028 ;𝘧𝘳𝘦𝘴𝘩 𝘰𝘶𝘵 𝘵𝘩𝘦 𝘴𝘭𝘢𝘮𝘮𝘦𝘳.

Quando Juniper acordou no dia seguinte, com as mãos doloridas depois de uma madrugada treinando em casa, a garota desceu as escadas decoradas com luzes coloridas. O Natal estava se aproximando, e com o ele o espírito de festa chegou na casa dos Davis, mesmo com a rotina carregada de trabalho dos mais velhos, ambos tentaram surpreender a filha com a decoração da casa.

Um sorriso calmo surgiu em seus lábios quando viu a árvore decorada com bolas roxas, e ao se aproximar ela riu baixo com algumas das suas cartas para o papai noel que estavam penduradas nos galhos, provavelmente uma ideia da matriarca, pois a mesma tinha a mania de guardar as coisas da filha antes de tudo acontecer.

─ Gostou? - Anastasia perguntou esperançosa ao aparecer do lado da filha.

─ É lindo. - Respondeu com os olhos brilhantes vidrados nas decorações. - Como fizeram isso sem eu perceber? - Levantou o olhar até a mais velha.

─ Bom, você passa mais tempo na garagem e no seu quarto, então tentamos usar essa vantagem para fazer isso. - Piscou um olho para ela, soltando uma risada baixa.

─ Confesso que estou impressionada. - Confessou com um sorriso no canto dos lábios.

A mais nova não era burra, nem ingênua. Ela entendia que os esforços dos pais era para suprir a ausência devido a demanda que tiveram no trabalho depois de voltarem da cadeia. Mesmo que sentisse falta as vezes, ela passou muito tempo tomando conta de si mesma, mas pelo menos dessa vez sabia que eles voltariam para a casa no final do dia para eles comerem juntos e assistir algum seriado que a garota gostava. As vezes Brian se juntava nos treinos da filha, ensinando e aprimorando as técnicas dela quando necessário.

─ Seu pai e eu recebemos duas semanas de férias para ficar com você no natal. - A Davis mais velha avisou, contendo um sorriso quando viu o rosto da filha se iluminar com a notícia.

─ Como? - Perguntou surpresa, mas seus lábios já formavam um grande sorriso.

─ Bom, era o mínimo que poderiam fazer depois de tudo. - Comentou revirando os olhos ao lembrar do próprio trabalho.

─ Não vou nem tentar entender. - Juniper avisou com as sobrancelhas franzidas, escolhendo apenas agradecer pelo tempo com os pais, sem se preocupar com o que aconteceria depois. - Esqueci de te avisar, mas vou precisar do carro hoje. - A loira lembrou, levantando os tão conhecidos olhos de cachorrinhos para a mãe.

─ Golpe baixo, filha. Golpe baixo! - Anastasia brincou rindo, tirando do bolso as chaves do carro e entregando na mão dela, que sorriu agradecendo. - Onde você vai?

─ Buscar o Robby. - Disse rápido, e por pouco Anastasia não estendeu as palavras emboladas da filha, mas quando o fez seus olhos arregalaram levemente.

─ Robby? Robby Keene? - Perguntou, sabendo o histórico conturbado dos dois ex melhores amigos.

─ Esse mesmo. - Ela suspirou baixo, a cada segundo se arrependendo mais sobre a promessa que fez à Shannon.

─ Queria dizer que estou surpresa, mas eu não estou nem um pouco. - Anastasia confessou, balançando a cabeça ao soltar uma risada anasalada.

─ Por que todo mundo tem essa reação? - Juniper indagou baixo, tentando pensar se suas decisões eram tão transparentes ao ponto de todos perceberem.

─ Você pode fingir ser durona, filha, mas eu conheço esse coraçãozinho no seu peito. - Disse doce, apontando para o coração da filha, que prestava atenção nas palavras da mãe. - E sei que você é tão boa quanto aquelas princesas que assistia quando criança. Mesmo que você tente esconder atrás dessa barreira que você herdou do seu pai. - Deixou um suspiro triste escapar quando terminou.

Anastasia gostava de lembrar que a filha era a cópia do próprio pai, mas odiava perceber os pontos negativos que a mais nova puxou dele. Talvez ambos fossem assim, mas Brian sempre foi o mais fechado com os sentimentos, e quando era apenas uma adolescente ele usava a raiva e ódio camuflarem suas outras emoções. E assim a história estava se repetindo com a filha.

─ As vezes eu não queria ser eu. - Juniper confessou desviando o olhar, entendendo o peso da sua falta de coragem.

─ Ei! Não pense assim, querida. Você é perfeita do seu jeitinho. - A mais velha disse de imediato, segurando o rosto da filha com as duas mãos, fazendo ela erguer o olharcabisbaixo. - Olha, sei que fui dura com você todos esses anos sem o seu pai do nosso lado, e peço desculpas por isso. Mas estamos tentando o nosso melhor para recuperar o nosso laço, e por isso preciso que você seja mais verdadeira com a gente e consigo mesma. Nunca é tarde para gostamos de nós mesmo e, quem sabe, resolver o passado ajude com isso.

Ela estava falando de Robby. O que fez Juniper formar um bico nos lábios, tentando não mostrar o quão afetada estava com tantas menções ao seu passado nos últimos dias.

─ Não sei se consigo. - Sussurrou baixo, a voz quebrada acertando em cheio Anastasia.

─ Eu sei que é difícil, e assustador demais, mas se não tentar talvez você nunca descubra do que é capaz de fazer quando finalmente se encontrar. - Anastasia dizia as palavras olhando nos olhos da garota, passando a confiança que tinha nelas, o que despertou algo no coração dela.

Eu acho que posso tentar. - Disse, mais para si mesma do que para a mulher, mas mesmo assim ela deu um pequeno sorriso para a mulher. - Obrigada.

─ Sempre que precisar, senhorita! - Brincou sorrindo, mesmo que o seu coração de mãe palpitasse mais rápido por não poder tirar todas as pedras do caminho da filha.

─ Prometo que volto depois de passar no dojô. - A Davis mais nova avisou, deixando um selar na bochecha da mulher antes de sair apressada até a porta.

─ Tome cuidado! - Anastasia gritou antes da filha sair pela porta da entrada.

Quando a porta fechou nas suas costas, Juniper podia sentir o ar ficar mais pesado com a sua mente sabotando suas memórias enquanto andava até o carro preto. Ela ainda não conseguia acreditar que estava fazendo aquilo. Era uma ação quase insana, até mesmo para ela, que já não tinha alguns parafusos na cabeça. Mas era tudo parte de uma promessa.

Ou era o que ela repetiu para si mesma durante toda a viagem até o reformatório. As mãos suadas seguravam o volante com força quando ela estacionou, seus olhos voando para a porta principal, vendo duas figuras conhecidas discutindo, o que fez ela bufar alto e revirar os olhos saindo do carro.

─ Vocês não conseguem manter a calma até aqui? - A Davis chegou perto deles, cruzando os braços cobertos pelo casaco colorido que usava.

─ Juniper? - Daniel e Johnny viraram para ela confusos, parando de brigar para encarar ela.

─ O que você está fazendo aqui? - O Lawrence perguntou ríspido.

─ O mesmo que vocês dois provavelmente. - Respondeu como se fosse óbvio.

─ É sério? - A voz de Robby chamou a atenção dos três, que olharam na direção da porta, encontrando o garoto encarando eles, mais precisamente para a loira.

─ Oi, Robby. - Johnny e Daniel disseram, enquanto a Davis permanecia quieta com os olhos vidrados nele.

As palavras da sua mãe ecoando na sua cabeça, enquanto ela pensava se era forte o bastante para dar uma última chance para a amizade deles.

─ Te disse que não queria que viesse. - Disse se aproximando do pai, os olhos raivosos encarando ele.

─ Você é meu filho, eu quis vir. - Johnny explicou, fazendo a loira revirar os olhos discretamente atrás deles.

─ E eu também. - Daniel completou, e logo o olhar de Robby vacilou até a garota no meio dos dois, esperando a sua resposta.

─ Você precisa de carona. - Juniper comentou dando de ombros, não conseguindo encontrar outras palavras para justificar o motivo de estar ali, pois não gostaria de desabafar na frente dos mais velhos.

─ Nem vem. Estou aqui por causa de vocês. - Alfinetou Daniel e Juniper, mexendo a cabeça em negação.

─ E ainda estaria lá se eu não tivesse te entregado. - Juniper rebateu, travando uma discussão silenciosa com os olhos verdes do garoto.

Ambos não estavam gostando de estar entre os dois adultos, pois tudo parecia minuciosamente analisado por eles.

─ Sei que está magoado, mas fizemos o melhor para você. - Daniel disse, olhando para os dois com medo deles brigarem na frente do reformatório. - Quero que saiba que estou aqui. Sempre terá um lar no miyagi-do.

─ Ou comigo. - Johnny disse.

─ Jesus Cristo. - Juniper sussurrou passando as mãos no rosto, irritada com a forma que tratavam o garoto como parte da briga entre eles.

─ Os dois... - Começou, parando para pensar quando olhou para a loira, balançando a cabeça para afastar os próprios pensamentos. - Fiquem fora da minha vida. - Terminou desviando o olhar dela ao falar, antes de andar para longe deles.

─ Robby... - Daniel tentou ir atrás dele, mas Juniper colocou o braço na frente dele, o olhando séria.

─ Vocês já fizeram o suficiente. - Disse ríspida, virando para correr atrás do garoto. - Ei! Keene, espera. - Ela desceu as escadas, vendo o mesmo caminhas em passos rápidos para longe deles.

─ Me deixa sozinho, Davis. - Ele pediu, não parando para falar com ela.

─ Para onde você vai? - Respirou fundo ao perguntar, tentando se manter calma para cumprir a promessa que fez a Shannon.

─ Não precisa fingir que se importa para se sentir bem consigo mesma. - Disse ríspido, parando de andar para olhar a garota atrás de si.

─ Esqueci o quão cabeça dura você é. - Sussurrou irritada, passando as mãos nas suas têmporas para afastar a dor de cabeça. - Me deixa, pelo menos, te dar uma carona até a assistência social, Keene. Prometi a sua mãe que ia te deixar em segurança depois que você saísse.

─ Eu já disse para me deixar sozinho. - Insistiu irritado, virando de costas e começando a andar.

─ Você percebeu que não tem ninguém, Keene? - Juniper gritou, fazendo ele parar onde estava, e se virar lentamente com as sobrancelhas franzidas. - E que a única pessoa que parece não querer te usar como uma peça pra uma intriga entre dojôs você escolhe não escutar?

─ O que você quer de mim, Davis? - Perguntou confuso, os olhos pegando fogo com as indiretas da garota. - Quer que eu te perdoe por me colocar nessa merda de lugar? Se é isso que você quer, pode ir embora.

─ Eu só estou pedindo para você fazer o que a sua mãe me pediu, Keene.

─ E o que ela te pediu?

─ Para te deixar em segurança até ela sair da reabilitação. - Juniper respondeu, mexendo nos próprios dedos para afastar o nervosismo. - A gente pode continuar se odiando, mas me deixa fazer isso por você. - Quando percebeu as suas palavras era tarde, pois Robby a olhou surpreso, fazendo ela arregalar os olhos. - Pela sua mãe. Faça isso pela sua mãe. - Tentou consertar.

Robby ficou calado, o silêncio queimando a cabeça da loira com a quantidade de pensamentos que teve. Ela não queria ter falado aquilo, nem se a pagassem ela falaria algo assim na frente dele. Foi da boca para fora. Ela repetia enquanto encarava os olhos esverdeados, que pairavam sobre os acastanhados da garota. Ele não conseguia falar, pois queria gritar e dizer o quão egoísta ela era por colocá-lo atrás das grades e em seguida confundir ele com palavras bonitas.

Robby não queria vê-la, porque sabia que era fraco demais, e cairia nas palavras dela outra vez. Juniper sempre jogou sujo, não era uma novidade para ele, ou para ela. Mas foi um pedido da sua mãe, e negá-lo seria um erro.

─ Eu ainda não quero falar com você. - Disse convicto, sem uma expressão se quer no rosto.

Juniper engoliu a seco, arrumando a postura antes de responder.

─ Tudo bem. Total silêncio. - Afirmou inexpressiva, assim como ele.

Era um acordo ─ quase silencioso ─ de que continuavam na mesma etapa. Poderiam continuar se odiando, mas ainda conseguiriam cumprir o pedido de Shannon.

Ainda em silêncio, Juniper o chamou com a mão, andando em passos calmos até o carro preto dos seus pais, com Robby a acompanhando, ambos olhando para o chão, preferindo não se olharem com medo de desistirem da "bandeira branca" que estenderam entre si.

Quando entraram no veículo, o único barulho que podiam escutar era das próprias respirações se misturando com o barulho do motor e das chaves. Robby pousou o olhar na janela, sentado no banco do passageiro, quase se fundindo com a porta de metal, o mais longe possível da Davis. A tensão era quase palpável, sendo denunciada pelas respirações descontroladas de ambos, que permaneciam inertes em seus próprios pensamentos.

Sem dizer uma palavra, Juniper aproveitou o sinal vermelho e esticou sua mão até o painel do carro, apertando no pequeno botão de "start", fazendo a melodia de "You give love a bad name" de Bon Jovi tocar pelo carro. A loira sorriu, enquanto abaixava o volume para não receber reclamações do garoto, uma prevenção para não se irritar e bater o carro gritando com ele. Seu olhar voou para o Keene quando ela escutou o mesmo soltar uma risada anasalada, ainda encarando a paisagem.

─ O que? É as músicas do meu pai. - Exclamou irritada com ele, tentando manter os olhos concentrados na rua.

─ Espera. O seu pai? - O garoto virou confuso, quebrando o próprio pedido, pois da última vez que soube do homem ele estava atrás das grades.

─ Acha que só a sua vida mudou depois daquele dia, Keene? - Retrucou ácida, fazendo ele revirar os olhos e cruzar os braços, o que fez Juniper bufar antes de continuar. - Os dois saíram da cadeia mais cedo, por falta de provas. Eles iam fazer uma surpresa para mim depois do primeiro dia de aula, já que é um grande dia. - Ela riu baixo, afastando as lágrimas que surgiram no canto dos seus olhos. - Quando eu acordei eles estavam me esperando, e cuidaram de toda essa merda por mim. Voltamos para a casa antiga, mas tudo parece diferente. Tudo está...maior.

Mesmo não querendo seus olhos voaram para a loira quando o som da sua risada chegou nos seus ouvidos, a melodia soando melhor que a do rádio. Robby encarava a feição nostálgica no rosto da Davis com as sobrancelhas franzidas e a boca entreaberta, ficando mal pelo o que aconteceu. O garoto tinha o olhar cabisbaixo, a culpa quase transbordando por eles, pois outra vez acabou com as esperanças dela de uma vida melhor.

Eles ficaram em silêncio outra vez, e Juniper não admitiria, mas esperava uma resposta do garoto, ou pelo menos que um único som cortasse entre os seus lábios. Suas esperanças sumiram enquanto continuavam o trajeto, passando por diversas placas e sinalizações, até que uma chamou a atenção do garoto

─ Podemos passar para ver a minha mãe? - Pediu baixo, tentando ao máximo não demonstrar que ficou afetado pelas palavras dela.

A Davis concordou com a cabeça, mudando o destino quando virou na próxima curva. As mãos da loira batiam em sincronia com a música, uma tentativa de esquecer o garoto ao seu lado, enquanto ele parecia prender a atenção nas próprias mãos até chegarem na fachada conhecida por ambos.

─ Chegamos. - Juniper anunciou baixo, ainda não olhando para ele.

─ Vou demorar apenas cinco minutos. - Ele avisou, olhando para ela uma última vez antes de descer do carro, sendo a deixa para Juniper poder olhar na sua direção quando ele não estava olhando.

─ Merda. - Repetiu várias vezes quando fechou os olhos, batendo no volante antes de encostar a cabeça nele tentando controlar a respiração.

Ela queria fugir, correr o mais rápido possível para longe dele e do seu coração quebrado. O rancor palpitando em seu peito, assim como ele. Ambos engolindo o "sinto muito", e guardando as duas palavras a sete chaves, com medo do resultado.

• • •

Do outro lado da cidade Ethan Campbell nunca pensou que estaria sentado na sala de espera da assistência social, aguardando o final da seção da sua irmã. As consequências dos atos dela fizeram a sua rotina virar de ponta cabeça. O que era um possível conto de fadas, se tornou um pesadelo interno toda vez que acordada com a vaga lembrança de que sua "ex quase namorada" quase morreu por um deslize dele, e da própria irmã.

Vê-la outra vez, e pela primeira vez depois do acidente, foi como um turbilhão de sentimentos, e nenhum deles era bom. O que era estranho, já que desde a chegada da Davis a vida do garoto parecia girar em torno dela. Mas a sua própria mente voltava as memórias com uma antiga manivela, lembrando-o de Robby Keene e o seu passado com a garota.

Era cruel culpá-lo por tudo, mas quem determinou a própria sentença foi ele, quando entrou de fininho na nova vida da loira, jogando as verdades para deixá-la confusa. Ou era isso que achava, e se forçava a achar.

─ Ei! Vamos logo. - Um empurrão em seu braço o fez acordar dos próprios pensamentos, levantando o olhar confuso até a irmã mais nova, que tentava se manter normal naquele lugar.

─ Ah, me desculpa. Vamos. - Disse rápidose levantando, tirando as chaves do bolso. - Alguma coisa diferente das outras? Sabe que não vai durar para sempre, principalmente agora que está trabalhando voluntariamente. - Tentou confortar a morena.

─ A biblioteca não vai melhorar a minha sentença. - Disse ríspida, uma metáfora que apenas ela entenderia.

Seu olhar desceu até a sua mão envolvida pelo gesso branco, com alguns desenhos coloridos feitos por Moon e Yas, suas novas companheiras. Era estranho declarar uma amizade com as duas depois de anos vendo o que acontecia com Eli, ou melhor, Falcão.

Mas tudo estava de ponta cabeça, igual ao mundo invertido de Stranger Things, só que sem os monstros sem rostos, pois na vida real eles eram lindos, como anjos, mas cruéis como o próprio diabo. Aqueles que antes foram julgados e levados a forca, inverteram as posições com os julgadores. E ela continuava ali, no meio termo que sempre se manteve, apenas explodindo nos piores momentos.

O que aconteceu na escola era a prova viva de que Serena Campbell não lidava bem com sentimentos. Ela gostava de assistir como eles eram trabalhados nos filmes, com os clichês e as cenas que quebravam o seu coração, mas quando tudo se tornava real era assustador e, como uma bomba relógio, ela explodia.

─ Você não sabe... - Ethan começou ao virarem o corredor, mas as palavras fugiram da sua boca quando seus olhos bateram em Tory Nichols.

─ O que vocês estão fazendo aqui? - A Nichols foi rápida em perguntar, os olhos afiados vagando entre os irmãos.

─ O mesmo que você. - O Campbell mais velho respondeu pela irmã, que parecia calada, os olhos levemente arregalados encarando a loira, o que alertou o garoto. - Pode ir para o carro, S. - Avisou baixo, entregando as chaves na mão da garota, que agradeceu mentalmente antes de sair rapidamente.

─ Pensei que iriam pagar alguém para manchar o nome de vocês. - Tory comentou ácida, cruzando os braços quando o garoto deixou um riso anasalado escapar enquanto mexia a cabeça. - O que? Vocês tem dinheiro para isso.

─ Não é isso. - Ele disse, erguendo o olhar até o rosto confuso dela. - É que eu não estou surpreso em escutar essas coisas de você. Você é tão previsível! - Acusou soltando uma risada.

─ Cuidado com as palavras, Campbell. - Tory ameaçou ele, fechando as mãos em punhos.

─ Ou o que? Vai me bater? - Ethan se aproximou, a diferença de altura fazendo ela levantar o queixo para encarar os olhos escuros dele, os dois pares pegando fogo com as alfinetadas. - Faça.

─ Que? - Tory gaguejou baixo, a boca ficando entre aberta com a audácia do mais velho.

─ Me bate, e aumenta a sua sentença. A escolha é sua, Nichols. - O Campbell esclareceu com o tom de voz raivoso, com os olhos focados no rosto irritado da loira. - Ou pare de ser tão...

─ "Tão" o que, Campbell? Realista? - Tory retrucou rápida, o dedo indicador apontado no rosto do mais alto. - Eu apenas falei a verdade sobre vocês, ou eu estou mentindo? E na verdade vocês são tão fodidos quanto eu e os outros? - Disparou mais nervosa que antes, podendo assistir quando o garoto vacilou o olhar até o chão, sendo a resposta que ela precisava. - Pensei que fosse melhor que isso. - Comentou em um sussurro, as palavras servindo para todos a sua volta.

─ Eu também. - Ele declarou, levantando o olhar decepcionado até ela, antes de passar ao seu lado para ir embora, os ombros batendo um no outro e causando um arrepio em ambos.

Ethan ignorou a conversa quando passou pela porta da entrada, podendo enxergar o próprio carro no estacionamento, onde Serena encarava o céu pelo vidro do veículo enquanto cantarolava sozinha. Um sorriso triste surgiu em seus lábios, vendo que o velho hábito da irmã continuava intacto.

Ele abriu a porta com cuidado para não assustar a mais nova, sentando no banco do motorista ao mesmo tempo que o barulho de outro motor ecoou pelo estacionamento. Como um imã, ambos encararam o veículo preto, podendo reconhecer os fios dourados que voavam para fora do carro. De repente o ar dentro do carro era pouco, pois os dois Campbell's estavam com a respiração acelerada, mas cada um com os seus motivos e segredos.

─ Esse é o... - Serena queria dizer o nome do garoto quando o viu descer do carro em silêncio, sem agradecer ou se despedir da garota no volante.

─ Robby Keene. - Ethan terminou a frase por ela, o gosto amargo do nome queimou na sua boca.

Seus olhos flamejantes acompanharam as costas do garoto até que ele entrasse no local e, apenas quando a porta fechou, Juniper arrancou com o carro para fora do estacionamento. Nenhum deles conseguiu enxergar o seu rosto, apenas a marca do cabelo loiro.

─ Você acha que eles estão juntos? - A garota perguntou incerta, os olhos implorando pelas palavras verdadeiras do irmão.

Eles se merecem. - Disse contragosto, engolindo a seco suas mentiras como se fossem água.

Serena balançou a cabeça concordando, como se entendesse o que ele queria dizer com a resposta, mesmo que estivesse confusa demais para compreender o que estava acontecendo entre os dois. E, afinal, sua mente desejava que não fosse verdade, pois assim Juniper estaria correta em quebrá-la em mil pedaços por acreditar na mentira que os seus olhos projetaram aquela noite. Ela não desejava que a Davis estivesse errada, pois a linha tênue entre a justiça e a crueldade estava prestes a ser atravessada por ela.

E Serena não queria vê-la ultrapassar o próprio limite por causa de uma mentira.

• • •

Quando Juniper se encontrou sozinha no carro, tudo o que ela conseguiu fazer foi parar o carro em um lugar calmo, e gritar com todas as forças dos seus pulmões. Um grito quase dolorido, que raspou a sua garganta entre a melodia de "Getaway Car" da Taylor Swift. Uma ironia do destino, que fazia a garota querer arrancar o rádio com as próprias mãos e jogá-lo fora, mas tudo o que foi capaz de fazer foi desligar a música, ficando no total silêncio.

Suas mãos tremiam com a quantidade de pensamentos que invadiam a sua mente. Todos relacionados ao garoto de olhos esverdeados, que foi enviado para destruir ela, como a Davis gostava de pensar, pois não conseguia entender o motivo de estar fadada a tê-lo ao seu lado e ter que viver em um ciclo vicioso de ódio e rancor.

O silêncio que prevaleceu na viagem toda fez sua cabeça doer, e ela esperava que o garoto estivesse pior que ela, pois a careta que apossou o seu rosto devia ter algum motivo além das suas desavenças. Parte de si gostaria de voltar a entender o garoto, enquanto a outra parte ficava feliz de ser poupada da dor, pelo menos uma vez.

Seu olhar foi até o relógio, percebendo que estava cedo para que o dojô estivesse aberto, e então suas mãos buscaram na porta do carro uma pequena chave, que foi entregue por Kreese em um dos treinos extras que a garota começou a pedir nas últimas semanas. O homem confiava nela, mesmo que ela não confiasse totalmente nele, ambos estavam sendo beneficiados com os treinos, pois quanto mais Juniper estivesse preparada para o torneio, Kreese tinha mais chances de ganhá-lo.

Quando achou a chave, a loira ligou o carro e partiu na direção do dojô, mudando a música quando a letra lhe deu calafrios. O caminho foi rápido, e logo Juniper se encontrava dentro do dojô, com o seu kimono branco e o cabelo preso em um coque. Ela tentava descontar tudo que sentia no pobre boneco a sua frente, que caiu pela terceira vez quando o barulho do sino da porta ecoou quando a figura de John Kreese entrou no estabelecimento, o rosto inexpressivo não dando respostas para a adolescente.

─ Então, funcionou? - Juniper perguntou interessada golpeando o boneco com os dois punhos, enquanto o homem caminhava até o seu escritório.

O mais velho foi até uma reunião para discutir sobre a proibição do torneio All Valey. Devido aos problemas recentes que tiveram com o caratê, a comunidade ficou preocupada para onde aquilo levaria eles, o que causou na proibição repentina do torneio.

─ Tudo por causa do campeão e a filha do Larusso, que fizeram um discurso motivacional na frente de todos. - Kreese respondeu ao sair do escritório com um cartaz nas mãos, começando a colar ele na parede, e com um olhar rápido a loura percebeu ser o anúncio sobre a competição.

─ Bom, pelo menos podemos acabar com eles outra vez, mas com plateia agora. - Comentou brincalhona, uma risada anasalada escapando quando socou o boneco, fazendo ele quase cair com a força.

─ Você terá que lutar contra a Samantha e Serena, preciso que esteja pronta para isso, Srta. Davis. - Deu um olhar de canto para a adolescente, que balançou a cabeça concordando. - Não quero que seus problemas entrem em conflito no tatame.

─ Estou pronta. - Afirmou baixo, ainda golpeando o boneco enquanto afirmava para si mesma que estava certa. - Apenas não tenho certeza sobre o resto da turma, alguns são muito imaturos, e temo que isso afete o torneio. - Pensou em Kyler, e os novos alunos.

─ A turma ainda precisa de algumas melhorias, e talvez alguns cortes. Mas nada que uma ajuda de fora não previne os erros. - Comentou pensativo, fazendo a loira olhar para ele rapidamente, vendo o mesmo terminar de colar o papel quando o sino do estabelecimento tocou.

─ Sensei Kreese? - Robby o chamou quando passou pela porta, tendo o olhar surpreso de Juniper nele.

─ Robby? O que está fazendo aqui? - Ela deixou o boneco para trás, dando um passo para se aproximar do garoto, os punhos ainda fechados e a respiração acelerada pelo treinamento.

─ Eu preciso de um lugar para ficar. Longe do meu pai e do miyagi-do. - Explicou, e a loira percebeu que alguma coisa aconteceu pelo olhar machucado do garoto, fazendo ela abaixar a guarda quando seus olhares se encontraram novamente.

Ainda tinha ódio transbordando no olhar de ambos, mas dessa vez alguma pedra entre eles parecia ter sido retirada, dando a oportunidade para eles darem um passo a frente.

─ Veio para o lugar certo. - Kreese sorriu, a visão do filho de Johnny Lawrence entrando em seu dojô era revigorante depois daquela tarde e o seu encontro com o ex aluno.

O legado de seus melhores alunos estava na sua frente, ambos encarando um ao outro, a chama da juventude atingindo os olhos de Kreese. Eles eram a sua última esperança.


I. Voltei mais rápido do que vocês esperavam ne? KJAKAK Vou aproveitar e dizer que até quinta (estreia da sexta temporada) eu posto o último capítulo do ato 3, finalizando metade da fanfic.

II. Esse capítulo era um dos poucos que eu e outros leitores passamos meses vendo nos edits e ficamos ansiosas pela chegada dele, então espero ter suprido as expectativas de vocês.

III. Não esqueçam de votar e comentar!!! Até logo<3

não revisado.

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