não respondeu. Saiu depressa pelo corredor.

A mente de Audrey fervilhava com possibilidades enquanto se perguntava para onde a capa mágica a conduziria. Em um momento de reflexão, seu coração pulsava com intensidade, e uma ideia se destacou entre as opções. A seção reservada na biblioteca, um refúgio repleto de conhecimento e magia, parecia um destino propício. Sob o manto invisível, ela poderia explorar os livros e ler à vontade, sem restrições de tempo ou olhares curiosos.

Determinada, Audrey ajustou a capa para envolver completamente seu corpo, proporcionando-lhe uma invisibilidade impecável. Seus passos, agora seguros e silenciosos, a levaram na direção da biblioteca, onde ela ansiava por mergulhar nas páginas encantadas que aguardavam sua descoberta. O mundo secreto da seção reservada se desvelaria diante dela, e Audrey estava pronta para desvendar os mistérios que os livros guardavam. Até que...

— Meu Merlin, Potter! — Audrey exclamou ao se levantar com a ajuda do moreno.

— Desculpa... o que faz aqui? — Harry perguntou, surpreso.

— Suponho que o mesmo que você — ela olhou para as capas nas mãos do moreno.

— Você também está indo até a seção reservada? — ele perguntou.

— Sim, vamos logo antes que alguém apareça.

A biblioteca estava escura como breu, e as prateleiras de livros antigos e empoeirados se erguiam como gigantes silenciosos ao redor deles. Audrey e Harry avançaram cuidadosamente, segurando as capas em suas mãos. O silêncio era interrompido apenas pelo som ocasional de passos ao longe, ecoando nos corredores vazios.

— Por que quer ir até lá? — Audrey perguntou, enquanto eles se aproximavam da seção reservada.

— Quero saber sobre a Pedra Filosofal — Harry respondeu em um sussurro.

— Eu também estou tentando desvendar algumas coisas sobre meus pais... quem eram, o que aconteceu com eles...

— Entendo. Espero que possamos descobrir algo — disse Harry, oferecendo-lhe um sorriso encorajador.

A seção reservada estava cercada por uma aura de mistério e perigo, com livros cobertos de cadeados e correntes, enquanto outros pareciam sussurrar ameaçadoramente. Eles encontraram um livro específico, "Magia Mais Avançada", que parecia relevante para os dois. Harry abriu o livro com cuidado, e as páginas exalavam um cheiro de mofo e poeira acumulada.

— Aqui, olha isso — Audrey apontou para uma página que falava sobre a Pedra Filosofal e seus poderes de conceder a vida eterna.

De repente, uma voz grave e autoritária ecoou pela biblioteca.

— Quem está aí?

Os dois se viraram, congelados, enquanto a figura imponente de Argus Filch se aproximava, uma lanterna oscilante em sua mão trêmula.

— O que estão fazendo fora de seus dormitórios, seus pestinhas? — rosnou Filch, se aproximando mais.

Audrey e Harry trocaram um olhar rápido, suas mentes trabalhando rapidamente para encontrar uma saída. Sem hesitar, Harry agarrou o livro e puxou Audrey para baixo de sua capa de invisibilidade.

O coração de Audrey disparou quando eles se agacharam juntos, mantendo-se imóveis enquanto Filch passava perigosamente perto deles. A lanterna de Filch iluminava os corredores escuros, lançando sombras ameaçadoras ao redor. O guardião da escola resmungava algo sobre "travessuras de estudantes" enquanto olhava em volta, desconfiado.

A respiração de Audrey e Harry estava sincronizada, e ambos seguravam o fôlego, temendo que qualquer movimento pudesse revelar sua presença. Audrey podia sentir a tensão no ar enquanto Filch continuava a ronda.

Após o que pareceu uma eternidade, Filch finalmente se afastou, seus passos ecoando no silêncio da biblioteca. Harry e Audrey esperaram um pouco mais antes de soltarem a respiração presa.

— Foi por pouco — sussurrou Audrey, aliviada.

— Vamos sair daqui antes que ele volte — concordou Harry.

Os dois, ainda protegidos pela capa de invisibilidade, saíram da biblioteca com passos rápidos e silenciosos, carregando o livro que agora continha respostas que ambos ansiavam por desvendar.

Ao retornarem ao dormitório, Audrey se sentiu estranhamente mais próxima de Harry, compartilhando com ele um segredo e uma aventura que os uniria ainda mais.

Mas, por enquanto, eles estavam a salvo. E Hogwarts, com todos os seus mistérios e perigos, ainda guardava muitos segredos a serem revelados. Audrey sabia que aquela noite seria apenas o começo de algo maior.

A manhã estava fria e enevoada em Hogwarts, o céu cinzento refletido nas janelas do Salão Principal. As longas mesas das casas estavam cheias de alunos se servindo de torradas, bacon e ovos mexidos, enquanto o aroma de café quente e suco de abóbora preenchia o ar. Audrey, Harry e Rony estavam sentados juntos à mesa da Grifinória, conversando em meio ao burburinho dos outros estudantes.

— Vocês podiam ter me acordado — disse Rony, aborrecido, enquanto pegava uma fatia de torrada.

A noite anterior tinha sido agitada. Harry e Audrey haviam feito uma aventura ousada até a seção reservada da biblioteca, onde haviam se deparado com um livro que soltou um grito terrível, alertando Filch e Snape. Felizmente, Audrey conseguiu despistar os dois, salvando Harry de uma detenção certa. Agora, com a luz do dia, eles relembravam os eventos com uma mistura de excitação e nervosismo.

— Você e a Audrey podem vir hoje à noite. Vou voltar, quero mostrar a vocês o espelho — disse Harry, os olhos brilhando com a ideia.

— Claro que vamos! Quero ver seus pais — respondeu Rony, animado.

— Eu também — Audrey disse, pensativa. — Será que ele mostra meus pais também?

— Acho que sim — Harry sorriu, tentando tranquilizá-la. — E quero ver a sua família, e a do Rony também, todos os Weasleys!

— É mesmo! Você vai poder nos mostrar todo mundo, ruivinho — Audrey brincou, dando um leve empurrão em Rony.

— Vocês podem vê-los a qualquer hora. É só virem à minha casa nesse verão. Em todo caso, talvez o espelho só mostre gente morta — Rony disse, em tom mais sério, mas ainda com um sorriso amigável.

— Joga na cara — Audrey debochou enquanto tomava um gole de suco.

— Desculpe — Rony ficou vermelho, percebendo o tom sensível do comentário. — É uma pena que vocês não tenham encontrado Flameu. Coma um pouco de bacon ou qualquer outra coisa. Por que não está comendo? — perguntou ele, voltando-se para Harry.

— Você está bem? — Audrey o olhou com preocupação. — Você está com uma cara esquisita.

Harry hesitou por um momento antes de responder.

— Estou bem... só estou pensando em tudo o que aconteceu. O espelho... foi estranho ver meus pais assim.

Audrey e Rony trocaram olhares compreensivos.

— Nós entendemos, Harry. Mas não se preocupe, vamos estar com você hoje à noite — Audrey disse suavemente, tentando confortá-lo.

Harry sorriu para eles, grato pelo apoio. Enquanto o café da manhã continuava, o trio conversava sobre o que mais poderiam ver no espelho, seus pensamentos entrelaçados com a curiosidade e o desejo de saber mais sobre suas famílias e a si mesmos.

Eles temiam não conseguir reencontrar o esconderijo. Com Rony junto a Harry, o trio avançava mais lentamente pelos corredores escuros, tentando reproduzir o caminho que haviam feito ao sair da biblioteca. Cada som ou sombra era motivo de apreensão, enquanto se esforçavam para manter o sigilo de sua presença.

— Estou falando — disse Rony. — Vamos esquecer tudo e voltar.

— Concordo. Se Filch ou meu tio aparecerem, não vou poder fazer nada a respeito! — Harry respondeu, preocupado.

— Não! — sibilou Harry. — Sei que é em algum lugar por aqui!

O trio continuou a avançar, passando por uma bruxa alta que seguia em direção oposta. No entanto, não avistaram mais ninguém no caminho. Quando Rony começou a reclamar sobre seus pés dormentes de frio, Harry reconheceu a armadura à sua frente.

— É por aqui... Logo aqui... É!

Eles empurraram a porta. Harry deixou a capa cair e correu até o espelho.

— Lá estão eles. Sua mãe e seu pai sorriram ao vê-lo.

— Estão vendo? — Harry cochichou.

— Não consigo ver nada — respondeu Rony.

— Muito menos eu. Tudo o que vejo é você e o Rony — Audrey completou, olhando confusa para o espelho.

— Olhe! Olhe, eles estão ali... bem ali... Olhem direito, vamos — Harry insistiu, tentando encontrar um ângulo onde todos pudessem ver.

Harry deu um passo para o lado, mas com Rony e Audrey diante do espelho, não conseguia mais ver sua família, apenas Rony e Audrey.

Eles, por sua vez, estavam mirando os próprios reflexos, petrificados.

— Olhe só para mim! — exclamou Rony, admirado.

— Você também está vendo sua família? — Audrey perguntou, com curiosidade.

— Não, estou sozinho, mas estou diferente... Pareço mais velho e bonito, e sou chefe dos monitores!

— O quê? — Harry e Audrey perguntaram em coro, surpresos.

— Estou... estou usando um crachá igual ao do Gui... e estou segurando a taça das casas e a taça de quadribol. Eu sou o capitão do time de quadribol também!

— Audrey, o que você vê? — Harry perguntou, tentando mudar o foco.

— Vejo um homem alto, pele clara, cabelos negros e ondulados. Seus olhos são escuros e têm uma intensidade fria, ele é da Sonserina... ao seu lado, tem uma mulher linda! Tem cabelos cor de acaju e os olhos... os olhos são iguais aos de Harry... mas, mas ela não está abraçada com o meu pai, e sim com outro homem... Tenho um padrasto? Por que eles não ficaram juntos? — ela falou baixo, mais para si mesma do que para os outros.

— Será que o espelho mostra o futuro? — Rony perguntou, finalmente despregando os olhos do espelho.

— Como poderia? Minha família e a de Harry estão mortos — Audrey respondeu tristemente, encarando o espelho.

Harry e Rony se encararam, decidindo que Audrey precisava de um tempo sozinha.

— Fique aqui e converse com eles! Eu fiz muito isso ontem, vai te ajudar, ruivinha — Harry falou, abraçando-a.

— Isso mesmo, eu só estou segurando algumas taças. A sua família é mais importante — Rony acrescentou, dando-lhe um abraço antes de sair.

— Obrigada, meninos — Audrey agradeceu, sorrindo entre as lágrimas.

Ao ver Harry e Rony saírem da sala, cobertos pela capa, Audrey permaneceu sentada no chão, observando as três figuras à sua frente. O casal abraçado parecia irradiar felicidade, enquanto o homem à esquerda deles emanava uma aura de frieza calculista.

Audrey permaneceu sentada, os olhos fixos no espelho que refletia a imagem de seus pais. O cenário diante dela era um misto de alegria e melancolia. Com um suspiro profundo, ela começou a falar, como se estivesse conversando diretamente com as figuras à sua frente.

— Eu... eu nunca soube exatamente como começar uma conversa com vocês. É estranho, não? Falar com um espelho. Mas é como se eu pudesse sentir que vocês estão aqui, mesmo que não possam me ouvir.

Ela olhou para a mulher com cabelos cor de acaju, os olhos de Audrey brilhando com lágrimas contidas.

— Sabe, eu sempre imaginei como seria ter vocês por perto. Às vezes, me pego pensando em como seriam os nossos dias juntos. Vocês... vocês estão felizes? Em algum lugar acima, onde as estrelas brilham e o céu é eterno, vocês estão felizes?

Audrey passou a mão pelos olhos, tentando controlar a emoção.

— Eu vejo vocês e sinto uma mistura de tristeza e esperança. Espero que, onde quer que estejam, saibam que eu penso em vocês. Às vezes, é difícil não me perguntar por que as coisas aconteceram assim... Por que não puderam ficar juntos, por que eu não pude crescer com vocês.

Ela engoliu em seco, lutando contra o nó na garganta.

— E eu me pergunto se o espelho mostra apenas o que foi ou o que poderia ter sido. Será que vocês ainda dançam por aí, em algum lugar, sem preocupações? Espero que sim. Espero que estejam olhando para mim e que, de alguma forma, estejam orgulhosos.

Audrey olhou para o homem ao lado da mulher, seu olhar se endurecendo.

— O homem ao seu lado... ele está com vocês agora. Não sei quem ele é, mas espero que traga a vocês a felicidade que eu não pude conhecer. E, por favor, me digam... me digam que estão em paz. Que, em algum lugar, entre as nuvens e as estrelas, vocês estão olhando por mim, sorrindo, e esperando o dia em que nos encontraremos.

Com a voz embargada, Audrey concluiu:

— A luz que vocês deixaram para trás me guia. Ela ilumina meu caminho através da dor e da incerteza. Mesmo na escuridão, eu sinto sua presença. Um dia, espero que possamos nos encontrar e compartilhar histórias, risos e, quem sabe, um pouco da felicidade que vocês tiveram.

Audrey permaneceu em silêncio por um momento, a chuva lá fora batendo suavemente na janela. Com um último olhar para os reflexos, ela sussurrou:

— Até nos encontrarmos de novo... por favor, fiquem bem. Eu sempre carregarei vocês no meu coração.

A manhã seguinte despertou sob um cenário de tranquilidade gelada, com a neve ainda intacta, cobrindo o mundo em um manto imaculado e silencioso. O céu estava de um cinza claro e nublado, com nuvens pesadas e baixas que pareciam se fundir com a paisagem. A luz pálida do sol filtrava-se timidamente através da camada de nuvens, criando um brilho difuso que refletia na superfície da neve, transformando o ambiente em um campo cintilante de puro branco.

Os galhos das árvores estavam encurvados sob o peso da neve, suas folhas escondidas sob o cobertor branco. Cada passo que se dava no chão coberto de neve fazia um som suave e abafado, como se o próprio mundo estivesse segurando a respiração. O ar estava fresco e cortante, carregado com um aroma limpo e invernal que fazia os pulmões se encherem de uma sensação revigorante.

As construções e os edifícios da escola pareciam ainda mais acolhedores e convidativos, com a fumaça saindo de suas chaminés e se misturando com o ar frio. As janelas estavam embaçadas e brilhavam com o calor interno, criando um contraste acolhedor com a fria paisagem externa. As pegadas na neve eram os únicos sinais de vida, marcando o caminho de quem havia passado por ali, deixando um rastro efêmero que logo seria coberto novamente pela neve.

— Querem jogar xadrez? — convidou Rony.

— Não. — responderam os dois juntos.

— Então, que tal descermos para visitar o Hagrid?

— Não... Pode ir você. — responderam novamente.

— Sei que vocês estão pensando naquele espelho! Não vão lá hoje à noite.

— Por que não? — Audrey perguntou, deitada em um dos sofás e fixando o teto com o olhar.

— Não sei, tenho uma intuição ruim. E, além disso, vocês já escaparam de muitos perigos por pouco demais. Filch, Snape, Madame Norris estão por aí. E não importa se eles não conseguem ver vocês. E se vocês trombarem com eles ou derrubarem algo?

— Quem está parecendo a Hermione agora? — Harry retrucou, e Audrey deu um risinho.

— Estou falando sério, não vão.

Mas, apesar dos avisos de Rony, a atração pelo espelho era irresistível. Naquela terceira noite, o desejo de retornar ao espelho levou Audrey e Harry a se apressarem até a frente dele. A magia da noite parecia envolvê-los, enquanto se preparavam para se deitar no chão diante do espelho. Os sorrisos calorosos dos pais de Harry refletiam de volta para eles, criando uma cena eternamente acolhedora. Nada poderia interromper esse momento especial... a menos que...

— Outra vez aqui, Audrey, Harry?

Um arrepio percorreu suas espinhas quando perceberam que não estavam sozinhos. O frio tomou conta de suas entranhas ao se virarem e verem Alvo Dumbledore sentado tranquilamente em uma das mesas junto à parede. A surpresa paralisou-os por um instante, mas o desejo de ver o espelho era tão forte que, sem perceber, passaram direto por ele. O diretor observava silenciosamente, seus olhos sábios acompanhando cada movimento dos jovens bruxos em busca de respostas e conforto.

— Não... Não vimos o senhor.

— É estranho, como vocês podem ficar míopes quando estão invisíveis — disse Dumbledore, sorrindo gentilmente. "Então", continuou, deslizando da cadeira e sentando-se ao lado deles, "vocês, como centenas de outros antes de vocês, descobriram os prazeres do espelho de Ojesed. Imagino que a Srta. Snape já conhecia o nome."

— Sim, senhor — ela respondeu, ainda fixando o olhar no espelho.

— Imagino que vocês já tenham percebido o que ele faz.

— Bem... Ele mostrou nossas famílias — respondeu Harry.

— E mostrou o seu amigo Rony como chefe dos monitores, capitão do time de quadribol, com as duas taças nas mãos.

— Como o senhor sabe disso? — Harry perguntou, espantado.

— Ele não precisa de uma capa para ficar invisível — Audrey comentou, com um tom de obviedade.

— Exato. Agora, vocês são capazes de concluir o que o espelho mostra a todos nós?

Harry balançou a cabeça negativamente.

— O homem mais feliz do mundo poderia olhar para o espelho e ver a vida como ela é. Isso ajuda a pensar?

Ele refletiu por um momento.

— Ele nos mostra o que desejamos ver? Não importa o que seja...

— Sim e não — disse Dumbledore. — Ele revela nosso desejo mais íntimo, mais desesperado. Aqueles que nunca conheceram seus pais veem eles ao seu redor. Rony, que sempre sentiu seu brilho ofuscado pelos irmãos mais velhos, se vê como um herói, superior aos irmãos. Mas o espelho não oferece conhecimento nem a verdade.

— Exatamente — confirmou Dumbledore. — Muitos já definharam diante dele, fascinados pelo que viam ou enlouquecidos sem saber se o que viam era real ou possível. O espelho será levado para uma nova casa amanhã, e eu peço que vocês não voltem a procurá-lo. Se encontrarem novamente, estarão preparados.

Audrey encarou os olhos azuis de Dumbledore, sentindo que suas palavras tinham um significado profundo. "Ele sabe, sabe que nós sabemos."

— Não faz bem viver sonhando e esquecer de viver. Lembrem-se disso. E agora, coloquem essa admirável capa novamente e vão dormir.

Eles se levantaram.

— Professor Dumbledore, posso perguntar uma coisa?

— Obviamente você acabou de perguntar, Harry — disse Audrey, enquanto juntava a capa do chão.

— Mas pode perguntar outra coisa, Harry.

— O que o senhor vê quando olha no espelho?

— Eu? Eu me vejo segurando um par de meias. Elas nunca são suficientes. As pessoas só me dão livros.

— ... E claro que ele mentiu. Você fez uma pergunta muito pessoal — comentou Audrey quando se deitaram.









ᴀꜱꜱɪᴍ ᴄᴏᴍᴏ ᴀ ʟᴜᴀ ɢᴜɪᴀ ᴀ ɴᴏɪᴛᴇ, ᴀ ᴍᴀɢɪᴀ ᴄᴏɴᴅᴜᴢ ᴇꜱᴛᴀ ᴊᴏʀɴᴀᴅᴀ. 'ᴘᴀʟᴀᴠʀᴀꜱ ꜱÃᴏ, ɴᴀ ᴍɪɴʜᴀ ɴÃᴏ ᴛÃᴏ ʜᴜᴍɪʟᴅᴇ ᴏᴘɪɴɪÃᴏ, ɴᴏꜱꜱᴀ ɪɴᴇꜱɢᴏᴛÁᴠᴇʟ ꜰᴏɴᴛᴇ ᴅᴇ ᴍᴀɢɪᴀ', ᴄᴏᴍᴏ ᴅɪꜱꜱᴇ ᴀʟᴠᴏ ᴅᴜᴍʙʟᴇᴅᴏʀᴇ. ᴀɢʀᴀᴅᴇÇᴏ ᴘᴏʀ ᴇxᴘʟᴏʀᴀʀ ᴇꜱꜱᴇꜱ ᴄᴀᴍɪɴʜᴏꜱ ᴅᴇꜱᴄᴏɴʜᴇᴄɪᴅᴏꜱ ᴄᴏᴍɪɢᴏ. ꜱᴇ ᴀ ᴍᴀɢɪᴀ ᴅᴇꜱᴛᴀ ʜɪꜱᴛÓʀɪᴀ ʀᴇꜱꜱᴏᴏᴜ ᴇᴍ ᴠᴏᴄÊ, ᴠᴏᴛᴇ, ᴄᴏᴍᴇɴᴛᴇ ᴇ ᴄᴏᴍᴘᴀʀᴛɪʟʜᴇ. ɴÃᴏ ꜱᴇᴊᴀ ᴀᴘᴇɴᴀꜱ ᴜᴍ ᴇꜱᴘᴇᴄᴛᴀᴅᴏʀ ꜱɪʟᴇɴᴄɪᴏꜱᴏ.

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