1.10- DISGUSTING ORPHAN
Após tomar um rápido banho na casa dos Wheeler, Natalie pegou uma roupa de Nancy emprestada. A garota saiu do banheiro já trocada enquanto secava seu cabelo.
Ao entrar no quarto da garota, ela a viu sentada na cama com Jonathan a abraçando de lado.
Os dois olharam para ela ao mesmo tempo assim que a viram entrar. Ela tinha muita coisa para explicar.
— Acho que eu devo uma explicação a vocês. – Natalie falou
— É, eu também acho... – Nancy disse – O que foi aquilo?
— Ou melhor, como fez aquilo? – Jonathan perguntou
Natalie suspirou cansada, ela puxou uma cadeira de perto da parede e sentou-se perto deles.
Puxando a manga da camisa que Nancy a emprestara, Natalie deixou sua tatuagem "000" a mostra.
— Sabem a história que contei sobre o tráfico de crianças? Que fui sequestrada e traficada? – Natalie perguntou, ela continuou a falar quando viu o casal de amigos assentir – Eu realmente fui sequestrada, mas não por traficantes. Por cientistas.
A Goodwin contou pela primeira vez tudo o que acontecera no laboratório antes de ser adotada pela sua família.
Contou sobre seus poderes, sobre sua fuga e sobre Eleven, a garota que deixou para trás e que, possivelmente, estava morta.
— Caramba... – Nancy ficou sem palavras ao ouvir toda a história
— Eu sinto muito, Nat. – Jonathan disse
— Sabíamos que você tinha sofrido na infância, era uma coisa óbvia mas não imaginamos que era dessa forma. – Nancy diz
Jonathan encarou o chão por alguns segundos, levantando o olhar para Natalie novamente.
— Seus pais sabem sobre isso? – Jonathan pergunta
— Não e não podem saber. – Natalie respondeu rapidamente – Quero dizer, acho que eles surtariam. Vou ajudar a trazer Will de volta, mas não vou revelar meus poderes a eles. Vocês dois são os únicos que sabem sobre isso.
Nancy assentiu, ela entendia Natalie. Se ela tivesse poderes sobrenaturais como a garota ela nunca contaria para Ted e Karen.
— Obrigada por confiar na gente para falar sobre seus poderes, mesmo que não tivesse muita escolha, me sinto lisonjeada. – Nancy disse – Vamos guardar seu segredo, eu prometo.
— Obrigada. – Natalie falou – Está tarde, eu preciso ir embora. Eu vejo vocês amanhã para acabar com tudo isso de uma vez por todas?
Jonathan e Nancy se entreolharam, mesmo nervosos por tudo o que aconteceu naquele dia, eles deram um pequeno sorriso e assentiram.
— Com certeza. – Jonathan falou
Sair da casa dos Wheeler não foi uma tarefa difícil, estava aliviada por finalmente poder falar sobre tudo com alguém.
Nunca imaginou que Nancy seria uma das primeiras pessoas a saber sobre seu passado traumático.
Com certeza tudo aquilo valeria a pena, ela iria conseguir trazer Will Byers de volta. Iria conseguir mesmo se fosse a última coisa que faria.
No dia seguinte a garota saiu pela janela de seu próprio quarto para se encontrar com Jonathan e Nancy logo cedo.
A viagem de carro até a loja de armas de caça no centro foi rápida. Natalie se lembrou sobre seu trabalho, o qual não ia a dias, assim que viu a livraria aí longe.
— Vocês vão comprar as armas? – Natalie perguntou para Jonathan – Preciso resolver uma coisa.
— Claro, nos encontramos aqui depois? – Jonathan perguntou
— Com certeza. – Natalie respondeu, correndo para dentro do seu local de trabalho
Assim que entrou parou de correr respirando fundo, olhou em volta, a dona da livraria não estava lá.
— Olha só quem resolveu aparecer. – O filho da senhora Miller, sua chefe e dona da livraria, falou irônico – Lembrou-se que tem um emprego?
— Olá Christopher, sua mãe está aí? – Natalie perguntou
— Não, sua chefe tirou férias, saberia disso se viesse trabalhar. – Christopher falou
Natalie suspirou, com tantas coisas acontecendo na cidade ela havia esquecido totalmente de suas obrigações. Tudo o que ela queria era achar Will.
— Me desculpa, eu me esqueci totalmente de avisar. Eu ando no mundo da lua desde que o melhor amigo do meu irmãozinho desapareceu... – Natalie disse
Christopher suspirou apoiando-se no balcão.
— Eu sinto muito pelo Byers, mas você não tinha nenhum atestado de luto nem nada do tipo. Sei que tudo isso pode mexer com a cabeça de uma adolescente como você, mas você deixou a livraria "sozinha" por dias e eu não posso deixar você sair impune. – O homem falou, Nat suspirou assentindo com a cabeça – Natalie, eu estou te demitindo você.
— Eu entendo. – Natalie diz cabisbaixa
— Pode voltar aqui amanhã para acertar sua demissão, mas eu não posso deixar você continuar a trabalhar aqui. – Christopher diz
Natalie assentiu logo andando para fora da livraria, não podia o culpar por a demitir. Ela faltou durante mais de dois dias seguidos, sem nem ao menos aviso prévio.
A morena parou na rua confusa ao perceber um policial revirando o carro de Jonathan, passou direto por ele, não tentou ser discreta ao virar a cabeça e ver o homem pegando diversas armas do porta malas do carro.
A Goodwin entrou na loja que Jonathan e Nancy estavam antes, eles já não estavam mais ali. Ao sair do lugar Natalie andou pela rua confusa. O que eles poderiam ter feito de tão ruim que foram até a polícia.
Suas dúvidas foram se esvaindo quando passou em frente ao cinema. “Estrelando a vadia Nancy Wheeler” era o que estava escrito na margem do filme que estava em cartaz.
Ao ler aquilo o ódio tomou conta de Natalie, ela tomou as dores da Wheeler para si enquanto fechava os olhos com força.
Pôde ver Tommy, Carol e Steve juntos em um mercadinho na esquina da rua detrás do cinema, ao usar seus poderes. Abriu os olhos novamente limpando seu nariz sujo de sangue e voltando a andar.
Ela andou rapidamente até o mercado, Steve estava sentado em cima de seu carro sozinho. Seu rosto estava completamente machucado, porém os machucados não fez Natalie ter menos raiva dele.
Steve mal teve tempo de levantar seu olhar para a garota que se aproximava furiosa antes de levar um tapa no rosto, sentindo uma grande dor em seu rosto machucado. O Harrington tentou falar alguma coisa, mas Natalie o empurrou contra o carro segurando ele pelo colarinho de sua blusa.
— "Estrelando a vadia Nancy Wheeler"? – Natalie perguntou raivosa – De tudo o que você já fez Harrington, essa merda foi a coisa mais baixa de todas!
— Achei que você não gostasse dela. – Steve falou confuso
— Não perguntei o que você achava, você é nojento, Steve Harrington. Sujou a imagem da garota chamando ela de vadia para a cidade inteira e pelo o que? – Natalie perguntou soltando ele – Por que ela percebeu que você é um babaca e te deu um fora?
Ao contrário do que Natalie imaginava, Steve não ficou com raiva ou simplesmente irritado com o que ela falou. Ela pôde sentir tristeza em seu olhar.
— Ao contrário, na verdade. – Steve diz – Ela me traiu.
— O que? – Natalie perguntou desacreditada, um pequeno sorriso apareceu em seu rosto. Só podia ser uma piada.
— Está se divertindo bastante com isso né? – Steve perguntou com o semblante fechado – Nancy me traiu com Jonathan Byers, vi eles agarrados no quarto dela ontem a noite.
Reprimiu o grande desejo que sentiu de começar a rir da cara de Steve naquele momento.
— Deixa eu adivinhar... Ela quem fez isso em você? – Natalie perguntou
— Foi ele. – Steve respondeu
— Você apanhou para Jonathan? – Natalie perguntou não aguentando segurar a risada. Sua gargalhada era contagiante, mas Steve não queria rir, ele estava devastado.
— Pode tirar uma comigo, eu mereço. – Steve respondeu dando de ombros – Eu realmente sou um babaca.
— Olha só, finalmente percebeu o que estava na sua cara o tempo todo! – Natalie ironizou, mas se preocupou quando a reação do moreno não mudou – Cara, você é babaca mas não precisa ficar assim também. Nancy não te traiu.
— Como sabe disso? – Steve perguntou
— Por que eu estava com ela e Jonathan ontem a noite. – Steve arregalou um olho assim que Natalie respondeu – Estávamos estudando e dando apoio um para o outro, pelo Will, pela Bárbara...
Steve levantou o olhar novamente, seus olhos se encontraram com os de Natalie.
— Você estava lá? – Steve perguntou
— Provavelmente você... Espionou eles enquanto eu estava no banho, mas é. Eu estava lá com eles. – Natalie respondeu – Qual é Steve, por pior que você seja, Nancy não faria isso com você.
Steve assentiu. Sentir-se um babaca porque acreditou que Nancy Wheeler, a garota perfeitinha, realmente tinha o traído e decidiu se vingar dela da forma mais idiota possível.
Se sentia um babaca por ter feito tudo aquilo por causa de um "chifre" mesmo com ele não sentindo mais nada por Nancy.
— Natalie... – Steve foi interrompido
— Como era o ditado, Tommy? – Natalie se virou ao ouvir a voz de Carol com a porta do mercadinho se abrindo – Vadias andam em bando?
— Isso não é um ditado, Carol. – Natalie falou – E mesmo se fosse, ele estaria errado, a única vadia de seu grupo é você.
A raiva de Carol ficou evidente quando ela baixou as sobrancelhas e fechou seus punhos mesmo longe da morena.
— Cuidado com o que fala, Goodwin. – Tommy falou – Você está sozinha. – Ele virou o olhar para Steve e o jogou uma lata de refrigerante e aspirina – Você me deve um e vinte.
— Ah, o papai não deu mesada a mais esse mês? Precisa cobrar um dólar de seu amiguinho? – Natalie debochou do garoto – Ou ele cortou a mesada depois de ver a obra de arte que fizeram no cinema?
— Você gostou, Goodwin? – Tommy perguntou – Você será a nossa próxima estrela! – ele olhou para Steve – O que acham de "Estrelando Natalie Goodwin, a órfã repugnante"?
Natalie desceu o olhar, analisando Tommy e Carol de cima abaixo. Nem ao menos percebeu que Steve havia se levantado assim que Tommy a chamou de repugnante.
— Sua falta de empatia pelo próximo não me surpreende mais Tommy, mas você saber o significado da palavra "repugnante"... – ela suspirou – Isso sim é surpreendente.
— Vai se foder, Natalie. – Tommy fala
— Podem me chamar do que quiserem, mas não mexam mais com meus amigos. Isso vale para Nancy, Jonathan e qualquer outra pessoa que vocês pensarem em zoar outra vez. – Natalie diz, ela se aproximou de Carol a encarando com raiva – Eu realmente não me importo com qualquer comentário vindo de vocês e sabem por quê?
— Por que? – Carol perguntou irônica
— Por que se vocês tem a vida tão infeliz a ponto de precisar rebaixar os outros para se sentirem melhor do que eles, as únicas aberrações, nojentas e repugnantes são vocês. – Natalie diz
Carol levantou o braço rapidamente dando um tapa forte no rosto da Goodwin.
— Não encosta nela! – Steve exclamou puxando Natalie para trás e dando um passo na direção de Carol.
Natalie olhou confusa para Steve principalmente depois que ele foi empurrado por Thomas.
— Qual o seu problema, cara? – Tommy perguntou para Steve
— Não podem sair batendo nos outros por causa de verdades que falaram para vocês. – Steve respondeu
— Tá falando sério? Até cinco minutos atrás você estava do nosso lado. – Tommy falou
— É, até cair na real em como somos todos babacas! – Steve exclamou, Tommy revirou os olhos.
— O que deu em você? Bateu a cabeça com o Byers socando você? – Carol perguntou para Steve, ela começou a imitar Jonathan batendo nele.
Por um segundo Natalie pensou em perguntar a mesma coisa "o que deu em você?" para Steve, já que só olhava para Steve a defendendo, completamente confusa, mas achou melhor ficar calada vendo no que aquilo iria acabar.
— O que deu em mim? A realidade apareceu. Eu não deveria ter deixado você jogar milk shake nela quando ela entrou na escola e nem fazerem o que fizeram com Nancy. Desde o primeiro dia vocês dois implicaram com ela e eu já percebi o porquê! Porque ela é o tipo de pessoa que vocês jamais serão, uma pessoa boa que não pensa só em si mesma e ajuda os outros mesmo com qualquer rixa que ela tivesse no passado!
— Já entendi, tá querendo impressionar a órfã para comer ela. – Tommy falou com graça na sua voz.
Natalie o olhou desacreditada, não importa o que falassem a ele. A qualquer um deles, eles não mudariam até que precisassem enfrentar a dura realidade do mundo.
— Cala a boca! – Steve mandou
— Você sabe que não precisa de tudo isso, ela uma vadia. – Tommy continuou – É só você pedir com jeitinho que ela dá para você.
— Eu mandei calar a boca! – Steve exclamou dando um soco no rosto do garoto que, até então, era seu amigo.
Tommy agarrou Steve pela gola de sua camisa e o colocou contra o automóvel que estava atrás dele.
— Você apanhou para Jonathan Byers, tem certeza que quer entrar em uma briga comigo? – Tommy perguntou
Natalie empurrou Tommy para longe de Steve e deu um soco em seu rosto, mal esperando o rosto dele ficar vermelho antes de bater com seu cotovelo na volta.
Carol foi para cima da morena novamente, mas Natalie simplesmente segurou o braço da ruiva, o torcendo e a jogando em cima de seu namorado. Foi o suficiente para derrubar os dois no chão.
— Vocês são as pessoas mais desprezíveis que eu já conheci, mas podem falar o que quiser. Até porquê, o que vem de baixo não me atinge. – Natalie falou com um voz sarcástica, ela se virou para trás vendo Steve abrir a porta de seu carro para ela entrar – E essa é uma expressão real, Carol, diferente do "ditado" que você criou a alguns minutos atrás.
Natalie entrou no carro de Steve, sentando-se no banco do passageiro enquanto ele entrava no banco do motorista e saia com o carro.
Ele começou a dirigir calado,viu pelo retrovisor Carol se levantar e mostrar o dedo do meio para os dois.
— Belo soco. – Steve disse para Natalie
— Poderia dizer o mesmo, se Tommy não tivesse ameaçado lhe fazer de saco de pancadas cinco segundos depois. – Natalie brincou, ela o encarou – Por que me defendeu? O soco de Jonathan foi tão forte que afetou o cérebro?
Steve deu uma pequena risada, achou incrível a habilidade da morena em fazê-lo rir em um momento como aquele.
— Quase isso, acho que tudo isso me fez ver o quão babaca eu era. – Steve responde – Outra coisa? Sempre quis ser seu amigo.
— Não quis não. – Natalie falou
— Quis sim. – Steve disse
— Não, você não quis. – Natalie reforçou – Jogou Milk shake no meu cabelo no meu primeiro dia de aula.
Steve fez uma careta, recebendo uma grande dor em seu nariz.
— Não fui eu quem joguei milk shake em você, Natalie. Pelo contrário, eu tentei impedir Carol de jogar em você, mas quando tirei o copo dela já era tarde demais e você já estava toda rosa. – Steve disse
Natalie olhou para Steve novamente com a boca entreaberta, era uma coisa difícil de se acreditar depois de todos os anos de implicância entre eles.
— Não acredito. – Natalie fala – Você nunca tentou explicar sobre isso antes.
— Tá de sacanagem? É claro que eu tentei! – Steve exclamou – Mas você nunca deixou, sempre que eu tentava pedir desculpas ou explicar você me interrompia e respondia alguma coisa.
— E todos esses anos de brigas e implicâncias? – Natalie perguntou
— Ah... Você não ia com a minha cara, então achei que o melhor jeito de lidar com isso era implicar com você também. – Steve respondeu
Natalie riu irônica.
— Puta merda, você tá falando sério? – Natalie perguntou
— Acha que eu inventaria uma coisa patética dessas? – Steve perguntou risonho
Natalie negou com a cabeça dando um pequeno riso.
— Não, isso é bem sua cara. – Nat respondeu
Steve olhou rapidamente para a garota que estava sentada ao seu lado com um pequeno sorriso de lado.
— Voltou a ser amiga de Nancy? – Ele perguntou
— Acho que sim... Sabe, a dor une as pessoas e acho que ela e eu estávamos passando por algo parecido. – Natalie deu de ombros – No fim das contas, ela não mudou tanto, continua a ser a mesma Nancy que eu conhecia. Bem lá no fundo, mas continua.
Steve assentiu.
— Acha que pode ser minha amiga? – Steve perguntou
Natalie deu de ombros rapidamente.
— Depende, não adianta mudar apenas uma atitude, Steve. Você pode ter enfrentado seu amigo hoje, mas o que adiantaria ter batido de frente com eles apenas hoje e depois voltar a andar com eles como se nada tivesse acontecido? – Natalie fala – Se quer tentar se aproximar de mim, Steve, precisa mudar de verdade. Não gosto de bullys.
— Claro... – Steve fala mexendo no rádio
“Vão nos matar” Natalie ouviu a voz de Amber entre os rádios
— Ouviu isso? – Natalie perguntou confusa
— Gosta daquela música? – Steve perguntou confuso
“A gente já tá chegando no ferro-velho” Harry falou
— Consegue me deixar na esquina da... – Natalie falou uma rua perto do ferro velho
— Claro, logo depois vou até o cinema. Alguém precisa limpar aquilo na placa e os funcionários não tem nada a ver com minhas atitudes ridículas. – Steve respondeu
Natalie assentiu, assim que Steve a deixou naquela esquina ela abriu a porta sorrindo para o mesmo.
— Vê se não faz nada estúpido. – Natalie falou
— Sabe que é impossível. – Steve disse e saiu andando com o carro.
O sorriso no rosto de Natalie sumiu aos pouco conforme seu olhar mudava do carro para o lugar onde o ferro-velho ficava.
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top