𝘁𝘄𝗼 ── 𝙩𝙝𝙚 𝙗𝙡𝙖𝙘𝙠 𝙨𝙬𝙖𝙣'𝙨 𝙘𝙪𝙧𝙨𝙚
⋆ Ꮺ ❜🩰 𝐃𝐄𝐀𝐃 𝐆𝐈𝐑𝐋 𝐖𝐀𝐋𝐊𝐈𝐍𝐆
❛걷는 죽은 소녀 𓂅
❪ 𝘀𝘂-𝗵𝘆𝗲𝗼𝗸 ❫ ⵌ all of us are dead 𝗳𝗮𝗻𝗳𝗶𝗰𝘁𝗶𝗼𝗻 *☽ *˚˛✩
❝ i don't care. i'm just a ballerina with a fucked up ankle. ❞
☆ o capítulo a seguir contém uma menção rápida a suicídio e embora não seja aprofundada, ou esteja estimulando o mesmo, pode acabar causando gatilho a algumas pessoas, portanto deixo desde já o aviso.
HWANG JISOO gostava de terraços. Havia algo interessante sobre o limbo entre sentir-se no topo do mundo, acima de todos aqueles idiotas escravos do capitalismo que se movimentavam como bonecos a manivela todos os dias para seus empregos idiotas afim de sustentar um sistema idiota; e a possibilidade da queda mortal, despencar livremente pelo céu em direção àqueles idiotas capitalizados.
Era quase... poético em sua concepção e portanto terraços eram uma peça fundamental no ritual diário da garota. Todos os dias pela manhã, Jisoo acordava antes mesmo que o Sol estivesse no céu, arrumava-se para ir à escola, porém ao invés de seguir rumo direto à instituição, ela subia andar por andar até o terraço de seu próprio prédio e então esperava enquanto ouvia algum dos CDs de seu pai em seu discman, aguardando o Sol nascer.
Naquela manhã sua rotina não seria diferente. Jisoo acordou com o primeiro toque de seu despertador no quarto completamente escuro. O céu ainda era um breu e mesmo se abrisse suas cortinas não haveria luz para iluminar o ambiente, portanto fora forçada a jogar as pernas para fora da cama, acendendo a luz no interruptor localizado ao lado da porta.
Com os olhos ainda sonolentos, a estudante recolheu o uniforme embolado ao pé da cama, caminhando para o banheiro que dividia com o irmão. Demorou-se no banho, deixando que a água morna despertasse seus músculos adormecidos; penteou os cabelos longos e escuros que desciam extremamente lisos por suas costas e escovou os dentes, estando finalmente pronta para dar continuidade a seu ritual.
Uma das únicas coisas que Jisoo não poderia reclamar de seus pais biológicos, era sua aparência quase sempre impecável mesmo que não se esforçasse para tal e ela agradecia a qualquer um dos dois que tivesse lhe passado tal genética. A adolescente raramente se maquiava, mesmo para apresentações de balé o máximo que fazia era a maquiagem do olho, pois sua pele nunca havia a surpreendido com alguma imperfeição. Nem mesmo noites de sono mal dormidas como aquela que enfrentara na noite anterior era o suficiente para atenuar suas olheiras.
Porém ao mesmo tempo em que isso era ótimo, também era um indicador de quando ela estava realmente esgotada. Quando finalmente atingia seu fundo do poço, não era algo que ela conseguia esconder, já que sua aparência de porcelana parecia rachar grotescamente, exibindo seu teor frágil para todos que quisessem ver. Jisoo odiava aquilo e portanto fazia o impossível para não atingir o fundo do poço. Mesmo que enganar a si mesma fizesse parte do processo.
De forma muito mais lenta do que o habitual, graças ao seu tornozelo ferido, a jovem alcançou o elevador no corredor deserto em função do horário. Nem sempre era assim, por vezes ela já havia encontrado com algum vizinho bêbado que retornava de um bar, ou uma jovem adulta voltando para casa depois de uma festa. Havia também aqueles que faziam turnos noturnos no trabalho e acabavam esbarrando com a mesma no elevador em seu fim de expediente.
Naquela manhã, excepcionalmente ninguém sequer deu sinal de vida, algo que a Hwang contou como um bom presságio; odiava ter que iniciar suas interações logo tão cedo, principalmente no meio de seu próprio ritual diário.
A caixa metálica fazia barulhos estranhos e rangia como sempre, a bailarina tinha certeza de que algum dia o velho elevador ainda iria despencar graças ao pouco orçamento liberado para a manutenção geral do condomínio. Os segundos se arrastaram preguiçosamente, a cabeça da jovem recostada sobre uma das paredes espelhadas do transporte. Após mais um tempo torturante de rangidos e sacolejos, finalmente o elevador abriu suas portas despejando-a no último andar do enorme prédio.
Tudo que precisaria fazer era subir um pequeno lance de escadas até a porta que dava para o terraço do prédio, nada que seu tornozelo ficasse muito prejudicado, ou acabasse a prejudicando. Com cuidado e subindo um degrau por vez, Jisoo finalmente alcançou as portas corta incêndio que davam para o local. Como de costume ela estava trancada, porém todos os moradores possuíam uma cópia da chave responsável por abrir o cadeado e liberar a maçaneta das correntes.
Ao abrir as enormes portas corta fogo, a jovem sentiu o ar fresco da madrugada em seu rosto, o cheiro de orvalho e sereno inundando suas narinas. Talvez essa fosse a parte que ela mais gostasse em seu ritual. Os cheiros, os sons, a tranquilidade, tudo que seus sentidos conseguiam captar. Gostava também de pensar em como a cada vez que se aproximava das beiradas do terraço, poderia ser sua última vez realizando seu ritual. Não realizaria tal ato, apenas ponderava sobre como nunca saberia quando poderia se desequilibrar, suas pernas escorregando pela beira do edifício, a queda pacífica e então o nada.
Se soubesse, naquela época, como o pós morte era tedioso e vazio, não teria passado tanto tempo pensando sobre ele. Mas a verdade é que Jisoo gostava de imaginar sobre o que havia acontecido com seus pais e pensar que em algum momento se reuniria novamente a eles, mesmo que esse fosse apenas um pensamento fantasioso. Nada do que previa aconteceu, a jovem ficara apenas em seu solitário limbo, tão entediada a ponto de decidir contar sua vivência nó apocalipse – que neste momento ainda não havia começado.
A Hwang colocou o fone do discman sobre os ouvidos, dando play em um CD antigo dos Beatles que costumava pertencer a seu irmão. Blackbird começou a tocar enquanto ela se sentava em uma das elevações do terraço, as pernas balançando no ar ao passo em que os primeiros raios de Sol da manhã começavam a banhar a cidade, enchendo-a de cores.
Ergueu o rosto em direção à luz, fechando os olhos e deliciando-se com o prazer momentâneo do calor de início de dia em sua face. A brisa fina do crepúsculo jogando seus cabelos para o lado. Por fim, Jisoo chegou à conclusão de que o motivo pelo qual realizava seu ritual não era pela poesia trágica dos terraços, ou pelo nascer do dia em si; o que a motivava a acordar todos os dias às 5h da manhã, era a sensação de calmaria que aquele momento lhe propiciava. Ao contrário das 23h restantes, nos instantes em que estava ali, seu corpo e mente presentes e focados somente em cumprir sua rotina, seus pensamentos ficavam nebulosos. Não havia dor, não havia culpa, apenas a paz inebriante.
Quando a última nota de Blackbird finalmente soou em seu discman, a estudante percebeu que era hora de finalmente começar seu dia. Se ela soubesse, porém, os acontecimentos seguintes, Jisoo teria ficado onde estava, trancada no terraço do condomínio vivenciando sua paz eterna.
࿐♡🩰✧₊
Mesmo quando estava na escola, durante os períodos em que não precisava estar dentro de uma sala de aula – e às vezes até mesmo durante estes momentos – Jisoo costumava usar seu tempo livre para ensaiar. Tudo em sua vida girava em torno de alcançar a perfeição em cada passo ou pirueta, ao mesmo tempo em que era sua válvula de escape, o balé representava muito mais para ela. A jovem precisava se esforçar ao máximo, tudo estava em jogo e ela não poderia se dar ao luxo de desperdiçar suas oportunidades.
Hwang Jisoo chegava na escola todos os dias com antecedência, em partes pois seu ritual lhe fazia acordar extremamente cedo e em outras, pois apesar de ser uma autodeclarada rebelde e estar pouco se fudendo para as normas da instituição, assinar uma lista de nomes a cada vez em que se atrasava era uma rotina cansativo que ela não gostaria de manter. Chegando mais cedo também, poderia ter bastante tempo disponível para repassar sua última coreografia e assim ela o fazia.
Não era apenas do terraço de seu prédio que a adolescente gostava. O topo do prédio onde assistia suas aulas era espaçoso e vazio, o que o tornava um lugar propício para que Jisoo pudesse treinar em paz. Como em todos os outros dias, a bailarina se encontrava no lugar, amarrando as fitas da sapatilha ao redor dos tornozelos enquanto ouvia o tumulto causado pelo reencontro dos estudantes no pátio abaixo de si.
Jisoo nunca havia experienciado aquela cena, mas sinceramente não se importava com isso. Se pudesse, na verdade, seria expulsa por colocar a escola em chamas; mas este era apenas um pensamento distante, as coisas eram muito mais complicadas para serem resolvidas com um mero incêndio.
Com as sapatilhas já devidamente amarradas, a Hwang começou a se alongar, apoiando sua perna direita no parapeito do terraço e flexionando seu corpo em direção à ela, as pontas dos dedos da mão tocando o topo da sapatilha. A jovem repetiu o mesmo movimento com a perna esquerda antes de puxar a mesma na direção de suas costas, encostando a sola do pé na cabeça jogada para trás.
O alongamento pela manhã era reconfortante e logo ela mal conseguia sentir seu tornozelo latejando, a medida em que seu corpo se aquecia, preparado para dar início aos movimentos da coreografia. Jisoo havia sido selecionada ,após um meticuloso processo de audição, para interpretar Odette e Odile, o cisne branco e o cisne negro em Lago dos Cisnes.
A jovem passou meses dedicando cada fibra de seu corpo para se preparar para as audições e agora que finalmente havia sido escolhida, precisava se esforçar ainda mais para alcançar a perfeição da coreografia junto ao misto de sentimentos carregados pelas personagens. Sua maior dificuldade até o momento, havia sido realizar completamente os passos de Odile durante o terceiro ato do espetáculo.
Nunca havia dado tantas piruetas em sua vida, mas parecia que por mais que continuasse tentando, jamais alcançaria os 32 fouettés, giros perfeitos e contínuos, que precisava. Era um sentimento frustrante e amargo para a bailarina que se acostumara a não exercer nada abaixo da perfeição. Desde que começou suas aulas de balé, Jisoo teve o cuidado para que estivesse sempre impecável, com movimentos limpos e firmes, mas ao mesmo tempo delicados que uma bailarina deveria ter. Algo que sempre esteve claro em sua mente era que deveria ser a melhor, do contrário do que adiantaria?
E por esse motivo passara horas sem intervalo durante o dia anterior treinando suas piruetas, procurando a cada tentativa alcançar cada vez mais a perfeição. Era algo que o próprio balé reforçava de certa forma. Uma coreografia que exigia 30 segundos em que a bailarina permanecesse rodando como um pião certamente pedia por uma dose extra de comprometimento com o inalcançável.
De qualquer forma ela estava determinada ao fazer o impossível e alcançá-lo o quanto antes. Após finalizar seu aquecimento, a jovem não esperou sequer alguns segundos antes de engatar no começo da performance de Odile no ato III, a cena em que o príncipe Siegfried confunde a gêmea má de Odette com a mesma durante o baile, deixando-a presa eternamente na maldição do cisne ao traí-la não intencionalmente.
Jisoo colocou-se nas pontas dos pés, caminhando com os braços abertos em meia lua até o centro do terraço. Assim que posicionou-se, escolheu um ponto fixo no horizonte e respirou fundo, dando início a seus fouettés. Contou 1, 2, 3, 4 – seus olhos ainda presos na linha do horizonte que havia escolhido – 5, 6, 7, 8, 9 – sua respiração permanecia focada em manter-se estável – 10, 11, 12, 13, 14, 15 – a expressão facial da jovem permanecia concentrada, determinação brilhando em seus olhos escuros – 16, 17, 18, 19, 20, 21, 22.
Jisoo sentiu seu pé se agarrando a algo, o grude na sola de sua sapatilha forçando-a a parar de se movimentar subitamente, o que fez com que a mesma perdesse seu equilíbrio, principalmente ao apoiar o pé machucado com força no chão para evitar uma queda. Ao olhar o que havia interrompido seu ensaio, a Hwang sentiu seu sangue ferver. Um chiclete. 22 fouettés interrompidos por um chiclete deixado ali por algum porco mal educado. A morena estava pronta para dar um murro em alguém quando desamarrou com raiva as fitas da sapatilha, começando a tirar os restos de chiclete grudados na sola enquanto xingava audivelmente o maldito desgraçado dono daquela nojeira.
Ao olhar ao redor, ainda com os restos da goma presos entre os dedos, Jisoo notou uma figura alta sentada em um dos entulhos presentes ali. A bailarina fechou a cara no exato instante em que reconheceu Bare-su – ou ao menos era assim que ouvia os outros o chamarem. O garoto abriu um sorriso sem graça para ela e bateu algumas palmas como se sinalizando que havia gostado de sua pseudo-apresentação.
— Foi você? – Jisoo apontou para o solado da sapatilha, ignorando as palmas do moreno e focando em tentar descobrir quem havia deixado o chiclete jogado no chão e interrompido seu ensaio.
Bare-su apenas negou com a cabeça, o semblante em uma careta ao mesmo tempo divertida e assustada. A carranca determinada na face da mais baixa o havia deixado com um pouco de medo.
— Devem ter sido aqueles bullies nojentos, argh. – ela torceu o nariz, balançando a mão para tentar soltar o pedaço de chiclete preso entre os dedos. — Por acaso viu quem foi?
— Não, sinto muito. – ele sorriu enquanto se curvava minimamente em uma reverência de desculpas, as mãos no bolso da calça e o ar divertido que seu sorriso carregava irritaram a Hwang.
— Bem, seus amiguinhos bullies foram para a área de construção arrastando dois alunos, é melhor correr se não quiser perder a festa. – Jisoo sentou-se no entulho onde antes o garoto se encontrava e enfiou um cigarro na boca, deixando-o apagado enquanto terminava de tirar a outra sapatilha. Quando ergueu os olhos, a bailarina viu a expressão desgostosa que tomava o rosto do mais alto. — Então agora você é um solitário? Pensei que garotos bonitos não fossem solitários... Talvez você só seja idiota.
— Não sou solitário, só cansei de andar com babacas como aqueles. – Bare-su suspirou profundamente e Jisoo envolveu o cigarro com a mão direita, mordiscando a ponta do mesmo enquanto olhava para cima encarando o moreno. — E se você os viu levando os dois, por que não fez nada?
— E colocar um alvo nas minhas costas? Não tenho tempo para isso. – ela se levantou de onde estava sentada, os tênis já novamente nos pés. — Além disso, eu não ligo, sou só uma bailarina com um tornozelo fudido. Mas se você realmente se importa tanto como faz parecer, é melhor ir rápido antes que alguma coisa realmente aconteça.
Dito isso, Jisoo apenas deu as costas para o adolescente, arrumando suas sapatilhas em sua bolsa. Ainda virada para a outra direção, a bailarina pôde ouvir o som da porta do terraço se abrindo e se fechando logo em seguida e soltou uma risada nasal junto a um revirar de olhos, seguindo seu próprio rumo pelos corredores da escola.
(2477 palavras não revisadas)
★ ━━ como citado antes de o capítulo começar, houve uma pequena menção a suicídio em uma única linha durante a primeira parte. eu não pretendo me aprofundar em temas desse calibre, no entanto eles podem acabar sendo citados durante os capítulos, por serem adolescentes enfrentando problemas de adolescentes + toda a pressão de estarem vivendo um apocalipse zumbi, algo que a própria série retrata. no entanto, eu estarei sempre tentando avisar no início dos capítulos, sobre possíveis gatilhos que possam ser acionados durante a leitura.
☆ ━━ eu estou simplesmente OBCECADE pelo balé do lago dos cisnes. eu estava pesquisando sobre balé no geral para poder escrever melhor a jisoo e apesar de não possuir muito interesse sobre, eu sempre achei muito bonito e não conhecia a história contada pelo próprio balé – só a versão da barbie. ontem eu fiquei horas vendo vídeo das coreografias e lendo sobre, sinceramente nunca pensei que fosse gostar tanto de um espetáculo. inclusive os 32 fouettés que a jisoo estava tentando realizar são os do vídeo abaixo. eu recomendo demais que vocês procurem mais informações sobre esse balé, porque é simplesmente lindíssimo.
[Deveria haver um GIF ou vídeo aqui. Atualize a aplicação agora para ver.]
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