𝘀𝗶𝘅 ── 𝙡𝙞𝙛𝙚'𝙨 𝙡𝙖𝙪𝙜𝙝𝙞𝙣𝙜 𝙖𝙩 𝙤𝙪𝙧 𝙛𝙖𝙘𝙚𝙨

⋆ Ꮺ ❜🩰 𝐃𝐄𝐀𝐃 𝐆𝐈𝐑𝐋 𝐖𝐀𝐋𝐊𝐈𝐍𝐆
걷는 죽은 소녀 𓂅
𝘀𝘂-𝗵𝘆𝗲𝗼𝗸 all of us are dead 𝗳𝗮𝗻𝗳𝗶𝗰𝘁𝗶𝗼𝗻 *☽ *˚˛✩

im gonna die surrounded by idiots.

A ÚNICA VONTADE de Hwang Jisoo naquele momento era rir. Cair na gargalhada até que o ar escapasse de seus pulmões e sua barriga doesse pelos movimentos de contração. Chegava a ser irônico o quão fodidos estavam e a cada passo que davam, quando pensavam finalmente ter alguma vantagem, algo dava ainda mais errado e voltavam a estaca zero.

Todos estavam quietos, perplexidade e o cheiro característico do medo tomavam a sala de aula. Os adolescentes largaram as cadeiras e mesas que seguravam, encarando o professor com apreensão.

— Não é uma mordida. – o homem tentou se explicar, encarando o próprio braço ferido.

— Ele disse que não foi mordido. – um dos meninos murmurou, mesmo que não acreditasse no que estava dizendo.

— Não. Não fui mordido. – lá estava ela. Negação, a primeira fase do luto; o primeiro sintoma de alguém que sabe que perdeu tudo. A prova vivida e pulsante de que sim, estavam todos muito fodidos. Fodidos para caralho.

— É uma marca de mordida. – Onjo se impôs e, ao menos naquele momento, Jisoo a admirou. Nenhum dos demais bundas moles cheios de testosterona se dignaram a bater de frente com o professor.

— Já disse que não é. Não retruque. – o mais velho continuava a insistir, afobação assumindo seus reflexos.

— Pare com isso, velho estupido. Aish! – Jisoo chiou, não aguentava mais aquele embate. Logo ele se transformaria e todos seriam arrastados com ele para o inferno. — Podemos ser mais novos, mas não somos burros.

— Olhe como fala comigo sua...

— Foi mordido mesmo? – o professor foi interrompido por I-sak, apreensiva.

— Não fui! Quantas vezes preciso dizer? – o homem se estressou, gritando com os alunos que o olhavam sem saber como prosseguir.

— Então por que está escondendo? – foi a vez de I-sak gritar, dando um passo à frente em direção ao professor. — Mostre para nós! Pode se retirar?

A pergunta foi feita como consequência do silêncio apresentado pelo mais velho diante ao pedido anterior. Todos sabiam que ele estava mordido, sua sobrevivência estava em risco. Sua desistência ao tentar convencer seus antigos alunos de que estava tudo bem apenas levantou a bandeira vermelha do desespero, ninguém ali tinha a mínima noção se conseguiriam sair vivos daquela e isso deixou Jisoo pensativa.

Tivera uma vida. Não poderia ser considerada uma vida ruim, mas também não era o suficiente para alcançar o status quo de uma boa vida. Era grata por ter sido adotada, grata por ter sido acolhida em uma boa família e – talvez fosse – grata pelo balé. Mas sua lista de agradecimentos terminava por ali. Havia vivido demais, experienciado coisas demais para que pudesse ter mais itens em sua contagem. Se morresse naquele momento, não se importava. Já havia visitado o inferno algumas vezes de toda maneira.

— Quer que eu vá lá pra fora? – o Professor Kang pareceu indignado. — Depois de tudo que eu fiz para chegar até aqui? Quer que eu saia?

— Quanto drama. – Jisoo murmurou por cima de suas reflexões, apenas Su-hyeok era capaz de ouvi-la com precisão.

— O senhor foi mordido. Saia. – I-sak continuou. O silêncio teimoso do professor, no entanto, apenas a estressou levando a garota a berrar a plenos pulmões. — Saia!

— Sua vaca! Está gritando com um professor? Sua insolente... Venha aqui. – Onjo tentou puxar a amiga para trás e a bailarina arregalou os olhos. A incerteza dos próximos passos do homem a matava por dentro, poderia ser uma escrota, mas não estava disposta a pagar para ver o que ele poderia fazer com ela, ao mesmo tempo em que não queria se colocar como um alvo. Ainda era egoista o suficiente para isso. — Venha aqui. Venha aqui agora!

Professor Kang continuava a chamá-la, sem receber nenhum tipo de aproximação em troca. Sua única resposta era a feição pálida e assustada de I-sak, que suava frio pela festa. Jisoo quase chegou a sentir pena da garota. Era um espetáculo e tanto.

— Não vai vir? Ei. – ao perceber que a jovem não moveria um músculo sequer, o homem avançou em direção a elas, Onjo ainda tentando puxar a amiga para fora da mira dele.

Tudo aconteceu muito rápido. O avanço do professor, I-sak se esquivando, Su-hyeok deixando seu posto de proteção para se colocar em uma situação que poderia custar sua vida ao tentar impedir o homem junto a Wu-jin, Na-yeon se agachando em um canto da sala e tampando os ouvidos, o sangue que jorrou do nariz do mais velho. Tudo isso em milésimos de segundos, antes mesmo que qualquer coisa pudesse ser processada claramente por seu cérebro.

Todos se manterem estáticos enquanto ele se afastava, surpreso com o líquido viscoso que escorria como tonéis por suas narinas. Su-hyeok se mantinha sendo segurado por seus amigos para que não avançasse no homem, mesmo pedindo para que o soltassem, suas súplicas eram em vão. Quem tomou a frente na atitude fora Onjo, que aproveitou-se do ponto cego do professor que estava de costas para atingi-lo na cabeça com sua mochila, algo que não causou muito efeito além de deixá-lo mais irritado do que antes. Ele virou-se lentamente, loucura brilhando em suas orbes escuras enquanto olhava para a aluna. Cheongsan fez o possível para puxá-la para perto, fora da mira do Professor Kang.

— Ficou maluca?

— Cuidado! – alguém gritou, mas era como se a cabeça de Jisoo estivesse submersa em água fria, seus ouvidos captavam pouco mais que ruídos abafados e sua visão estava turva. Jamais pensou que pudesse estar tão tensa quanto naquele momento, não parecia algo que sua personalidade um tanto psicótica concordaria.

O homem começou a avançar em direção a Onjo, porém menos de um passo e ele já estava no chão, deixando uma turma de adolescentes assustados sem saber o que fazer.

— Acho que foi mordido mesmo. – Jura, idiota?

— Vamos sair daqui? – Que pergunta mais estúpida.

Ele está se transformando! – Vou morrer cercada por idiotas.

O Professor Kang, que ate o momento em meio ao alvoroço havia permanecido apagado no chão, começou a se retorcer, as partes de seu corpo estalando em posições e ossos que não respeitavam em nada a anatomia humana. Todos pararam para encará-lo, uma mistura de fascinação e pavor. Surpreendentemente, a primeira a quebrar a fina camada de paralisia que parecia ter se alastrado por todos os estudantes fora Na-yeon, com a primeira coisa coerente que dizia naquele dia.

— Depressa! Tirem-no daqui! – ela chorou, encolhida, com as duas mãos sobre as orelhas como se isso pudesse protegê-la de algo.

— Eu odeio ter que concordar com ela, mas é verdade! Não podemos só ficar parados olhando. O que vamos fazer? Hein?! – Jisoo bateu palmas para acordam os demais de seus transes engatilhados pelo pânico, precisavam pensar em algo ou jamais sairiam vivos dali.

Nesse meio tempo em que a bailarina completava sua frase, o homem havia terminado sua transformação, virando-se no chão e partindo para cima de Min-ji, atacando-a ferozmente. Ótimo, uma a menos. Jisoo arregalou os olhos, segurando bem a bolsa junto ao corpo enquanto observava Dae-su puxar o professor de cima do corpo da estudante, arremessando-o contra os armários de madeira. Todos os olhos agora voltados para a grande mordida sangrenta que estava marcada ao redor dos lábios de Min-ji.

— Dae-su. – ela sussurrou com os olhos marejados. — O que eu faço? Não quero morrer.

Tarde demais para isso. Jisoo se conteve para não tecer o comentário. Sua língua se contorcendo amarga dentro da boca. A efemeridade da vida piscando como lâminas atrás de seus olhos, o âmago enjoado pela percepção da carnificina que se formaria naquela mesma sala. Matar um colega de classe jamais seria fácil, principalmente para adolescentes que até aquele momento haviam vivido suas vidas sem qualquer tipo de preocupação brutal. Mas para Jisoo, era apenas o preço a se pagar por sua própria sobrevivência. Poderiam considerá-la um monstro, ou qualquer outra coisa pejorativa, mas ela ansiava por sua vida e se os demais não se preocupavam com isso tanto assim, não seria ela a morrer por isso.

— Precisamos tirá-la daqui. – falou, uma fração de segundos antes que o professor se recuperasse no chão, disparando sem precedentes na direção de Su-hyeok. O coração da bailarina errou as batidas e ela arfou quando o jovem se desviou do ataque, acertando um soco em cheio no rosto do homem zumbificado.

— Saia daí, droga. – Seu maluco, era tudo o que se passava na mente da Hwang enquanto ele se atracava com o professor, arremessando-o no chão contra uma das paredes.

Era a vez de Cheong-san agir, agarrado a uma mesa, o estudante partiu para cima do homem, prendendo-o contra essa mesma parede, Gyeong-su o ajudando a mantê-lo imobilizado. A atenção de todos estava tão focada na agressividade do zumbi encurralado, que a mordida que tomava conta de grande parte do rosto da estudante tornou-se um segundo plano.

Alguns permaneciam paralisados, alternando seus olhares vidrados entre a jovem e o professor, a linha fina entre a vida e a morte sendo desenhada com uma navalha a sua frente. Na-yeon, causando espanto e surpresa na bailarina, fora a primeira a tomar uma atitude, avançando para as mesas e cadeiras empilhadas a porta e começando a afasta-las. Min-ji, paralelamente, começou a erguer o próprio corpo apoiada nos armários do fundo da classe, caminhando em direção à jovem de suéter rosa que começou a gritar escandalosamente, antes de afasta-la com um chute no dorso.

A queda levada em um baque surdo agiu como um gatilho sendo pressionado. Em uma fração de segundos todos os ossos do corpo frágil da garota começaram a estalar, se contorcendo em ângulos estranhos de maneira grotesca. Uma careta de nojo tomou o cerne de Jisoo, que deu passos para trás afastando-se da figura, agora desmaiada, do que costumava ser Min-ji. Voltando a consciência em um ímpeto, seu corpo todo se revirou, a humanidade que ali habitava havia se esvaído como areia em uma ampulheta.

Sua figura avançou, ligeira, para cima de Dae-su, que conseguiu segurá-la com seus braços grossos, impedindo que a recém transformada causasse mais danos desnecessários. Não podiam perder mais ninguém, apesar de saber que, em algum momento, iriam. Aproveitando-se da deixa do amigo, Su-hyeok se movimentou para ajudar Na-yeon a desbloquear a porta da sala, a abrindo com rapidez e incentivando a evasão dos demais.

Dae-su e Cheong-san, entretanto, ainda lutavam contra os zumbis. Sem sequer pensar duas vezes, Jisoo lançou-se contra a porta aberta, a borracha do solado de seus tênis ecoando contra o piso liso ao disparar pelo corredor sem olhar para trás. Na-yeon ia a frente do grupo, ganidos de pavor deixavam seus lábios marcando o trajeto percorrido com o eminente pânico que todos sentiam. Não foi preciso andar muito para que logo se deparassem com uma nova leva de estudantes infectados bloqueando sua passagem. As narinas da bailarina de dilataram, seu coração acelerando suas batidas e pensando mais uma vez que talvez aquele realmente fosse seu fim. Em meio ao devaneio de aceitação de sua morte, Jisoo sentiu o corpo pequeno ser empurrado com certa brutalidade e urgência. Acordando de seu transe quase meditativo, pode ter apenas o vislumbre do paletó verde de Su-hyeok pegando impulso em uma das paredes para acertar um chute em um dos zumbis.

Novamente a Hwang pegou-se pensando no quão estúpido o garoto era, sua síndrome de herói a irritava visceralmente e o achava simplesmente burro por jogar-se perante a morte de maneira tão entregue. Ele sequer era um suicida para que o fizesse, embora agisse constantemente como um durante as últimas horas. O grupo assistiu, imóvel, enquanto o jovem disparava chutes e socos contra as anomalias. Jisoo sentiu vontade de fumar e precisou controlar o impulso que formigava em seus dedos para puxar um cigarro do maço preso a sua cintura. Enquanto sua mente travava sua própria batalha, a guerra geral continuava acontecendo no corredor e logo Su-hyeok era lançado em direção aos demais, atracado no chão com dois zumbis que tentavam pestisca-lo como um lanche.

A bailarina deu largos passos para trás, sua respiração tornando-se irregular ao ver a horda começar a se aproximar novamente. Cheong-san e os outros rapazes precisaram de uma resposta rápida, arrancando os vidros das janelas das salas de aula ao lado para que pudessem usar como uma barreira contra os zumbis, isolando o corredor de seus ataques. Enquanto a linha de frente tentava manter as mãos afastadas das bocas salivantes do estudantes infectados, Hwang semicerrou os olhos ao capturar pela quina da visão o esforço de Dae-su para arrancar uma das portas de correr que pontilhavam a escola. Com um grito de aviso, o garoto pegou impulso para correr, substituindo as janelas pela madeira extensa da porta e garantindo que nenhum pedaço de carne ficasse exposto para ser degustado.

Logo as meninas avançaram também, ajudando a empurrar a porta e abrindo caminho entre os corredores ensanguentados. Tudo se passou como um borrão para Jisoo, os gritos, a correria. Seus sentidos pareciam entorpecidos e havia perdido completamente a noção de direção, era apenas levada de um lado ao outro, empurrada por mãos, braços e troncos que exalavam tensão. Mesmo cercados pelos dois lados, encurralados e sem saída, ela continuava em seu estupor. Sentiu mãos delicadas a puxarem rapidamente e o cenário do corredor mimetizou-se para se tornar o laboratório de ciências. Ergueu os olhos, tentando focar a visão embaçada na figura miúda da representante de turma, que a colocou sentada em um dos bancos, antes de se afastar um pouco.

Os outros continuavam conversando, uma cacofonia que não era capaz de formar sentido por seus axônios e chegavam a seus tímpanos apenas como barulhos desconexos que contribuíam para que sua dor de cabeça crescesse. Mais alguns gritos de pavor e instruções foram berradas, mas seu cérebro continuava mergulhado em incoerência, um ambiente morto se formava ao redor de seu corpo, como se uma sacola plástica tivesse sido amarrada a sua cabeça, formando uma espécie de estufa úmida e que aos poucos a sufocava. Poucas haviam sido as vezes em que se sentira daquela maneira. Não tinha crises como àquela há um bom tempo; haviam cessado junto ao luto que sentia por seus pais adotivos. Indo embora da mesma maneira como haviam sido introduzidas em seu cotidiano, levando consigo a memória mórbida que carregava como uma ferida aberta. Arrancara o saco da cabeça e cauterizara a ferida, mas tudo parecia retornar agora.

Como se uma brisa fresca de verão lhe acariciasse a face, a redoma que a envolvia pareceu ser arrancada com força, o barulho agudo dos alto falantes da escola a puxando com brutalidade para a realidade arrebatadora em que estava imersa. A voz suave, embora trêmula, da Professora Park surgiu em meio a interferência.

Alunos e professores do Colégio Hyosan, aqui é a professora de inglês, Park Sun-hwa. Tem algo estranho acontecendo na escola. – sua voz ecoou pelos corredores, estendendo-se pelo sangrento campo de guerra que a escola havia se tornado e chegando ao laboratório onde se encontravam.

Pela primeira vez desde o momento em que chegara ali, agora desperta de seu estupor, Jisoo permitiu-se olhar ao redor para os rostos sujos e assustados de seus colegas de classe. Analisando-os rapidamente com seu olhar repleto de julgamentos, a bailarina percebeu um desfalque em sua contagem. O idiota rapaz com síndrome de heroísmo não estava ali. Com o cenho franzido em uma careta que não costumava fazer, amedrontada pela iminência das rugas, ela olhou ao redor novamente e, novamente, seu ros não estava presente entre os demais. Garoto estúpido, foi bancar o cavaleiro da armadilha prateada e agora se tornou um deles. Ótimo jeito de aumentar o nosso problema. Pensou, sentiu vontade de fumar. Puxou de seu maço um dos cigarros restantes e o posicionou entre os lábios, o tilintar do isqueiro sendo aberto repetindo-se algumas vezes antes que, irritada, ela desistisse. O gás havia acabado e, com ele, sua esperança de consumir um pouco de nicotina.

Jisoo jogou o pequeno objeto metálico longe, batendo contra uma parede e derrubando um frasco de vidro ao cair no chão. Alguns rostos curiosos tornaram sua atenção para ela, mas o vislumbre de um olhar cortante – quase como um indicativo de psicose – foi o suficiente para que voltassem a se concentrar nas palavras da professora, que ainda pulsavam pelos alto falantes.

Não consigo ajudar. Sinto muito. Não se machuquem, está bem? Vamos continuar vivos para nos reencontrarmos. Tudo bem? – com a voz embargada pelo choro, a Profa. Park finalmente finalizou seu discurso.

O silêncio se estendeu ao fim de suas palavras, lágrimas escorriam pelas faces cansadas dos estudantes da classe 2-5. Estavam exaustos. Exaustos de correrem, exaustos de se esconderem, exaustos de serem forçados a lutar. Debruçava-se sobre uma das mesas encarando o teto branco de gesso, seus pensamentos desdobrando-se em devaneios sobre o que estaria fazendo aquela hora do dia, se não estivesse preocupada em fugir de zumbis. Provavelmente estaria presa no ensaio agora. Young-seo estaria a provocando sobre sua postura e imitando o olhar rigoroso da professora de balé, na intenção de lhe arrancar uma risada; algo raro que nem mesmo ela conseguia com excelência todas as vezes. Um suspiro abandonou seus lábios carnudos e raiva a abasteceu como um tanque de explosivos.

— Eu não fui mordida. – ergueu-se nos cotovelos ao ouvir a voz de I-sak, que conversava com Onjo próxima a janela, se tornar alguns decibéis mais alta.

— O que está havendo? – Na-yeon, que cochilava apoiada em uma mesa, ergueu a cabeça em seu típico tom acusatório que costumava anteceder um chilique. — Você foi mordida?

— Não fui! – I-sak gritou mais alto, correndo para um dos espelhos localizado junto as pias no fundo do laboratório.

— Você está bem, não está? – Gyeong-su perguntou, se aproximando, mas já era tarde demais. A face da jovem estava pálida, manchada pelo sangue que escorria de seu nariz. Seus olhos haviam se tornado duas grandes bolas escarlates, como se fosse a vítima de um derrame.

Hesitante, tomada pelo desespero e incredulidade, I-sak virou-se lentamente, encarando a turma que a observava com cautela. Seu olhar repousou, lamurioso, na melhor amiga.

— Onjo.

— I-sak.

As duas foram de encontro uma a outra, agoniava a Jisoo que Onjo não se sentisse intimidada pela iminência de um ataque que poderia vir a acontecer a qualquer momento. Não importava que aquela fosse sua melhor amiga, logo ela esqueceria daquilo; abandonaria as memórias para se tornar apenas mais uma carcaça sanguinária cujo único objetivo era conseguir um pouco de carniça.

— Não fui mordida, né? – a garota perguntou e a bailarina quis bufar, revirando seus olhos sem conseguir acreditar no que havia acabado de ouvir. Questionava suas habilidades cognitivas, ou até mesmo se estava simplesmente se fazendo de otária e mais uma vez se irritou. Era difícil sobreviver nas condições de um ambiente tão imbecil quanto aquele. — Não sou como eles, sou?

Onjo apenas deixou que as lágrimas escorressem por seu rosto, molhando-lhe as bochechas e puxando sua amiga para uma última troca de afeto. Apesar do abraço carinhoso, I-sak não fora capaz de ceder, ignorando os sintomas óbvios e continuando a negar ter sido infectada.

— Não sou. Não sou um deles. – afastou-se do abraço e tornou a repetir, como se recitasse um mantra para si mesma e aquilo fosse ser capaz de curá-la da transformação. Onjo colocou-a novamente no abraço, mas Jisoo não conseguia mais aguentar.

— O que estão fazendo? Tirem-na daqui! – Na-yeon foi a primeira a quebrar o momento, mostrando mais um raro lampejo de sensatez pela situação, por mais que seu berreiro agudo ainda fosse um incomodo.

— Não. Estou bem! – I-sak gritou e a bailarina perdeu sua paciência de uma vez por todas. Saltando da mesa, caminhou até onde as duas amigas estavam juntas e encarou fundo nos globos oculares tomados pela vermelhidão da infectada, que se mantinha agarrada a Onjo.

— Só tem duas explicações para esse show que você está dando. Ou você é simplesmente muito burra, ou está adorando se fazer de sonsa. – agarrou-a pelo ombro com força. — Independente de qual seja a resposta, isso aqui não é uma brincadeirinha, não vamos arriscar as nossas vidas por alguém que não consegue largar o processo de negação!

Sua voz era firme, embora controlada, o total oposto dos gritos balbuciados ao fundo pela jovem de suéter rosa. Em seguida pousou seus olhos em Onjo, ela precisava saber o que era necessário. A vida de cada um dos estudantes que ocupavam aquela sala estava em risco e não era justo colocá-las na berlinda daquela maneira simplesmente por sua melhor amiga ser uma sem noção que se recusa a aceitar o próprio destino. Não foi preciso que falasse mais nada, entretanto, pois no segundo seguinte Cheong-san aproximo-se do trio, puxando Onjo dos braços de I-sak e a arrastando para longe.

Aplicando um pouco mais de força, Jisoo pressionou o ombro da estudante mais uma vez antes de empurra-la e seguir o mesmo protocolo dos demais, afastando-se o quando podia dela.

— Onjo. – I-sak estendeu a mão, mas não foi capaz de dar sequer um passo, antes de cair de joelhos no chão, seu corpo tombando desmaiado para a frente. A jovem Nam se debatia nos braços do amigo, tentando soltar-se para ampara-lá no chão.

— Depressa! Façam alguma coisa. – Na-yeon berrou mais uma vez, com a colega de classe desmaiada era possível que a arrastassem para fora antes que acordasse, mas todos pareciam ter sido transformados em pedra.

Os ossos estalaram e se retorceram, o padrão se repetindo em frente a seus olhos deslumbrados pela terceira vez em um curto espaço de tempo. Em um ângulo estranho e inumano, o corpo por fim se ergueu e os gritos de Onjo misturaram-se aos de Na-yeon. Em um momento de silêncio em tensão, em que os estudantes não sabiam o que aconteceria a seguir, I-sak avançou em Cheong-san, que a agarrou empurrando-a para trás.

Jisoo sentiu suas costas colidindo com a madeira de um armário em um baque surdo que deixou a base de sua coluna dolorida. Na virada de segundos entre desviar os olhos atentos do embate que se protagonizava a frente e virar-se para contemplar o recém feito hematoma, o barulho de vidro sendo quebrado chamou sua atenção novamente. Com a mão espalmada em suas vértebras enquanto andava, se aproximou mais um pouco, capturando com o olhar a imagem de três dedos dependurados pela janela do laboratório de ciências. I-sak já não mais compunha o ecossistema da sala. Antes que ela pudesse despencar para sua queda livre, no entanto, Onjo debruçou-se pelo parapeito agarrando-a pelo pulso. Cheong-san repetiu o movimento, lutando com ela para que a deixasse cair.

A bailarina não entendia o que estava acontecendo, os movimentos pareciam confusos quando observados apenas pelas costas. Manteve-se quieta, afastada a uma distância segura e apenas aguardou, exasperação queimando em seu apêndice. Em meio a confusão, Na-yeon tomou a frente novamente, chutando um dos bancos de madeira em direção a perna de Cheong-san e chamando sua atenção. Com a nova arma em punhos, o jovem tornou a inclinar-se através da janela, novos grunhidos podendo ser ouvidos, junto ao som final de um grito animalesco que aos poucos se dissolvia no ar. Os dois jovens voltaram seus corpos para dentro da sala de aula juntos, a consciência pela nova perda expandindo-se sobre cada um dos sobreviventes que ainda haviam restado; o luto tornava-se a cada momento algo mais natural, iminente.

A fragilidade da vida mais uma vez rodopiava diante seus sentidos, dançando em uma corda bamba, rindo e fazendo piadas da estupidez humana que havia pavimentado seu caminho até ali. Era inevitável, ao mesmo tempo em que comicamente trágico. E, também mais uma vez, Jisoo riu consigo mesma.

(4051 palavras não revisadas)

━━ é engraçado pensar que no último capítulo publicado dessa fanfic eu ainda ia prestar o enem e agora eu já estou no meu terceiro período da federal. uau. relembrar realmente é viver.

━━ de qualquer forma, senti saudades de escrever após um período sabático em que eu desinstalei o wattpad e vivi por um ano fora desse mundo, agora eu estou de volta! espero que vocês apreciem o capítulo, ainda estou tentando retomar a essência principal da jisoo por ser uma personagem que eu criei quando estava em outro momento da minha vida. de qualquer forma ainda nutro muito carinho por ela e por essa história como um todo.

★ ━━ não posso prometer um padrão de constância nas atualizações, nem dizer ao certo quanto o próximo capítulo irá sair, afinal como eu disse estou em outra fase da minha vida agora que se desdobra em um novo padrão acadêmico e social. minha vida real é o meu foco, isso é apenas um passatempo.

☆ ━━ senti saudades, espero que possamos continuar juntos nessa jornada. <3 com muito amor, drika.

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