𝗽𝗿𝗼𝗹𝗼𝗴𝘂𝗲



Elliot Swan sempre foi um garoto difícil, uma força indomável que parecia desajustada no mundo à sua volta. Desde pequeno, carregava uma fúria silenciosa que, às vezes, se manifestava de maneiras assustadoramente intensas. Aos nove anos, durante a celebração do Dia dos Pais na escola, Elliot perdeu o controle. Uma criança o provocara, rindo porque ele não tinha um pai presente no evento. As palavras cortaram fundo, mas, em vez de lágrimas, vieram socos. Ele quebrou o nariz do garoto antes que os professores conseguissem separá-los. O incidente marcou mais um capítulo na história que o acompanhava: o menino-problema que ninguém sabia como ajudar.

As pessoas da cidade eram rápidas em apontar os dedos. Diziam que a mãe de Elliot, Kara, simplesmente não tinha controle sobre ele. Que era uma mulher exausta, superada pelas constantes brigas e visitas ao escritório do diretor. As expulsões começaram cedo, com cada escola sendo apenas uma nova tentativa frustrada de colocar o garoto em uma linha que ele se recusava a seguir. Psicólogos e terapeutas entravam e saíam de suas vidas, oferecendo técnicas que jamais surtiam efeito. Elliot parecia imune à ajuda.

E então havia Charlie Swan, o pai que, mesmo distante, tentava fazer parte da vida do filho. Ele ligava, mandava cartões em datas importantes, e até tentava organizar visitas. Mas tudo parecia em vão. Para Elliot, Charlie não era um pai de verdade, apenas um homem que havia abandonado sua mãe e ele para construir uma nova vida com outra mulher. Com outra filha. A visão de Charlie e sua nova família era um lembrete doloroso de que ele fora deixado para trás, condenado a observar de longe enquanto o pai parecia seguir em frente com um futuro brilhante e confortável.

Essa raiva, essa sensação de traição, erguera uma barreira entre os dois. Elliot recusava-se a atender as ligações, a responder mensagens ou a sequer olhar para os presentes enviados. Para ele, tudo aquilo era uma tentativa superficial de apaziguar uma culpa que Charlie deveria carregar sozinho. A dor de se sentir rejeitado alimentava sua fúria e moldava seu comportamento, transformando-o em alguém que, mesmo jovem, já carregava feridas profundas e cicatrizes invisíveis.

Aos dezoito anos, Elliot era um garoto de presença marcante. Seus cabelos castanhos claros, que formavam cachos rebeldes, e os olhos azuis intensos pareciam enxergar mais fundo do que qualquer um gostaria. Apesar disso, sua fama o precedia. Aquele garoto que, anos atrás, era visto como um problema, agora carregava o peso de ser reconhecido por algo que ele já não era totalmente.

Elliot ainda tinha um temperamento forte, mas aprendera a manter sua raiva sob controle. Não era fácil, mas ele sabia que explodir não o levaria a lugar algum. Sua reputação, entretanto, parecia ter uma vida própria. Na escola, ele era popular, mas de um jeito estranho. As pessoas falavam com ele, faziam questão de cumprimentá-lo nos corredores ou trocar algumas palavras superficiais, mas ele sabia que era mais por medo ou curiosidade do que por verdadeira amizade.

Ele não se incomodava. Pelo menos, era o que dizia a si mesmo. Não era como se ele tivesse tempo ou paciência para dramas adolescentes ou conversas vazias. Enquanto outros se preocupavam com festas ou namoros, Elliot preferia observar o mundo ao seu redor em silêncio. Havia algo fascinante em como as pessoas tentavam se encaixar umas nas outras, escondendo suas verdadeiras intenções atrás de sorrisos e palavras.

Mas havia momentos em que ele se perguntava. Como seria, afinal, ter um amigo de verdade? Alguém que o visse além de sua fama ou temperamento? Esse pensamento o incomodava mais do que ele gostaria de admitir. Então, como sempre, ele o afastava. Afinal, ele não precisava de ninguém. Ou precisava?

Elliot não negava que, em alguns aspectos, ser popular tinha suas vantagens. Apesar de sua má fama e do ar intimidador que carregava, ele ainda conseguia atrair a atenção de algumas garotas e garotos. Não que estivesse em busca de algo sério - geralmente eram encontros casuais, momentos fugazes que o ajudavam a preencher o vazio que ele raramente admitia sentir.

De vez em quando, quando a solidão parecia sufocá-lo mais do que o normal, Elliot cedia e aparecia em alguma festa. Não era exatamente o tipo de ambiente que ele apreciava, mas estar cercado por gente, mesmo que de forma superficial, fazia a mente se distrair. Nessas ocasiões, ele ficava à margem, observando os outros, com um copo na mão, enquanto os risos e as conversas ecoavam ao seu redor.

Ainda assim, havia situações que testavam sua paciência. A maioria das vezes em que perdia o controle da raiva era por causa de alguém sendo babaca - um comentário desnecessário, uma provocação ou uma atitude que ele simplesmente não podia ignorar. Ele não era mais aquele garoto que explodia por qualquer coisa, mas não suportava injustiças ou desrespeito. Era como um instinto, uma necessidade de colocar as pessoas em seus lugares.

E isso só reforçava sua reputação. Alguns o admiravam por sua coragem; outros o temiam ainda mais. Elliot, por sua vez, continuava seguindo em frente, preso entre a imagem que os outros tinham dele e a pessoa que ele realmente tentava ser.

Elliot lembrava com clareza o dia em que tudo mudou, o momento que solidificou a reputação que ele carregava até hoje. Era um dia comum, como qualquer outro, e ele estava na cantina da escola, esperando na fila para pegar algo para comer. O som de vozes e risadas preenchia o espaço até ser abruptamente cortado por um estalo seco.

Ele virou a cabeça e viu. Um garoto, alto e com a expressão de puro desprezo, acabara de dar um tapa no rosto de uma menina. O som do golpe ainda preenchia o ar, e o silêncio que tomou conta do lugar foi ensurdecedor. O rosto da garota estava virado para o lado, os olhos arregalados, e uma marca vermelha começava a surgir em sua pele pálida.

Elliot não pensou. Nem teve tempo para processar. Em um instante, sua visão ficou vermelha, e tudo que ele sabia era que aquele garoto precisava ser parado. Antes que pudesse perceber, estava sobre ele. Suas mãos agiam por conta própria, socando o rosto do outro sem parar. O sangue começou a escorrer, quente e viscoso, pintando suas mãos e o chão embaixo dele. Ele ouvia fragmentos de vozes ao seu redor.

── Para! Elliot, para! ── gritou alguém desesperado.
── Você vai matar ele! ── outra voz ecoou, cheia de pânico.

Mas as palavras pareciam distantes, abafadas, como se ele estivesse submerso em água. Ele só parou quando sentiu mãos o segurando, puxando-o para trás. Respirava com dificuldade, o coração batendo rápido demais. Foi então que olhou para baixo e viu o garoto, quase irreconhecível, o rosto inchado e coberto de sangue.

As pessoas ao redor estavam paralisadas, algumas horrorizadas, outras apenas olhando com cautela. Ele viu a menina que havia sido agredida. Ela o encarava, os olhos cheios de lágrimas, mas também havia algo mais ali - talvez choque ou medo. Não era o tipo de olhar que ele queria ver.

Naquele momento, Elliot percebeu que havia cruzado uma linha. Mesmo que sua intenção fosse boa, mesmo que ele só quisesse proteger alguém, ele havia deixado sua raiva escapar e tomar controle. Aquilo marcaria para sempre, e ele sabia disso.

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