𝗰𝗮𝗽𝗶𝘁𝘂𝗹𝗼 𝗱𝗼𝗶𝘀 | alma gêmea

CAPÍTULO DOIS.
── ❝alma gêmea.❞

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Hadria e Rosalie passaram a semana inteira se evitando na escola de Forks. Hadria fazia o possível para ignorar a presença da loira fria, desviando o olhar sempre que a via e mantendo-se longe dos Cullens. Rosalie, por outro lado, parecia igualmente determinada a manter distância, embora sua expressão ficasse cada vez mais fechada a cada encontro inesperado pelos corredores. No entanto, quanto mais Hadria evitava Rosalie, mais fraca ela se sentia.

Era uma sensação estranha, como se parte de sua força estivesse sendo drenada a cada dia. A imortal, que nunca havia experimentado qualquer tipo de fraqueza física em séculos, sentia-se vulnerável pela primeira vez. Sua pele, antes luminosa, parecia opaca, e até mesmo sua mente parecia enevoada. Isso estava começando a preocupar seus irmãos.

── Algo está errado ── Erebus afirmou naquela noite, enquanto os três se reuniam no castelo. Ele olhou para Hadria com uma expressão séria. ── Você está diferente, e não estou falando apenas do que aconteceu com Rosalie.

── Não precisa ser um gênio para perceber ── Dalibor acrescentou, cruzando os braços enquanto encarava a irmã mais nova. ── Você está fraca, Hadria. Isso não é normal. Nós somos imortais, a verdadeira linhagem. O que está acontecendo com você?

Hadria suspirou, sentindo-se encurralada pelos olhares preocupados dos irmãos. ── Eu não sei ── admitiu, sua voz baixa e incerta. ── Eu me sinto... vazia, como se algo estivesse me puxando para baixo. Não consigo entender. Talvez... talvez seja por causa dela.

Dalibor bufou, frustrado. ── Não acredito que essa conexão com a fria está fazendo isso com você. Não pode ser. Algo mais está em jogo aqui.

Enquanto isso, a rotina dos irmãos continuava na pequena cidade de Forks. Dalibor, como professor de história, logo se tornou o educador mais temido da escola. No início, ele tentou ser paciente, como Erebus sugeriu, mas a ignorância e a falta de interesse dos adolescentes logo o tiraram do sério. Ele corrigia qualquer resposta errada com uma frieza que fazia os alunos estremecerem, e seu olhar severo era o suficiente para silenciar até os mais ousados.

── Você está assustando as crianças ── Erebus comentou em uma das noites, tentando suavizar a expressão de Dalibor com um tom de humor.

── Não são crianças, são idiotas ── retrucou Dalibor, sua paciência já esgotada. ── Eles mal sabem quem foi Júlio César, Erebus. Como alguém pode viver sem saber disso?

Erebus, por sua vez, parecia estar se adaptando bem à sua nova vida como médico. No hospital de Forks, seus pacientes pareciam adorá-lo, impressionados com sua calma, simpatia e habilidade inigualável. Ele trocava algumas palavras com Carlisle Cullen sempre que seus turnos coincidiam, encontrando no patriarca dos Cullens um interlocutor intrigante.

── Carlisle é... diferente ── Erebus comentou uma noite, enquanto atualizava Dalibor e Hadria sobre sua interação com o frio. ── Ele não é como os Vulturis. Ele realmente parece acreditar em convivência pacífica com os humanos. É quase... ingênuo.

── Ou estrategista ── Dalibor respondeu, sem esconder seu ceticismo. ── Não confio em nenhum deles, Erebus. Não importa o quão 'gentil' ele pareça ser.

Enquanto isso, Hadria mal prestava atenção na conversa. Ela estava ocupada tentando entender o que estava acontecendo com ela. A fraqueza crescente e a angústia de evitar Rosalie estavam começando a tomar conta de seus pensamentos. Algo estava errado, e ela sabia que, cedo ou tarde, teria que encarar o que estava acontecendo com ela e com a conexão inexplicável entre ela e Rosalie Hale.

Naquela noite, os irmãos Relish's reuniram-se na grande sala do castelo. O ambiente era iluminado apenas por velas, criando sombras dançantes nas paredes de pedra. A preocupação com Hadria estava atingindo um ponto crítico, e Dalibor, sempre o mais impulsivo, foi o primeiro a falar.

── Já passou da hora de fazermos o que sempre fizemos antes de cair naquele maldito sono profundo ── ele declarou, olhando diretamente para Erebus e Hadria. ── Desde que acordamos, não fizemos nenhum sacrifício em nome de Lilith. Talvez seja por isso que Hadria está enfraquecendo.

Hadria, sentada com os braços cruzados e um semblante cansado, ergueu os olhos para o irmão. ── Você acha que Lilith está me punindo?

── Não é uma punição ── Erebus respondeu calmamente, tentando trazer alguma razão à discussão. ── Lilith sempre exigiu sacrifícios como parte de nossa existência. Faz parte do pacto que fizemos quando nos tornamos imortais. Talvez ela esteja... nos lembrando de nossa dívida.

── Não importa o motivo  ── Dalibor interveio, sua voz sombria. ── O que importa é que precisamos agir agora. Não podemos ignorar isso por mais tempo.

Enoir, que até então estava em silêncio, finalmente se pronunciou. Ele havia passado a maior parte da semana observando a situação em silêncio, mas agora parecia ter tomado uma decisão. ── Já preparei tudo ── ele disse, com sua voz baixa e carregada de autoridade. ── Há humanos que não serão notados caso desapareçam. Serão eles os escolhidos para o sacrifício.

Hadria olhou para Enoir com uma mistura de alívio e desconforto. Apesar de saber que era necessário, a ideia de sacrifícios sempre a deixava inquieta. Não era como se os humanos fossem apenas gado para ela, como Dalibor frequentemente dizia. Ela entendia a importância, mas isso não tornava mais fácil.

── Vamos fazer isso ── Erebus disse finalmente, levantando-se. ── Se é o que Lilith exige, então não podemos hesitar. Precisamos de sua força agora mais do que nunca, especialmente com Hadria enfraquecendo.

Enoir fez um gesto para que todos o seguissem. Ele os levou até uma sala mais afastada no castelo, onde um altar havia sido montado. O ambiente exalava poder antigo, e o símbolo de Lilith estava esculpido na pedra central do altar, reluzindo à luz das velas.

── Que este sacrifício nos conecte novamente à nossa mãe e restaure a força de nossa irmã ── Enoir disse, enquanto começava os preparativos finais.

Os irmãos Relish's se posicionaram ao redor do altar, suas expressões sérias e cheias de determinação. Eles sabiam que aquele momento era crucial. Se Lilith os havia despertado para algo grandioso, não podiam falhar em honrá-la.

Enquanto o ritual começava, Hadria fechou os olhos, sentindo uma onda de energia começar a pulsar pelo ambiente. Mesmo relutante, ela sabia que aquele sacrifício poderia ser sua única salvação.

O ritual seguiu seu curso com precisão. As palavras antigas foram entoadas, e o sangue oferecido tingiu o altar com um brilho sobrenatural. O ambiente ficou carregado com uma energia quase palpável, e então, ela apareceu.

Lilith, a Mãe de todos os imortais, manifestou-se diante deles. Sua presença era avassaladora. Sua pele negra parecia absorver a luz ao redor, enquanto seus cabelos cacheados emolduravam seu rosto de traços delicados. Usava um vestido branco de alça fina e folgado, que contrastava com a intensidade de seus olhos azuis brilhantes, profundos como o oceano. Ela era a personificação da beleza e do poder, e os irmãos, junto com Enoir, imediatamente se ajoelharam em respeito.

── Meus filhos ── Lilith começou, sua voz calma mas carregada de autoridade. ── Levantem-se. Não há necessidade de cerimônias entre nós.

Eles se ergueram, embora a reverência permanecesse evidente em seus olhares. Erebus foi o primeiro a falar, sua expressão refletindo a urgência que sentia.

── Mãe, agradecemos por sua presença ── disse ele. ── Precisamos de sua sabedoria. Hadria está enfraquecendo, e não sabemos por quê.

Lilith desviou o olhar para Hadria, que permanecia um pouco mais atrás, com uma expressão relutante. A deusa caminhou até ela, pousando uma mão leve sobre seu rosto pálido.

── Ah, minha querida ── disse Lilith, com um leve sorriso, embora seus olhos carregassem uma tristeza compreensiva. ── O motivo de sua fraqueza é simples. Você está longe de sua alma gêmea.

── Minha alma gêmea? ── Hadria sussurrou, a angústia transparecendo em sua voz.

Lilith assentiu. ── Quando eu os transformei, fiz com que suas almas fossem ligadas à de outro ser. Isso foi necessário para garantir que ainda houvesse um resquício de humanidade em vocês. Sem isso, teriam se tornado monstros descontrolados, destruindo tudo em seu caminho. Suas almas gêmeas são como âncoras, um equilíbrio que mantém sua sanidade e controla seu poder.

Dalibor franziu o cenho, sua mente voltando para a bruxa Azura e o que ele havia acreditado ser amor. ── Mas... isso nunca aconteceu comigo. Eu nunca senti essa ligação.

Lilith olhou para Dalibor com um leve tom de compaixão. ── O que você sentiu foi uma ilusão, fruto da magia de Azura. A verdadeira ligação não pode ser forjada, apenas descoberta. Hadria é a primeira de vocês a encontrar sua verdadeira alma gêmea.

Hadria desviou o olhar, sentindo o peso das palavras de Lilith. ── Mas ela é... uma fria. Não faz sentido. Como posso estar ligada a alguém como ela?

Lilith sorriu suavemente, mas seus olhos ficaram sérios. ── As almas não distinguem entre raças ou condições. Elas apenas encontram o equilíbrio. E se você continuar ignorando essa conexão, minha filha, sua sanidade será consumida. Você se tornará louca, perturbada, e isso é perigoso não apenas para você, mas para todos ao seu redor.

Erebus, sempre o mediador, perguntou com cautela: ── O que ela deve fazer, Mãe? Aproximar-se dela?"

Lilith assentiu, seus olhos azuis brilhando intensamente. ── Sim. Você não precisa revelar sua verdadeira natureza ainda, Hadria. Mas não pode continuar se afastando de sua alma gêmea. Quanto mais você a evita, mais fraca ficará, até que perca o controle completamente.

A sala mergulhou em silêncio após essas palavras. Hadria sentiu uma mistura de medo e culpa crescendo dentro dela. Ela sabia que Lilith nunca exagerava ou errava em suas previsões. Se continuasse como estava, colocaria não apenas a si mesma, mas também seus irmãos e Enoir, em perigo.

── Eu... tentarei ── disse Hadria finalmente, embora sua voz fosse pouco mais que um sussurro.

Lilith assentiu, satisfeita, mas com um último aviso. ── Lembre-se, minha filha: o tempo não está a seu favor. Se você não agir, o caos tomará conta de você. E quando isso acontecer, nem mesmo eu poderei salvá-la.

Com essas palavras, Lilith começou a se dissipar, sua figura brilhante desaparecendo no ar. Mas sua presença ainda parecia estar gravada no ambiente, deixando os irmãos em um silêncio reflexivo, pesando as consequências do que haviam acabado de ouvir.

Com a revelação de Lilith ainda ecoando em sua mente, Hadria isolou-se em um dos corredores do castelo. Sentada no parapeito de uma grande janela, ela observava a noite lá fora, a lua cheia lançando seu brilho prateado sobre a floresta densa. Ela estava pensativa, mas não exatamente no sentido de reflexão calma. Era um turbilhão de emoções contraditórias que a consumia.

Uma alma gêmea? Ela bufou, rindo sem humor ao pensar na ideia. ── Que piada ── murmurou para si mesma. ── Eu? Humana? Que tipo de cruel ironia é essa, Lilith?

Ela se recusava a aceitar o conceito de que sua força e identidade estariam de alguma forma ligadas a outra pessoa. Hadria sempre foi suficiente por si só. Dependência era algo que ela desprezava, e agora, mais do que nunca, sentia como se isso estivesse sendo imposto a ela.

Mas o que mais a incomodava era a menção de "resquício de humanidade". Era como se Lilith estivesse insinuando que, no fundo, ela tinha algo que preferia acreditar ter perdido há séculos. Pensar em compaixão, fraqueza, ou qualquer coisa associada a humanidade era repulsivo para Hadria.

E então, havia Dalibor. Seu irmão mais velho era o perfeito exemplo de um vampiro imortal que havia abraçado sua natureza sem remorso ou hesitação. Não havia um único traço de humanidade nele. Não havia culpa, piedade ou hesitação em suas ações. Dalibor era cru, puro, e incansavelmente cruel quando necessário.

── Dalibor não tem nem 0,1% de humanidade em si ── Hadria sussurrou, um sorriso cínico curvando seus lábios. ── E ainda assim, ele é tão poderoso quanto sempre foi. Por que eu teria que me curvar a uma conexão? Por que eu precisaria de alguém? Isso... isso não faz sentido.

Mas, mesmo enquanto falava para si mesma, uma pontada de dúvida se instalava em seu peito. Lilith raramente errava, e o fato de que ela estava enfraquecendo não podia ser ignorado. Havia algo na ligação com Rosalie que era real, algo que ia além de sua compreensão ou controle.

O pensamento de Rosalie trouxe outra onda de emoções confusas. Aquela fria, com seu olhar intenso e quase arrogante, havia deixado uma marca. Mesmo enquanto se evitavam na escola, Hadria sentia a conexão pulsando, quase como uma corrente elétrica invisível que a puxava para Rosalie.

Por mais que desprezasse a ideia, sabia que não poderia fugir disso para sempre. ── Lilith pode estar certa sobre o laço ── admitiu baixinho, embora sua voz estivesse carregada de relutância. ── Mas isso não significa que eu vou me curvar a ele.

Determinada a manter o controle sobre sua própria existência, Hadria decidiu que, por enquanto, faria o que sempre fazia: manter sua força e sua independência, mesmo que isso significasse ignorar o aviso de Lilith. Afinal, se Dalibor podia viver sem uma alma gêmea, por que ela não poderia fazer o mesmo?

Ainda assim, no fundo, algo nela sabia que esse laço com Rosalie era diferente. E era isso que a deixava inquieta.

Enquanto isso, no escritório do castelo, Dalibor e Erebus estavam sentados em cadeiras luxuosas de couro, com uma garrafa de cristal entre eles, cheia de sangue fresco. Cada um segurava uma taça, girando o líquido escarlate enquanto conversavam sobre a situação de Hadria.

Dalibor, como sempre, parecia impassível, mas a preocupação velada em seus olhos verdes traía seus pensamentos. Ele levou a taça aos lábios, bebendo um gole antes de romper o silêncio:
── Ela nunca vai aceitar isso. Hadria é teimosa demais. E quanto mais tentarmos forçá-la, mais ela vai resistir.

Erebus assentiu lentamente, os olhos castanhos pensativos. ── Ela é teimosa porque puxou você ── respondeu ele, com um leve tom de reprovação. ── Mas isso não muda o fato de que, se ela continuar resistindo, perderemos Hadria. A Mãe foi clara.

Dalibor franziu o cenho. A ideia de perder a irmã era algo que ele simplesmente não podia aceitar. Apesar de sua postura fria e autoritária, Dalibor sempre teve um apego feroz por seus irmãos. ── Então, o que você sugere, sábio irmão? ── ele perguntou, com um toque de sarcasmo.

Erebus sorriu ligeiramente, acostumado à atitude de Dalibor. ── Ela não vai se aproximar de Rosalie por conta própria. Mas podemos criar situações que as forcem a interagir.

Dalibor arqueou uma sobrancelha. ── E como você sugere que façamos isso? Eu não posso exatamente obrigá-las a sentar juntas e conversar sobre os próprios sentimentos.

Erebus apoiou a taça na mesa de madeira polida e cruzou os braços. ── Você é o professor de história, Dalibor. Use isso. Faça com que elas trabalhem juntas em algum projeto. Algo que exija proximidade e colaboração.

Dalibor riu com uma mistura de incredulidade e admiração. ── Você realmente acha que eu vou usar minha posição para brincar de cupido, Erebus? Isso é ridículo.

── Ridículo seria não fazer nada ── Erebus rebateu, sua voz séria agora. ── Hadria está ficando mais fraca a cada dia, e Lilith nos avisou o que acontecerá se ela continuar negando a conexão. Se você se importa com ela tanto quanto diz, vai engolir seu orgulho e fazer o que for necessário.

Dalibor bufou, mas sabia que o irmão tinha razão. Erebus sempre foi o mais sensato entre eles, o que fazia dele o mediador natural em suas discussões. Ainda assim, a ideia de manipular as coisas para aproximar Hadria e Rosalie parecia estranha.

 ──Tá bom ── Dalibor finalmente cedeu, levantando a taça para tomar outro gole. ── Eu vou pensar em algo. Mas não garanto que vai funcionar. Rosalie parece tão teimosa quanto Hadria.

Erebus deu de ombros, relaxando um pouco na cadeira. ── Isso não importa. O importante é criar a oportunidade. O resto... é com elas.

Os dois ficaram em silêncio por alguns momentos, cada um imerso em seus próprios pensamentos. Dalibor, embora relutante, já começava a arquitetar um plano. Afinal, se fosse para salvar Hadria, ele estava disposto a enfrentar até mesmo os frios.

Voltando para onde Hadria estava, ainda sentada no parapeito da janela, envolta em seus pensamentos confusos, o som de passos firmes ecoou pelo corredor do castelo. Ela não precisou virar-se para saber quem era; o aroma familiar e a energia distinta de Enoir denunciavam sua presença.

Ele se encostou na parede oposta, os braços cruzados sobre o peito, observando-a com uma expressão tranquila, mas cheia de curiosidade. Enoir era um homem de presença marcante, com pele negra como a noite e olhos igualmente profundos que pareciam enxergar além das aparências. Seu cabelo curto e sempre bem alinhado refletia sua natureza metódica, embora houvesse um ar descontraído em sua postura.

── Você parece perdida ── Enoir comentou, a voz grave cortando o silêncio do corredor.

Hadria suspirou, mas não respondeu imediatamente. Ela continuou olhando pela janela, fingindo estar mais interessada no luar do que em sua própria confusão. Finalmente, virou-se para encará-lo. ── Eu não estou perdida. Só... irritada.

── Ah, claro ── ele disse, com um sorriso irônico. ── Porque é tão típico você estar irritada. Deve ser terça-feira.

Hadria revirou os olhos, mas não pôde deixar de esboçar um leve sorriso. Enoir tinha essa capacidade de desarmá-la, de aliviar um pouco a tensão que parecia sempre presente em sua vida.

── Você veio aqui para me provocar ou tem algo útil a dizer? ── ela perguntou, arqueando uma sobrancelha.

── Eu vim porque percebi que você está mais calada do que o normal ── Enoir respondeu, aproximando-se lentamente. Ele se sentou na beirada oposta da janela, frente a ela, mas manteve uma distância respeitosa. ── E, sendo sincero, você é péssima em esconder quando algo está errado. Então, o que está acontecendo, pequena Relish?

Hadria bufou ao ouvir o apelido, mas havia uma certa familiaridade que ela apreciava nele. Afinal, Enoir não era apenas um seguidor leal dos irmãos Relish, mas também uma extensão da família. Ele foi transformado por Dalibor, e, com o tempo, tornou-se uma espécie de confidente para todos eles.

── Você sabe ── ela começou, finalmente quebrando o silêncio. ── Lilith disse que minha fraqueza está ligada à... ela.

── Ela? ── Enoir arqueou uma sobrancelha, mas sua expressão rapidamente se suavizou. Ele já sabia de quem Hadria estava falando. ── A loira Hale.

Hadria não confirmou, mas o olhar que lançou a ele foi suficiente.

Enoir inclinou a cabeça, estudando-a. ── Então é verdade. Você encontrou sua alma gêmea. A primeira entre nossa espécie.

── Eu não quero isso ── Hadria respondeu com firmeza, os olhos escuros brilhando com intensidade. ── Não pedi por isso. Não preciso de uma alma gêmea para ser quem sou.

Enoir ficou em silêncio por um momento, analisando as palavras dela. Finalmente, ele respondeu: ── Talvez você não precise, mas negar algo tão intrínseco a quem você é não vai mudar o que está acontecendo. Lilith explicou isso. Você está se enfraquecendo porque está fugindo do laço. Pode resistir o quanto quiser, mas sabe que, eventualmente, vai ceder.

Hadria apertou os lábios, os olhos desviando para o chão. ── Você não entende. Eu... eu não quero ser como eles. Presa em laços emocionais. Eu sou uma Relish, não uma Hale.

── Você é uma Relish, sim ── Enoir concordou, a voz suave, mas firme. ── Mas também é imortal, e até nós temos nossas regras. Lilith não nos deu a imortalidade sem consequências. Pense nisso não como uma fraqueza, mas como um equilíbrio. Talvez sua humanidade seja o que vai te salvar no final.

As palavras de Enoir pairaram no ar, ressoando na mente de Hadria. Ela sabia que ele estava certo, mas admitir isso era outra questão. Com um suspiro exasperado, ela voltou a olhar pela janela, enquanto Enoir se levantava.

── Eu não estou tentando te forçar a nada ── ele disse, colocando uma mão no ombro dela antes de se afastar. ── Mas você sabe onde me encontrar se precisar conversar.

Hadria permaneceu em silêncio enquanto ele desaparecia pelo corredor. Por mais que quisesse negar, a verdade era clara: ela estava em um conflito que não poderia ignorar para sempre.

A madrugada estava em seu auge, o luar atravessava as altas janelas do castelo, lançando sombras distorcidas pelas paredes de pedra fria. Os Relish estavam em silêncio, cada um perdido em seus próprios pensamentos.

Dalibor estava no escritório, os dedos longos apertando a taça de cristal enquanto fitava o líquido vermelho. Sua mente vagava, retornando ao passado sombrio que ele tentava enterrar. Azura. O nome ainda trazia um gosto amargo à sua boca. Ele lembrava da sensação de ser manipulado, de como ela brincou com suas emoções, levando-o a acreditar que era amado. Séculos haviam se passado, mas o ódio ainda queimava em seu peito, como brasas prestes a explodir em chamas.

No salão principal, Erebus caminhava de um lado para o outro. Ele era o mediador, o equilíbrio entre seus irmãos. Mas agora, até ele sentia o peso da situação. Dalibor estava à beira de perder o controle, e Hadria... ela estava mais vulnerável do que jamais vira. Ele passava a mão pelos cabelos castanhos, suspirando. ── Duas bombas-relógio ── murmurou para si mesmo, preocupado com o que aconteceria se o equilíbrio da família fosse quebrado.

No quarto mais alto da torre, Hadria estava sentada em sua cama, os joelhos puxados contra o peito. Seus olhos escuros encaravam o vazio enquanto sua mente girava. Ela odiava a ideia de depender de outra pessoa para sua sanidade, mas Lilith havia sido clara. E se isso significava aceitar Rosalie, então ela o faria. Mas não sem condições. ── Se Rosalie Hale é minha alma gêmea, então ela terá que provar que é digna de ser uma Relish ── pensou Hadria, os lábios curvando-se em um sorriso determinado.

Embora suas personalidades fossem tão diferentes quanto o dia e a noite, os Relish tinham algo em comum que os mantinha unidos: um amor incondicional um pelo outro. Era um laço forjado não apenas pelo sangue, mas pelos séculos de desafios que enfrentaram juntos. Por mais que discordassem, por mais que discutissem, no fundo sabiam que fariam qualquer coisa uns pelos outros.

E enquanto a madrugada avançava, o castelo sombrio parecia mais vivo do que nunca, alimentado pelas emoções intensas de seus habitantes. Os Relish não eram apenas uma família; eram uma força, e o mundo que se preparasse para o que estava por vir.

próximo capítulo só será postado quando bater a meta!

3693 palavras.

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