˚˖𓍢ִ໋🪞˚. 𝟎𝟐.
𝟎𝟐: Noodie e chá.
❛ e você diz: enquanto eu estiver
aqui, ninguém conseguirá te
machucar não quero mentir aqui,
mas você pode aprender
a fazer isso. ❜
𝒬uando o caminho até a lavanderia foi concluído Tulipa ainda tremia de frio, sua roupa encharcada de lama que endureceu em seus cabelos os tornando embaraçados. Bleacher se esgueirava ao lado dela, enquanto Willy parecia imperturbável com a situação, ainda muito alheio do labirinto sem fim no qual estava entrando a cada passo. A pensão da senhora Scrubitt estava a poucos metros de distância, uma fachada aconchegante que prometia calor e conforto, era falso, se chegasse pertinho suficiente veria o enferrujado que decorava o letreiro e as janelas que eram remendadas com fitas. As roupas que ficavam confortáveis na varanda davam vida à fachada, flutuando preguiçosamente na brisa fria, assim do lado de fora parecia mesmo um lar, embora de forma alguma pudesse ser.
Precisou apenas de uma batida dos nós grossos dos dedos de Bleacher para que a porta da pensão se abrisse com um barulho estridente, revelando uma mal-humorada senhora Scrubitt. Ela estava envolta em um xale verde-escuro, o cabelo amarelo enroscado em rolos ao redor da cabeça. Ao ver a pequena comitiva encharcada, um suspiro escapou de seus lábios pálidos, estava farta das fugas de Tulipa, gostaria de castiga-la, mas era impedida pelos privilégios da garota, as regalias que a prefeita lhe concedia em troca do silêncio e segurança da jovem.
━ É melhor você ter trazido gin! ━ Exclamou a mulher irritada ao mirar Bleacher com os olhos esbugalhados.
━ Tenho algo melhor que gin. ━ Garantiu o mais velho saindo do campo de visão da Sra. Scrubitt. ━ Um convidado.
Willy sorriu educadamente, entrando na pensão, cumprimentando a senhora Scrubitt com seu sorriso característico. Tulipa e Bleacher o seguiram, a jovem tentando alertá-lo discretamente, mas Willy estava completamente absorvido pela conversa com a proprietária. A senhora Scrubitt levou-os para o interior da pensão, oferecendo um shot de seu marcante gin, o qual ela usava para distrair e retardar seus pobres convidados enquanto os conduzia por um corredor acarpetado cheio de portas fechadas.
━ O que aconteceu com você? ━ A Sra. Scrubitt perguntou ao notar a presença da congelada Tulipa Duvall que continuava ao lado de Wonka como uma sombra desconfiada. ━ Está imunda.
━ Eu caí. ━ Tulipa respondeu sem vontade enquanto ainda tentava chamar a atenção de Willy com olhares furtivos.
━ Suba para se limpar. ━ A Sra. Scrubitt manda franzindo o nariz para a garota que cruzou os braços em teimosia, não parecendo querer deixar a sala de golpes. ━ Noodle! ━ A mulher chamou e a pequena garotinha surgiu segurando um dos livros de Tulipa, esses que a garota compartilhava contente em ter alguém com quem dividir seu carinho por literatura. ━ Acompanhe Tulipa lá para cima, para termos certeza de que ela não irá se perder novamente.
Tulipa abriu a boca para responder, mas decidiu não fazer quando Noodle se aproximou, sabia que a pequena amiga precisava cumprir as tarefas que lhe eram dadas, caso contrário ganharia um dos castigos cruéis da Sra. Scrubitt. Olhando uma última vez para Willy, a garota suspirou segurando a mão de Noodle e começando a desaparecer pela porta de madeira escura.
━ Espere. ━ O rapaz se aproxima tocando o pulso dela uma escolha inconsciente de uma das poucas partes limpas de seu braço. Tulipa se vira tão curiosa quanto a Sra. Scrubitt e Bleacher que dão um passo a frente tentando ouvir, o fazendo ruborizar levemente. ━ Verei você depois?
Os lábios de Tulipa se entreabrem, uma surpresa suave dançando em sua face enquanto os olhos dela estudam o rapaz por alguns segundos, os cachos escuros dele, amassados pela cartola, a ponta do nariz e os lábios avermelhados pelo frio enquanto seus olhos verdes brilham em expectativa. Uma esperança voraz transbordando dele causando um risinho travesso em Noodle e um bufar da Sra. Scrubitt enquanto Bleacher parece tão divertido com a situação quanto a criança da sala.
━ Espero que não. ━ Tulipa sussurra sem pensar direito na formação de sua fala. Ela se vira abandonando o toque dele ao começar a subir as escadas apressadamente, deixando até mesmo Noodle para trás. Ela não queria ser Rude com Wonka, é claro que não, mas realmente torcia para que os dois não voltassem a se encontrar se precisava ser naquelas condições, pobre garoto cheio de sonhos, aprisionado ali como tantos outros, como ela mesma.
Tulipa não demorou a fechar a porta atrás de si, estremecendo no ar frio do quarto pouco iluminado. A jovem rapidamente se livrou de suas roupas molhadas, o vestido sujo caindo com a capa enquanto ela corria para pegar uma toalha e se dirigir até o banheiro. Ligou o chuveiro reconhecendo o objeto de inveja de muitos de seus companheiros, seus privilégios de estendiam ao único chuveiro de água quente. Entrou embaixo da água e enquanto se banhava, ela não podia impedir seus pensamentos de retornarem a Willy Wonka. Ele parecia tão confiante no caminho até ali, completamente inconsciente do perigo que se aproximava. Ela sabia que não podia permitir que ele assinasse aquele contrato sem saber as implicações, mas também sabia ter tanto poder sobre isso quanto o próprio Wonka.
Ao terminar o banho e completar a tarefa de se secar e trocar as roupas sujas para roupas secas, Tulipa sentou na beira da cama, tentando pensar em uma maneira de impedir Wonka. Inútil, ela descobriu ser quando ouviu os passos de Willy até o quarto a frente e ouviu a Sra. Scrubitt explicar a ele sobre o quarto, isso antes de ouvir a mesma mulher passando a chave pela fechadura da porta de Tulipa, como fez muitas vezes antes, a prendendo para que não contasse ao garoto sobre o golpe. A jovem suspirou ao jogar-se na cama, sendo silenciada outra vez.
No dia seguinte quando Tulipa acorda no início da manhã em sua pequena cama no quarto antigo, seu corpo já está começando a se mover instintivamente para começar o dia. Ela se levanta devagar, estremecendo levemente com o toque frio do chão contra seus pés, caminha até o banheiro, escova os dentes antes do banho e então prende o cabelo em uma trança baixa antes de vestir suas roupas comuns, mandadas pela mãe com o passar do tempo, irritada ao descobrir que a filha não trouxe roupas de sua estadia na Holanda. Passando pelo corredor de paredes descascadas e quadros empoeirados, ela entra na área da lavanderia, onde vê seus companheiros de trabalho, todos presos atrás das barras de metal que cobrem as janelas. Cada um deles tem expressões de resignação ou desespero em seus olhos, alguns ansiosos pelo dia que deixariam o lugar, outros convencidos de que nunca fariam.
Tulipa não vê o tempo passar, pois fica a tarde inteira na lavanderia da pensão, lavando roupas sujas usando um tanque grande com água corrente, o dia se vai devagar e o sol estava começando a se pôr no horizonte, lançando longas sombras pela pequena lavanderia da pensão. A jovem estava ocupada lavando os tecidos finos, as mangas enroladas acima dos cotovelos enquanto ela mergulhava peça por peça em um enorme tacho de água ensaboada. O dia foi pouco aquecido e a tarde está quente e ensolarada, com grandes nuvens espalhadas pelo céu. Tulipa estava ocupada com montanhas de roupas sujas e manchadas, ela trabalhou diligentemente, mergulhando as peças de roupa em baldes de água morna e esfregando-as com força. Ao longo do dia, ela lava camisas, calças, meias e roupas íntimas, mergulhando-as na água, esfregando e enxaguando-as cuidadosamente. Quando finalmente para, já é quase hora do jantar, ela nota algo incomum, o carrinho de roupa limpa de Noodle está parado no mesmo lugar desde que Tulipa chegou.
━ Onde está a Noodle? ━ Tulipa perguntou quando os olhos dela percorreram a sala e não encontraram a pequena amiga.
━ Não a vemos desde ontem a noite. ━ Respondeu Lottie Bell levantando a cabeça ao encará-la por trás dos óculos vermelhos. ━ Pensamos que estava com você.
Tulipa não precisa questionar mais nada, ela volta a subir as escadas rapidamente, suas botas vermelhas estalam contra os degraus de madeira velha e corroída, enquanto ela tenta conter o nervosismo. Suas roupas já não estão sujas ou encharcadas pela lama da poça em que ela caiu na noite anterior, e sua mente nesse momento está preocupada apenas com a pequena Noodle. Depois do que parece uma eternidade para ela, a jovem finalmente alcança o topo das escadas e avista a porta da pequena câmara onde Noodle foi colocada de castigo pela nefasta Sra. Scrubitt.
O corredor é escuro mesmo durante a luz da manhã, o lugar era tão escondido aos fundos que tinha de ser iluminado por um lampião à distância, e Tulipa tem de forçar os olhos para conseguir ver uma pequena janela na porta da câmara. Afastando os fios de cabelo que insistiam em cair em seu rosto, ela se aproxima, respirando com dificuldade devido à corrida, tentando olhar para dentro, mas a vidraça está embaçada e a visão é difícil de se discernir. O que lhe resta fazer então é empurrar a porta pesada para conseguir espiar. As paredes estavam nuas, exceto por uma única janela rachada, e a criança estava sentada no canto, enrolada em um manto fino, tiritando de frio. A jovem sente um arrepio percorrer seu corpo ao sentir a temperatura gelada que reina no ambiente. Ela se lembra do frio da noite passada, e seu coração se enche de empatia e tristeza por sua pequena amiga.
━ Noodie? ━ Tulipa, tentando conter a ansiedade na voz para não assustar a criança. A jovem se apoia na porta com a mão, cortando as tábuas frias sob suas palmas. Há um silêncio absoluto da outra parte, o que deixa Tulipa ainda mais preocupada. ━ Sou eu, Tulipa.
A pequena garota se vira, encolhida, sua expressão exausta e derrotada, enquanto encara um ponto fixo na parede com olhos distantes. Tulipa se aproxima rapidamente de Noodle, sua expressão preocupada e determinada enquanto ela tenta sorrir para uma amiga e não apavorar a garota ainda mais. A jovem se agacha na frente do Noodle, esticando a mão para tocar sua face gélida, Noodle levanta a cabeça e olha para ela com olhos arregalados, começa se houvesse acabado de notar sua presença.
━ Tulipa! ━ Noodle sussurra, sem acreditar no que está vendendo, embora já não seja a primeira vez que vê a Duvall quebrando as regras por ela. ━ O que você está fazendo aqui? Se o Bleacher te ver...
Tulipa balança a cabeça como se tentasse afastar as palavras, decide manter uma calma falsa tal qual seu controle, embora seu coração esteja batendo forte no peito e os dedos na bochecha de Noodle estejam trêmulos.
━ Fique quieta. ━ Ela respondeu em um sussurro. ━ Preciso te tirar daqui imediatamente.
Sem esperar por uma resposta da criança trêmula, Tulipa tira a garotinha do chão, carregando Noodle nos braços, segurando-a com cuidado apesar da estranha posição devido aos joelhos magros de Noodle e os braços magros de Tulipa. A jovem carrega a pequena amiga até seu próprio quarto e a coloca na cama, envolvendo-a com todos os cobertores quentes e aconchegantes que encontra. ━ Fique aqui, não se mova. ━ Pediu a jovem. Tulipa se virou e deixou o quarto, descendo as escadas rapidamente, tomando cuidado para não fazer muito barulho embora a madeira continuasse a ranger. Por alcança a parte inferior das escadas e espiona pela pequena fresta da porta antes de entrar na pequena cozinha da pensão. O ambiente é quente e acolhedor, com o cheiro de roupas limpas permeando o ar, a lareira no canto esquerdo fazendo o crepitar das chamas ser ouvido.
A Sra. Scrubitt, a proprietária da pensão, está ocupada do lado de fora do edifício, falando em voz baixa com Bleacher zombando de Willy Wonka ao profetizar como será no fim do dia quando ele voltar sem os trocados para pagar o quarto em que se hospedou noite passada. Revirando os olhos enquanto os amaldiçoa mentalmente, Tulipa se aproxima da pia com o máximo de discrição que consegue, rapidamente pega um pequeno jarro e o coloca sob o jato, abrindo a torneira para enche-lo com água quente. Enquanto espera o objeto se encher, ela olha nervosamente para a porta, temendo ser surpreendida por qualquer um dos adultos ou entregue por um latido do Tiddles.
Depois do que para Tulipa parecem dias, o jarro está finalmente cheio e ela fecha rapidamente a torneira, colocando a tampa no jarro para manter a água quente por mais tempo, aprisionando o vapor que escapava aquecendo suas bochechas as tornando ainda mais rosadas. A jovem coloca o jarro com cuidado embaixo do braço e se vira para sair pela cozinha, com o coração batendo forte no peito a cada passo. A garota sobe as escadas rapidamente, tomando cuidado para não derramar a água quente do jarro. Ela alcança seu quarto e entra, fechando a porta atrás de si com um leve clique. Noodle está enrolada nos cobertores, ainda exausta embora já não esteja tremendo. A mais velha se aproxima da cama e coloca o jarro com água quente em uma mesa próxima, só então vai até seu guarda-roupa e o abre, procurando algo enquanto mantém um olho na amiga.
Após remexer algumas peças no guarda-roupa bagunçado, ela encontra uma pequena caixa onde mantém as camomilas que colheu no dia anterior. Tulipa se senta ao lado de Noodle com o pote de ervas em mãos, tirando algumas flores e colocando-as em uma xícara antes de, cuidadosamente derrama a água quente sobre elas, mexendo com uma colher para misturar as camomilas. Não demora até que a água se torne amarela e perfume o quarto com seu aroma doce e reconfortante. A jovem pega a xícara com cuidado, temendo derramar um pouco da água quente, e se volta para Noodle que está esperando, acostumada aos chás sem açúcar que eram o melhor que a mais velha poderia fazer por ela.
━ Vai melhorar. ━ Afirmou Tulipa quando Noodle levou as mãozinhas a xícara a segurando com força, grata pelo calor confortável. ━ O que aconteceu?
━ Tentei avisar ao Wonka sobre as letrinhas. ━ Murmurou Noodle após beber um grande gole do chá.
━ Ah, Noodle ━ Tulipa suspirou balançando a cabeça antes deixar um beijinho na testa da garotinha. ━ Você é um anjinho. ━ Ela sussurra as sobrancelhas escuras se juntando levemente. ━, Mas não pode se arriscar assim, se ficar doente outra vez eles não irão tratá-la, é muito arriscado.
━ Eu queria ajudar. ━ Noodle argumentou antes de beber um pouco mais do chá em busca de calor, ela abaixa a xícara um momento mais tarde, uma pequena ruga pensativa se forma em sua testa. ━, Mas ele assinou mesmo assim.
━ Como assim? ━ Questionou Tulipa enquanto apertava mais as cobertas ao redor da garotinha antes de puxá-la com cuidado para o colo, esfregando as palmas das mãos nos braços dela em uma tentativa de aquecer.
━ Bem, ele viu as letrinhas. ━ Afirmou Noodle fechando os olhos ao se deleitar do calor e conforto produzido pelo cuidado da mais velha. ━, Mas assinou mesmo assim.
Tulipa parou, sua expressão estava confusa e até mesmo preocupada, as sobrancelhas finas franzidas enquanto ela tentava digerir as notícias que estavam lhe sendo entregues. Ela olhou para Noodle, que parecia tão confusa quanto ela, embora houvesse um brilho sugestivo em sua face agora mais corada pelo calor. ━ O que foi?
━ E se ele não souber ler? ━ Noodle sugere. Não é uma sugestão estranha para ela, pois a garotinha também não sabia ler até o ano anterior, quando Tulipa chegou com a mala de livros e uma vontade de dividi-los com alguém que também quisesse dividir com ela.
Antes que Tulipa pudesse dar a pequena amiga uma resposta adequada, às duas escutam uma conversa abafada vindo do andar de baixo. Noodle se levanta deixando a xícara na mesa e acompanha Tulipa até a porta, às duas escapam pelo corredor na ponta dos pés, aproximando-se da escada. Com um cuidado extremo, elas apuram as orelhas em uma tentativa de escutar as palavras que estão sendo ditas lá em baixo, não demoram para identificar as vozes de Wonka, Bleacher e Sra. Scrubitt.
━ Pobre Willy... ━ Noodle sussurrou enquanto ouviam a lista de pagamentos que ele não conseguiria realizar.
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