𝗰𝗮𝗽𝗶𝘁𝘂𝗹𝗼 01
" 𝗤𝗨𝗔𝗡𝗗𝗢 𝗘𝗨 𝗧𝗘 𝗩𝗘𝗝𝗢
𝗗𝗘 𝗡𝗢𝗩𝗢? 🥋🦅 "
( capitulo 1: o começo e o fim )
Os pés cruzados na cadeira, os dedos sendo estralados e o coração acelerando eram indícios da ansiedade e do medo que eu sentia agora. Em uma sala de hospital com minha mãe e meu pai com as mãos em meus ombros...quase tão nervosos quanto eu pela resposta do medico a nossa frente
— perda auditiva moderada - ele inicia a frase se virando para nós - A capacidade dela de ouvir é significativamente comprometida. Isso, claro, pode ser tratado com os cuidados certos. Mas no caso dela...a tendência é aumentar quanto mais velha, partindo pra perda auditiva severa e assim por diante. Devido as outras vindas de Daisy aqui no consultório e o que já analisamos sobre o seu caso, o melhor a se fazer agora seria providenciar um aparelho auditivo e ir fazendo visitas regulares ao otorrino. Com isso ela não irá voltar a escutar normalmente, mas é o que podemos fazer para ajudar
Meus pais continuaram na sala mas eu estava cansada daquilo. Eram ferias de julho, verão e com um sol gigantesco lá fora. Meus amigos estavam todos reunidos no clube aproveitando a piscina e aproveitando o inicio da sua adolescência
Mas eu...
Eu estava no hospital, frio, gelado e com cheiro de remédio e álcool. Tendo acabado de receber a notícia de que eu estou ficando surda aos poucos e não a muito o que se possa fazer pra resolver
Não era exatamente onde eu me imaginava estar com 14 anos
Saindo da sala eu encontro Daiana sentada em um dos bancos apreensiva. Quando ela me vê ela rapidamente se levanta e se aproxima de mim. Ela era 4 anos mais velha, estava no auge dos 18 e desmarcou uma viagem entre amigos só pra ficar comigo
Ela era perfeita até demais e isso me angustiava
— Eu preciso ficar um pouco sozinha, tá? - Digo e saio antes que ela possa contestar
Me direcionando para a lanchonete do hospital eu bufava por já saber ds cor os caminhos desse lugar, e do jeito que as coisas estão, essa seria como minha segunda casa, tenho certeza!
— um chocolate quente por favor - pedi no balcão enquanto colocava uma mecha de cabelo para trás involuntariamente ao ver o gatinho que me atendia, essa devia ser a única parte boa daqui, ele parecia literalmente com o Dylan O'brien
— Coloco na conta da sua mãe? - Eu o vi falar sarcasticamente e sorrir
Rapidamente engoli seco e desviei o olhar ao perceber que não tinha escutado o que o mesmo havia falado. Devia ser pela distância do balcão
— Ah...ele perguntou se você quer que coloque na conta da sua mãe! - Finalmente pude escutar alguma coisa, uma voz masculina vinda do meu lado. Pelo tom a pessoa tinha percebido que eu não escutava direito, mas parecia receosa ao dizer
Eu olhei para o lado surpresa. Me dando de cara com um garoto loiro dos olhos azuis, parecia meio baixo e indefeso, seus lábios tinham uma pequena deformidade, e quando o mesmo percebeu meu olhar sobre isso rapidamente escondeu seu lábio com a mão
— Sim! Na conta da minha mãe, por favor - Disse ao atendente que sorriu e se virou pra começar a preparar o pedido - Muito obrigada... - digo tímida me virando para o loiro
Ele apenas sorriu, e então continuou cobrindo seus lábios
— Camisa legal! Star Wars? Eu adoro esses filmes mas minhas amigas costumam me chamar de nerd quando eu menciono - Digo de forma descontraída tentando puxar assunto
Mas eu juro, não era o meu ouvido, mas eu realmente não vi nada sair da sua boca, ele só concordava e se encolia na fila, quase como quisesse se esconder de mim
— Qual seu nome? Pra eu poder te agradecer direito - Digo mas sem sucesso
Ao contrário o mesmo parece se dar por vencido de permanecer ali e sai, como se estivesse com medo
— Ei! Espera - Rapidamente peguei meu chocolate quente e corri atrás do mesmo
Segui o mesmo pelos corredores do hospital por alguns segundos, enquanto insistia em pedir para que ele parasse de correr
Foi quando ele parou, mas infelizmente eu não percebi a tempo e nós nos trombamos até cair no chão
Ah...e se lembra do chocolate quente que eu havia acabado de pegar? Agora estava derramado nele
— Ai! - o ouço murmurar por de baixo de mim
Assim que eu percebo que estava o sufocando eu me levanto e rapidamente o ajudo a se levantar, completamente envergonhada da situação em que tinha me metido
— Ai meu Deus! Me desculpa, me desculpa mesmo! - Supliquei vendo sua blusa toda molhada
— Eli - Ele disse enquanto suspirava
— O que? - perguntei confusa levando as sobrancelhas e me aproximando para escuta-lo melhor
— Meu nome é Eli! Foi o motivo pelo qual me seguiu pelos corredores até ficarmos nessa situação - Ele dizia tudo de forma tímida, quase como se a culpa disso fosse dele
— Me desculpa, de novo. Eu sou bem persistente e adoro fazer amigos e as vezes meu subconsciente não aceita que existem pessoas tímidas no mundo. Aliás! Meu nome é Daisy - estico as minhas mãos - Mas meus amigos me chamam de Day, como o dia, porque eu odeio que me chamem pelo nome! Sabe, parece que estão bravos comigo ou algo do tipo
— Você fala bastante, não é Day? - Ele sorriu. Era um sorriso diferente por causa do lábio aberto, mas aquilo pareceu deixa-lo mais encantador ainda
— Isso é um problema?
Ele arregalou os olhos
— Não! Não! Claro que não! É só que...acho que eu nunca tinha trocado tantas palavras com uma garota na minha vida antes, tirando a minha mãe - ele se encolheu
— Nossa, então considere-se um azarado! Porque agora eu sou sua amiga e eu juro, que nunca calo a boca. Eu já levei tantos esporros por falar demais que misericórdia - Eu disse e ele riu - Vem comigo! Vou te ajudar a limpar isso daí, essa camiseta é incrível demais para ser perdida para um chocolate quente
Quando eu peguei na sua mão ele pareceu congelar por alguns segundos, mas eu o dei um puxão e rapidamente me seguiu
***
Naquele mesmo dia nós dois decidimos não nos desgrudar mais. Nossos pais também se conheceram e acabaram se tornando amigos, o que foi perfeito para a aproximação. Videogames, festas do pijama, noite da pizza...era sempre nós dois. Quase como uma extensão um do outro, quando Daisy citava que iria se encontrar com um amigo...todos ja sabiam de quem se tratava, e o mesmo acontecia com Eli. Se viam e se falavam mais vezes do que com os próprios pais
Mas com essa idade...essa proximidade? Todos diziam que eles se gostavam mais do que como amigos. Sempre era negado. Mas ambos sabiam que aos poucos e no fundo...algo existia
***
— Qual é! Você só pode estar de brincadeira! Eu nunca vou entender essa matéria, quem foi que colocou letras na matemática! Sério - Arremessei o livro sobre a cama enquanto esbravejava
— Ei! Se acalma - Eli disse enquanto ria apoiado na cama
— É mais fácil falar do que fazer. Você já entendeu a matéria inteira e veio aqui pra ajudar a pobre coitada que tem uma prova de recuperação pra fazer amanhã e não consegue entender o conteúdo - me ajoelhei no pé da cama e escondi meu rosto em meus braços
Senti Eli passar as mãos pelas minhas costas me consolando, me arrepiei instantaneamente pelo fato de minha pele estar nua pelo desenho do vestido que vestia
— Respira, Day. Você vai conseguir, só precisa se esforçar um pouquinho mais - Ele diz com a voz mansinha, o que me fez ficar igual manteiga derretida
— DAISY! DESÇA AQUI - Ouvi meu pai gritar do andar de baixo
— Ferrou - Digo levantando a cabeça e olhando para Eli
— Porque? Você não fez nada de errado - ele deu de ombros
— Você tem razão - me levantei indo para abrir a porta, mas percebi que ele não saiu da minha cama - Vamos
— Eu não, o seu pai TE chamou - Eli respondeu
— Meu querido, nós somos praticamente a mesma pessoa, vamos! - eu o peguei pela mão e o puxei até o andar de baixo
Dois anos de amizade e pareciam séculos de que nos conhecíamos, acho que até desaprendemos a viver sem o outro
Quando chegamos na cozinha meus pais estavam sentados na mesa, um ao lado do outro, em silêncio
Mas tinha alguém preparando um xícara de café na bancada, o que me fez desviar o olhar e estranhar
— DAIANA! - Corri para abraça-la
A mesma sorriu e levantou as sobrancelhas em surpresa. Ana estava na faculdade e fazia um tempo que eu não a via
— Que saudades, Day - Ela acariciou meus cabelos
— Meu deus, quando você voltou? Por que não me avisou? - Eu comecei a lançar varias perguntas
— Eli, querido. Poderia se retirar para darmos uma notícia a Daisy? - Minha mãe disse com sutileza para o garoto ao meu lado
— Não, ele vai ficar e escutar também, seja lá o que for - Disse saindo do abraço com ana, e me lembrando que Eli ainda estava ali
— Daisy... - Meu pai me lançou aquele olhar
— Pai - Eu morria de medo dele, mas não me importava agora
— Está tudo bem! Ele pode ficar, mas depois não diga que eu não avisei - minha mãe diz
Olho para Eli, que estava encolhido de vergonha. Rapidamente aponto para a cadeira com a cabeça para que ele se sentasse comigo, e assim fizemos
— Então - Meu pai coçou a garganta e se endireitou - Como sabe, eu estou trabalhando como funcionário da empresa a alguns anos e sou bastante comprometido com ela. Então a anos espero uma promoção...e ela finalmente chegou
— Que ótimo pai! - Eu sorri em alegria segurando suas mãos
— Parabéns, senhor Gardner! - Eli também comemorou
— Mas tem um detalhe que...talvez seja péssimo para vocês. Mas peço que entendam - Meu pai continuou - O cargo é em uma outra unidade da empresa...em outro país
Eu congelei naquele instante, não conseguia pensar, mas a negação consumiu o meu corpo
— O senhor vai ter que se mudar? - Eu disse sem acreditar em qualquer outra possibilidade sem ser essa
— Não querida...nós vamos nos mudar - minha mãe disse
Um desespero me bateu, eu senti um vazio no meu coração enquanto abaixava o olhar aos poucos, enquanto sentia as mãos de Eli encontrar a minha por debaixo da mesa
— Está bem - foi a última coisa que eu disse antes de me levantar e correr para o meu quarto
***
Thor Hagnarok passava na tv
O sofá estava lotado de cobertores e pipoca, Eli já estava em um sono profundo e ainda eram quatro da tarde. Isso era pra ser uma noite de filmes de despedida mas ele não aguentou nem chegar a noite
Os de verdade eu sei quem são, realmente
— Ai o Day! Vai me ajudar a carregar as caixas ou não, filhota? - O deboche no rosto da minha irmã era nítido. Nossos pais saíram para resolver as ultimas questões da mudança e só restava nós em casa para terminar de empilhar as caixas e nomear
— Você sabe fazer sozinha! Eu estou em uma parte importante do filme e é a noite de despedida - Disse distraída enquanto continuava a por pipoca pra dentro
— Querida, o Eli tá parecendo um defunto ai do seu lado faz uma hora. A despedida de vocês vai ser nos sonhos dele. Então venha fazer algo mais importante e me ajudar
Me levanto sem vontade alguma, quase me rastejando até as caixas
— Pega essa e eu pego essa - Minha irmã da os comandos e assim eu faço
Pego a Caixa de papelão, que não estava tão pesada, e começo a levar até o hall da porta, mas quando vou por no chão eu percebo que algo havia caído
Olhando para o chão eu vejo dois colares com pingente de coração partido, que agora estavam unidos como um imã
— O que é isso, Daiana? - pergunto enquanto mostrava os colares agora em minhas mãos
— Ah é um colar cafonérrimo que a mamãe e o papai compraram em uma viagem, acho que pra india. Esse colar ai tem uma pedra que muda de cor quando você está a...acho que três metros da outra pessoa, algo assim. Ele longe é azul e perto amarelo - Ana explicou com indiferença
Mas eu achei aquilo genial
Observei a peça por mais alguns segundos antes de guardar no meu bolso e continuar mexendo com as caixas
Já era de noite quando meus pais voltaram pra casa com caixas de pizza para o jantar. Foi questão de segundos até Eli finalmente acordar com o cheiro de comida
Minha mãe estava parecia cansada então apenas entregou rapidamente as caixas para o meu pai e foi para a cozinha
Seus cabelos ruivos estavam presos em um coque frouxo, e sua pele pálida estava com manchas avermelhadas, que geralmente aparecem quando ela está nervosa. Nossa mãe era bem diferente de mim e da minha irmã, ela é americana, nascida e criada como tal. E se casou com o meu pai, um mexicano nato. Obviamente eu e Daiana puxamos os traços dele. Minha mãe até tentou palmitar a família mas o sangue latino foi mais forte
— A mamãe está bem? - Escuto a pergunta da minha irmã para o meu pai e finalmente volto para a situação atual
— Ela só está um pouquinho cansada. Vamos comer! - Meu pai diz e rapidamente todos levantamos do sofá
Eli tinha acabado de acordar mas para comer ele pareter ressurgido das cinzas e quase me empurrou para chegar primeiro na mesa, o que causou um rapido conflito interno entre nós dois
— Aposto que eu como 7 pedaços - Digo
— Eu como 11 facinho, zé orelha - Eli disparou
— Nossa, duvido! Essa pizza tem massa grossa, ela enche fácil
— A gente pode ter um jantar comum sem vocês dois se bicarem? - Meu pai disse e no final de sua frase deu um sorriso forçado, o que nos fez rir
***
Era o dia seguinte, eu estava prestes a entrar no carro em direção ao aeroporto, mas era quase como se meu corpo não me obedecesse, e quisesse ficar abraçada ao corpo de Eli pra sempre. Nós sentíamos o mesmo naquele momento, e doía bastante
Meu rosto já estava debulhado em lágrimas, eu sentia meu coração apertando a cada vez que escutava a voz de Eli, pensando que uma hora ele direcionaria a ultima palavra para mim e depois ficaria anos sem ouvi-las pessoalmente de novo
— Toma - Eu tirei o colar de coração do bolso - eu sei que parece idiotice e a coisa mais infantil do mundo mas...não tira isso, tá? É a prova de que eu vou estar sempre com você, e uma garantia que vamos nos encontrar de novo
— Você sabe que vai ser difícil agora né? Você me defendia na escola e ainda sim o pessoal me atacava por conta do lábio, agora então...
— Eli, você é muito maior do que eles! Eles não sem dignos nem da sua atenção, cara. Olha só, vamos nos falar todos os dias, se algo acontecer me avisa, eu ainda tenho contatos aqui...e eles sabem esconder corpos - disse a última parte em um cochicho o que o fez rir em meio às lágrimas
— Você é louca, vou sentir saudades - ele pegou sua bicicleta, e eu observei aquilo com dor - Bom, agora eu vou pra casa, e amanhã não vou vir aqui igual aos últimos 2 anos - Ele diz e então olhamos para a casa
Ouvi a buzina do carro como um sinal para irmos logo
— Adeus, Eli - Disse dando um ultimo abraço no mesmo
— Adeus, Zé orelha - quando nos separamos os colares estavam grudados um no outro
Quando nos separamos mais e eles se partiram Eli suspirou e disse
— não se preocupe, eles ainda vão se juntar de novo. Eu te garanto
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