Se alguém contasse para Juniper algumas semanas atrás que ela estava faltando aos treinos para fugir das consequências das próprias decisões, ela provavelmente riria e diria que era impossível. Mas tudo se torna possível quando sua mente não está no lugar certo.

Os dias passaram em um piscar de olhos para ela, pois sem os treinos diários no dojô tudo parecia funcionar no automático. A escola se tornou entendiante sem as suas antigas companhias, as mesmas que ela fugia toda vez que encontrava eles nos corredores do colégio. Sua casa parecia vazia a maior parte do tempo enquanto seus pais trabalhavam no escritório o dia todo, apenas para agradar o chefe idiota deles, como Juniper o denominou. Sua única companhia foi ela mesma, a solidão que tanto temia parecia reconfortante naquele momento.

Juniper estava com o cabelo preso em dois coques, seus punhos doloridos pelos golpes contra o boneco de treino. Suas roupas de academia estavam suadas, e ela podia sentir a temperatura do seu corpo levando ela ao extremo. Porém ela não se importou em ficar doente ou sofrer as consequências do esforço que fazia. Ela precisava suprir os treinos que não foi, e deixar a sua mente quieta.

A garota testava todos os golpes repetidas vezes, saltando cada vez mais alto na garagem dos seus pais. Seus pés e costas doíam a cada queda, mas ela não desistia, e repetia todo o processo. Ela fixou os pés no chão, dando um passo para frente para esticar a perna direita, girando o quadril para colocar o pé no chão e levantar o outro enquanto colocava todas as suas forças no impulso, dando um giro e um chute no ar, aterrizando perfeitamente no chão.

Seu peito subia e descia incansavelmente, e um sorriso surgiu nos seus lábios, uma felicidade temporária que deixava seu coração em paz por míseros segundos. Aquele torneio estava chegando, e com ele seu medo de plateias lotadas também, mas ela escolhia ignorar o fato das suas mãos tremerem toda vez que pensava nisso.

A Davis saiu da garagem tomando um gole da própria garrafinha, indo até os fundos buscar o lixo que prometeu aos seus pais que levaria para fora. Quando pegou o saco preto, ela foi até o quintal, seus fones de ouvido no último volume em uma música aleatório, que ela julgava ser um rock antigo. Seus olhos curiosos foram para a movimentação na casa da frente, encontrando uma adolescente de cabelos alaranjados a encarando, parecendo reconhecer ela.

─ Ei! Você é a garota do dojô. - A mesma gritou surpresa quando Juniper retirou um dos seus fones depois de jogar a sacola na lata, enquanto ruiva se aproximava dela com seu vestido florido voando com o vento.

─ Acho que sim. - A Davis devolveu incerta, aos poucos lembrando dela. - E você é...

─ Judith Barret. - Esticou uma mão, cumprimentando a loira que retribuiu com uma careta confusa.

─ Juniper Davis. - Devolveu, tirando um sorriso da ruiva. - Desculpa pelo chute aquele dia, eu tinha que garantir o meu lugar.

─ Não tem problema. - Judith disse despreocupada. - Nunca tive a intenção de realmente entrar no dojô, foi apenas uma oportunidade de voltar as minhas raízes. Mas cobra kai não é para mim.

─ Muito agressivo para um miyagi? - A Davis perguntou com uma sobrancelha arqueada, e Judith abriu a boca para falar, mas fechando em seguida sem saber o que dizer. - Era meio óbvio que você era de lá, sabe? O chute crane só ajudou.

─ Eu treinei por algumas semanas, porque sempre fui fã do Sr. Larusso. - Judith dizia mexendo as mãos. - Depois do acidente na...

─ Não. - Juniper pediu a cortando quando percebeu o olhar da garota.

─ Certo, me desculpa. - Ela respirou fundo antes de continuar. - Eu e minha irmã mudamos faz pouco tempo, é bom saber que conheço alguém por aqui. - Disse gentil, uma tentativa de conquistar a confiança da garota que ainda a olhava como se pudesse ler a sua mente.

─ Sua irmã? - Juniper perguntou interessada.

─ Sim. - Sorriu carinhosa, virando o rosto para os lados até parar quando a encontrou. - Aquela ali.

Juniper seguiu o olhar da mais alta, encontrando os cabelos ruivos de uma garota voando enquanto ela de equilibrava no skate, apenas alguns metros longe delas. Apenas pela feição séria e a jaqueta de couro vermelha dela, Juniper percebeu que a garotinha era totalmente diferente da irmã.

─ Talvez ela sirva para o cobra kai. - Juniper brincou, levantando o olhar para a ruiva outra vez, recebendo uma careta da mesma. - O que foi? O meu dojô é ótimo. - Se defendeu, rindo baixo em seguida

─ Então porque não está lá? - Judith retrucou, fazendo a loira cessar a risada. - Eu sei os horários, e tenho certeza que eles não toleram atrasos.

─ Problemas com alguns inquilinos. - Comentou a contragosto.

Ela definitivamente não contaria para a Barret o real motivo, mas ainda foi cinquenta porcento verdadeira.

─ Bom, não vejo como isso afetaria um treino. - A ruiva disse descontraída. - Apenas se estiver com medo dos inquilinos. - O comentário saiu ao mesmo tempo que os seus olhos analisaram a loira, que fazia o mesmo com ela.

Juniper podia ser boa em manipular as pessoas, mas era melhor ainda em perceber quando alguém tentava tirar informações suas, mesmo que fossem bobas.

─ Jesus, você é louca! - Juniper riu baixo, mexendo a cabeça em negação. - Por que está tão interessada?

─ Seus punhos. - Ela disse dando de ombros, e Juniper desceu o olhar até as próprias mãos, encontrando as juntas dos seus dedos quase em carne viva. - Posso não te conhecer, mas sei quando alguém precisa de ajuda.

─ Bom, você errou dessa vez. - A Davis exclamou, cerrando os dentes levemente irritada, fechando a lata de lixo ao seu lado em um baque. - Boa sorte em aguentar os vizinhos. Eles são um bando de riquinhos esnobes. - Comentou sarcástica antes de virar, e andar até a entrada da própria casa, deixando a ruiva com as sobrancelhas juntas levemente preocupada com a nova vizinha.

─ O que foi? - A ruiva levou um susto quando a Barret mais nova apareceu do seu lado com o skate em mãos.

─ Nada. - Respondeu respirando fundo, balançando a cabeça antes de olhar para a irmã sorrindo. - Pronta para jogar minecraft?

─ Óbvio! - A mais nova sorriu animada, ambas andando para o outro lado da rua.

Judith se preocupou honestamente com a nova vizinha, pois as histórias que escutou sobre Juniper Davis depois da famosa briga na escola não eram boas. Seu coração bondoso, que puxou do falecido pai ─ um ex policial, que morreu salvando algumas vítimas de um assalto ─ impediam ela de não dizer nada, mesmo que não causasse nenhuma reação, ou uma ruim.

Porém ela se contentou em esperar até o dia seguinte, e enquanto saía para pegar o correio, seus olhos viram Juniper sair com a própria moto e uma mochila que tinha um pano branco, conhecido por ela, saltando para fora. Um sorriso satisfeito apossou os seus lábios, sabendo que pelo menos conseguiu fazer a garota ter alguma reação, pois, mesmo não gostando do famoso dojô, ela não poderia deixar de se encantar pela lealdade que a outra parecia ter com o mesmo.

Ou era isso que as histórias que escutou no seu antigo dojô demonstravam. A reputação de Juniper Davis era grande.

• • •

Depois da decisão quase forçada de voltar ao dojô, a Davis voltou com os treinos, tendo o dobro de esforço por causa do olhar de águia de Kreese sobre ela. Talvez ele tenha a subestimado, ou escolhido uma das peças mais fracas do tabuleiro, o que se tornou apenas um fruto da sua imaginação quando o mesmo percebeu o rendimento da garota nas aulas.

Seus golpes estavam mais brutais, os chutes chegavam cada vez mais alto, além da sus mudança nas lutas corpo a corpo, as quais Juniper parecia brincar com os seus adversários para acabar com a luta ilesa. Seria egoísmo da sua parte não admitir que a Davis trabalhava melhor sozinha, com os seus próprios demônios aumentando o veneno que possuía dentro do próprio coração.

─ Deveríamos ir para a praia depois de ganhar o torneio. Ia ser legal ficar bêbada e me jogar na areia segurando o meu troféu. - A Davis comentou quando entrou no dojô com os seus colegas, Tory ao seu lado apenas riu do comentário bobo, assim como outros.

─ Como sabe que vai ganhar? - O Parker perguntou irônico jogando a própria mochila na entrada. - Você não é a única que vai lutar aqui.

─ Você tem sorte que eu não vou lutar contra você, Kyler. - Ela devolveu séria, engolindo a vontade que tinha de quebrá-lo no meio toda vez que o via.

Ele apenas levantou as mãos se rendendo sobre o olhar raivoso da loira, que virou para pendurar a mochila nos ganchos na parede com Tory rindo ao seu lado, enquanto os outros entravam no dojô de vez.

─ Vejam esse idiota. - Kyler exclamou, chamando a atenção da Davis que deixou as coisas para trás indo até o tatame com a Nichols, encontrando Robby sozinho vestindo o kimono do cobra kai. - O que faz aqui?

─ O sensei Kreese não voltou, pensei em fazer o aquecimento. - O Keene disse.

─ Você só pode 'tá brincando. - Juniper comentou incrédula, revirando os olhos enquanto mexia no próprio cabelo.

Seus olhos se encontraram rapidamente, uma mistura de ódio e angústia pela última noite que tiveram o um ao outro, sendo derrotados pela confusão entre os sensei's e dos seus próprios corações. Ambos queriam falar um com o outro, mas o medo de perderem o controle era maior.

─ Você nunca fez parte da turma e acha que é o nosso sensei? - O asiático continuou, e pela primeira vez a Davis concordou com ele. - Cai fora, cara.

─ Quem disse que queremos você? - Tory indagou irritada do lado da loira. - Juniper tem feito as substituições, não precisamos de dois senseis.

─ Certo, me batam. - O Keene pediu sério, fazendo a garota olhar para ele confusa, assim como os outros. - Qualquer um de vocês. Se vocês me baterem, irei embora.

─ Jesus Cristo! - Juniper exclamou desacreditada, soltando um risada baixa andando para longe deles.

─ Está bem. - Kyler aceitou, logo indo na direção do Keene para acertá-lo com um chute, mas o garoto foi ágil e desviou, dando uma rasteira no outro.

─ Quem é o próximo? - Robby perguntou ofegante, despertando o interesse da Davis pela mudança repentina na atitude dele, fazendo ela encostar na parede e observar a briga.

Algo no olhar dele fazia o seu estômago embrulhar, talvez de ansiedade, mas ela não conseguia entender o motivo. Mesmo não vendo ele a dias, com ambos ignorando e fugindo um do outro, ainda era explícito que algo não estava de volta nos seus eixos, mesmo com a escolha dos dois.

Robby derrubou um por um dos alunos, se defendendo de todos os golpes com precisão e foco, usando os ensinamentos do Daniel Larusso ao seu favor para contra atacar, derrotando toda a turma, até que sobrasse apenas a Davis e a Nichols.

─ Vão ficar assistindo? - Ele se atreveu a perguntar depois de derrubar um dos garotos.

─ Estou de boa. - Juniper deu de ombros, olhando para Tory convicta de que a garota tivesse chances de derrubá-lo, e logo a outra entendeu o pedido.

A Nichols partiu para o ataque, travando uma troca de socos e chutes que eram defendidos pelos Keene. Até que em um dos chutes o garoto conseguiu desviar, acertando em cheio a sua perna para derrubá-la. Tory caiu no chão irritada, olhando para Juniper em busca de apoio, recebendo apenas um revirar de olhos, ainda receosa sobre brigar com o Keene.

─ Só falta você, Davis. - O Keene disse quando levantou o olhar convencido até ela. - 'Tá com medo?

─ De você? - Ela riu baixo, suas palavras servindo como incentivo para ela desencostar da parede e indo até o tatame em passos firmes, ambos ficando cara a cara com fogo nos olhos. - Nunca.

Poderia dar muito errado encostarem um no outro outra vez, pois a eletricidade dos toques nunca sumiu, o que servia para fazer com que ambos fossem a loucura pelo simples fato de estarem próximos demais.

Robby sorriu de canto, e assim como ela mandou todas as bandeiras vermelhas irem para o inferno, fechando os punhos quando ela fez o mesmo, os dois se encarando enquanto esperavam o primeiro golpe. Ela tentou golpear o ombro dele, sendo parada pelo antebraço dele, e em seguida ela tentou chutar o estômago dele, e falhando quando ele se defendeu.

A Davis começou a ficar mais focada, assim como ele, e ambos ficaram cada vez mais próximos a cada soco e chute que eles tentavam acertar um no outro. Estavam tão próximos que era possível sentirem a respiração um do outro, e apenas se afastaram quando Juniper tentou dar uma rasteira nele, fazendo o Keene dar um salto para trás fugindo da queda.

Cansada da briga, Juniper avançou com um chute que foi defendido pelo garoto pelas suas duas mãos. Ele tentou segurar a perna dela para derrubá-la, mas a loira foi ágil e usou o aperto das mãos dele na sua perna direita como apoio para saltar e acertar um chute no rosto dele, fazendo ele dar passos para trás ainda em pé.

Não contente com o "ponto marcado", ela avançou outra vez com um soco, pegando ele de surpresa quando ele defendeu o seu golpe no automático, mas logo foi puxado pelas pelas mãos dela com força, jogando o seu corpo por cima do dela no tatame, fazendo o Keene soltar um resmungo baixo de dor quando atingiu o chão.

─ Se eu quisesse uma lição de moral teria buscado uma psicóloga, não você. - A Davis exclamou olhando ele levantar do chão ofegante, assim como ela.

─ Fizemos um acordo. - Ele ignorou o comentário ácido dela, ajeitando a roupa com um bico irritado nos lábios. - Vou embora. - Declarou se virando, e a garota respirou fundo enquanto revirava os olhos.

Eles ainda precisavam dele, e o que aconteceu aquela noite não poderia ser em vão.

─ Ei. - Juniper o chamou, fazendo ele parar no meio do caminho. - Não achou que ia se livrar tão fácil, não é? - Ela perguntou sarcástica, tirando uma risada desacreditada dele.

─ Claro que não. - Afirmou, com um sorriso no canto dos lábios, tentando esconder o alívio pelo seu chamado.

─ Você pode ficar. - A loira concordou, mexendo a cabeça pensativa. - Precisamos de reforço agora.

─ Estou aqui para isso. - Ele afirmou, podendo ver a determinação da loira em fazer aquilo dar certo, mesmo que fosse apenas sobre caratê.

Não demorou para o resto da turma levantar e se recuperar dos golpes antes de se posicionarem na sala, com Robby e Juniper como seus sensei's naquele aquecimento.

─ No miyagi-do, nossos inimigos estão se unindo contra nós. Acham que terão vantagem se trabalharem juntos. - Robby começou do lado da Davis. - Acham que são melhores que nós. E eu deveria saber. Eu era um deles. Mas isso acaba hoje. - Afirmou, olhando para a garota do seu lado antes de começar a andar pelos tatame. - Eu admito, não queria entrar para o Cobra kai. No final das contas, precisamos nos olhar no espelho e ver quem somos de verdade. - A loira deixou um sorriso leve sair em seus lábios. - Podemos ter sofrido algumas baixas, mas não é como se começa que importa. É como termina.

Robby voltou para ficar do lado da Davis, inclinando a cabeça como um sinal para ela continuar.

─ E para derrotar o inimigo, é preciso saber o manual dele. - Juniper disse atendendo o pedido, o olhar orgulhoso por causa dos próprios planos. - O Keene esteve no lado inimigo, e temos que tomar vantagem sobre eles. Eles precisam tomar do próprio veneno.

─ Por isso, vou ensinar o caratê miyagi-do, para derrotarmos o miyagi-do. - Robby completou ela, a olhando em seguida.

Juniper concordou com a cabeça antes de virar o rosto, vendo John Kreese olhando para eles orgulhoso, percebendo que estava com as melhores armas ao seu lado.

─ Já fizemos o aquecimento, sensei. - Ela disse de cabeça erguida, recebendo um aceno do mais velho.

Eles estavam se saboreando do sabor da vitória eminente, pois tudo estava ao seu favor, mesmo quando não estava.

I. Oi amorecos, vim aqui postar esse capítulo pra agradecer pelos 70k de the loneliest!!! Nunca pensei que ia chegar até esse marco e de que eu ia ver essa ideia maluca que eu tive de madrugada ganhar tantas visualizações em pouco tempo, então muito obrigada! Sou grata por todo o carinho que a junie e a história dela está recebendo, prometo atualizar esse ato bem rápido, pois eu realmente estou engajada no plot dele<3

II. Gosto mto de escrever brigas, e essa em específica eu gostei pq é a primeira que a junie e o robby estão mais focados e não deixaram os sentimentos entrarem no meio igual o torneio KAJKAJK Mas tô feliz de poder trabalhar a relação deles no dojô agora, pq ela é o começo de tudo!

III. Estou tentando aprender alguns golpes de caratê pra poder escrever aqui, pois acho que a junie já está em um nível avançado por causa das quantidades de treinos, então, por exemplo, eu usei um nesse capítulo (lá no começo) que é apenas mostrado na s6 pelo kwon, e pela tory no último episódio! Então espero que tenham gostado e que tenham conseguido visualizar os golpes.

IV. Não esqueçam de votar e comentar!! Até o próximo capítulo <3

não revisado.