≀ ꒰ TE ꒱ ៹ ﹫atlanta ⋆ ◝🧟♀️﹆
Em algum momento da viagem, a gasolina da viatura de polícia em que Rick e Leah estavam acabou. O motor tossiu uma última vez antes de morrer completamente, deixando os dois parados no meio de uma estrada deserta. Rick apertou o volante com frustração e suspirou fundo, tentando não deixar o desânimo tomar conta. Leah, sentada no banco do passageiro, olhou para ele e ergueu uma sobrancelha, claramente esperando alguma solução.
── Bem, parece que a viagem de luxo acabou ── ela disse, soltando um pequeno suspiro irônico, mas com um toque de cansaço genuíno.
Rick saiu do carro, observando ao redor. A estrada estava vazia, exceto por alguns veículos abandonados mais adiante e um posto de gasolina em ruínas visível ao longe. ── Talvez tenha algo naquele posto ── disse ele, puxando sua arma e verificando se ainda tinha munição suficiente. Leah fez o mesmo, ajeitando a arma presa nas costas enquanto o seguia.
── Isso, ou encontramos algo útil nesses carros. Quem sabe a sorte esteja do nosso lado ── respondeu Leah, andando ao lado de Rick com o olhar atento.
Ao se aproximarem do posto, a realidade do apocalipse os atingiu novamente como um soco no estômago. O local estava devastado: bombas de gasolina quebradas, vitrines estilhaçadas, carros abandonados espalhados pelo estacionamento. Rick e Leah começaram a verificar os veículos, um a um, na esperança de encontrar gasolina ou algo útil.
Enquanto Rick estava inclinado sobre o tanque de um sedã enferrujado, Leah, mais à frente, parou de repente, o olho se fixando em algo que se movia lentamente entre os carros.
── Rick ── ela chamou, sua voz mais baixa e tensa.
Ele se endireitou rapidamente, caminhando até ela com a arma em mãos. Quando olhou na direção que Leah indicava, sentiu o estômago revirar.
Uma garotinha. Ou melhor, o que restava dela. Ela tinha o cabelo loiro desgrenhado, preso em um rabo de cavalo sujo, e usava um vestido rosa manchado de sangue. Sua pele estava pálida, quase cinzenta, e os olhos vazios brilhavam com a fome insaciável dos mortos.
── Meu Deus... ── murmurou Rick, baixando a arma por um instante enquanto observava a cena perturbadora. A visão da criança transformada trouxe lembranças que ele tentava enterrar: Carl, Lori, sua antiga vida. Ele se sentiu paralisado, mesmo sabendo que ela já não era uma menina viva, mas apenas mais uma vítima do apocalipse.
── Ela deve ter sido deixada para trás ── Leah disse, com a voz mais firme, embora a tristeza fosse evidente em seu tom. ── Ou talvez ninguém tenha conseguido salvar ela.
A garotinha deu um passo desajeitado para frente, arrastando os pés pequenos, mas Leah não hesitou. Ela sacou sua faca e caminhou na direção da criatura, o rosto endurecido por uma expressão que Rick agora reconhecia como a máscara de sobrevivência.
── Leah, espera! ── Rick tentou impedi-la, mas foi tarde demais.
Leah parou a poucos metros da menina. A garotinha transformada ergueu os braços, soltando um grunhido gutural, mas Leah, com um movimento rápido e certeiro, enfiou a faca na cabeça dela. O corpo pequeno caiu com um baque surdo no asfalto.
Por um momento, houve silêncio absoluto. Leah olhou para o corpo no chão, respirando fundo antes de se virar para Rick. ── Não podemos hesitar, Rick ── ela disse, a voz firme, mas o olhar carregado de algo mais. ── Se fosse eu... se eu fosse como ela... eu esperaria que alguém fizesse o mesmo por mim.
Rick assentiu lentamente, mas as palavras dela o atingiram de uma forma que ele não conseguia descrever. Ele sabia que Leah estava certa, mas ainda assim, a visão daquela garotinha morta, agora caída no chão, era um lembrete cruel daquilo que o mundo havia se tornado.
Eles continuaram procurando entre os carros, mas não encontraram gasolina, apenas roupas abandonadas, brinquedos esquecidos e um silêncio opressor que parecia ecoar a tragédia daquele lugar.
Finalmente, Rick suspirou. ── Acho que vamos ter que continuar a pé. Não há nada aqui.
Leah olhou para a estrada adiante, o sol começando a se pôr no horizonte. ── Tudo bem ── ela disse, ajustando a arma nas costas e lançando um último olhar para o posto destruído. ── A pé ou de carro, a gente continua. É assim que sobrevivemos.
Rick observou a determinação dela e sentiu algo mudar dentro de si. Talvez Leah tivesse razão. A sobrevivência era tudo o que restava agora, e hesitar, mesmo por um instante, poderia lhe custar tudo. Enquanto eles começavam a caminhar pela estrada, lado a lado, Rick sabia que não podiam olhar para trás. O mundo não esperava por ninguém.
Enquanto caminhavam pela estrada deserta, Rick não conseguia afastar os pensamentos sobre Leah. Ele se pegou refletindo sobre os horrores que ela provavelmente havia enfrentado. Não era só a cicatriz marcante no olho esquerdo ou a perda de visão que o intrigavam, mas o peso invisível que ela carregava, algo que ele reconhecia nas poucas palavras que ela havia compartilhado.
Ele olhou para ela de relance. Leah andava com confiança, sua postura forte e decidida, mas Rick sabia que isso era apenas parte da armadura que ela usava. Afinal, ela havia dito que acordara em um laboratório, presa a máquinas, sem nenhuma memória do que era antes do apocalipse. Apenas um nome, Leah, era tudo o que restava de quem ela era.
Como seria isso? Ele tentou imaginar. Abrir os olhos e não saber nada sobre si mesmo, exceto um nome. Nenhuma lembrança de infância, de família, de amigos. Nenhum rosto familiar para buscar conforto ou esperança. Apenas um corpo marcado por cicatrizes e uma mente vazia, forçada a enfrentar um mundo que já havia acabado.
Rick suspirou, apertando o passo para acompanhá-la. Ele se perguntava como Leah conseguia seguir em frente sem ser consumida pelo vazio de sua própria identidade. Sua perda ia muito além da visão; ela havia perdido a si mesma. E, no entanto, ali estava ela, caminhando ao lado dele, sobrevivendo dia após dia.
── Deve ser difícil ── ele disse finalmente, sua voz cortando o silêncio. Leah virou a cabeça ligeiramente para ele, curiosa.
── O quê?
── Não saber quem você é... ou quem você era ── ele respondeu, sua expressão séria.
Leah deu um sorriso de canto, mas não era um sorriso de alegria; era um sorriso carregado de resignação. ── Difícil é uma palavra que nem chega perto, xerife ── ela disse, ajustando a arma nas costas. ── É como andar em um escuro completo, sem nunca encontrar a luz. Você não sabe o que perdeu, mas sente o vazio mesmo assim.
Rick assentiu, mas permaneceu em silêncio, deixando que ela continuasse.
── Quando eu me olhei no espelho pela primeira vez... naquele laboratório... ── Leah hesitou, sua voz ficando mais baixa, quase um sussurro. ── Eu não me reconheci. Eu vi o olho cego, as cicatrizes, as marcas de agulhas nos braços. Tudo aquilo me dizia que eu era só um experimento, algo que alguém usou e descartou.
Rick sentiu um nó na garganta enquanto ouvia. Ele conhecia a dor da perda, mas o que Leah enfrentava era diferente. Ela não havia perdido apenas pessoas ou lugares; ela havia perdido sua própria história.
── Você não é só isso, Leah ── Rick disse com firmeza, seus olhos fixos nela. ── Você é mais do que o que aconteceu com você. Mais do que essas cicatrizes. Mais do que um nome.
Leah parou de andar, virando-se para ele com uma expressão que era ao mesmo tempo desafiadora e vulnerável. ── E quem decide isso, Rick? Porque, na maior parte do tempo, eu me sinto exatamente isso. Um quebra-cabeça sem peças suficientes.
Rick ficou em silêncio, procurando as palavras certas. ── Talvez você seja um quebra-cabeça ── ele disse, finalmente. ── Mas isso significa que ainda tem peças para encontrar. E, enquanto estiver viva, você tem a chance de descobrir quem é. Não quem era antes disso tudo, mas quem pode ser agora.
Leah o observou por um momento, seu olho verde avaliando cada palavra dele. Então, um pequeno sorriso apareceu em seus lábios. ── Você tem jeito com palavras, xerife. Talvez eu até acredite em você.
Rick deu um meio sorriso, e os dois voltaram a caminhar. Ele sabia que não tinha consertado nada, mas talvez tivesse plantado uma semente de esperança. E, em um mundo como aquele, esperança era algo precioso.
Rick Grimes sabia, só de olhar para Leah, que ela era uma mulher forte. Cada movimento dela, cada palavra carregava uma determinação que ele admirava. Era o tipo de força que vinha da dor, do desespero, mas também de uma escolha consciente de seguir em frente. Leah era o tipo de pessoa que enfrentava o mundo de frente, mesmo quando tudo parecia perdido.
Mas naquele momento, enquanto caminhavam lado a lado pela estrada, ele decidiu em silêncio que não permitiria que ela enfrentasse tudo sozinha. Ele a protegeria. Não importava o que fosse necessário.
Não era porque ele a via como frágil — muito pelo contrário. Ele sabia que Leah era mais do que capaz de cuidar de si mesma. Mas Rick sentia que, em um mundo onde todos estavam tão acostumados a lutar sozinhos, talvez ela merecesse ter alguém ao seu lado, alguém que estivesse disposto a colocar sua vida em risco por ela.
Ele olhou de relance para ela novamente. Leah mantinha a expressão séria, os olhos atentos à estrada à frente, como se a qualquer momento algo pudesse surgir das sombras. As cicatrizes em seu rosto e corpo eram um lembrete constante de que ela já havia sobrevivido a coisas que muitos não conseguiriam suportar. Ainda assim, Rick sabia que nem todas as feridas podiam ser vistas.
── Você sempre tem esse olhar intenso? ── Leah perguntou de repente, quebrando o silêncio. O tom dela era leve, mas havia algo mais na pergunta — uma tentativa de afastar a seriedade que pairava entre eles.
Rick riu baixinho, balançando a cabeça. ── Só quando estou tentando entender uma pessoa difícil.
── Difícil? ── Leah arqueou uma sobrancelha, um sorriso ligeiro brincando nos lábios. ── Eu sou um livro aberto, xerife.
── Você é um livro ── Rick respondeu, parando para olhar para ela diretamente. ── Mas algumas páginas estão faltando, e outras foram arrancadas.
Leah piscou, surpresa pela franqueza dele, mas não parecia irritada. Em vez disso, ela desviou o olhar, como se processasse as palavras. ── Bem, talvez você tenha razão ── ela disse, depois de um momento. ── Mas não acho que alguém ainda tenha um livro inteiro neste mundo, Rick. Todo mundo perdeu partes de si.
Rick assentiu. Ela tinha razão, claro. Ele mesmo sentia isso — como se pedaços dele tivessem ficado para trás, junto com sua antiga vida. Mas, mesmo assim, ele não conseguia afastar a sensação de que queria ser a pessoa que ajudaria Leah a encontrar algumas das páginas que ela pensava ter perdido para sempre.
── De qualquer forma, obrigado por se preocupar ── Leah disse, quebrando o silêncio novamente. ── Mas não precisa. Eu sei me virar.
Rick apenas sorriu, sem responder. Ele sabia que ela acreditava nisso, e talvez estivesse certa. Mas, para ele, proteger Leah não era uma questão de necessidade; era uma escolha. E, no fundo, ele sentia que isso era algo que ele precisava fazer — não só por ela, mas por ele mesmo.
Porque, nesse mundo quebrado, proteger alguém, se importar com alguém, era a única coisa que ainda o fazia sentir humano. E ele não estava pronto para desistir disso.
Eles andaram por mais algum tempo, o silêncio entre eles quebrado apenas pelo som de seus passos no asfalto e o vento que soprava leve, carregando poeira e folhas secas. Logo à frente, avistaram uma casa de fazenda simples, com a pintura descascando e as janelas cobertas por cortinas desbotadas. Ela parecia intacta, uma raridade em meio ao caos que dominava o mundo.
Rick e Leah trocaram um olhar, ambos cautelosos. ── Vamos dar uma olhada ── ele disse, puxando sua arma. Leah fez o mesmo, com um leve aceno de cabeça.
Se aproximaram devagar, os olhos atentos para qualquer movimento. Rick espiou pela janela mais próxima e imediatamente sentiu o estômago revirar. Leah parou ao lado dele, olhando para dentro, e sua expressão endureceu, os lábios apertados.
Lá dentro, no que parecia ser a sala de estar, estavam os corpos de um casal que aparentava ter seus sessenta anos. Eles estavam sentados lado a lado em um sofá floral, as mãos dadas, a cabeça de ambos caída para trás. No chão, duas taças de vinho derrubadas e uma garrafa de vidro ao lado sugeriam como haviam escolhido partir.
Na parede atrás deles, pintadas com tinta vermelha, estavam as palavras "Que Deus nos perdoe."
Rick desviou o olhar, engolindo em seco. Ele havia visto muitas coisas desde que o mundo havia acabado, mas a cena o atingiu de uma forma diferente. Não era violência, nem sangue espalhado por todos os lados — era desistência, o tipo de morte que vinha de perder a esperança.
── É isso que o mundo faz com as pessoas agora ── Leah disse, sua voz baixa, mas carregada de tristeza e amargura. Ela não parecia surpresa, mas havia algo em seu olhar que denunciava o quanto a cena a abalava. ── Tira tudo o que temos até não sobrar mais nada.
Rick assentiu, sem palavras, e os dois se afastaram da janela.
Decidiram caminhar ao redor da casa, em busca de algo que pudesse ser útil. A tristeza que a cena havia deixado neles era pesada, mas a necessidade de sobreviver os obrigava a seguir em frente.
Ao virarem a esquina, avistaram algo inesperado: um cercado pequeno, ainda intacto, e dentro dele, um cavalo. Ele estava magro, mas parecia saudável o suficiente, pastando o pouco de grama que restava ali.
── Um cavalo ── Leah comentou, surpresa, um sorriso breve surgindo em seu rosto. ── Acho que nosso dia acabou de melhorar.
Rick observou o animal por um momento, avaliando a situação. Um cavalo poderia levá-los para longe dali mais rápido do que a pé, e eles precisavam aproveitar qualquer vantagem que encontrassem.
── Podemos pegar ele ── Rick disse, se aproximando devagar do cercado. Ele ergueu as mãos, tentando não assustar o animal. ── Mas precisamos ver se ele está em condições de viagem. E... ── Ele hesitou, olhando para Leah.
── E? ── ela perguntou, arqueando uma sobrancelha.
── Se ele vai nos deixar montar ── Rick completou com um meio sorriso, tentando aliviar a tensão que ainda pairava no ar após a cena na casa.
Leah deu uma risada curta, balançando a cabeça. ── Bom, ele é um cavalo. Melhor ele querer, porque não temos muitas opções.
Eles entraram no cercado, se movendo com cuidado. Rick se aproximou primeiro, estendendo a mão para o cavalo, que ergueu a cabeça, nervoso. Leah ficou perto, observando. Depois de alguns minutos de paciência e alguns murmúrios tranquilizadores de Rick, o cavalo pareceu relaxar.
── Eu não acredito que isso vai funcionar ── Leah disse, um pouco incrédula.
── Às vezes, você só precisa ter um pouco de fé ── Rick respondeu, com um pequeno sorriso enquanto acariciava o pescoço do cavalo.
Leah o observou por um instante, surpresa por ele ainda falar sobre fé em um mundo como aquele. Talvez fosse isso que o tornava diferente. Enquanto ela pensava nisso, Rick já estava ajustando as rédeas improvisadas que encontrou em um galpão próximo.
── Pronta para andar de cavalo?── ele perguntou.
── Eu nunca andei ── Leah admitiu, cruzando os braços.
── Bom, hoje é um bom dia para aprender ── Rick respondeu, ajudando-a a subir primeiro. Ela hesitou, mas acabou aceitando a ajuda.
Quando finalmente se acomodaram no cavalo, Leah olhou para Rick, um sorriso de canto nos lábios. ── Se isso der errado, é culpa sua.
Rick riu, ajustando as rédeas. ── É sempre culpa do xerife.
E, com isso, começaram a cavalgar para longe da casa, deixando para trás mais um lembrete do que o mundo havia se tornado — e carregando consigo a esperança de que, talvez, ainda houvesse algo pelo qual lutar.
Enquanto cavalgavam, o silêncio entre Rick e Leah parecia começar a se dissipar, a medida que o som dos cascos do cavalo preenchia o ar. Leah, que já havia mostrado ter um espírito irreverente, não perdeu a oportunidade de voltar a flertar com Rick. Ela se aproximou mais, apertando os braços na cintura dele, e não disfarçou o sorriso travesso que apareceu em seus lábios.
── Então, xerife... ── Leah começou, sua voz suave, mas com aquele tom provocante que ele já conhecia bem. ── Agora que temos um cavalo, o que mais você pode me oferecer? Está me dando carona, mas o que mais posso esperar de você?
Rick sentiu a pressão de seus braços na cintura e deu uma olhada rápida para ela, um sorriso mínimo se formando no canto de sua boca. Ele sabia que ela estava brincando, mas ao mesmo tempo, havia uma tensão no ar, algo que era difícil de ignorar.
── Bom, por enquanto, a carona vai ter que ser o suficiente ── Rick respondeu, tentando manter o tom sério, mas com uma leveza em sua voz. ── Eu sou apenas um xerife, não sou um cavalheiro de cavalo mágico.
Leah riu, a risada baixa e divertida, antes de se inclinar um pouco mais para ele. ── Eu não sei... você parece bem capaz de me impressionar, Rick ── ela disse, seus olhos brilhando de maneira travessa. ── E quem sabe, talvez eu precise de mais do que uma simples carona em breve.
Rick manteve o olhar à frente, tentando não se distrair com a proximidade dela, mas não podia negar que algo dentro dele reagia. Ele sabia que ela estava brincando, mas a maneira como ela falava com ele não era apenas uma provocação qualquer. Era uma sedução disfarçada de humor, um convite silencioso para algo mais.
── Você sabe ── Rick começou, sentindo uma diversão crescente ── eu não sou tão fácil de impressionar assim. Mas você parece saber como fazer isso.
Leah inclinou a cabeça, seus cabelos pretos balançando levemente ao vento. ── Ah, mas a vida é curta, não é? Melhor tentar impressionar as pessoas enquanto se tem a chance. ── Ela apertou ainda mais os braços na cintura dele, como se estivesse se acomodando mais confortavelmente, e Rick podia sentir o calor do corpo dela contra o seu.
── Você está tentando me distrair, Leah ── Rick disse, quase com um tom de aviso, mas sem conseguir esconder o sorriso em seus lábios.
Ela deu de ombros, sem perder a expressão travessa. ── Talvez. Ou talvez eu só goste da companhia. Não é todo dia que encontramos alguém com quem podemos conversar e... explorar as possibilidades. ── Seus olhos encontraram os dele brevemente, como se desafiando-o a responder à altura.
Rick deu uma pequena risada, sentindo a tensão aumentar entre eles. Era difícil não perceber a atração mútua, mas ele sabia que, em tempos como aquele, com o mundo desmoronando ao redor, era perigoso ceder a impulsos momentâneos.
── Você é impossível, Leah ── ele disse, ainda com um sorriso, mas mantendo o foco no caminho à frente. ── Mas talvez isso seja o que faz você tão interessante.
Leah riu baixinho, satisfeita por ter feito Rick reagir, mesmo que fosse apenas com palavras. ── Eu gosto de um desafio, então... vamos ver onde isso nos leva, xerife.
Enquanto os dois continuavam a cavalgar, a tensão entre eles se tornava palpável, mas também havia algo reconfortante na forma como conseguiam, por um momento, se distrair um do outro. No final das contas, talvez o flerte fosse uma forma de enfrentarem o caos juntos, encontrando alguma leveza em meio à escuridão.
Logo, após horas de viagem, Rick e Leah finalmente chegaram a Atlanta. A cidade, que antes era movimentada e cheia de vida, agora estava completamente vazia, como um cenário de um pesadelo. As ruas estavam desertas, com alguns carros abandonados espalhados aqui e ali, mas não havia mais sinais de vida humana. Apenas o som do vento e o leve trote do cavalo quebravam o silêncio denso e desconcertante que tomava conta da cidade.
Cavalgando em silêncio, os dois observavam atentamente os prédios ao redor. Leah sentia uma sensação estranha, uma mistura de alívio e apreensão. Eles haviam finalmente chegado, mas aquilo que esperavam encontrar... era um mistério.
De repente, Rick, que estava à frente, ergueu a cabeça e seus olhos se fixaram em algo distante. Ele viu um helicóptero passando pela cidade, suas lâminas cortando o ar, refletindo a luz do sol fraco que ainda restava. O som do helicóptero era abafado pela distância, mas suficiente para atrair a atenção de ambos.
Sem pensar muito, Rick puxou as rédeas do cavalo, acelerando na direção do helicóptero. Leah, surpresa com o movimento repentino, teve que se ajustar rapidamente. ── Rick, o que você—? ── Ela começou a questionar, mas ele não respondeu. O que mais importava naquele momento era chegar perto de qualquer sinal de vida, qualquer pista sobre o que estava acontecendo.
Eles viraram uma esquina, com a expectativa de que o helicóptero os guiaria até algum lugar. Mas, ao fazerem a curva, se depararam com algo inesperado. Um grupo de caminhantes estava à frente, arrastando-se pela rua, completamente ignorando os dois em sua frente. Rick tentou parar o cavalo, mas o animal, assustado, empinou violentamente. Leah tentou se segurar, mas foi tarde demais. O cavalo balançou, e ambos foram lançados ao chão com força.
O impacto foi forte. Rick tentou proteger Leah ao cair, mas o peso de ambos e o terreno duro não facilitaram. O cavalo, agora em pânico, se afastou rapidamente, deixando os dois caídos no asfalto, atordoados e vulneráveis, cercados pelos passos lentos e inevitáveis dos caminhantes que se aproximavam.
O som das criaturas se arrastando e respirando pesadamente se misturava com o barulho de seus corações batendo rapidamente, enquanto o céu acima deles começava a escurecer, sinalizando que a luta pela sobrevivência estava prestes a recomeçar de uma maneira muito mais difícil.
O chapéu de xerife de Rick caiu no chão junto com a bolsa de armas que ele carregava, ambos ficando para trás enquanto ele e Leah corriam desesperadamente, buscando refúgio. O som dos passos dos caminhantes se aproximando os apavorava, mas finalmente, ao alcançarem o tanque de guerra, conseguiram entrar rapidamente, fechando a pesada porta de ferro com um estrondo abafado. Dentro do tanque, o silêncio era denso, cortado apenas pelos ofegos pesados dos dois. Rick e Leah se sentaram no chão do veículo, ambos tremendo de adrenalina, ainda tentando se recompor após o susto.
O interior do tanque era escuro, com apenas a luz fraca filtrando por algumas aberturas. Rick olhou ao redor, tentando se orientar. O espaço era apertado, mas pelo menos estavam protegidos. Ele encostou a cabeça na parede fria, tentando processar tudo o que acabara de acontecer.
Leah, ainda ofegante, olhou para ele com uma expressão tensa, mas com uma leve curva nos lábios. ── Acho que a sorte esteve ao nosso lado hoje ── ela disse, tentando trazer um pouco de leveza à situação.
Rick não respondeu de imediato. Seus olhos vasculhavam o interior do tanque, até que se fixaram em uma figura caída em um canto. Era um caminhante, aparentemente imóvel, mas com a cabeça coberta por uma capa rasgada, como se tivesse sido deixado para trás há muito tempo. Rick, sem pensar, se aproximou cautelosamente, acreditando que o morto estava apenas mais uma das vítimas do apocalipse, sem perceber o perigo iminente.
Mas, antes que pudesse se aproximar mais, o corpo se mexeu. O som do movimento repentino fez o coração de Rick disparar. Em um reflexo rápido, ele puxou sua arma e disparou, o som do tiro ecoando estrondosamente dentro do tanque, fazendo com que seus próprios ouvidos zumbissem por alguns segundos.
O barulho foi ensurdecedor no espaço fechado, reverberando em suas cabeças. Leah se encolheu, protegendo-se instintivamente, enquanto Rick olhava para a arma, agora fumegando na sua mão. O corpo do caminhante caiu, a bala atravessando sua testa e estilhaçando o crânio, mas o dano já estava feito. O som do disparo, tão alto e repentino, tinha deixado ambos atordoados.
── Merda! ── Leah gritou, se recompôndo rapidamente. ── Você sabe o que fez?! ── Ela se levantou, quase se jogando contra a parede do tanque, seu rosto marcado pela tensão e medo.
Rick sentiu o mesmo, a adrenalina agora misturada com a preocupação. ── Desculpa ── ele respondeu, sem saber o que mais dizer. A explosão de som dentro do tanque havia sido demais para o ambiente abafado e silencioso.
Eles ouviram passos de caminhantes se aproximando do tanque, o que os fez perceber que o barulho tinha atraído a atenção deles. Rick e Leah olharam um para o outro, conscientes de que o tempo para se manterem em segurança estava se esgotando rapidamente. A situação que antes parecia sob controle agora estava prestes a se tornar uma nova corrida pela sobrevivência.
O silêncio tomou conta novamente, mas dessa vez, era um silêncio pesado, com a sensação de que a qualquer momento, o verdadeiro perigo começaria a se aproximar.
O silêncio no tanque era quase sufocante, até que, de repente, um som distorceu o ar. O rádio, que estava em uma mesa de controle próxima, começou a chiar. O som estranho, vazio e intermitente, ecoou pelas paredes metálicas do tanque. Rick e Leah trocaram um olhar rápido. Talvez, só talvez, aquela fosse a esperança de saírem vivos de lá.
○⃘ 𝆬 ͚⃝🧟♀️ 𝆺 Estão gostando da interação de Leah com o Rick?
○⃘ 𝆬 ͚⃝🧟♀️ 𝆺 4188 palavras.
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