🪖 ⸳ ⤷ 𝗰𝗵𝗮𝗽𝘁𝗲𝗿 𝘁𝘄𝗼.



Na manhã seguinte, o cheiro sutil de ovos em pó preenchia a pequena cozinha improvisada no CDC. Coraline movia-se com eficiência, colocando os pratos diante de Owen e Liam. Owen, ainda meio sonolento, olhava para a comida com desdém, enquanto Liam, como sempre, agradecia educadamente antes de começar a comer.

A porta rangeu ao se abrir, e Shane entrou. Ele era o último a aparecer para o café, atrasado o suficiente para que todos já estivessem sentados à mesa. Coraline ergueu os olhos para ele, imediatamente notando o olho direito inchado e roxo e o pequeno corte em sua boca.

Ela não precisou de confirmação. Ele havia seguido seu conselho e contado a verdade a Rick.

Um silêncio pesado tomou conta da sala. Shane caminhou até uma cadeira e sentou-se sem olhar para ninguém, enquanto os outros evitavam cruzar os olhos com ele. Rick estava de cara fechada, os punhos cerrados em cima da mesa. Lori parecia envergonhada, quase encolhida ao lado do marido.

Coraline, com uma calma calculada, encostou-se no balcão, observando a cena se desenrolar. Apesar do silêncio, o ar estava carregado de tensão, como se uma explosão fosse inevitável.

Merle apareceu ao seu lado, mordiscando um pedaço de pão que havia pegado da mesa. Ele se inclinou discretamente em sua direção, o sorriso de humor ácido nunca abandonando seu rosto.

── E aí, Lawrence, o que eu perdi? ── ele sussurrou, os olhos brilhando de curiosidade.

Coraline manteve os olhos fixos na mesa, onde Rick olhava fixamente para o prato como se tentasse não explodir ali mesmo.

── Shane resolveu abrir a boca ── ela respondeu em voz baixa, cruzando os braços.

Merle soltou uma risadinha curta, mas abafada.

── Então é por isso que o bonitão tá com cara de quem beijou o punho de alguém? ── Ele balançou a cabeça, divertindo-se com o caos alheio. ── E o que ele falou?

Coraline finalmente desviou o olhar para Merle, sua expressão severa.

── O que ele tinha que falar. Sobre Lori. Sobre o que aconteceu quando Rick estava fora.

Merle arqueou uma sobrancelha, claramente interessado, mas sabia que aquele não era o momento para mais piadas. Ele se recostou ao lado dela, mordendo mais um pedaço do pão.

── Isso vai ser divertido de assistir. Aposto que o fazendeiro tá só esperando o momento certo pra estourar.

Coraline suspirou, ignorando o comentário. Em vez disso, seus olhos voltaram para Owen e Liam, que comiam em silêncio. Owen parecia estar mais atento ao que acontecia ao redor do que ao prato à sua frente, enquanto Liam, alheio à tensão, parecia focado em um quebra-cabeça mental qualquer.

── Merle, fique de olho neles. Não quero que se envolvam nisso, de jeito nenhum ── ela ordenou baixinho, apontando para os filhos.

Ele assentiu, seu sorriso desaparecendo por um instante enquanto seus olhos azuis analisavam a situação à mesa.

── Relaxa, chefe. Eu cuido disso.

A tensão continuou pairando na sala, pesada e opressora, enquanto todos fingiam que o café da manhã era uma refeição normal em tempos normais. Mas Coraline sabia que aquilo era apenas o começo. Segredos haviam sido revelados, e no mundo de hoje, a verdade sempre vinha com consequências imprevisíveis.

Coraline pegou sua xícara de café, respirando fundo antes de se juntar ao restante na mesa. Ela escolheu uma cadeira ao lado de Shane, que permanecia em silêncio, encarando o prato vazio diante dele como se o simples ato de comer fosse um esforço hercúleo.

Ao sentar-se, ela o observou por alguns segundos antes de lhe enviar um pequeno sorriso — um gesto discreto, quase imperceptível para os outros. Era um sorriso de encorajamento, algo que dizia: Você fez o certo, mesmo que doa.

Shane ergueu os olhos brevemente, captando o gesto. Ele não sorriu de volta, mas deu um leve aceno de cabeça, uma forma silenciosa de reconhecer o apoio. Coraline não era ninguém para criticar as escolhas dele. Afinal, quem era ela para julgar?

Ele já havia dito que achava que Rick estava morto quando se envolveu com Lori, e, para Coraline, aquilo fazia sentido. O mundo havia despencado no caos e, em meio à perda e ao desespero, as pessoas se agarravam ao que podiam. Claro, Shane poderia estar mentindo. Ele tinha um jeito de ser impulsivo, e sua lealdade parecia estar sempre em uma linha tênue entre a moral e o egoísmo. Mas os instintos de Coraline lhe diziam que, dessa vez, ele estava sendo honesto.

Ela tomou um gole do café, deixando o silêncio pairar. Não havia necessidade de palavras desnecessárias naquele momento. Ela podia sentir os olhares furtivos de Rick e Lori, ambos presos em suas próprias tempestades internas, e a tensão de Shane, que parecia carregar o peso do mundo nos ombros.

Owen, sentado ao lado de Liam, finalmente quebrou o silêncio.

── Então... alguém vai explicar por que tá todo mundo agindo como se estivesse num velório?

Liam olhou para o irmão mais velho, curioso, mas sem dizer nada. Coraline lançou um olhar de advertência a Owen, mas o garoto apenas deu de ombros, como se dissesse: Alguém tinha que falar.

Rick levantou o olhar, sua expressão endurecida. Ele abriu a boca, como se fosse dizer algo, mas desistiu e voltou a encarar o prato. Lori abaixou a cabeça, enquanto Carl, sentado entre os dois, parecia não entender o que estava acontecendo, mas sentia o peso no ar.

── Nem tudo precisa de explicação, Owen ── Coraline finalmente disse, com um tom firme, mas calmo. ── Às vezes, as coisas são o que são.

Owen revirou os olhos, claramente insatisfeito com a resposta, mas não insistiu. Coraline sabia que ele tinha o direito de questionar — afinal, ele era tão observador quanto ela. Mas algumas verdades eram complicadas demais para serem expostas ali, naquele momento.

Merle, que estava encostado na bancada, soltou uma risada baixa.

── Bom, se isso aqui é um velório, espero que tenha pelo menos um pouco de uísque depois do café. ── Ele olhou diretamente para Rick, como se provocá-lo fosse um passatempo.

Coraline lançou-lhe um olhar afiado, e Merle ergueu as mãos, rindo novamente.

── Tudo bem, tudo bem, eu fico quieto.

A mulher voltou sua atenção para Shane, que continuava quieto. Ela inclinou-se levemente em sua direção, falando baixo o suficiente para que apenas ele ouvisse.

── Respire. Você já fez a parte mais difícil.

Shane não respondeu, mas ela percebeu o modo como ele relaxou um pouco na cadeira, mesmo que fosse quase imperceptível. Coraline sabia que a situação estava longe de ser resolvida, mas, naquele momento, tudo o que ela podia fazer era manter a paz — pelo menos até que todos estivessem prontos para enfrentar as consequências da verdade.

Talvez Coraline e Shane não soubessem, mas aquele momento — simples e aparentemente insignificante — era o início de algo maior. Um ponto de partida para uma história que nenhum dos dois poderia prever.

Enquanto Shane permanecia calado, tentando absorver o caos interno que havia criado, as palavras de Coraline, tão simples e diretas, ressoavam em sua mente: "Respire. Você já fez a parte mais difícil."

Ele não sabia por quê, mas aquilo o afetou de uma forma diferente. A maioria das pessoas ao seu redor parecia julgá-lo, direta ou indiretamente. Rick o encarava como um traidor, Lori se encolhia na culpa e nos segredos, e até mesmo o grupo que ele considerava sua família estava se afastando. Mas Coraline... ela não o olhava como os outros. Havia algo nos olhos dela — algo que não era piedade, mas compreensão.

Coraline, por sua vez, sequer havia considerado que suas palavras pudessem ter um impacto maior. Para ela, foi um gesto natural. Uma tentativa de manter a paz, de mostrar que, apesar das falhas, Shane ainda era humano. Contudo, naquele pequeno gesto, algo começou a mudar entre eles.

O silêncio que se seguiu à mesa foi pesado, mas Shane se pegou furtivamente olhando para Coraline enquanto ela se recostava na cadeira, observando os outros como se estivesse planejando seus próximos movimentos. Ela tinha essa postura forte, quase impenetrável, que intimidava a maioria, mas Shane percebeu algo diferente nela. Uma humanidade que ele não via em mais ninguém há muito tempo.

E talvez Coraline também sentisse algo diferente em Shane. Apesar de todos os erros que ele havia cometido, havia algo nele que lembrava a ela mesma: alguém que estava tentando desesperadamente sobreviver, carregando o peso de escolhas difíceis.

Sem que nenhum dos dois percebesse naquele instante, aquele pequeno momento à mesa — as palavras dela, o silêncio dele — seria lembrado como o início de uma conexão que mudaria o curso de suas vidas.

O mundo lá fora era implacável. Mas ali, entre as paredes do CDC, havia um fio de algo que nem a morte nem os mortos poderiam destruir: esperança. Mesmo que viesse em formas inesperadas e, às vezes, complicadas. E talvez, apenas talvez, Coraline e Shane fossem a âncora que cada um precisava para enfrentar o que viria a seguir.

Após o café da manhã, o grupo parecia mais tenso do que nunca. Rick, que havia mantido o silêncio durante toda a refeição, finalmente se levantou. Ele cruzou os braços e olhou diretamente para Jenner, sua expressão séria.

── Certo, doutor. Já faz tempo que estamos aqui, e não viemos até o CDC só para desfrutar de vinhos e ovos em pó. O que está acontecendo? O que você pode nos dizer sobre... tudo isso?

Jenner hesitou por um momento, passando a mão pela testa suada. Ele parecia cansado, como se carregasse um fardo imenso que finalmente estava prestes a compartilhar.

── Venham comigo ── ele disse, com um tom pesado.

O grupo se levantou e o seguiu pelos corredores frios do CDC. Coraline caminhava logo atrás de Jenner, seus olhos atentos, enquanto Merle permanecia ao lado dela, a faca presa no cinto, como se estivesse preparado para qualquer coisa. Owen e Liam ficaram próximos a Cora, e ela colocou a mão no ombro de Liam, um gesto protetor que não passou despercebido por Shane, que caminhava logo atrás.

Eles chegaram a uma sala ampla, com uma grande tela que cobria quase toda a parede frontal. Jenner digitou uma sequência no painel de controle, e a tela se iluminou, revelando imagens de gravações de laboratório.

── O que vocês estão prestes a ver ── começou Jenner, sua voz carregada de cansaço e resignação ── é o que resta do que sabemos.

Ele apertou um botão, e o vídeo começou a rodar. A gravação mostrava um cientista, vestido com roupas de proteção, observando um cérebro humano em um scanner. As imagens eram detalhadas e nítidas, mostrando a atividade cerebral em tempo real.

── Esse é o cérebro humano ── explicou Jenner. ── Essa pessoa foi infectada por algo que chamamos de "patógeno neural" nos primeiros dias do surto.

As imagens avançaram, mostrando a atividade cerebral diminuindo gradualmente. Em seguida, um novo tipo de movimento apareceu no scanner: uma atividade básica, primitiva.

── Aqui está o que acontece quando alguém morre. O cérebro para completamente. Mas... ── Ele pausou o vídeo para enfatizar ── no caso dos infectados, algo... reativa. Apenas as partes mais primitivas do cérebro voltam a funcionar. O que vocês chamam de "andarilhos" não são pessoas. Não são mais humanos.

O grupo observava em silêncio. Rick franziu a testa, processando o que estava ouvindo. Coraline, ao lado dele, estreitou os olhos para a tela, absorvendo cada detalhe. Owen e Liam também assistiam, embora Liam parecesse mais curioso do que assustado.

── Como isso começou? ── perguntou Rick, sua voz firme.

Jenner suspirou e balançou a cabeça.

── Não sabemos. Pode ter sido um vírus, uma mutação... Talvez algo que criamos. Não importa mais. O que importa é que isso é o fim. Não há cura. Não há esperança.

A sala ficou em silêncio após aquelas palavras. Coraline cruzou os braços, inclinando-se levemente para frente.

── Então você nos trouxe aqui para quê, Jenner? Para nos dizer que estamos todos condenados?

Jenner a olhou, seus olhos cansados se encontrando com os dela.

── Eu trouxe vocês aqui porque é seguro. Pelo menos por enquanto. Mas o tempo está contra todos nós.

Coraline sentiu uma pontada de frustração. Merle, ao seu lado, soltou um assobio baixo.

── Ótimo discurso motivacional, doutor. Quer que a gente cante "Kumbaya" agora?

Jenner ignorou o comentário, voltando-se para a tela.

── Eu perdi minha esposa para isso. Ela era minha parceira neste laboratório. E antes de morrer, ela pediu que eu continuasse a busca por respostas. Foi isso que me manteve aqui. Mas acreditem... há dias em que eu me pergunto se continuar faz sentido.

O peso daquelas palavras pairou no ar. Rick olhou para Lori, que segurava a mão de Carl. Coraline desviou o olhar para Owen e Liam, sentindo o peso da responsabilidade que tinha com eles.

── O que fazemos agora? ── Rick perguntou, finalmente quebrando o silêncio.

Jenner se virou, encarando o grupo.

── Vocês continuam sobrevivendo. E rezem para que o CDC continue seguro... pelo tempo que puder.

Após a tensa reunião na sala de exibição, Jenner pediu para conversar com Coraline e Merle em sua sala particular. Coraline hesitou, mas, ao notar a expressão séria no rosto do cientista, seguiu-o pelos corredores, com Merle logo atrás. A sala de Jenner era pequena e desordenada, com pilhas de papéis, frascos de amostras e uma garrafa de uísque quase vazia no canto.

Jenner fechou a porta atrás deles e suspirou profundamente antes de começar.

── Preciso compartilhar algo com vocês, algo que só nós três podemos saber ── ele começou, gesticulando para que eles se sentassem. Coraline cruzou os braços, permanecendo de pé, enquanto Merle ocupava a cadeira mais próxima, balançando sua faca casualmente.

── Vá direto ao ponto, doutor ── disse Merle, sem disfarçar sua impaciência.

Jenner passou a mão pelo rosto, tentando encontrar as palavras certas.

── Eu desenvolvi... uma vacina experimental. Um teste, para tentar reverter ou, pelo menos, retardar os efeitos do patógeno no cérebro humano.

Coraline arqueou uma sobrancelha, inclinando-se levemente para frente.

── E você já testou isso antes?

Jenner balançou a cabeça.

Não. Eu não tenho uma cobaia. E, sem testes, não posso saber como funciona, quais serão os efeitos colaterais, ou mesmo se ela tem alguma chance de funcionar.

O silêncio tomou conta da sala por alguns instantes antes de Coraline quebrá-lo.

── O que mais você sabe sobre essa infecção? ── ela perguntou.

Jenner respirou fundo.

── Seja lá o que for, é transmitido pelo ar. Todos estão infectados. Não é necessário ser mordido ou arranhado por um caminhante. Basta morrer. E, se o cérebro não for danificado, vocês sabem o que acontece.

Merle soltou um assobio baixo, cruzando os braços.

── Bem, isso só melhora a cada minuto, hein?

Coraline ignorou o comentário e olhou diretamente para Jenner.

── Então, você está dizendo que precisa de alguém para testar essa vacina.

Jenner hesitou, mas finalmente assentiu.

── Sim. Mas seria arriscado. O processo envolve injetar o composto diretamente no sistema nervoso e monitorar os efeitos. Se der errado...

Ele não terminou a frase, mas o significado era claro.

Coraline ponderou por um momento, olhando para Merle, que franziu o cenho, desconfiado.

── Eu serei a cobaia ── ela declarou, sua voz firme e sem hesitação.

── Cora, isso é loucura! ── Merle protestou imediatamente, levantando-se da cadeira.

── É arriscado demais! ── Jenner acrescentou, sua expressão alarmada. ── E ninguém pode saber disso. Se o restante descobrir...

── Pode ser perigoso, eu sei ── Coraline o interrompeu. ── Mas se essa vacina funcionar, pode ser a diferença entre sobreviver ou morrer para todos nós. Não temos muitas opções, Jenner.

Merle ainda parecia relutante, esfregando a nuca enquanto olhava para Coraline.

── E como você planeja explicar isso pro Rick ou pros seus garotos?

Coraline respirou fundo.

── Eles não vão saber. Somente nós três saberemos. Se algo der errado, vocês dois cuidam dos meus meninos.

Merle revirou os olhos, mas ela viu a preocupação escondida em sua expressão.

── Você tá maluca, mulher.

Jenner finalmente cedeu, assentindo lentamente.

── Tudo bem. Mas saiba que isso precisa ser feito com cuidado. Precisamos planejar o momento certo, quando ninguém estiver desconfiando.

── Então é isso. Vamos fazer isso hoje à noite ── Coraline disse, com uma determinação que fez Jenner e Merle trocarem um olhar tenso.

O destino dela agora estava nas mãos da ciência e da esperança, mas Coraline sabia que, em um mundo como aquele, arriscar-se era o único caminho para seguir em frente.

Jenner se recostou em sua cadeira, passando as mãos pelo rosto antes de continuar. Coraline percebeu o peso da tensão no cientista, e a atmosfera na sala ficou ainda mais densa.

── Há algo mais que vocês precisam saber ── ele começou, a voz mais baixa e carregada. ── O gás que utilizamos para gerar energia aqui no CDC está chegando ao fim.

Merle franziu o cenho, cruzando os braços.

── E daí? Ficamos no escuro? Não seria a pior coisa que já enfrentamos.

Jenner balançou a cabeça lentamente.

── Não é apenas isso. Quando o gás acabar, o prédio entrará em protocolo de autodestruição.

Os olhos de Coraline se estreitaram, e ela deu um passo à frente.

── Autodestruição?

Jenner assentiu, claramente desconfortável.

── É um sistema de defesa. O CDC armazena alguns dos patógenos mais perigosos que já existiram. Se o prédio for comprometido, o protocolo garante que tudo aqui seja irradiado e destruído, para evitar que qualquer agente infeccioso seja liberado no ambiente.

Merle soltou um assobio baixo, balançando a cabeça.

── Então, você tá me dizendo que, quando o gás acabar, o prédio vai explodir e levar a gente junto?

── Sim ── confirmou Jenner, sombriamente. ── E, pelo que calculei, temos cerca de três dias antes de isso acontecer.

Coraline sentiu um nó no estômago, mas não deixou que isso transparecesse. Ela cruzou os braços, mantendo a postura firme.

── Por que você não nos disse isso antes?

── Porque eu precisava ter certeza de que estavam prontos para ouvir ── respondeu Jenner, encarando-a. ── E porque... eu estava esperando uma solução milagrosa que nunca chegou.

Merle bufou, irritado.

── Maravilha. Então, o que você sugere agora, gênio?

── Eu sugiro que vocês organizem um plano para sair daqui ── disse Jenner, seu tom quase resignado. ── Vocês têm três dias, no máximo. Usem esse tempo para se preparar. Vocês precisam garantir que todos consigam sair em segurança.

Coraline ficou em silêncio por um momento, processando a informação. Depois, ela olhou para Merle.

── Certo, precisamos começar agora. Me ajude a organizar um plano de evacuação para o grupo.

Merle revirou os olhos, mas ela sabia que ele faria o que fosse necessário.

── Tá bom, tá bom. Mas se eu tiver que arrastar alguém à força, espero que você não reclame.

── Jenner ── Coraline se virou para o cientista. ── Existe alguma rota de saída que possamos usar sem ativar o protocolo mais cedo?

── Há algumas saídas de emergência que ainda estão seguras ── respondeu ele. ── Mas vocês terão que ser rápidos. Se o sistema detectar qualquer comprometimento, pode ativar a autodestruição antes do tempo.

Coraline assentiu, decidida.

── Tudo bem. Vamos começar a trabalhar nisso agora. E ninguém mais sabe disso, pelo menos por enquanto. A última coisa que precisamos é de pânico.

Jenner concordou, embora parecesse exausto.

── Vou fazer o que puder para ajudar. Mas o tempo está contra nós.

Com isso, Coraline e Merle deixaram a sala, suas mentes já trabalhando em como tirar todos do CDC antes que fosse tarde demais. Coraline sabia que os próximos dias seriam cruciais. A sobrevivência do grupo dependia disso — e dela.

Coraline e Merle caminharam até um dos corredores mais afastados do CDC, onde poderiam conversar sem o risco de serem ouvidos. Merle encostou-se na parede, cruzando os braços enquanto Coraline puxava um pequeno bloco de anotações que sempre carregava no bolso.

── Certo, precisamos de um plano prático e rápido ── começou Coraline, riscando algumas ideias no papel. ── Temos que priorizar o essencial e manter a movimentação organizada. Não podemos perder tempo quando chegar a hora de sair.

Merle assentiu, olhando por cima do ombro dela.

── O básico é comida, armas e suprimentos médicos. Não temos luxo aqui.

── Comida, sim, mas não temos muito ── Coraline respondeu, sublinhando a palavra "alimentos" na lista. ── Dá para uma semana, no máximo, se racionarmos. Isso significa que teremos que encontrar um lugar para reabastecer logo depois de sair daqui.

── Certo. Sobre armas... não temos muito também ── Merle comentou, coçando o queixo. ── Mas é melhor levar as poucas que temos do que sair de mãos vazias. Se conseguirmos pegar munição no caminho, melhor ainda.

Coraline assentiu, rabiscando a lista.

── Agora, suplementos médicos. Jenner tem um estoque considerável aqui, e isso pode ser uma vantagem enorme para o grupo. Precisamos levar o máximo que conseguirmos carregar, mas sem comprometer espaço para os outros itens.

Merle soltou um suspiro pesado, olhando para ela.

── E o grupo? Como acha que vão reagir quando souberem disso?

Coraline ergueu os olhos do bloco e encontrou o olhar dele.

── Eles vão surtar, é claro. Mas só vamos contar quando tivermos tudo pronto. A última coisa que precisamos agora é de caos.

Merle riu baixo, balançando a cabeça.

── Você gosta de carregar o peso do mundo nas costas, hein, Lawrence?

── Alguém tem que fazer isso ── Coraline respondeu, dando de ombros. ── E eu não vejo ninguém mais preparado para isso aqui.

Eles trocaram um olhar rápido, uma mistura de compreensão e respeito silencioso.

── Tá bom, chefe ── Merle disse, levantando as mãos em rendição. ── Vamos começar a trabalhar nisso. Mas é melhor você garantir que esses novatos não fiquem no meu caminho.

Coraline sorriu de canto, voltando a olhar para o bloco de notas.

── Se alguém atrapalhar, vou deixá-los sob sua supervisão.

Com isso, os dois começaram a traçar os detalhes do plano, conscientes de que cada minuto era precioso. O tempo estava acabando, e a sobrevivência do grupo dependia de suas escolhas.

Com o plano traçado, Coraline e Merle concordaram que o próximo passo seria verificar as saídas de emergência do CDC e decidir qual seria a mais segura para o grupo usar. Jenner havia fornecido um mapa com as localizações e advertências, mas Coraline sabia que precisavam checar pessoalmente para evitar surpresas.

Antes de se separar, Coraline olhou para Merle e fez um pedido:

── Aproveite e dê uma "aula de reforço" para Owen e Liam sobre armas.

Merle arqueou uma sobrancelha, surpreso.

── Tá falando sério? Você sempre odiou isso.

Coraline suspirou, cruzando os braços.

── Eu ainda odeio. Mas, no mundo em que estamos agora, não é mais uma questão de escolha. Não sei o que pode acontecer amanhã, Merle. Não sei se estarei aqui para protegê-los para sempre.

Merle ficou em silêncio por um momento, vendo o cansaço e a determinação nos olhos dela. Ele assentiu, sério pela primeira vez em muito tempo.

── Tá bom, chefe. Deixa comigo.

Com isso, os dois se separaram, cada um indo cuidar de sua parte do plano. Merle caminhou até onde Owen e Liam estavam, enquanto Coraline pegava o mapa para traçar o melhor trajeto para inspecionar as saídas.

Conforme o dia avançava, Coraline sentia o peso da responsabilidade em seus ombros, mas também sabia que não podia fraquejar. A segurança de todos dependia de suas decisões.

Quando a noite finalmente caiu, o CDC estava mergulhado em um silêncio pesado. Cada um dos membros do grupo se preparava à sua maneira, consciente de que o tempo estava contra eles. Coraline sentou-se por um momento, observando seus filhos à distância, e permitiu-se uma única prece silenciosa: que eles sobrevivessem, não importa o que acontecesse.

E então, ela se levantou, pronta para enfrentar o que quer que viesse.


3895 palavras.

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