𝒗𝒊𝒏𝒕𝒆 𝒆 𝒒𝒖𝒂𝒕𝒓𝒐. felizes para sempre

VINTE E QUATRO.   felizes para sempre

Com determinação renovada, Theo começou a caminhar em direção ao Hospital St. Mungus. Ele sabia que a jornada seria longa, não apenas para Evie, mas para ele também. Cada passo era uma declaração silenciosa de que ele estaria ao lado dela, não importa o que acontecesse.

Quando ele chegou ao hospital, o ambiente era caótico. Curandeiros corriam para lá e para cá, lidando com feridos da batalha, mas Theo não desviou o olhar do corredor principal, onde sabia que encontraria informações sobre Evie.

“Evangeline Vaillant,” ele disse rapidamente ao recepcionista. “Onde ela está?”

O bruxo o encarou por um momento, percebendo o desespero em sua voz, e apontou para o andar superior. “Ela está sendo tratada na ala de encantamentos críticos. Mas você não pode vê-la agora.”

Theo cerrou os punhos, a frustração e o medo se misturando. “Eu preciso vê-la. Por favor.”

“Não até que os curandeiros deem permissão,” respondeu o bruxo, firme, mas não sem compaixão.

Theo assentiu, respirando fundo para controlar a ansiedade. Ele se sentou em uma das cadeiras da sala de espera, as mãos entrelaçadas, a cabeça baixa. Cada minuto parecia uma eternidade, mas ele sabia que não tinha escolha a não ser esperar.

Enquanto Theo permanecia sentado no corredor, o silêncio ao seu redor parecia ensurdecedor. Sua mente vagava por memórias que pareciam tão distantes, mas ao mesmo tempo tão vívidas. Ele se lembrou do riso de Evie ecoando pelos corredores de Hogwarts, dos momentos em que ela o encorajava com aquele brilho teimoso nos olhos e das vezes em que sua força e determinação o inspiraram nas batalhas mais sombrias. Cada lembrança o segurava ali, uma âncora em meio ao caos. Ela nunca desistira dele, e ele sabia que agora não poderia desistir dela.

O som de passos apressados o tirou de seus pensamentos. Os avós de Evie apareceram pelo corredor, acompanhados por Pansy e Draco. Assim que viu Theo, Pansy caminhou até ele sem hesitar e o envolveu em um abraço apertado.

“Ela vai ficar bem,” sussurrou Pansy, sua voz cheia de convicção. Era o tipo de certeza que Theo precisava, mesmo que fosse difícil acreditar naquele momento. Ele apertou os olhos, tentando segurar as lágrimas, mas não respondeu.

Draco se aproximou em silêncio, mantendo-se um pouco à parte, mas oferecendo sua presença como um gesto de apoio. Mesmo ele, sempre tão orgulhoso e reservado, parecia diferente, mais humano diante daquela situação.

Logo, os pais de Evie apareceram ao final do corredor. A expressão no rosto deles era um reflexo da própria dor de Theo: preocupação, cansaço e uma determinação sombria para enfrentar o que viesse pela frente.

"E então, como ela está?" perguntou Eloide, a avó de Evie, sua voz trêmula mas ainda carregada de esperança.

Theo tentou falar, mas sentiu a garganta se fechar. Estava exausto, emocionalmente despedaçado, incapaz de encontrar as palavras. Lolie, a mãe de Evie, foi quem respondeu.

"Estável, mas ainda desacordada," disse ela, tentando manter o tom firme. Seus olhos, no entanto, denunciavam o medo que carregava.

Charlie, o pai de Evie, deu um passo à frente, colocando a mão no ombro de Lolie. "Ainda não sabem quando ela vai acordar," acrescentou, a voz pesada de cansaço.

"Nossa estrela passou por muita coisa ultimamente," murmurou Antoine, o avô de Evie, com um suspiro profundo. "Ela precisa descansar."

As palavras dele pareceram lançar um peso ainda maior sobre o grupo. Alguns abaixaram a cabeça em silêncio, enquanto outros enxugavam discretamente as lágrimas que escapavam. O ar estava carregado de emoções, mas também de uma força coletiva que os mantinha de pé.

Theo, ainda sem forças para falar, apenas assentiu. Ele sabia que não estava sozinho, que todos ali compartilhavam a mesma dor e esperança. E isso, por mais pequeno que fosse, trouxe uma centelha de conforto.

O silêncio que se seguiu às palavras de Antoine era pesado, carregado de emoções não ditas. Theo permaneceu imóvel, o olhar fixo no chão, enquanto o peso das lembranças e das palavras de conforto o envolvia como um cobertor sufocante. Pansy apertou o ombro dele, como se quisesse transferir um pouco de sua força, mas ele apenas assentiu, incapaz de encontrar palavras para responder.

Lolie, a mãe de Evie, olhou ao redor, tentando manter a compostura. Seus olhos estavam vermelhos, mas havia uma determinação feroz neles. Ela era conhecida por sua força, mas naquele momento até ela parecia à beira de desabar.

“Ela vai acordar,” Lolie disse com firmeza, mais para si mesma do que para os outros. “Minha menina sempre foi forte. Ela vai encontrar o caminho de volta para nós.”

Charlie passou um braço ao redor dos ombros de Lolie, seu rosto endurecido pela preocupação. Ele era um homem de poucas palavras, mas a dor em seus olhos era clara. “Estamos aqui para ela. E estaremos quando ela abrir os olhos.”

Antoine, o avô de Evie, limpou a garganta, a voz rouca pela emoção. “Nossa Evangeline sempre foi uma lutadora. Desde pequena, ela sempre enfrentou os desafios com coragem. Isso não vai ser diferente.”

Eloide, a avó, enxugou discretamente as lágrimas que escapavam. “Sim, mas ela não precisa enfrentar isso sozinha,” disse ela, olhando para todos na sala. “Ela tem cada um de nós aqui. E isso faz toda a diferença.”

O grupo ficou em silêncio por um momento, cada um mergulhado em seus próprios pensamentos. A presença deles, apesar da dor, era uma declaração silenciosa de que Evie não estava sozinha, nem por um segundo.

Pansy, sempre a pragmática, quebrou o silêncio. “Theo, você precisa comer algo,” ela disse suavemente, mas com firmeza. “Evie não ficaria feliz em te ver assim, completamente esgotado.”

Theo balançou a cabeça. “Eu não consigo pensar em nada agora,” respondeu ele, a voz quase inaudível. “Eu só... preciso estar aqui quando ela acordar.”

“E você estará,” Draco interveio, sua voz mais séria do que o habitual. “Mas você não pode ajudar Evie se cair de exaustão. Vai ser difícil, mas ela precisa de você inteiro, cara.”

Theo olhou para Draco, surpreso pela gentileza inesperada em suas palavras. Ele sabia que o amigo tinha razão, mas a ideia de se afastar, mesmo que por um momento, parecia impossível.

“Eu fico com ela,” ofereceu Eloide, a voz carregada de determinação. “Vocês vão comer algo e descansar um pouco. Prometo que aviso imediatamente se houver qualquer mudança.”

Theo hesitou, seus pés parecendo enraizados ao chão, mas, ao olhar para Pansy, percebeu a firmeza em seus olhos. Ela estava certa, e ele sabia disso. Com um último olhar para a sala onde Evie estava, ele finalmente assentiu, levantando-se com dificuldade. Cada movimento parecia um esforço monumental, como se o peso de sua dor tivesse se tornado físico.

Pansy colocou uma mão reconfortante em seu braço enquanto Draco, em silêncio, caminhava ao seu lado, uma presença sólida e confiável. Eles não precisavam dizer nada; a compreensão mútua era o suficiente.

Conforme seguiam pelo corredor, Theo não resistiu à vontade de olhar por cima do ombro. Seus olhos encontraram os de Eloide, a avó de Evie, que agora segurava a mão de Lolie, sua filha. Antoine, ao lado delas, mantinha um semblante sério, mas seus olhos estavam fixos na porta, como se estivesse em uma oração silenciosa. Charlie estava um pouco afastado, com as mãos nos bolsos e o olhar perdido, mas o modo como ele se posicionava próximo à família mostrava que, mesmo na dor, eles eram um só.

Aquela visão mexeu com Theo. Apesar de todo o medo e a incerteza que o consumiam, havia algo naquela união que acendeu uma pequena fagulha dentro dele.

Evie era forte. Ele sabia disso melhor do que ninguém. Ela não era do tipo que desistia, nem mesmo diante das maiores adversidades. E enquanto todos estivessem ali — sua família, seus amigos —, ele acreditava que ela encontraria o caminho de volta.

Quando finalmente saíram do corredor, o ar fresco do lado de fora parecia carregado de promessas. Theo respirou fundo, fechando os olhos por um momento. Ele precisava acreditar, não apenas por Evie, mas por ele mesmo. Se ela estava lutando, ele também lutaria. E, juntos, de uma forma ou de outra, eles superariam aquilo.

﹙🐍﹚

Assim que os três sonserinos voltaram ao hospital, uma leve sensação de renovação tomou conta deles. Eles haviam comido algo e, mesmo que Theo não tivesse conseguido dormir muito, o descanso e a pausa o ajudaram a sentir-se um pouco mais inteiro. O vazio que o consumia desde a batalha ainda estava lá, mas algo na rotina, mesmo que mínima, parecia trazê-lo de volta ao mundo exterior.

Eles caminharam silenciosamente pelos corredores até a ala onde Evie estava. Ao chegarem, encontraram os pais de Evie na porta do quarto. O sorriso cansado de Eloide e Charlie os saudou, mas era um sorriso de quem sabia que a luta ainda não havia terminado. Antoine estava ao lado deles, uma expressão de preocupação velada no rosto. Mas, ao ver os três chegando, ele apenas assentiu, como se reconhecesse o peso de suas jornadas também.

"Theo, acho que alguém quer ver você," disse Eloide, sua voz suave, mas com um toque de esperança.

As palavras caíram sobre Theo como um bálsamo para a alma, e ele sentiu uma onda de alívio que mal conseguiu controlar. Foi como se uma camada de peso fosse retirada de seus ombros, embora sua dor e apreensão ainda estivessem presentes. Ele respirou fundo, sentindo o ar pela primeira vez de maneira mais clara. "Posso vê-la?"

"Por alguns minutos," respondeu o curandeiro que estava saindo do quarto de Evie. "Ela precisa de descanso."

Theo assentiu sem hesitar e, com o coração batendo mais rápido, entrou no quarto. O ar lá dentro era silencioso, pesado com o cheiro suave de remédios e o som de monitores emitindo sinais discretos de vida. Quando seus olhos encontraram Evie, o alívio quase o fez vacilar. Ela estava ali, pálida, mas viva, respirando calmamente. Seus cabelos estavam um pouco desalinhados, a pele fria, mas a familiaridade de sua presença o envolveu como um abraço.

Ele se aproximou devagar, sentindo as emoções tomarem conta de seu peito. O ambiente parecia estar em um tipo de suspensão, onde o tempo corria mais devagar. Ele se sentou ao lado de Evie, tomando sua mão com cuidado, como se ela fosse algo frágil demais para ser tocada de qualquer maneira.

"Eu te disse que estaria aqui," ele sussurrou, a voz baixa, mas carregada de uma emoção que ele não conseguia mais esconder. "E eu vou continuar aqui, até você voltar pra mim."

O sorriso de Evie foi tão sutil que Theo quase duvidou de tê-lo visto. Mas ali, mesmo em seu estado de descanso, havia algo nos olhos dela que transmitia um leve raio de esperança. Ele apertou sua mão com mais força, como se a estivesse reafirmando: não importa o que aconteça, eu vou lutar por você, por nós.

Theo ficou ali por mais alguns minutos, cada segundo mais precioso do que o anterior. Ele sabia que sua batalha estava apenas começando, mas aquela pequena conexão, aquela promessa silenciosa entre ele e Evie, era tudo o que ele precisava para seguir em frente. Ela ia acordar, e quando isso acontecesse, ele estaria ao seu lado, como sempre deveria estar.

﹙🐍﹚

SEMANAS DEPOIS

O jantar estava pronto na casa dos Vaillant. O ambiente era acolhedor, com a luz suave das velas iluminando a mesa bem posta. O cheiro de comida caseira preenchia a casa, um contraste agradável com a tensão que ainda pairava no ar. As semanas após a grande batalha contra Voldemort haviam sido longas e difíceis, mas a casa de Evie oferecia um refúgio, um lugar onde, pelo menos por algumas horas, podiam tentar esquecer o peso dos últimos dias.

Os pais de Evie, imersos em um misto de alívio e preocupação, haviam insistido em preparar um jantar especial. Lolie, a mãe de Evie, com as mãos cansadas mas decididas, organizava os últimos detalhes na cozinha. Antoine, o avô de Evie, estava ao lado dela, compartilhando histórias para quebrar o silêncio que pairava entre os dois, enquanto Charlie ajudava na arrumação da mesa. Mesmo com o cansaço, todos estavam presentes, unidos pela esperança de que as coisas poderiam, finalmente, começar a melhorar.

Theo estava na sala de estar, cercado por Draco, Pansy e Eloide, avó de Evie, que estava concentrada em seu livro. Theo estava com um olhar distante, ainda tocado pelo silêncio de Evie, que não havia falado desde a batalha. Ela estava fisicamente bem, os médicos haviam garantido, mas o trauma da batalha e tudo o que ela havia enfrentado parecia ter deixado uma marca mais profunda do que qualquer um imaginava. Além de que, a marca negra ainda a assombrava. Evangeline estava bem, mas seu silêncio a mantinha distante, e isso atormentava Theo.

Pansy, percebendo o estado de Theo, colocou uma mão gentil em seu ombro. “Ela vai melhorar, Theo. Você sabe disso, não sabe?”

Theo olhou para ela, seus olhos carregados de tristeza e incerteza. “Eu quero acreditar que sim. Mas…” Ele respirou fundo, seu coração apertado. “Ela ainda está tão distante. Não é só o físico que ela precisa curar. O silêncio dela me assusta mais do que eu gostaria de admitir.”

Os pais de Evie, ao verem o estado de Theo, ofereceram sorrisos cansados, mas acolhedores. Eles sabiam o que ele estava passando. Eles também sentiam a falta da presença vibrante de Evie, e os dias que se passavam sem suas palavras só faziam com que tudo parecesse mais difícil.

“Theo, querido, você pode chamar Evie para jantar?” Lolie perguntou com um sorriso pequeno. Theo apenas balançou a cabeça rapidamente, se levantando em um pulo.

Quando Theo entrou no quarto de Evie, o coração lhe apertou de imediato. Ela estava ali, deitada na cama, envolta em silêncio, o rosto pálido e tranquilo, mas sem a vivacidade que costumava iluminá-lo. Os cabelos, que costumavam brilhar sob a luz suave da tarde, agora estavam desordenados, como se até eles sentissem a falta de energia que antes a caracterizava. O silêncio dela parecia preencher cada canto do ambiente, pesado e denso, e Theo sentiu esse silêncio em seu peito, uma pressão que não sabia como lidar. Cada segundo ali, olhando para ela, era como se o tempo se arrastasse e, ao mesmo tempo, escorregasse por entre seus dedos.

Ele se aproximou devagar, seus passos silenciosos, como se não quisesse quebrar a tranquilidade do momento, mas ao mesmo tempo sentindo uma urgência de se aproximar, de não deixar o espaço entre eles se alargar ainda mais. Quando se sentou ao lado dela, segurou sua mão com um cuidado imenso, como se temesse que o simples gesto fosse demais para ela, como se ela pudesse desaparecer entre seus dedos a qualquer momento.

“Oi,” ele sussurrou, a voz baixa, mas carregada de emoção. Sentiu as palavras como se quisessem sair de si em uma torrente, mas ele as conteve, temeroso de incomodar o silêncio dela. Seus olhos encontraram os de Evie, e por um momento, ele teve a sensação de que ela estava distante, como se estivesse em um lugar diferente, perdido em pensamentos que ele não conseguia alcançar.

Ela levantou a cabeça lentamente, seus olhos ainda opacos, sem brilho, mas, ao menos, pareciam focados nele. Theo segurou a respiração, esperando por uma resposta, qualquer coisa que quebrasse aquele silêncio interminável. Evie ainda era Evie, e ele sabia que, por mais que ela estivesse muda, por mais que algo dentro dela tivesse se fechado, ela não o abandonaria. Não podia ser assim.

“Eu… sua mãe está chamando para jantar,” ele disse, a frase saindo com mais dificuldade do que imaginava. Ele desejava que suas palavras tivessem o poder de trazê-la de volta, de fazer com que ela falasse, de ouvir sua voz mais uma vez.

Evie, no entanto, apenas balançou a cabeça em negação, sem pressa, como se os seus próprios pensamentos fossem mais fortes do que qualquer outro estímulo. Ela voltou a se concentrar no livro que estava sobre seu colo, os dedos percorrendo as páginas sem muita intenção, como se estivesse mais imersa nas palavras silenciosas do que na realidade ao seu redor.

Theo ficou ali por mais alguns momentos, sentindo o peso do silêncio que parecia aumentar a cada segundo. A mão de Evie estava fria, mas ele a segurava com a mesma ternura de sempre, na esperança de que aquele gesto simples, mas cheio de significados, a reconectasse com ele. Ele observava atentamente a expressão dela, procurando por qualquer sinal, qualquer mudança, por mais sutil que fosse. Mas os olhos de Evie estavam opacos, sem o brilho vibrante que ele tanto amava. O vazio que havia se instalado nela parecia se refletir naquele olhar distante, e Theo sentiu como se uma parte de si mesmo estivesse se apagando. Ele queria gritar, queria que ela voltasse a ser quem era, mas não sabia como. Não sabia se deveria pressioná-la a falar ou se deveria deixar o tempo fazer seu trabalho, mesmo que cada minuto sem uma palavra dela fosse uma tortura.

"Você quer que eu traga sua comida?" perguntou ele, tentando quebrar o silêncio. Sua voz estava suave, mas cheia de uma ansiedade que ele não conseguia esconder. Não sabia o que mais fazer, e oferecer algo tão simples, como trazer a comida, parecia o único caminho para restabelecer algum tipo de conexão entre eles. Queria ver algo nos olhos dela, até mesmo um mínimo sinal de que ela ainda estava ali, ainda estava com ele.

Evie ergueu a cabeça mais uma vez, e Theo observou com atenção cada movimento. Ela deu de ombros de forma tão desinteressada que foi quase como um soco no estômago dele. Mas ele não recuou. Não podia.

"Vou trazer e comer aqui com você," disse ele, decidindo que, se ela não fosse buscar a conexão, ele a faria de novo. Talvez fosse tolice, talvez ela não quisesse companhia, mas ele estava disposto a tentar. Ele não a deixaria sozinha, não enquanto ainda restasse uma centelha de esperança.

Ele se levantou devagar, sentindo o peso do momento, como se cada movimento fosse uma decisão importante. Ele saiu do quarto com o coração apertado, mas também com uma sensação de determinação. A distância entre eles, mesmo que pequena, ainda existia, mas ele não queria deixá-la aumentar mais. Ele sabia que Evie não era de recuar, que ela tinha força dentro de si, e, mesmo que ela estivesse em silêncio, ele também iria esperar por ela, sem pressa, sem forçar nada. Só esperando, ao lado dela, até que ela estivesse pronta para falar, ou até que suas mãos, entrelaçadas, falassem por ela.

Quando voltou com a comida, Theo entrou novamente no quarto com um sorriso tranquilo, tentando não demonstrar o quanto o silêncio e a distância ainda o abalavam. Ele colocou a comida na mesa ao lado dela e se sentou novamente na cama, ainda ao seu lado. Mesmo que ela não dissesse nada, ele se permitiu, por um breve momento, sentir que estavam juntos naquele pequeno gesto, como se isso fosse o suficiente para começar a curar o que ainda estava quebrado entre eles.

"Não se preocupe, Evie," ele murmurou, mais para si mesmo do que para ela. "Eu vou esperar o tempo que for preciso. Só não quero te perder."

Theo estava sentado na beirada da cama de Evie, observando-a com um olhar inquieto. A mente dela parecia estar em outro lugar, perdida em pensamentos que Theo não conseguia alcançar. Ele havia tentado várias vezes puxar uma conversa, mas o silêncio entre eles parecia se arrastar, mais denso a cada dia.

“Você está bem?” Theo perguntou, a voz suave, quase como se não quisesse quebrar o silêncio, mas não conseguia mais se controlar. “Eu sei que ainda está difícil... Mas qualquer coisa, é só me dizer. Se você quiser... conversar.”

Evie não respondeu. Seus olhos se levantaram brevemente para encontrá-lo, mas logo retornaram ao livro, que ela parecia não estar realmente lendo. Theo sentiu um aperto no peito. Ela não falava desde a batalha contra Voldemort, e embora os médicos dissessem que isso poderia ser por causa do trauma e estresse, era difícil para ele ver a pessoa que amava tão distante, tão em silêncio.

Ele tentou mais uma vez, sua voz mais firme, tentando encontrar algum sinal de resposta. “Você pode me dizer qualquer coisa, Evie. Não importa o que seja.”

Por um momento, parecia que ela estava apenas ignorando-o, mas então ela pegou uma pequena caderneta de notas que sempre carregava. Com movimentos rápidos e firmes, começou a escrever, e Theo observou, curioso e ansioso, na esperança de que ela estivesse voltando a se expressar.

Ela parou de escrever por um instante e o olhou, seu olhar carregado de um humor silencioso. Então, ela virou a caderneta para ele, mostrando o que havia escrito: “Cala a boca, idiota.”

Theo ficou em silêncio por um momento, surpreendido pela resposta que, embora não fosse falada, trouxe uma onda de alívio. Ele soltou uma risada leve, o peso no seu peito diminuindo. Era típico dela. Mesmo sem palavras, ela ainda conseguia ser a mesma Evie, com sua maneira única de fazer as coisas.

“Tá, tá, vou calar a boca,” ele disse, tentando controlar a risada. “Eu juro que só estava tentando ser... sensível.”

Ela ergueu uma sobrancelha, sua expressão brincando, mas sem dizer uma palavra. A caderneta foi fechada com um suspiro quase imperceptível e ela voltou a se concentrar em seu livro, mas agora havia uma leveza no ar, um pequeno sinal de que ela ainda estava ali, com ele, apesar de tudo.

Theo se recostou na cama, sentindo a presença dela ao seu lado como um alicerce silencioso. Ele sabia que ela ainda estava em processo de cura, e que palavras nem sempre eram a resposta. Mas aquele momento, aquele pequeno gesto, foi tudo o que ele precisava para lembrar que ela ainda estava ali, lutando, mesmo que de uma forma silenciosa.

Ele olhou para ela com carinho, sentindo uma nova determinação crescer dentro dele. “Eu vou esperar por você, Evie. Não importa o quanto demore. E, quando estiver pronta, vamos voltar a conversar. Até lá, vou me contentar com os ‘idiotas’ e ‘cala a boca’, ok?”

Ela não respondeu, mas Theo sabia que, em seu próprio tempo, ela voltaria a falar. Até lá, ele estaria ali, ao lado dela, silenciosamente esperando, mas nunca desistindo.

﹙🐍﹚

Theo continuou sua rotina de visitar Evie todos os dias. Mesmo com o silêncio persistente dela, ele nunca deixava de tentar. Sempre encontrava uma forma de trazê-la de volta ao mundo, nem que fosse por alguns momentos. Ele a levava para passeios simples, tentando fazer com que ela se sentisse como uma pessoa normal novamente, como se tudo estivesse bem, mesmo que soubesse que não estava.

Naquela tarde, o sol estava suave, aquecendo gentilmente o parque onde eles caminhavam. O céu azul limpo parecia refletir a calma que Theo tentava trazer para Evie. O braço dela estava enlaçado ao dele, e, embora o gesto fosse confortável, havia algo no silêncio entre eles que fazia Theo se perguntar se ela estava realmente presente.

Enquanto caminhavam, ele observava Evie discretamente. Seus olhos estavam fixos à frente, mas havia algo na maneira como ela apertava levemente o braço dele que o fazia acreditar que ela estava tentando. Talvez não tivesse as palavras ainda, mas ela estava ali, de alguma forma.

Theo parou perto de uma barraca de sorvete, apontando para os sabores coloridos. "Lembra quando você me fez experimentar aquele sorvete de hortelã? Eu odiei, mas você achou tão engraçado..." Ele sorriu, esperando que a lembrança trouxesse alguma reação.

Evie olhou para os sorvetes e depois para ele. Ela não sorriu, mas os cantos de sua boca quase se mexeram, e isso foi o suficiente para Theo continuar.

"Vou pegar baunilha dessa vez. Seguro, sem riscos." Ele piscou para ela antes de pedir dois sorvetes, entregando um para Evie. "Espero que aprove, Srta. Crítica de Sorvete."

Eles continuaram caminhando, o som das folhas farfalhando ao vento preenchendo o silêncio. Theo continuava falando, tentando preencher os espaços com histórias engraçadas ou comentários sobre as pessoas no parque. Ele não esperava uma resposta, mas queria que Evie sentisse que não estava sozinha.

Depois de um tempo, eles pararam em um banco próximo a um pequeno lago. Theo se sentou e olhou para Evie, que observava a água. "Você sabe," ele começou, com a voz mais suave. "Eu faria isso todos os dias, se fosse necessário. Trazer você para cá, falar sozinho, comer sorvete ruim..."

Ele deu uma risada curta, olhando para o chão. "Tudo o que importa para mim é que você saiba que eu estou aqui. Sempre."

Por um momento, houve apenas o som do lago e do vento. Então, algo inesperado aconteceu.

Evie colocou o sorvete no banco e puxou sua caderneta do bolso, a mesma que usava para se comunicar desde que parara de falar. Ela rabiscou algo rapidamente e virou para ele.

"Você fala demais, sabia?"

Theo piscou, surpreso, antes de deixar escapar uma gargalhada. "Bom, pelo menos alguém aqui precisa falar, já que você está calada."

Evie ergueu a caderneta novamente e escreveu outra frase: "Obrigada por não desistir de mim.”

Theo sentiu o coração apertar, mas o sorriso permaneceu no rosto. Ele estendeu a mão e colocou sobre a dela, fechando a caderneta suavemente. "Eu nunca desistiria de você, Evie. Nunca."

Ela olhou para ele por um longo momento, como se estivesse tentando encontrar as palavras certas, ou talvez a coragem necessária. Pela primeira vez em semanas, seus olhos pareciam ter um pouco do brilho que Theo tanto amava. Era sutil, quase imperceptível, mas ele notou. Ele sempre notava.

Ela pegou a caderneta ao lado e começou a escrever, mas dessa vez, com uma lentidão deliberada, como se quisesse que cada letra carregasse o peso de sua emoção. Theo observava em silêncio, sentindo o coração disparar enquanto ela finalmente virava a caderneta para ele.

"Eu te amo."

As palavras, simples, mas carregadas de significado, fizeram Theo prender a respiração. Ele leu e releu, como se quisesse gravar aquilo na memória para sempre.

“Evie...” ele começou, sua voz embargada pela emoção. Ele segurou a caderneta por um instante, os dedos tremendo levemente, antes de colocá-la de lado e segurar as mãos dela.

Ela o observou, um pequeno sorriso surgindo em seus lábios, o primeiro sorriso genuíno em tanto tempo. Era como se aquele momento tivesse quebrado uma barreira invisível, uma que a mantinha presa ao silêncio e à dor.

Theo puxou-a delicadamente para um abraço, envolvendo-a em seus braços como se quisesse protegê-la de todo o mal do mundo. Ele sentiu quando Evie se aconchegou contra ele, um gesto tão familiar e ao mesmo tempo tão carregado de emoção que quase o fez chorar.

“Eu também te amo,” ele sussurrou em seu ouvido, com a voz rouca, enquanto acariciava seus cabelos. “E vou continuar aqui, sempre, até que você esteja pronta para tudo. Mas nunca, nunca duvide disso, Evie.”

Ela se afastou o suficiente para olhá-lo nos olhos, e pela primeira vez, não parecia mais tão perdida. Havia um vislumbre de força ali, uma promessa silenciosa de que estava tentando, de que estava voltando.

Evie pegou a caderneta novamente e, com um sorriso ligeiramente travesso, escreveu outra coisa antes de mostrá-la a ele.

"Você fala demais, Theo."

Ele riu, uma risada verdadeira e cheia de alívio, enquanto passava a mão pelos cabelos dela. “Bom, alguém tem que preencher o silêncio, né?”

Ela apenas balançou a cabeça, mas o sorriso permaneceu. Theo sabia que aquele momento não significava que tudo estava resolvido. Haveria dias difíceis, momentos de recaída, mas ele estava disposto a enfrentar cada um deles. Porque aquele sorriso, aquela pequena faísca nos olhos dela, era a maior vitória que ele poderia desejar.

E para Evie, aquele simples "eu te amo" foi o início de sua jornada para reencontrar sua voz, sua força e, mais importante, a si mesma.

Ela o observou por alguns segundos, os olhos ainda brilhando com aquela fagulha que Theo tanto amava. Havia algo mais ali agora, algo que ele não via há semanas: uma decisão.

O dia estava ensolarado, e Theo decidiu levar Evie novamente ao parque, como vinha fazendo nos últimos dias. Apesar de não falarem, ele sentia que esses momentos ao ar livre a ajudavam, mesmo que fosse de forma imperceptível.

Dessa vez, ele havia planejado algo diferente. Theo sabia que Evie sempre adorou crianças e animais, então levou-a até uma parte do parque onde havia um pequeno evento de adoção de filhotes. Assim que chegaram, Evie parou ao ver os cãezinhos e gatos brincando em um cercado improvisado.

"Eu sei que você sempre quis um companheiro peludo," Theo comentou casualmente, observando a reação dela.

Evie olhou para ele por alguns segundos antes de se aproximar lentamente dos filhotes. Um cachorrinho em especial, pequeno e desengonçado, com manchas brancas e marrons, aproximou-se da grade e começou a abanar o rabo vigorosamente. Evie abaixou-se e estendeu a mão, e o filhote lambeu seus dedos de maneira desajeitada.

Theo observava de perto, percebendo algo diferente na postura de Evie. Ela parecia mais relaxada, mais... conectada.

"Quer segurá-lo?" Theo perguntou, já pedindo permissão ao responsável pelo evento.

Evie assentiu, e o cachorrinho foi colocado em seus braços. O pequeno animal lambia seu rosto e tentava brincar com as pontas de seus cabelos. Algo mágico aconteceu naquele instante: um sorriso real, completo, surgiu no rosto de Evie. Theo sentiu seu coração apertar de emoção.

"E aí, o que acha de levarmos ele pra casa?" Theo perguntou, sorrindo.

Baixo, quase como um sussurro, mas claro o suficiente para ser ouvido.

"Sim."

Theo congelou. Ele olhou para Evie com os olhos arregalados, quase sem acreditar no que ouvira. "Você... você falou!"

Evie parecia tão surpresa quanto ele. Ela olhou para o cachorrinho em seus braços e depois para Theo. "Eu... sim." Sua voz ainda era hesitante, mas estava ali.

Theo riu, uma risada de puro alívio e felicidade. Ele se aproximou dela, segurando seu rosto com delicadeza. "Eu sabia que você voltaria. Eu sabia que você era forte."

Evie piscou algumas vezes, como se processasse tudo, antes de deixar algumas lágrimas silenciosas escorrerem. "Eu só... precisava de um empurrãozinho."

Theo abraçou-a, o cachorrinho ainda em seus braços. "Se eu soubesse que um filhote seria a solução, teria trazido um há semanas!"

Eles riram juntos, pela primeira vez em tanto tempo, e naquele instante, o mundo parecia voltar ao seu lugar. Evie ainda tinha um longo caminho pela frente, mas suas palavras eram o primeiro passo.

Evie colocou a caderneta de lado e, com um gesto delicado, segurou o rosto de Theo entre as mãos. Ele ficou imóvel, o coração disparado enquanto sentia o toque suave e familiar dela.

Ela se inclinou devagar, e por um breve momento, o mundo pareceu parar. Então, com uma leveza que carregava semanas de silêncio e dor, seus lábios encontraram os dele.

O beijo foi suave, mas cheio de significado. Não era apenas um gesto de amor, mas também um símbolo de tudo o que ela estava lutando para recuperar. Theo respondeu com a mesma ternura, sem pressa, como se quisesse garantir que ela soubesse que ele estava ali, sempre estaria.

Quando se separaram, apenas o suficiente para que seus olhares se encontrassem, Evie finalmente quebrou o silêncio que os envolvia:

"Eu te amo, Theo."

As palavras saíram baixas, um pouco roucas pela falta de uso, mas firmes. A voz dela, algo que ele temia nunca mais ouvir, era como música para seus ouvidos.

Theo sentiu os olhos arderem com lágrimas, mas ele sorriu, um sorriso que transbordava amor e alívio. "Eu também te amo, Evie. Tanto que nem consigo colocar em palavras."

Ela sorriu, um sorriso verdadeiro que iluminava todo o rosto, e encostou a testa na dele. Por um momento, eles ficaram ali, juntos, sem a necessidade de dizer mais nada.

Aquele beijo não era apenas um gesto de afeto; era o marco de um novo começo. O silêncio que antes pesava entre eles agora se transformava em uma conexão ainda mais profunda. E naquele instante, Theo soube que, independentemente do que o futuro reservasse, eles enfrentariam tudo juntos.

Quando voltaram para casa, com o cachorrinho adotado ao lado deles, Evie parecia diferente. Não era apenas o fato de ter falado novamente, mas a maneira como segurava a coleira improvisada do pequeno animal, como se ele fosse sua âncora.

E para Theo, vê-la sorrir e ouvir sua voz novamente era tudo o que ele precisava. "Acho que precisamos dar um nome pra ela," ele comentou enquanto caminhavam.

Evie olhou para o filhote e, com um pequeno sorriso, disse: "Stella."

Theo sorriu, apertando-a contra ele enquanto caminhavam para casa. Stella era mais do que o nome do filhote. Era o que eles sentiam agora. E isso era suficiente para recomeçar.

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