𝗽𝗿𝗼𝗹𝗼𝗴𝗼 | o despertar


PRÓLOGO
── ❝o despertar.

Na pequena e nublada cidade de Forks, onde a chuva parecia nunca cessar, existia uma mansão que causava calafrios em quem ousava espiar além das árvores densas da floresta. Não era uma casa qualquer; era um castelo sombrio, erguido em pedras negras e coberto por musgo, que parecia pertencer a outra era. Suas torres altas perfuravam o céu cinzento, e janelas estreitas, sempre envoltas por sombras, davam a impressão de que olhos invisíveis espreitavam os curiosos.

A mansão era um mistério que ecoava nas conversas de cafés e nas histórias sussurradas entre as crianças da cidade. Nenhum morador de Forks jamais tinha visto alguém entrar ou sair de lá. Não havia movimento, luzes ou sinais de vida. Diziam que os donos do castelo estavam presos por uma maldição antiga, condenados a jamais cruzar os limites daquela floresta.

Com o passar dos anos, as lendas cresceram como a própria vegetação ao redor da mansão. Alguns acreditavam que os moradores do castelo eram fantasmas, almas penadas de uma família que havia perecido ali séculos atrás. Outros murmuravam que eram bruxos castigados por desafiar forças maiores. Mas a história mais comum, e talvez a mais assustadora, era de que os donos eram imortais – não vivos, nem mortos – e que a floresta os protegia, ou talvez os mantivesse cativos.

Por isso, os habitantes de Forks evitavam se aproximar daquelas terras. Não era apenas o medo do desconhecido, mas também a certeza de que algo sobrenatural pairava sobre aquele lugar. A mansão na floresta era mais do que uma construção esquecida pelo tempo; era uma presença que se sentia na pele, no vento frio que assobiava entre as árvores, no silêncio que parecia engolir qualquer som ao redor.

E assim, o castelo permanecia ali, solitário, envolto em sombras e mistério, enquanto a cidade vivia sob o peso de sua existência. Ninguém ousava descobrir quem vivia lá. Ninguém ousava descobrir se as lendas eram verdadeiras. E, no entanto, todos em Forks sabiam que algo, ou alguém, ainda habitava aquele lugar amaldiçoado.

O castelo imponente, cercado por florestas densas e envolto em mistérios, era o lar dos irmãos Relish's. Uma família marcada não apenas por sua ancestralidade antiga, mas também por uma dinâmica tão intrigante quanto perigosa. Cada pedra do castelo parecia carregar as personalidades intensas dos três irmãos, cujas diferenças moldavam o equilíbrio delicado que mantinha aquela fortaleza de pé.

O mais velho dos três, Dalibor, era o fogo que consumia tudo ao seu redor. Seus cabelos loiros e lisos, sempre impecáveis, caíam sobre os ombros, emoldurando um rosto de traços severos e olhos verdes vivos que pareciam penetrar qualquer alma. Mas havia algo de inquietante neles: um brilho sinistro que denunciava uma mente atormentada e um coração tomado por sombras. Dalibor era um líder por direito, mas sua natureza explosiva e muitas vezes macabra o tornava temido tanto por aliados quanto por inimigos. Ele era impulsivo, tomado pela raiva e propenso a atos de violência imprevisíveis, mas, sob a superfície tempestuosa, existia uma determinação inabalável de proteger aquilo que considerava seu – fosse o castelo ou sua família.

Erebus, o segundo dos irmãos, era o contraponto perfeito a Dalibor. Seus cabelos castanhos curtos e bem aparados e seus olhos da mesma tonalidade irradiavam calma e compreensão. Sua pele clara e semblante sereno escondiam uma força emocional rara. Erebus era o mais compassivo e leal dos três, muitas vezes agindo como mediador entre os extremos de Dalibor e Hadria. Sua postura calma e controlada fazia dele um pilar de estabilidade, mas isso não significava fraqueza. Quando necessário, Erebus demonstrava uma determinação inquebrável, capaz de enfrentar até mesmo as tempestades de raiva do irmão mais velho ou as estratégias imprevisíveis da caçula.

Hadria, a caçula, era o elo mais intrigante da família. Seus cabelos negros como a noite desciam em ondas elegantes, contrastando com sua pele parda e seus olhos escuros que pareciam absorver tudo ao seu redor. Ela era a combinação perfeita – e perigosa – das personalidades de seus irmãos. Quando queria, Hadria era calma, leal e estrategista como Erebus, oferecendo sabedoria e paciência em momentos de crise. Mas, quando provocada ou tomada pela ambição, podia ser tão raivosa e sanguinária quanto Dalibor, talvez até mais. Sua capacidade de transitar entre os dois extremos fazia dela uma figura imprevisível, respeitada e temida em igual medida.

A harmonia delicada entre os irmãos mantinha o castelo firme, mas também escondia segredos profundos que nenhum deles ousava trazer à tona. A verdade era que o castelo não era apenas uma herança familiar; ele era um prisioneiro de sua própria magia. As muralhas carregavam encantos ancestrais que reagiam às emoções dos três. Quando Dalibor sucumbia à raiva, os corredores tremiam; quando Erebus meditava, o castelo parecia respirar com serenidade; e, quando Hadria dava vazão ao seu lado mais obscuro, o céu ao redor escurecia, mesmo ao meio-dia.

No entanto, rumores começaram a surgir. Diziam que algo – ou alguém – estava tentando despertar as forças mais antigas e perigosas escondidas nas profundezas do castelo. Isso forçaria os irmãos Relish's a unir suas forças, não apenas contra os inimigos externos, mas também contra seus próprios demônios internos. Afinal, o maior perigo não estava lá fora, mas dentro das muralhas que eles chamavam de lar.

Em 1690, dois anos antes do ápice das caças às bruxas, o destino dos irmãos Relish's tomou um rumo sombrio. Dalibor, o mais velho e impulsivo, acreditava ter encontrado sua companheira para toda a imortalidade. Azura, uma bruxa de extraordinária beleza e astúcia, havia se infiltrado em suas vidas com promessas de amor eterno. Seus olhos brilhavam com um mistério que atraía e inquietava ao mesmo tempo, e sua presença parecia capaz de domar até mesmo o temperamento explosivo de Dalibor. Ele a proclamou como sua escolhida, desafiando qualquer um que ousasse questionar sua decisão.

Azura não era apenas uma bruxa – ela era uma manipuladora de primeira ordem, movida por interesses obscuros que iam além do amor que Dalibor acreditava ser genuíno. Enquanto os irmãos estavam encantados por sua aparente bondade, ela secretamente traçava um plano que iria mudar o curso da história. Mais tarde naquele mesmo ano, a verdade foi revelada. Azura havia se aproximado de Dalibor e dos irmãos Relish's com o único propósito de cumprir um feitiço antigo, que exigia o sacrifício de três almas imortais para selar um pacto sombrio com forças desconhecidas.

Quando os irmãos finalmente descobriram sua traição, era tarde demais. No auge de sua fúria, Dalibor tentou matá-la, mas Azura, com sua magia poderosa, lançou uma maldição que aprisionou os três irmãos em um sono profundo. — Vocês despertarão apenas quando uma quebra da natureza acontecer —, ela proclamou antes de desaparecer em uma explosão de energia mágica, deixando o castelo mergulhado em silêncio.

A quebra da natureza era um conceito obscuro, mencionado apenas em lendas. Azura, no entanto, sabia o que significava. A maldição era clara: os irmãos Relish's só seriam libertados quando o impossível acontecesse – quando um ser imortal e um humano procriassem. Esse ato desafiaria as leis naturais, fundindo o que deveria ser eterno com o que era efêmero.

Era um evento que ninguém acreditava ser possível. A imortalidade vinha com um preço: a incapacidade de gerar vida. Mas Azura, em sua astúcia, sabia que o tempo poderia trazer surpresas, e que, quando a quebra da natureza ocorresse, os irmãos acordariam em um mundo completamente diferente daquele que conheciam.

O castelo tornou-se um mausoléu, onde os corpos adormecidos de Dalibor, Erebus e Hadria permaneciam inertes, mas preservados. As emoções intensas que eles carregavam em vida pareciam pulsar ainda nas paredes da fortaleza. Dalibor, em sua raiva e traição, fazia as sombras do castelo dançarem em noites sem luar. Erebus, com sua calma inabalável, mantinha o local envolto em uma sensação de expectativa silenciosa. E Hadria, com sua imprevisibilidade, parecia sussurrar segredos para aqueles corajosos o suficiente para se aproximarem.

Os séculos passaram, e o mundo mudou. As lendas sobre os irmãos Relish's tornaram-se histórias para assustar crianças, enquanto o castelo, envolto em névoas, era evitado pelos curiosos. Até que, em um dia que parecia como outro qualquer, algo incomum aconteceu.

Um rumor começou a circular – um humano e um imortal haviam desafiado as leis da natureza, e uma criança havia sido concebida. A terra tremeu, os céus escureceram, e o castelo, que há muito tempo permanecia em silêncio, começou a despertar.

As muralhas do castelo vibraram com um poder antigo, e, nas câmaras mais profundas, os olhos dos irmãos Relish's se abriram lentamente. Eles estavam de volta, mas o mundo que conheciam havia desaparecido. Agora, eles precisavam não apenas entender o que aconteceu durante seu sono, mas também enfrentar o significado da quebra da natureza e as consequências que isso traria para sua imortalidade e seu destino.

Após séculos de silêncio e escuridão, os irmãos Relish's despertaram, famintos e enfurecidos. A primeira coisa que fizeram foi saciar sua fome ancestral, caçando humanos que ousavam habitar ou se aventurar próximo ao castelo. Suas presas gritaram se perderam na noite, enquanto os irmãos, renascidos e mais poderosos, banqueteavam-se sem piedade. Quando finalmente estavam satisfeitos, Enoir, um dos primeiros imortais transformados por eles, surgiu das sombras para recebê-los.

Enoir era um guerreiro implacável e leal, de cabelos curtos pretos como carvão, olhos negros profundos e pele escura como a noite. Sua presença exalava autoridade, e sua figura, imponente e imortal, parecia carregar séculos de batalhas e histórias. Ele guiou os irmãos para a grande sala do castelo, onde mobiliário antigo e tapeçarias empoeiradas aguardavam seu retorno. Eles se acomodaram, cada um em seu lugar, enquanto Enoir, com sua voz grave, começou a narrar os eventos que ocorreram durante o sono profundo dos três.

── Dois anos após seu sono começar ──  Enoir começou ── em 1692, nós, os imortais, travamos uma guerra sangrenta contra as bruxas. Elas buscaram vingança pela queda de Azura e tentaram extinguir nossa existência. Foi uma guerra cruel e impiedosa, e, no final, as bruxas foram totalmente extintas.

Os olhos de Dalibor brilharam com raiva contida enquanto ele absorvia as palavras de Enoir. Hadria inclinou-se para frente, seus dedos tamborilando no braço de sua cadeira, enquanto Erebus, sempre calmo, permanecia em silêncio, mas seu semblante traía uma profunda melancolia.

── Mas a vitória teve um custo terrível ── Enoir continuou. ── Muitos de nós morreram, e aqueles que restaram começaram a se dividir. Alguns imortais, tomados pela ambição e pelo medo, se rebelaram. Tentaram tomar o controle, acreditando que, com vocês fora de cena, poderiam liderar nossa espécie.

Dalibor se levantou de sua cadeira com um movimento brusco, os olhos verdes brilhando com uma intensidade perigosa. ── Traidores? Rebelião? Quem ousou?

Hadria sorriu, mas não era um sorriso de alegria – era um sorriso frio e calculado. ── Quero os nomes. Cada um deles.

Erebus, porém, permaneceu sentado, com o olhar perdido no chão. ── Eles nos traíram. Nós lhes demos a imortalidade, e ainda assim nos viraram as costas. ── Sua voz era baixa, mas carregada de mágoa.

── Não se preocupem ── disse Enoir, levantando as mãos para acalmar a tensão crescente. ── Eu pessoalmente liderei a caçada aos traidores. Um a um, eles foram derrubados. No final, restaram pouquíssimos imortais. Muitos foram mortos na guerra contra as bruxas; outros caíram por causa de suas próprias ambições. Os que permaneceram foram dispersos. Ao longo dos séculos, nós nos escondemos, e nossa espécie tornou-se apenas uma lenda.

Os irmãos ficaram em silêncio enquanto assimilavam as palavras de Enoir. Dalibor cerrava os punhos, claramente furioso pela traição. Hadria, por outro lado, parecia intrigada, como se já estivesse planejando como usar essas informações a seu favor. Erebus finalmente levantou a cabeça e olhou diretamente para Enoir.

── Então, estamos sozinhos ── disse Erebus, sua voz calma, mas carregada de peso.

── Sim ── respondeu Enoir. ── Mas com o seu retorno, podemos nos reerguer. Podemos reivindicar nosso lugar no mundo novamente.

Os irmãos trocaram olhares, cada um com uma expressão diferente – raiva, cálculo e determinação. Eles sabiam que o mundo havia mudado, mas também sabiam que, como imortais, tinham o poder de moldá-lo novamente.

Dalibor foi o primeiro a falar. ── Reconstruiremos o que foi perdido. Traremos os imortais de volta, mas desta vez, sem piedade para com os fracos ou traidores.

Hadria inclinou-se para trás, um brilho sinistro nos olhos. ── E aqueles que ousarem nos desafiar... aprenderão que não há poder maior do que o nosso.

Erebus suspirou, mas assentiu. ── Se é para recomeçar, que seja feito de forma certa. Sem traições, sem erros.

Enoir observou em silêncio, satisfeito. Ele sabia que o retorno dos irmãos marcava o início de uma nova era. A era das lendas estava prestes a se transformar em realidade, e o mundo nunca mais seria o mesmo.

Enoir, ainda em pé diante dos irmãos, respirou fundo antes de continuar, seu olhar fixo neles, carregado de seriedade.

── Há algo mais que preciso contar, algo que vocês precisam entender sobre o mundo para onde despertaram. ── Ele fez uma pausa, observando as reações dos irmãos. — Com o sumiço dos imortais, um novo poder se ergueu. Os vampiros frios tomaram a frente. E agora, os Vulturis, liderados por Aro, Marcus e Caius, governam como a nova realeza.

Hadria arqueou uma sobrancelha, cruzando os braços. ── Vulturis? O que são esses... frios?

── São vampiros diferentes de nós ── explicou Enoir. ── Eles são frágeis, dependentes de sangue humano para sobreviver, e seus corpos são rígidos como pedra. Não envelhecem e possuem habilidades únicas, mas não têm a mesma essência que nós. No entanto, eles se organizaram. Estabeleceram leis e reinam sobre os seres sobrenaturais com mão de ferro. Os tempos mudaram, irmãos. Os humanos não prestam mais sacrifícios às divindades, e os outros seres sobrenaturais vivem sob o domínio dos Vulturis. Ninguém mais conhece os deuses.

Erebus estreitou os olhos. ── E onde nós entramos nisso?

── Para que vocês pudessem despertar, uma quebra da natureza precisaria acontecer ── continuou Enoir. ── Então, eu criei as condições para isso.

Dalibor inclinou-se para frente, interessado. ── Continue.

── Fiz uma humana se apaixonar por um frio. Foi um processo delicado, mas minha manipulação deu frutos. Desse amor proibido, nasceu uma criança ── uma meia-imortal. O impossível tornou-se realidade, e a quebra da natureza aconteceu. Foi isso que os trouxe de volta.

Os irmãos se entreolharam, surpresos. Hadria franziu o cenho, sua mente trabalhando rapidamente. ── Você sabe o que isso significa, não sabe? Lilith, nossa mãe, ficará furiosa pelo que fez. Ela sempre foi contra esse tipo de união.

Enoir sorriu de canto, um brilho confiante nos olhos. ── Lilith já sabe. Desde o início, eu a mantive informada sobre meu plano. Expliquei como ele traria vocês de volta, e ela me deu sua bênção. Ainda fiz sacrifícios em seu nome, garantindo que sua força permanecesse. Ela quer vocês de volta, mas com uma condição: devem ser cuidadosos. Ninguém pode descobrir quem realmente são.

Dalibor se recostou em sua cadeira, um sorriso perigoso nos lábios. ── Então, a velha Lilith ainda é sensata.

Enoir assentiu. ── Mais do que nunca. Ela deseja que vocês se aproximem da família Cullen, onde a meia-imortal faz parte. Observem. Esperem. O momento chegará, e quando a garota cometer um erro – e ela cometerá – vocês poderão exterminá-la sem levantar suspeitas. E então, irmãos, o mundo começará a lembrar o verdadeiro poder dos imortais.

Erebus, sempre cauteloso, perguntou: ── E Lilith? Quando a veremos?

── Ela está próxima ── respondeu Enoir. ── Ela espera o momento certo para se revelar a vocês. Por ora, vocês devem se fortalecer, entender este novo mundo e agir com paciência. Os frios podem ser poderosos, mas não têm nossa experiência ou essência divina. No momento certo, a balança será inclinada a nosso favor.

Dalibor ergueu uma taça de vinho ensanguentado, um brilho decidido nos olhos. ── Então que assim seja. Lilith nos trouxe de volta por um motivo, e não fracassaremos.

Os irmãos Relish's estavam de volta, e o mundo, embora ainda não soubesse, estava prestes a testemunhar o retorno de um poder antigo e incontrolável.

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