𝓦𝓪𝓵𝓴𝓮𝓻.

LEVANTEI DA MINHA CAMA E VESTI minhas roupas adequadamente, antes de descer até o andar de baixo. Emma realmente me assustou com aquela ligação, nunca passou pela minha cabeça que um dia algo desse tipo aconteceria ━ não agora, pelo menos.

Assim que cheguei ao andar de baixo, levei um susto com alguém fechando a porta da geladeira da cozinha.

━ Walker?

━ Tanner? ━ franzi o cenho.

Ambos estavam confusos.

━ O que você está fazendo aqui em baixo essa hora? ━ perguntei sussurrando.

━ Eu estou com fome. ━ respondeu ━ A pergunta é o que você está fazendo aqui essa hora, saindo de casa. São três e meia da manhã!

━ Hã... não é da sua conta, mas é uma emergência. Você não me viu aqui, ok? ━ apontei o dedo para ele ━ Se não eu conto para Leena quem foi que quebrou os esmaltes dela.

Tanner entendeu o recado, e eu saí andando.

Chegando do lado de fora, eu respirei fundo ao encarar o carro do meu pai. Ele já havia me ensinado a dirigir, me preparando para o ano que vem, quando finalmente fizer 16 anos e puder ter minha carteira de motorista. Mas agora eu não estava com ele ao meu lado.

Não deve ser tão difícil assim, pensei.

As ruas estavam completamente vazias, todo mundo estava dormindo, então a chance de eu capotar o carro ou bater em outros diminuira. Ainda assim, fiquei meio apreensivo.

Mas a ideia de Emma sozinha em um posto de gás, bêbada, às 3:30 da manhã me fez entrar no carro no mesmo instante, não poderia deixá-la.

Tentei lembrar de todas as instruções que meu pai me dera, e torci para que voltasse para casa sem nenhum arranhão, se não ele me mataria. Falhei miseravelmente na primeira curva que tive que fazer na esquina, quando bati na lixeira do vizinho.

***

Lá estava ela: sentada no chão me esperando e usando um moletom, que reconheci pouco tempo depois que era o meu, então só depois percebi que ela não havia me devolvido.

Eu estacionei o carro, e desci correndo para que pudesse abrir a porta para ela.

━ Walker.

━ Emma. ━ parei em sua frente, a menina encarou meus olhos. Já faziam meses que ela não tinha essa coragem, mas agora fez.

━ Você veio. ━ ela sorriu.

━ Você chamou. ━ respondi.

Então a garota, repentinamente, me abraçou. Fui pego de surpresa, mas eu retribui o abraço, mesmo sabendo que talvez ela não se lembrasse disso amanhã.

━ É melhor nós irmos. ━ a alertei, ainda sem a soltar ━ Se um policial aparecer eu vou preso por estar dirigindo sem carteira, ainda faltam alguns meses. ━ resolvi não mencionar o fato de que ela também estava bêbada, para que a menina não começasse a chorar de novo.

Emma se desvencilhou de mim, eu abri a porta do carro para ela. Antes de fechar, perguntei:

━ Está tudo bem? Digo, pra ir para casa?

A garota concordou.

Fechei a porta e fui para o meu lugar. Respirei fundo, o caminho era longo. Dei partida no carro.
Emma colocou seus sapatos no chão, e abraçou os joelhos.

━ Eu sou uma idiota. ━ ela disse ━ Me desculpa.

━ Não precisa pedir desculpas, eu não iria te deixar aqui sozinha.

━ Não estou falando só disso, estou falando de tudo. Toda vez que você chegava perto eu bagunçava as coisas. ━ a garota passou a mão pelo rosto ━ Estou pedindo desculpas por ser tão confusa.

Encarei a estrada sem saber o que responder. Emma estava falando isso tudo só porque estava bêbada, e eu não poderia me aproveitar disso para perguntar nada. Será que amanhã ela se lembraria do que esta dizendo?

━ Eu já superei o que aconteceu na banheira. Quer saber a verdade? Matt me contou que você não estava esperando mais Alysson lá, porque queria que eu fosse.

Aquele boca aberta.

━ O quê?

━ É, ele disse. E não é por isso que não estou falando com você. ━ ela colocou uma mecha de cabelo atrás da orelha ━ Não estou falando com você porque eu vi comentários horríveis sobre mim na internet, mas você não entenderia. Se eu ficar perto de você, essas meninas malucas vão me atacar, e eu não posso lidar com isso. ━ ainda haviam mais coisas, mas ela não quis dizer.

Parei no sinal vermelho, mesmo com ninguém na rua. Encarei a menina.

━ Por que você não me disse?

━ Por quê eu diria? ━ ela franziu o cenho ━ Não pode fazer nada.

Eu pensei.

━ Vai parar de falar comigo então?

━ Eu não posso, não consigo. ━ ela se virou, encostando a cabeça no vidro do carro.

O sinal abriu, e eu voltei a dirigir.
O caminho até em casa foi silencioso, Emma adormeceu e eu fiquei pensando no que ela disse, pensando até demais.

Depois de um tempo, nós chegamos.

━ Emma. ━ toquei o braço da menina.

━ Já chegamos?

━ Já.

Fiz menção de abrir a porta, mas ela me impediu.

━ Walker, espera.

A encarei.

━ Você ainda pensa em mim?  ━ seus olhos encontraram os meus.

━ O quê?

━ Porque eu ainda penso em você.

Não soube descrever o que eu senti. Ela estava brincando com meus sentimentos e ao mesmo tempo, no fundo, eu sabia que mesmo sem querer sabia que fazia o mesmo com ela.

Emma levou uma mão ao meu rosto, se aproximando, iríamos nos beijar.

Iríamos. Se eu não tivesse impedido.

━ Você está bêbada. ━ me afastei ━ Para de se machucar.

A menina me encarou, pensando. Pareceu atordoada por breves segundos, eu sabia que ela não estava raciocinando direito.

Eu queria muito beijá-la, mas não podia.

━ Você está certo. ━ ela passou a mão por seu rosto ━ Hoje já foi demais. Merda, me desculpa.

Emma abriu a porta do carro e desceu correndo, indo em direção à sua casa. Resolvi deixar uma mensagem para ela, caso acorde amanhã de manhã sem entender nada.

***

𝓔𝓶𝓶𝓪.

Acordei sem entender absolutamente nada. Quando abri os olhos, não estava na casa do meu pai, estava na minha casa, em meu quarto. Mas como?

Me analisei, ainda estava com meu vestido vermelho de ontem e usava um moletom preto. Meus sapatos estavam jogados no canto do quarto e meu celular carregando no chão.

Levantei da cama e desbloquei a tela, me sentando no tapete. Havia uma mensagem de Walker.

Walker: Espero que você esteja melhor.
Caso não se lembre, estava bêbada em uma festa
com um tal de Rafe. E eu fui te buscar.

Os pontos começaram a se ligar em minha cabeça. Droga. O que eu faço agora? Minha cabeça estava latejando, parecia que um caminhão havia passado por cima, meu corpo todo doía e ainda não tinha uma desculpa se minha mãe abrisse a porta do meu quarto ━ o que ela poderia a fazer a qualquer momento.

Ainda tinha Rafe, agora eu me lembro. Eu o beijei, e de brinde ele me deixou sozinha na casa estranha do seu amigo. O que fazia? Mandava mensagem falando o quanto eu estava puta por ele ter feito isso comigo? Ou fingia que nada disso aconteceu?

É, eu não me reconheço mais. Merda de adolescência.

Resolvi optar pela única opção que eu tinha: tomar um banho mega gelado. O resto eu poderia deixar explodir. Ou resolver por contra própia, apesar da primeira opção parecer melhor.

Fiz uma lista mental:
1. Arrumar uma desculpa para os meus pais por ter vindo para casa ao invés de ter ido à casa de David.
2. Devolver o moletom de Walker e passar 2 meses sem olhar na cara dele depois dessa.
3. Escolher entre bloquear Rafe em tudo e ele nunca mais me ver, ou... mandar mensagem dizendo que amei o beijo e que a única coisa que estragou foi ele ter ido embora (que claro, ele deve ter tido um motivo importante para me largar lá sozinha, apesar de Walker ter dito na noite passada que nunca me deixaria sozinha ━ o que claro, também não tem importância e eu não vou pensar nisso o resto do dia).

Parei para pensar no que aconteceu depois da festa. Me lembro pouco, apenas Walker indo me buscar. Espero que eu não tenha tentado nada louco ou aberto minha boca que não para quieta.

💌 Futura briga do Walker com o Rafe pela Emma, sim ou não?? Tô planejando algo bem clichê mais pra frente 😽

💌 Não se esqueçam de votar, nos vemos no próximo capítulo <3