🪖 ⸳ ⤷ 𝗰𝗵𝗮𝗽𝘁𝗲𝗿 𝗼𝗻𝗲
Após alguns dias, não restava mais ninguém no CDC além de Coraline, seus dois filhos, Merle, seu fiel soldado, e Jenner, seu cunhado taciturno. O silêncio dominava o ambiente, quebrado apenas pelos passos leves de Coraline enquanto percorria os corredores do laboratório. Aos 36 anos, ela exalava uma beleza cativante, com seus longos cabelos castanhos caindo pelos ombros, sua pele parda refletindo a luz fria do ambiente e seus olhos azuis carregando um peso que ia além dos dias recentes.
Desde que perdera sua esposa, Jenner parecia uma sombra do homem que era antes. Trancado dentro do CDC, onde a certeza de que o mundo lá fora já havia sucumbido aos mortos os pressionava a cada instante, ele se isolava ainda mais, desaparecendo em algum canto daquele imenso espaço estéril. Coraline sabia que o comportamento do cunhado não passava despercebido por Merle, que, apesar de sua postura relaxada e humor sarcástico, era tão atento quanto ela.
Naquele momento, o isolamento quase parecia uma bênção. As paredes reforçadas do CDC ainda ofereciam segurança o suficiente para mantê-los vivos, mas por quanto tempo? Sentada no chão, Coraline observava Owen, o mais velho de seus filhos, de 16 anos, lendo avidamente uma revista em quadrinhos, enquanto Liam, de apenas 9 anos, brincava concentrado com um quebra-cabeças incompleto. A cena parecia quase normal, mas a tensão no ar lembrava a todos que a normalidade era um luxo perdido.
── Precisamos pensar em um plano ── disse Merle, quebrando o silêncio com sua voz rouca. Ele estava encostado na parede, limpando a lâmina de sua faca com uma calma irritante.
── Já pensou em uma saída? ── Coraline perguntou, sem tirar os olhos dos filhos.
── Pra ser honesto, Cora, se sairmos, estamos mortos. Se ficarmos aqui, talvez seja só uma questão de tempo. Escolha difícil, não acha? ── Ele lançou um sorriso torto, o brilho irônico nos olhos mascarando a seriedade do momento.
Coraline suspirou, passando a mão pelos cabelos. Merle era o único que conseguia aliviar, mesmo que brevemente, o peso esmagador da situação com seu humor negro. Ainda assim, ela sabia que ele estava certo. Eles precisavam de um plano, não apenas para resistir, mas para continuar. Sobrevivência já não era suficiente.
── Onde está Jenner? ── perguntou Coraline de repente, olhando em direção às portas que levavam aos corredores internos do laboratório.
Merle deu de ombros. ── Provavelmente trancado em algum lugar, brigando com os fantasmas dele. Vou procurá-lo. Alguém tem que garantir que ele não exploda a gente por acidente.
Coraline apenas assentiu. Enquanto Merle saía com sua habitual descontração, ela se levantou e caminhou até a janela reforçada do laboratório. Lá fora, o mundo parecia tão vazio quanto o CDC, mas ela sabia que a calmaria era enganosa. Os mortos estavam lá, esperando. E se algum dia as paredes não fossem mais suficientes?
Ela gostava de ir para o primeiro andar e observar pelas grandes janelas, aproveitando a sensação de espaço e liberdade que aquelas vistas proporcionavam, ainda que o cenário fosse desolador. Era um contraste reconfortante com a claustrofobia do subsolo, onde passavam a maior parte do tempo. Depois de um tempo ali, Coraline chamou Owen e Liam para descerem novamente, a rotina precisava ser mantida.
── Vamos, meninos. Hora de descer ── disse, erguendo as sobrancelhas de forma significativa quando viu Owen tentar protestar.
De volta ao subsolo, ela os mandou direto para o banho.
── Rápido, antes que os mortos decidam aprender a abrir portas. ── Sua voz tinha um tom de autoridade brincalhona que fez Liam rir, enquanto Owen revirava os olhos, mas obedeceu.
Com os dois ocupados, Coraline se refugiou no quarto improvisado. Sentou-se no sofá que haviam resgatado de uma sala de descanso e permitiu que sua mente vagasse, algo que evitava fazer com frequência. Era perigoso se perder em lembranças, mas às vezes, parecia inevitável.
Ela tinha 27 anos quando recebeu a proposta que mudaria sua vida. Era jovem, ambiciosa e determinada, mas sabia o que aquilo significava: uma mulher assumindo o comando de uma unidade especial do exército era algo que despertava tanto desconfiança quanto admiração.
Lembrava-se com clareza do dia em que fora convocada. Seu superior, um homem de poucas palavras, havia resumido a missão em uma frase:
── Você foi escolhida porque não falha. Espero que continue assim.
Coraline aceitou sem hesitar. O desafio parecia feito sob medida para ela, e a oportunidade de provar seu valor em um ambiente tão hostil era irresistível. Não demorou muito para que o peso da responsabilidade recaísse sobre seus ombros, mas ela o carregou como sempre fazia: com força e determinação.
Foi nessa missão que conheceu Merle. Ele foi o primeiro a se apresentar para integrar sua equipe, um homem de humor ácido, olhar calculista e uma lealdade que, embora velada, era inabalável. Ele não fazia rodeios e parecia testar Coraline em cada interação, como se quisesse saber até onde ela aguentava.
── É a chefe mesmo? ── ele perguntou no primeiro dia, o tom desafiador enquanto cruzava os braços e a observava com atenção.
── Se precisar de provas, eu te mostro no campo ── ela respondeu, firme, com um leve sorriso de canto.
Merle riu pela primeira vez naquele dia, algo raro na época, e assentiu. Desde então, ele era mais do que um soldado sob seu comando: tornou-se o homem que ela sabia que podia contar em qualquer situação, por mais sombria que fosse.
Sentada no sofá, Coraline quase sorriu ao se lembrar da primeira missão que cumpriram juntos. Merle havia sido o único a rir quando o plano dela funcionou contra todas as expectativas.
"Você é cheia de surpresas, chefe", ele havia dito, a admiração escondida sob o sarcasmo.
O som dos meninos saindo do banheiro trouxe Coraline de volta ao presente. Ela suspirou e se levantou, sabendo que a força do passado era uma das poucas coisas que a mantinham em pé naquele mundo devastado. Afinal, era o que a havia moldado, e o que a fazia continuar lutando, mesmo agora.
Mesmo que o mundo tivesse acabado, havia algo que permanecia intacto de sua antiga rotina: as brigas incessantes entre Owen e Liam. Era quase irônico como algo tão banal conseguia sobreviver à queda da civilização, mas Coraline via nisso um estranho conforto. Owen e Liam eram o completo oposto um do outro, e isso tornava os conflitos inevitáveis.
Owen, agora com 16 anos, estava no auge de sua fase rebelde. Era teimoso, questionador, e vivia com uma expressão irritada que parecia dizer que ele odiava tudo ao seu redor — o que, em partes, não era mentira. A adolescência, que já era complicada em tempos normais, parecia se intensificar em um mundo onde cada dia era uma luta pela sobrevivência. Ele discordava de tudo, principalmente das ordens de Coraline, o que fazia com que a relação entre mãe e filho fosse cheia de tensão.
Liam, por outro lado, tinha 9 anos e era o oposto do irmão. Amável, curioso, e dono de uma inteligência afiada, ele parecia carregar uma pureza que Coraline fazia de tudo para proteger. Era o tipo de criança que falava sem parar, enchendo os silêncios do CDC com fatos aleatórios que ele tinha aprendido antes do mundo cair.
── Sabia que o polvo tem três corações? ── ele disse uma vez, enquanto montava seu quebra-cabeça.
── Não sabia, Liam, mas obrigada por compartilhar ── Coraline respondeu, enquanto Owen revirava os olhos.
── Você é tão irritante, sabia? ── Owen rebateu, sentado ao lado do irmão.
── Você também é ── Liam devolveu sem pestanejar, o tom calmo e despreocupado, o que só irritou mais Owen.
Essas discussões eram tão frequentes que Coraline já não tentava mais intervir na maioria das vezes. Deixava que se resolvessem sozinhos, a menos que começassem a gritar ou chegassem às vias de fato.
Naquela noite, enquanto Coraline terminava de arrumar as camas improvisadas no subsolo, ouviu as vozes dos meninos aumentando de volume no quarto ao lado.
── Liam, eu já disse pra não mexer nas minhas coisas! ── Owen resmungou.
── Não tô mexendo! ── Liam respondeu, defensivamente. ── Só tava vendo se você tinha mais revistas escondidas.
── Você é insuportável!
Antes que a discussão pudesse escalar, Coraline entrou no quarto com seu tom de comando.
── Certo, já chega. Os dois, calem a boca e vão dormir antes que eu decida colocar vocês de castigo.
Ambos ficaram em silêncio imediatamente. Owen murmurou algo sobre como Liam era um "pirralho enxerido" enquanto Liam deu de ombros e voltou para sua cama. Coraline observou os dois por um momento, sentindo uma mistura de exasperação e ternura. Mesmo com o caos lá fora, aqueles momentos pequenos e rotineiros eram o que a mantinha centrada.
Enquanto se sentava novamente no sofá, ouviu Liam murmurar:
── Sabia que o coração humano bate mais de 100 mil vezes por dia?
Owen soltou um suspiro alto, e Coraline não conseguiu conter um sorriso. Algumas coisas nunca mudavam, e ela se agarrava a isso como a uma âncora em meio ao turbilhão que era o mundo agora.
Foi nesse momento que Coraline ouviu vozes e passos desconhecidos ecoando pelos corredores do CDC. O som despertou um alerta imediato em seu corpo. Instintivamente, ela pegou sua pistola e olhou para Owen e Liam, que estavam ao seu lado no quarto.
── Fiquem aqui. Não saiam por nada ── ela ordenou, seu tom firme deixando claro que não havia espaço para discussão.
Antes que qualquer um deles pudesse responder, Coraline saiu do quarto, fechando a porta atrás de si. Movendo-se com cuidado pelos corredores, sua mente estava acelerada. Quando finalmente alcançou o ponto de origem dos ruídos, parou bruscamente.
À sua frente estava Jenner, e atrás dele, um grupo de desconhecidos. A visão do grupo a fez apertar a arma com mais força, seus olhos disparando para Jenner, que parecia desconfortavelmente consciente da tempestade que estava prestes a enfrentar.
── Jenner, o que é isso? ── Coraline rosnou, a voz baixa, mas carregada de raiva.
Ele ergueu as mãos em um gesto apaziguador, como se já esperasse sua reação.
── Cora, eles precisam de ajuda.
── Ajuda? ── Ela soltou uma risada incrédula, apontando a arma para o grupo, mas sem ainda mirar diretamente. ── Você quebrou o protocolo! Nós não permitimos estranhos aqui! Não antes, e com certeza não agora. Você tem ideia do que fez?
Jenner abriu a boca para responder, mas Coraline continuou, sua voz subindo de tom.
── Já era difícil confiar em estranhos antes. Agora é praticamente suicídio! E ainda por cima, meus filhos estão aqui, Jenner. Os sobrinhos da sua esposa. Como você pode ser tão irresponsável?
Antes que Jenner pudesse reagir, Merle apareceu pelo corredor, brincando com sua faca de caça como sempre fazia.
── O que tá acontecendo aqui? Trouxemos novos vizinhos? ── ele provocou, o tom sarcástico, mas com um interesse genuíno no olhar.
Quando seus olhos pousaram no grupo, o sorriso de Merle vacilou por um momento. Ele parou de brincar com a faca, estreitando os olhos enquanto examinava os rostos. Foi quando ele viu um dos homens — magro, desgrenhado, com uma crossbow descansando no ombro. O olhar do homem encontrou o de Merle, e algo mudou no ar.
── Daryl? ── Merle murmurou, a descrença evidente na voz.
O homem, que parecia ter sido moldado pela sobrevivência, deixou a crossbow cair ao chão e caminhou rapidamente em direção a Merle.
── Merle... ── foi tudo o que ele conseguiu dizer antes de envolvê-lo em um abraço apertado.
O gesto inesperado fez até Coraline hesitar por um momento. O abraço dos dois irmãos era carregado de emoções que pareciam ter sido enterradas por anos de separação e luta pela sobrevivência.
Mas Coraline não baixou sua guarda. Seus olhos passaram pelos outros membros do grupo. Ambos os adultos tinham olhares assustados, mas as crianças estavam exaustas, com olhos semicerrados de cansaço e fome.
Ela respirou fundo, tentando não deixar sua raiva obscurecer seu julgamento. Por mais que odiasse admitir, não podia mandá-los embora.
── Merle, você os conhece. Mas isso não muda o fato de que Jenner quebrou o protocolo. ── Ela olhou diretamente para o cientista. ── Não vamos expulsá-los. Não com crianças envolvidas. Mas todos vão passar por um período de avaliação. Se qualquer um deles demonstrar ser uma ameaça, eu mesma os coloco para fora. Entendido?
Merle, ainda abraçando Daryl, assentiu com um sorriso presunçoso.
── Relaxe, chefe. Meu irmãozinho não é problema.
Jenner suspirou de alívio, mas Coraline o cortou com um olhar fulminante.
── Essa conversa ainda não acabou, Jenner.
Com isso, ela baixou a pistola, mas manteve a postura rígida. Enquanto o grupo entrava hesitante no corredor, Coraline lançou um último olhar para Merle e Daryl. Algo sobre aquele reencontro lhe dava esperanças, mas também a enchia de receio.
Coraline observou Daryl com mais atenção, agora que a tensão inicial havia diminuído um pouco. Ele tinha uma aparência inconfundível de sobrevivente endurecido. Seu cabelo castanho desgrenhado caía de forma irregular, emoldurando um rosto marcado por cicatrizes e linhas que revelavam anos de batalhas. Os olhos azuis eram tão intensos que pareciam atravessar qualquer um que cruzasse seu olhar, carregando uma mistura de desconfiança e cansaço.
Ele era magro, mas musculoso, com os braços cheios de cicatrizes antigas que falavam de sua experiência no mundo selvagem. Vestia uma camisa sem mangas, suja e rasgada, que deixava seus ombros definidos à mostra, e um colete de couro preto que tinha asas bordadas nas costas. As botas surradas e a calça de sarja reforçada estavam cobertas de poeira e sangue seco, como se cada peça fosse uma prova de sua sobrevivência.
Enquanto Coraline ainda o analisava, sons de passos ecoaram no corredor, interrompendo seus pensamentos. Todos se viraram na direção do som, e Coraline viu Owen surgindo ao lado de Liam. O mais velho tinha uma arma em mãos, enquanto segurava a mão do irmão mais novo com firmeza.
── Owen! Liam! O que vocês estão fazendo aqui? ── Coraline exclamou, tentando manter o tom autoritário, embora seu coração estivesse acelerado ao ver os dois ali.
── Você demorou demais ── respondeu Owen, com uma mistura de preocupação e determinação no olhar. Ele parecia disposto a proteger a mãe a qualquer custo, mesmo que sua postura denunciasse que ele ainda era novo nesse papel.
Liam, no entanto, parecia mais curioso do que alarmado. Seus olhos brilhavam enquanto olhava para Merle e depois para Daryl. Ele puxou a mão de Owen e deu um passo à frente, apontando para Daryl com o queixo.
── Tio Merle, esse é o seu irmão que viu um chupacabra?
O comentário pegou Merle de surpresa, e ele soltou uma gargalhada alta que ecoou pelo corredor.
── Esse moleque presta atenção, hein? ── Merle disse, rindo enquanto dava um tapa leve no ombro de Daryl. ── É, Liam, esse aqui é o meu irmãozinho. Mas a história do chupacabra? Ele jura que era verdade.
Daryl, visivelmente desconfortável, estreitou os olhos para Merle, mas havia uma ligeira curva nos cantos de sua boca, como se estivesse segurando um sorriso.
── Foi um cachorro grande... só parecia um chupacabra na escuridão ──── resmungou, tentando se defender, enquanto Liam soltava uma risadinha divertida.
Coraline cruzou os braços, ainda mantendo a postura firme. Embora a tensão tivesse aliviado um pouco, ela sabia que não podia se deixar levar pelas distrações.
── Owen, volte para o quarto com seu irmão. E deixe essa arma no lugar dela.
── Mas, mãe, eu só queria ajudar... ── Owen começou, mas o olhar de Coraline o silenciou rapidamente.
── Agora, Owen.
Relutante, ele assentiu e segurou Liam pela mão novamente, guiando o irmão de volta pelo corredor. Coraline os observou até que sumissem de vista, suspirando profundamente antes de voltar sua atenção para Jenner e os estranhos.
── Isso só reforça meu ponto. Precisamos de mais cuidado. ── Ela lançou um olhar severo para Jenner e depois para Merle, ainda segurando a pistola. ── Esse lugar é o que nos mantém vivos. E eu não vou permitir que nada o comprometa.
Daryl, quieto até então, finalmente falou, sua voz grave e direta.
── Não queremos problemas. Só queremos um lugar seguro... por hoje.
Coraline o encarou por alguns instantes, tentando avaliar a sinceridade em suas palavras. Ela sabia que Daryl era diferente dos outros, mas ainda não tinha certeza de como isso impactaria a dinâmica naquele lugar.
Mais tarde, naquela noite, na sala de jantar improvisada do CDC, o grupo se reuniu para uma refeição simples: macarrão enlatado e vinho que Jenner havia guardado para ocasiões especiais. O ambiente estava tenso, mas era uma pausa necessária depois de tantas dificuldades. Coraline permaneceu atenta, observando cada movimento dos desconhecidos, tentando entender quem eram essas pessoas que agora dividiam seu espaço.
Os membros do grupo se apresentaram um por um, suas histórias se entrelaçando brevemente entre goles de vinho e garfadas hesitantes.
Rick Grimes foi o primeiro a falar. Ele era claramente o líder do grupo, um homem de cerca de 40 anos, com cabelos castanhos curtos e barba bem aparada que começava a mostrar fios grisalhos. Seu olhar era firme, mas cansado, e ele carregava uma aura de autoridade e responsabilidade. Vestia uma camisa xadrez surrada e botas gastas, e cada palavra sua era pesada pelo peso das decisões que teve de tomar para manter seu grupo vivo.
Andrea, uma mulher loira de aproximadamente 30 anos, parecia resiliente, mas havia algo em seus olhos que sugeria que tinha enfrentado perdas profundas. Ela usava uma camiseta sem mangas e jeans que haviam visto dias melhores, mas seu porte altivo mostrava que não era alguém que desistia facilmente.
Jacqui, uma mulher de pele escura, aparentando estar na casa dos 40, era mais reservada, mas tinha um olhar observador e inteligente. Sua fala era calma, quase maternal, e ela parecia ser uma presença equilibradora no grupo.
Dale, o mais velho do grupo, talvez nos seus 60 e poucos anos, tinha cabelos grisalhos e usava um chapéu de pescador que parecia ter se tornado sua marca registrada. Ele falava com paciência e sabedoria, como se já tivesse vivido o suficiente para entender a importância de encontrar harmonia em tempos de caos.
Carol, uma mulher de meia-idade, com cabelos curtos e grisalhos, parecia mais frágil à primeira vista, mas havia uma força silenciosa nela. Seus olhos claros e profundos denunciavam dor e determinação. Ela sentava perto de uma criança, seu filho, observando-o com atenção constante.
Carl, o filho de Rick, era um menino de cerca de 10 anos, magro e usando um chapéu de xerife que claramente pertencia ao pai. Ele estava quieto, mantendo-se próximo à mãe e lançando olhares tímidos para Liam, embora este não parecesse interessado em interagir.
Lori, a esposa de Rick, era uma mulher magra e de cabelos longos e escuros, com uma expressão de preocupação constante no rosto. Ela parecia carregar o peso do mundo nos ombros, especialmente enquanto cuidava de Carl e lidava com o caos ao seu redor.
Shane, um homem corpulento de cabelos raspados, tinha uma presença intimidante. Ele era claramente o segundo no comando e parecia desconfiado de tudo, inclusive de Coraline e sua família. Seu comportamento protetor em relação ao grupo, especialmente a Lori e Carl, era evidente e fazia Owen observá-lo com desconfiança.
Glenn, um jovem asiático de cerca de 20 anos, era talvez o mais descontraído do grupo. Ele tinha um sorriso fácil e um jeito ágil que sugeria que era um sobrevivente engenhoso. Apesar da tensão no ar, ele tentou quebrar o gelo com algumas piadas tímidas, embora não tenham tido muito sucesso.
Coraline manteve-se séria enquanto os ouvia, apenas assentindo ocasionalmente. A cada nova história, sua desconfiança permanecia. Ela não sabia se podia confiar neles, especialmente com seus filhos por perto. Owen parecia compartilhar esse sentimento, observando cada membro do grupo com um olhar crítico que parecia muito mais maduro do que sua idade.
Liam, por outro lado, estava indiferente à presença dos novos moradores. Ele mal olhou para as outras crianças e permaneceu entretido em seus próprios pensamentos, traçando formas com o garfo no prato vazio. Coraline sabia que Liam não gostava de ter contato com outras pessoas, nem mesmo crianças, e isso era algo que ela começava a achar preocupante, embora não fosse o momento para discutir.
Enquanto o jantar continuava, Coraline percebeu que, apesar das aparências, esse grupo tinha algo em comum: todos tinham sido quebrados de alguma forma pelo mundo lá fora, mas ainda estavam lutando para permanecer de pé. Mesmo assim, ela não podia ignorar que sua prioridade sempre seriam seus filhos e as pessoas em quem já confiava, como Merle.
Depois do jantar, Coraline vagava pelos corredores do CDC, tentando organizar os pensamentos. Com o grupo de Rick ali, o equilíbrio delicado que ela havia mantido parecia estar ameaçado. Enquanto andava, ela avistou Shane Walsh encostado em uma parede, aparentemente perdido em seus próprios pensamentos.
Por um momento, ela apenas o observou. Algo sobre o comportamento dele durante o jantar havia chamado sua atenção, especialmente os olhares intensos trocados entre ele e Lori Grimes. Coraline sabia reconhecer tensão emocional de longe, e essa parecia estar à beira de explodir.
── Shane Walsh, certo? ── ela chamou, sua voz ecoando suavemente pelo corredor vazio.
Ele ergueu os olhos, claramente surpreso, mas logo recuperou a compostura.
── Sou eu. Algum problema? ── ele respondeu, cruzando os braços de forma defensiva.
Coraline deu alguns passos à frente, seu olhar fixo nele.
── Não sou idiota, Shane. Durante o jantar, notei os olhares entre você e Lori Grimes. Aquilo não parecia coisa de amigos ou de uma relação normal entre cunhados de guerra.
Ele imediatamente desviou o olhar, os músculos do maxilar se contraindo.
── Não sei do que você tá falando. Lori e eu...
── Poupe-me das desculpas, Shane ── ela o interrompeu, a voz fria e cortante. ── O mundo que conhecíamos acabou. Lá fora, confiar em qualquer pessoa é um luxo que ninguém pode se dar. Aqui dentro, onde meus filhos dormem, eu não aceito segredos. Então, vou dizer uma única vez: você vai me contar toda a verdade. Porque, se não contar, eu farei questão de descobrir por conta própria. E você não quer isso.
Shane hesitou, seus olhos buscando os dela, como se tentasse decidir se podia confiar na mulher à sua frente. Talvez fosse a firmeza em sua voz ou o jeito calculado com que ela o observava, mas algo nele cedeu. Ele suspirou pesadamente e encostou as costas na parede, finalmente abrindo a boca.
── Eu realmente achei que Rick tava morto. Todo mundo achava. Não havia sinal dele, não havia esperança. Eu fiz o que achei que era certo. Cuidei da Lori, cuidei do Carl... ── Ele parou, os olhos se fixando em algum ponto distante no corredor. ── Mas eu fui além. Lori e eu... nos aproximamos. Ela precisava de alguém, e eu...
Coraline permaneceu em silêncio, mas a intensidade do olhar dela o incentivou a continuar.
── E agora Rick tá aqui. Vivo. Meu melhor amigo, meu irmão. ── A voz de Shane tremeu levemente. ── E tudo o que eu fiz tá me corroendo por dentro. A culpa, a dúvida... Eu nem sei mais quem eu sou nessa história.
Coraline respirou fundo, deixando o silêncio se prolongar por um momento antes de finalmente falar.
── Escuta, Shane. Eu não sou alguém que julga. Todos nós fizemos coisas das quais não nos orgulhamos para sobreviver. Mas segredos? Segredos são o que matam pessoas nesse mundo.
Ele ergueu o olhar para ela, os olhos carregados de vergonha e angústia.
── O que você quer dizer com isso?
── Quero dizer que você precisa contar a verdade para Rick. Não amanhã, não depois. Hoje. Porque se ele descobrir isso de outra pessoa, ou se o clima estranho entre você e Lori continuar, vai ser pior. Segredos são como combustível perto de uma fogueira. E, no mundo de hoje, uma faísca errada pode custar vidas.
Shane ficou em silêncio por um longo momento, absorvendo as palavras dela. Ele sabia que Coraline estava certa, mas o peso do que ela estava sugerindo parecia quase impossível de carregar.
── E se ele nunca me perdoar? ── ele perguntou finalmente, a voz quase num sussurro.
── Então você encara isso. Mas pelo menos estará tentando fazer o que é certo. Não o que é fácil. ── Coraline deu um passo à frente, parando bem próxima dele. ── Você pode não se importar comigo ou com o que eu penso, mas pense no que Rick significa para você. Pense no que Carl significa para ele. Você deve isso a ele.
Shane assentiu lentamente, parecendo mais exausto do que antes.
── Eu vou pensar nisso.
Coraline inclinou a cabeça, avaliando-o por um instante antes de dar um passo para trás.
── Pense rápido. No mundo de hoje, decisões lentas são decisões mortais.
Ela virou-se e começou a caminhar de volta pelo corredor, deixando Shane sozinho com seus pensamentos. Coraline sabia que havia plantado a semente certa, mas também sabia que o resultado dependia dele. E no fundo, ela torcia para que ele fizesse a escolha certa — antes que fosse tarde demais.
4130 palavras.
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