❁ೋㅤ, 𝟎𝟓. ━━ guarda-roupa do medo.
𖡋 ̽ ᮫ ꪶ capítulo cinco. ܓ ❃ ᜴
𓂃 não é engraçado como
rimos para esconder o nosso
medo quando não tem nada
de engraçado aqui? 𓂅
A chuva caia sobre a grama esverdeada, pelo vídeo congelado era possível seguir as gotas que faziam seu caminho pelos blocos do castelo e pingavam até a janela para só então se juntar às outras no solo, era um dia muito frio no qual quase todos os alunos usavam seus pares de luvas, exceto por uma lufana que não conseguia explicar onde o outro par se sua luva foi parar. Essa mesma lufana, Faith Ebony, vinha sendo alvo de muitos boatos, alunos de todas as casas divagam sobre a razão de seu brilho dourado parecer ter diminuído tanto desde a discussão misteriosa que aconteceu no dormitório da sonserina duas semanas atrás.
Sirius considerava a si mesmo como um bruxo sábio que tinha como missão fazer com que Faith entendesse que ela ainda descobriria muitos sentimentos, nem todos bons, mas ainda assim era necessário que ela os descubra, a garota não gostou da ideia desde o início, quando o garoto falou sobre um gosto amargo na boca e um aperto no peito, ela soube que aquilo não seria boa coisa. Agora descobria que estava certa, aquilo era terrível, o gosto amargo na boca a lembrava dos remédios que tomava quando era menor, ela odiava os remédios, e o aperto no peito a fazia querer gritar, claro que ela não o faria, mas desejava mesmo assim, em segredo.
A jovem Ebony desceu as escadas enquanto trançava o cabelo longo e dourado tentando prender todos os fios rebeldes ao mesmo tempo que tentava arrumar seu uniforme amarrotado, o dia de chuva não ajudou em nada para o humor da garota, outono era sua estação menos favorita, mesmo o inverno tinha sua beleza com a neve brilhante, no outono porém tudo era seco, o mundo perdia a cor. Era nisso que ela pensava enquanto continuava andando pelos corredores ainda mais vazios graças a chuva, geralmente naqueles dias os alunos de tempo livre tendiam a se esconder em sua sala comunal, a garota porém não era um desses alunos de sorte, por tanto, fazia seu caminho até chegar na sala de herbologia, estava atrasada ━ como sempre, e tinha perdido o café da manhã, mas ao se aproximar de seu lugar habitual, notou que havia uma barra de cereal em seu vaso de planta.
Os olhos azuis voltaram-se para seu melhor amigo que tomava lugar ao seu lado, as sobrancelhas claras se juntaram em dúvida e o garoto deu de ombros, alheio da proveniência do alimento. Ela continuou em dúvida, mas seu cérebro recém acordado logo começou a funcionar e os olhos inicialmente doces e curiosos se tornaram estreitos e cobertos de raiva quando ela se voltou para a mesa da Sonserina e encontrou logo no início Regulus Black, que a encarava com aqueles olhos prateados e quase sempre frios. Rapidamente Faith soube de onde viera a tal barra, sem demorar mais um instante ela apressou o passo alcançando a mesa dos verdes e deixou a barra em sua mão, ele nada disse apenas abaixou o olhar e guardou no bolso o doce devolvido.
Seus amigos evitam falar sobre isso, sabiam que Faith não costumava comentar sobre suas dores e nenhum deles estava lá o tempo todo para ouvir as duras palavras de Regulus. O próprio Black tão pouco havia tentado algum tipo de aproximação ou pedido de desculpas, ao invés disso vinha mandando pequenos presentes, como comida ou objetos que ela esquecia nas aulas e ele ━ como monitor ━ acabava encontrando durante suas rondas de rotina.
Os amigos de Faith, porém, haviam notado um mal humor incomum na garota, além de seu comportamento deprimido havia uma irritação e movimentos bruscos não esperados ━ além do revirar de olhos e bufões vindos da garota. Aquela manhã de aulas passou rápido como todas as outras para a lufana que com facilidade se distraiu o suficiente para não notar o tempo voar, quando percebeu já estava indo para sua última aula do dia, na sala de Defesa Contra as Artes das Trevas.
━ Como está se sentindo? ━ A voz suave de Wendy se fez presente ao lado da garota que se virou e fingiu um de seus melhores sorrisos não era a primeira vez naquele dia que ela recebia essa pergunta, Lucky havia perguntado a mesma coisa ━ esse que agora se juntava ao irmão ao lado das loiras.
━ Muito melhor, obrigada. ━ Faith mentiu pela segunda vez antes de voltar sua atenção para a sala que naquela manhã tinha as carteiras amontoadas em um canto escuro e distante da sala, aquela aula seria diferente, talvez fosse a melhor, Faith fantasiou como uma criança tola.
Faith notou outra coisa além das cadeiras e mesas, Nate Kearney trocou de lugar com Wendy e agora estava parada ao lado dela enquanto continuava reclamando com Lucky em seu discurso de como Regulus Black era um esquisitão que só tinha amigos pelo sobrenome. Lucky assentiu e revirava os olhos de vez em quando, cansado de ouvir dias e dias de reclamações do irmão que na verdade estava apenas sofrendo com a falta do melhor amigo. O loiro finalmente parou de falar e voltou seu olhar para a mais nova que sequer olhava em sua direção agora, encarando o mesmo ponto na parede, imaginando estar em outro lugar.
━ Bom... ━ Nate limpou a garganta antes de ajustar suas vestes e passar a mão por entre seus fios de cabelos fazendo com que uma mecha loira caísse por sua testa. ━ Eu queria me desculpar pela forma como venho tratando você.
━ Não quero que você seja obrigado a fazer isso, não preciso de desculpas falsas. ━ Faith respondeu na defensiva, não era a primeira vez que Nate pedia desculpas a ela, Regulus forçava o loiro a fazer isso com frequência, parecia achar divertido torturar o Kearney e confundir a cabeça dela. Ele era um sádico.
━ Não estou sendo obrigado a nada, eu realmente quero que me desculpe. ━ O mais velho parecia sincero em suas palavras, mas Faith não tinha certeza sobre o quão enganosos aqueles sonserinos conseguiam ser.
━ Não adianta pedir desculpas e cometer o mesmo erro novamente. ━ A voz da loira era baixa mas ainda assim, firme. ━ Se suas palavras não condizem com seus atos, então de nada adianta gastá-las.
Nate Kearney permaneceu em silêncio, sua mente geralmente rápida em formular respostas pareceu abandoná-lo ali, o garoto sequer entendeu o que a lufana disse com a mesma agilidade costumeira, quando finalmente captou, não teve tempo para responder nenhuma palavra sequer já que o Professor Malakai pediu que todos se aproximassem.
━ Alguém sabe me dizer o que é isso? ━ O homem mais velho perguntou chamando atenção dos alunos que observavam o grade móvel que fazia barulho enquanto algo parecia tentar escapar de lá.
━ Um armário muito velho? ━ Lucky respondeu na intenção de ser engraçado e fez parte dos alunos rirem, inclusive Wendy que cobriu os lábios com a mão deixando o lufano satisfeito com as próprias palavras de confusão.
━ Sim, isso também, Sr. Kearney. ━ O professor olhou diretamente para o lufano que deixou um sorriso amarelo aparecer enquanto coçava a nuca. ━ Porém, alguém aqui saberia me dizer o que tem dentro? Alguma teoria?
Wendy ergueu a mão rapidamente antes que qualquer outra pessoa tivesse chance de responder, o professor já muito acostumado com o comportamento de sabe-tudo da garota, apenas sorriu satisfeito e fez um sinal para que a mais baixa falasse.
━ Acredito que seja um bicho-papão, senhor. ━ A sonserina respondeu erguendo o queixo enquanto falava dando a plena certeza de que ela conhecia o assunto melhor do que qualquer outro na sala.
━ Correto. ━ O Sr. Malakai abriu um de seus sorrisos de canto que deixavam revelar sua profunda covinha apenas do lado direito do rosto, a garota retribuiu com um sorriso convencido enquanto Lucky empurrava de leve o ombro dela. ━ 05 pontos para Sonserina.
Uma pequena e discreta comemoração foi ouvida e Faith viu Regulus trocar um pequeno toque de mãos com a melhor amiga que parecia orgulhosa de si mesma. A lufana rapidamente desviou o olhar quando os olhos cinzentos encontraram os dela, não tinha nenhuma vontade de lidar com ele no momento, ainda estava brava, na verdade era o tempo recorde da sua raiva duradoura.
━ Algum de vocês poderia me descrever exatamente qual é a forma de um bicho- papão? ━ O professor parou de andar entre os alunos e olhou diretamente para Faith que novamente fingiu não notar voltando seus olhos para a mesa extremamente bem arrumada do professor.
Existia ali, uma pena ao lado de um tinteiro, também estavam extremamente bem posicionadas as três pilhas de papéis, todos eles em tons amarelados, ela olhou para o pequeno corvo que estava em cima da mesa, não sabia se era empalhado ou se estava realmente vivo ali observando todos eles, embora Faith jurasse tê-lo visto piscar algumas vezes. Wendy vivia dizendo que aquele não era um pássaro real, mas a lufana acreditava fielmente que aquele era um espião para o Sr. Malakai. O professor era um mistério, sem família conhecida, sem muitos amigos embora seja sempre gentil e claramente bondoso, tudo que se sabia sobre o bruxo era sobre sua amada que morreu precocemente de uma doença pouco conhecida.
Um porta retrato com a foto da bela moça de cabelos longos, também estava em cima da mesa do professor, na foto ela sorria oferecendo um buquê de flores para a pessoa misteriosa que estava tirando a foto, Faith imaginou que fosse o senhor Malakai, pela forma apaixonada que a mulher sorria.
━ Não existe uma forma exata para um bicho-papão. ━ A voz de Regulus se fez presente, mas não estava mais a três pessoas de distância, estava bem atrás dela, a voz dele soando tão perto do ouvido da garota. Faith imaginou que se virasse o rosto provavelmente iria encontrar o rosto pálido dele bem mais próximo do que o esperado. ━ Ele é um transformista, pode assumir qualquer forma, no caso a forma que mais nos assustar.
━ Creio que essa foi a melhor explicação que um aluno poderia dar. ━ Elogiou o professor e então se voltou para o grande armário. ━ O bicho-papão que está preso ali ainda não sabe que forma tomar, ele ainda não sabe o que assustaria vocês. Mas, assim que eu o deixar sair, ele tomará a forma de nossos maiores medos, não todos de uma vez obviamente, ele ficaria confuso e não saberia no que se transformar.
━ Então essa é a forma de derrotar um bicho-papão? ━ Faith perguntou demonstrando interesse pelo assunto, o professor sorriu para a garota que sempre era muito presente em suas aulas, algo que costumava ser um desafio para outros professores, ele sabia que aquela era uma das matérias favoritas da Ebony.
━ Não exatamente... ━ O professor respondeu antes de voltar a andar por entre os alunos enquanto mexia em seu pequeno relógio de bolso. ━ Enfrentá-lo junto com alguém pode confundir mas isso não é o suficiente para repelir, para isso nós usamos um feitiço simples chamado de "Riddikulus". Por favor, repitam comigo "Riddikulus!"
━ Riddikulus! ━ Quase todos os alunos presentes responderam em coro.
━ Perfeito. ━ O Sr. Malakai sorriu em aprovação fazendo os alunos sentirem um pouco mais de confiança para enfrentar o bicho-papão. ━ Mas essa é a parte mais fácil. Muitos de nós sabemos que apenas a palavra não basta...
Os olhos azuis e acusatório de Faith Ebony se voltaram para Nate que ainda estava parado ao lado dela feito uma estátua envergonhada da pequena indireta que a garota o enviou-lhe em seu olhar, o loiro limpou a garganta e desviou voltando a prestar atenção no professor.
━ ... preciso de alguém para uma demonstração. ━ O Sr. Malakai olhou na direção de Faith que se encolheu escondendo-se atrás de Lucky. ━ Tudo bem, venha Srta. Galloway.
Faith sequer tinha notado que a amiga tinha se oferecido, embora devesse ter adivinhado que a mão dela seria a primeira a subir entre as demais, de qualquer forma, ela agradeceu aos céus por não ter de ser a primeira a ter que enfrentar a criatura do armário. A Ebony na verdade, não sabia qual era seu maior medo, a garota gostava de pensar que não tinha medo de nada, mas ao mesmo tempo tinha medo de quase tudo, desde pequenas formigas até homens poderosos com seus charutos presos entre os lábios.
Quando Wendy tomou seu lugar a três passos das portas de madeira, o guarda roupa começou a tremer, fazendo um barulho estranho e assustador. Os alunos deram um passo para trás, Faith sentiu o braço de Regulus ao redor de sua cintura a puxando para trás de si enquanto ele dava um passo à frente como um escudo, todos pareciam desconfiados ao contrário de diferente de Wendy que tinha um sorriso travesso no rosto enquanto esperava a alguns passos de distância do armário.
━ Srta. Galloway, qual seria, em sua visão, a coisa que mais a assustaria? ━ O professor perguntou e os quatro amigos da garota olharam curiosos para a loira que nunca parecia sentir medo.
━ Nada. ━ A sonserina respondeu levantando o queixo de ombros para trás fazendo Faith sorrir olhando para Lucky que revirou os olhos. ━ Não tenho medo de nada, professor.
━ É o que veremos então. ━ O professor sorria desacreditado com a coragem da garota. ━ Senhorita, poderia me descrever a última roupa que viu a senhora Vuyroughs vestindo?
A senhora Vuyroughs era uma mulher de idade ultrapassada que andava por aí com roupas de pouco estilo e todos sabiam que Wendy adorava caçoar dela, Faith a repreendia por isso com frequência. O que faltava no estilo da senhora Vuyroughs sobrava na bondade, ela era sorridente e amorosa, sempre trazendo suas tortas de mirtilo para a lufana que passava horas no jardim conversando com a mulher que lhe contava sobre sua juventude e a aconselha a viver sua vida sem pensar nos riscos.
━ Era um chapéu grande e pontudo em um tom de amarelo que deixava meus olhos doendo, também vestia uma camisa vermelha e uma saia laranja, seu casaco era fino e verde enquanto suas grandes botas eram rosa brilhante. ━ Wendy riu somente de lembrar e Lucky a acompanhou discretamente antes de receber um olhar de repreensão da amiga ao seu lado.
A repreensão acabou quando o guarda roupa foi escancarado, assustando a Ebony que segurou a capa de Regulus esquecendo de sua missão de ignorá-lo pelo resto da vida. Ficando na ponta dos pés, Faith olhou para os lados vendo seus colegas com os olhos fechados, percebeu que tinha se distraído demais e não tinha prestado atenção na última fala do professor, sem saber o que fazer, apenas abaixou o olhar sem fechar realmente os olhos. Passou-se alguns segundos antes que ela visse a irmã mais velha de Wendy, Alice, sair do grande guarda roupa, Faith viu a respiração da garota falhar e seus dedos estremecer, em uma tentativa de tentar fazer alguma coisa, a Ebony de um passo à frente antes que Regulus pudesse impedi-la. Péssima ideia, foi o que pensou no segundo em que a "garota" se virou em sua direção.
Andando com passos tortos o bicho papão desviou de Wendy e passou a se mover em direção a Faith que deu outro passo, dessa vez para trás tentando voltar rapidamente para seu lugar, infelizmente não conseguiu a tempo e sentiu-se congelar no lugar ao ver a forma que seu bicho-papão tinha naquele momento. Falava sério quando disse que tinha medo de homens poderosos com charutos presos entre os lábios, se referia a seu tio quando nisso pensou, e era exatamente isso que via agora em sua frente. Como uma criança de cinco anos a garota se encolheu e abaixou o olhar sentindo suas lágrimas escorrer pelas bochechas, fechou os punhos como uma tentativa de defesa e sussurrou baixo o suficiente para que nem mesmo o professor ouvisse;
━ Por favor, pare!
━ Riddikulus! ━ Regulus bradou fazendo o bicho-papão voltar para o guarda-roupa, sendo preso lá pelo professor preocupado enquanto Faith escondia o rosto no ombro do garoto que tocou o cabelo dourado em uma tentativa de acalmá-la. ━ Está tudo bem, ele já foi embora.
Faith assentiu e então se afastou levemente, apenas o suficiente para olhar para o Black, esse que pareceu se dar conta de seu afeto e rapidamente afastou-se dela voltando para seu lugar numa tentativa de apagar o ocorrido na mente de seus colegas. Cansada, a loira correu para fora da sala aos soluços, ignorando os chamados de seus amigos e professor. Que ideia terrível, ela pensou, deveria ter ficado quieta, não deveria ter saído do quarto naquela manhã. Não sabia por quanto tempo correu pelo castelo, mas em algum momento se cansou, sentando-se no degrau da escada de uma das torres, um canto isolado para deixar mais lágrimas caírem, dessa vez sem se importar porque ninguém podia vê-la.
━ Faith? ━ A voz familiar e baixa de Alexander a assustou a fazendo secar as lágrimas rapidamente antes de virar o rosto e encontrar seu primo fazendo seu caminho para sentar ao lado dela.
━ Oi, Alec. ━ Faith forçou um sorriso mas ultimamente todos eles pareciam uma careta triste, principalmente agora que seu rosto estava inchado e seu nariz vermelho pelo choro. O grifino, porém, não pareceu se importar, a puxando para perto deixando que ela escondesse seu rosto em seu ombro, a fazendo lembrar sem querer do momento com Regulus a meia hora atrás, ela balançou a cabeça se livrando do pensamento.
A família Ebony era definitivamente um mistério para o mundo bruxo, Alexander Ebony foi o primeiro a chegar em Hogwarts e depois veio sua prima, mbar Ebony. Ninguém entendeu de início mas depois que analisaram, era normal que um dos irmãos Ebony sempre viesse a ser um bruxo. O pai de Alexander, William, era o irmão gêmeo do pai de mbar. Hector e William eram tão diferentes quanto seus nomes, a única coisa que dividiam era a cor azul tão clara dos olhos, os mesmos olhos que Alec e Faith teriam herdado. William pareceu feliz ao descobrir que Alec era um bruxo assim como ele, embora já fosse esperado que sim, visto que Alexander era um mestiço e não um nascido trouxa, mas ao descobrirem que Faith também era uma bruxa, a família comemorou, afinal, pela primeira vez eram dois bruxos na família.
━ O que aconteceu? ━ O mais velho perguntou vendo viu a garota coçar o nariz vermelho por conta do choro. ━ Conte-me tudo, pequena Stakpuf.
A garota sorriu ao ouvir o apelido, veio de um livro natalino que eles liam quando crianças, Stakpuf era um pequeno urso polar que nunca crescia, ele era mágico e espelhava carinho e felicidade para todos que tinham seus corações desamparados, no mesmo momento em que terminou de ler a história, Alec associou a pequena garota ao urso, e então esse foi o apelido que ela ganhou.
━ Um bicho papão. ━ Faith sussurrou com sua voz chorosa e Alec encarou os olhos inchados da loira. ━ Seu pai, foi isso que eu vi.
A garota não precisou terminar de falar, o garoto entendia perfeitamente, seu pai também era o seu maior medo, e agora por culpa dele, também era o maior medo de Faith.
━ Ele não pode mais te machucar Faith. ━ Ele tentou acalmar a garota. ━ Eu nunca deixaria.
━ Mas ele pode machucar você. ━ A lufana abraçou mais o garoto sentindo o cheiro de madeira que seu perfume carregava. ━ Isso é ainda pior para mim.
━ Ele não me machuca a muito tempo. ━ Alec confessou ainda tentando acalmar a mais nova. ━ Acho que você assustou ele quando o acertou com aquele alicate.
Faith se lembrava bem de seu último Natal na casa do seu tio William, aos doze anos de idade. O homem era desagradável e vivia batendo no próprio filho, naquele dia em questão Faith o viu se preparar para das uma surra dolorosa em Alec, mas a primeira tentativa de acertar o garoto foi interrompida por Faith que entrou na frente ganhando uma grande cicatriz nas costas por conta do cinto de couro que seu tio usava para punir Alexander, aquilo só irritou mais o homem que começou a perseguir Alec pelo porão, a única coisa que o fez parar foi um alicate pesado que Faith acertou no braço dele, antes de correr junto de Alec que desde então se culpava pelo que tinha acontecido com a garota.
Os pais da garota chegaram vinte minutos depois e ao entender o que tinha acontecido, Hector desceu até o porão e teve uma briga feia com o irmão, depois disso, Alec passou a morar com as irmãs Ebony quando não estava em Hogwarts, vendo Faith apenas nos finais de semana assim como as irmãs dela, e só depois de três anos William pareceu querer o filho de volta.
━ Sabe que sempre pode voltar a viver conosco, não é? ━ A situação do garoto preocupava Faith, ela o amava como um irmão e precisava garantir o tempo todo que ele estava seguro.
━ Eu sei, e prometo que passarei as próximas férias com as minhas incríveis e agitadas primas. ━ Alec zombou com certo tom de diversão no timbre e Faith riu dele.
━ Eu já disse que não iremos mais pintar suas unhas enquanto você estiver dormindo. ━ A lufana viu a careta do garoto ao se lembrar da última vez que dormiu na casa dos Ebony e acordou com suas unhas pintadas e rosto esbranquiçado por conta do pó de arroz.
━ Não confio em vocês. ━ O garoto segurava o riso com seus olhos cerrados enquanto Faith gargalhava esquecendo-se do ocorrido de alguns minutos atrás.
━ Como sabia que eu estava aqui? ━ A loira perguntou depois de respirar fundo sentindo seus ombros menos pesados depois da pequena conversa com o primo, o garoto olhou para cima tentando lembrar exatamente do momento em que recebeu a notícia sobre a mais nova.
━ Uma garota baixinha, mandona de cabelos curtinhos correu até a minha sala e disse que estavam destruindo as minhas coisas no salão comunal da grifinória. ━ Ele falou parecendo ver a cena diante de seus olhos. ━ Mas quando eu saí, o irmão de Sirius disse que a garota tinha exagerado e me explicou o que tinha acontecido antes de me trazer pra cá.
━ O irmão de Sirius? Regulus? ━ Faith perguntou olhando para ele com os olhos estreitos vendo o garoto assentir. ━ Regulus Black te trouxe aqui?
𓂃 ❀ 𓂃
━ REGULUS ARCTURUS BLACK! ━ O nome parecia brilhar na cabeça da lufana que dava passos pesados até as masmorras trazendo consigo um Nate completamente amedrontado, ele nunca tinha visto a Ebony nervosa e definitivamente não estava em seus planos presenciar a cena novamente.
Kearney se viu obrigado a dizer a senha e então eles entraram no salão comunal, Faith ignorou o quadro falando sobre o status de seu sangue e voltou sua atenção para Nate pedindo ━ ou mandando ━ que ele ficasse ali, o garoto obedeceu de bom grado. Faith subiu as escadas encaracoladas e bateu na grande porta escura de madeira, escutando os passos leves dos pés descalços de Regulus, ao abrir a porta, a expressão preocupada do garoto mudou para uma franzir de sobrancelhas perplexo.
━ Você! Seu garotinho, confuso e idiota! ━ Faith bateu a ponta do dedo indicador contra o peito do garoto que deu alguns passos para trás até esbarrar em uma das camas enquanto a porta que fechava atrás da garota que tinha suas bochechas vermelhas de raiva. ━ Só sente repulsa?! Ótimo então! Quando nós sentimos nojo de algo geralmente ficamos longe dela! Você tá achando que é quem para ficar nessa indecisão?!
━ E-eu... ━ O Black tentou mas a garota não parecia disposta a ouvir nada.
━ Você com certeza não sabe como odiar alguém, deveria aprender com seu amigo Bartolomeu, quem sabe isso ajudasse nós dois! Que droga Regulus! ━ A Ebony continuava falando sem parar e Regulus já tinha se perdido na primeira parte, os olhos dele corriam por todos os pontos do rosto dela, embora ele prestasse atenção no que ela dizia, não conseguia formular nenhuma resposta. ━ Pare com essa confusão ridícula! Posso lidar com você me odiando, posso lidar com apelidos e ignorância, mas não posso continuar com falsas esperanças.
A de cabelos dourados estava perto, estava muito perto, estava mais perto do que qualquer outro ser humano deveria estar. Regulus estava entrando em pânico, ele sabia lidar com a proximidade das garotas, lidava com isso muito bem, mas não quando se tratava daquela garota. Tudo era mais complicado quando se tratava da Daisy. Ele sabia que deveria se afastar, deveria mandá-la para fora do quarto e gritar que era pra ela ficar longe, mas não o fez.
Ao invés disso, o sonserino deu outro passo mais perto, inclinando a cabeça para baixo o suficiente para que seus narizes estivessem a um fio de cabelo de distância, os olhos azuis tão claros como seu piscaram, os discursos dela se perderam no meio do caminho e foi a vez dela de franzir a testa em confusão sobre as ações do garoto, ele abaixou a mão dela que ainda estava no seu peito, a segurando com certa delicadeza, a outra mão do garoto segurou o rosto da Ebony, os dedos acariciando a mandíbula, roçando de leve o pescoço a fazendo segurar o ar em seus pulmões.
Agora era Regulus quem estava exageradamente perto, ele estava perto o suficiente para sentir o cheiro de morango nos lábios dela, a essência de flores que emanava da pele dela, estava tão perto que quando seus olhos encontraram-se com os dela, pareceram se tornar um só. Lentamente ele acariciou a bochecha rosada da garota e ergueu levemente o queixo dela. Só então, ele abriu a boca, quase tocando os lábios dela, mas ao invés de fazer isso, o garoto apenas sussurrou contra eles.
━ Eu não te odeio.
Sem nenhuma outra palavra, o garoto deixou o quarto, passando pela porta e a deixando aberta. Regulus Black também deixou para trás uma Faith três vezes mais nervosa do que estava no início, uma Faith mbar Ebony que desejava que Regulus Arcturus Black parasse de ser tão perfeitamente confuso e a ajudasse a entender o que ele queria, assim talvez pudesse ceder ao que ela sabia que queria.
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