❁ೋㅤ, 𝟎𝟒. ━━ erupção de sensibilidade.
𖡋 ̽ ᮫ ꪶ capítulo quatro. ܓ ❃ ᜴
𓂃 se eu soubesse em quantas
peças você se desintegrou eu
poderia ter deixado elas quietas. 𓂅
Os dias de quadribol conseguiam transformar até mesmo a mesa discreta e silenciosa da sonserina em uma grande baderna agitada, principalmente se tratando das eliminatórias, essas que rendiam tantos pontos para o vencedor e tanta vergonha para o perdedor. A Sonserina jogaria naquela tarde contra a Corvinal o que era um desafio visto que eles sempre tinham uma carta misteriosa na manga, talvez fosse isso que estava deixando todo mundo tão nervoso.
Todo mundo exceto o sonserino Regulus Black, esse que segurava o garfo de prata com os dedos pálidos e brincava com as ervilhas de seu prato as jogando de um lado para o outro enquanto apoiava sua bochecha em sua mão livre suspirando algumas vezes em seu tédio sem fim, era outro dia cinzento, esses que começaram a dois dias atrás, ou talvez fosse só a dois dias que Regulus notou a falta de sol, quando seu próprio astro luminoso deixou o castelo.
━ Se não comer não vai conseguir jogar. ━ Nate advertiu, os ombros rígidos enquanto lia outra edição catastrófica do profeta diário, ultimamente as notícias vinham preocupando o Kearney, revelando sua verdadeira face.
Regulus conhecia Nate desde muito jovem, costumavam se encontrar em confraternizações, bailes e reuniões muito tediosas, felizmente para o mais jovem, o loiro nunca foi amigável com o primogênito dos Black. A inimizade começou antes que eles entendessem a razão e tem durado até então, enquanto eles ainda não entendem a razão, agora nada disso importa para Regulus ou Sirius e muito menos para Nate. O que importava para o sonserino de cabelos escuros era a sensação incomoda de ver o Kearney passar todos os dias em sua máscara falsa de supremacista, o incomodava que ele fosse um mentiroso em busca de aprovação. Regulus Black sabia no fundo que o que realmente o estava perturbando era que Nathaniel Kearney era um lembrete vivo e falante dele mesmo, eram dois mentirosos tentando agradar alguém.
━ Não estou com fome. ━ O mais novo empurrou o prato para longe desistindo de seu jogo com as ervilhas, ele se levantou jogando a capa escura por cima do uniforme de quadribol saiu em direção aos jardins sem proferir nenhuma outra palavra para os demais sentados ao seu redor, não queria companhia e não gostava de dar satisfações embora sentisse certa satisfação ao recebê-las.
O garoto fez seu caminho pelos corredores pouco matizados, seus passos eram calmos embora firmes e barulhentos de alguém que não presta realmente atenção no som que seus sapatos emitem, olhava para as árvores avistando a neblina leve que começava a dissipar com o passar dos minutos. Sentindo a cabeça doer pela preparação, Regulus levou dois dedos até a ponte do nariz, apertando enquanto soltava um grunhido de desaprovação pela falta de eficácia em suas poções. Voltando a levantar os olhos, o garoto percebeu que realmente estava frio, e não era algo que sua mente perturbada estava mostrando como alerta de que algo estava faltando. Ele viu algumas alunas da Lufa-Lufa com seus cachecóis e luvas, levou as mãos ao próprio bolso e se encostou em uma das paredes, procurando entre elas por alguém que ele sabia que não iria encontrar.
Há exatamente três dias, Faith Ebony apareceu no grande salão com uma pequena mala branca, cheia de adesivos estranhos de borboletas e flores e tipos esquisitos de criaturas, ela caminhou até Wendy na mesa da Sonserina, sem se importar com os olhares perversos dos sonserinos para ela. A garota se despediu com um abraço e então olhou para Regulus por um segundo, esse que sequer tinha notado que havia parado uma conversa no meio da frase só para ouvi-la falar, infelizmente, ou felizmente, ela não dirigiu a ele uma palavra sequer, simplesmente foi embora.
━ Nervoso com o jogo, Black? ━ A voz amarga e periculosa de Bartolomeu surgiu em suas vestes escuras sem nenhum símbolo de Hogwarts, era sábado e os uniformes não eram obrigatórios, nada era realmente obrigatório para Barty Crouch Jr.
━ Não, claro que não. ━ Regulus Black respondeu, sem se mover e ainda observando o grupo de lufanas, uma delas acenou para ele o fazendo revirar os olhos. ━ E o seu namorado?
Bartolomeu ficou de bochechas vermelhas, parecia apto a esmurrar Regulus ali mesmo embora ambos soubessem que ele não faria. Regulus não falou buscando fazer dele uma pimenta raivosa, era uma pergunta genuína, mas se estava falando a verdade, ele ficou feliz em vê-lo tão incomodado. Os dois tinham mantido um falso bom convívio por anos, até a noite em que Regulus o mandou se afastar da mesa da Lufa-Lufa, causando uma briga mais tarde, que resultou em Regulus explodindo o caldeirão dele na aula de poções, causando a primeira detenção do Black.
━ Rapazes? ━ Wendy apareceu de repente, como sempre fazia com seus passos incrivelmente silenciosos. A loira assustou os dois garotos, Bartolomeu se voltou para ela, tinha muito respeito pela irmã mais velha da Galloway, Alice, e por isso apenas franziu os lábios antes de se afastar em passos pesados. ━ O que foi isso?
━ Não tenho ideia. ━ Mentiu Regulus com um sorriso imoral no canto dos lábios, o Black se virou oferecendo o braço para a garota que o segurou enquanto eles andavam em direção ao campo de quadribol ainda vazio naquele horário.
━ Como vão as aulas de herbologia? ━ Wendy perguntou olhando para os anéis dourados em sua mão fazendo pouco caso da pergunta tentando parecer desinteressada sobre a resposta. Regulus entendeu rapidamente o que ela estava perguntando, não havia razões para Wendy perguntar sobre uma aula em que ela também estava, a não ser...
━ Eu não estou maltratando ela. ━ O Black responde revirando os olhos pela segunda vez em um curto período de tempo. Regulus dividia os materiais de herbologia com Faith a mando da Prof. Sprout, e isso os compelia a trabalhar juntos tornando esses cinquenta minutos, os únicos em que o garoto não conseguia se concentrar em uma aula.
━ Você está sempre maltratando a Faith. ━ Wendy rebateu, soltando o braço de Regulus para começar a subir as escadas da arquibancada enquanto cruzava os próprios braços em desaprovação, era muita irritação para alguém tão pequeno.
━ Eu não estou não! ━ Regulus tentou explicar enquanto a seguia. ━ Ela é que é muito sensível.
━ Ela não é sensível...Bom, talvez um pouco. ━ Wendy sentou-se finalmente na última fileira e o encarou enquanto ele fazia o mesmo. ━ Mas você também não é nada agradável com ela.
Regulus olhou para o céu e então se encostou completamente na cadeira jogando a cabeça para trás e esticando as pernas no assento da frente enquanto soltava uma longa respiração deixando suas preocupações desaparecem no ar, apenas para que voltassem de volta para ele um segundo depois. O Black gostava muito de conversar com Wendy, na verdade, depois de Sirius ela tinha se tornado a única pessoa que conseguia arrancar as verdades que ele enterrava fundo no peito, até mesmo as piores delas. A Galloway tinha esse talento, ela sabia quando era a hora de perguntar e conseguia ver as respostas antes mesmo que elas chegassem aos seus ouvidos.
━ Você sabe que eu não posso ser. ━ Regulus murmurou, não era como se alguém estivesse ali para ouvir além de Wendy, ainda assim, era algo que ele escondia tanto que parecia estranho de se dizer em voz alta.
━ Você não vai conseguir ficar longe pra sempre, Regulus. ━ Wendy mostrou a ele um pequeno sorriso, porque era uma romântica embora tentasse esconder. Acreditava que Faith era a única coisa que Regulus precisava para se salvar, não conseguia ver que ele era tudo que poderia destruir a Ebony. ━ Ela está chegando até você.
━ É, estou vendo o quão próxima ela está. ━ Regulus disse com uma risada sarcástica lembrando que a lufana não estava ali.
━ Não acredito! Você está com saudades! ━ Wendy saltou do lugar subindo no assento e apontando para ele com um sorriso que tomava conta de seu rosto. ━ Está sentindo falta da Faith!
━ Está maluca?! ━ Regulus puxou a garota para se sentar novamente em busca de não chamar a atenção para si. ━ Eu não disse nada disso.
━ E nem precisa! Eu vejo você, Regulus Black. ━ Ela apontou o dedo indicador para o rosto dele e estreitou os olhos castanhos antes de começar a listar coisas que o garoto não poderia negar. ━ Você parece entediado desde que ela foi embora, fica olhando pra mesa da Lufa-Lufa enquanto come e eu vi você cuidando do pelúcio.
━ Eu fui obrigado a cuidar daquela coisa! Ela deixou que Nate cuidasse, mas todos sabem que ele não é responsável o suficiente nem consigo mesmo. ━ Regulus contestou a última parte porque era a única acusação que podia contornar com uma meia verdade, Nate realmente não sabia como cuidar da criatura e Regulus vinha tendo que seguir o fujão pelo castelo.
━ É claro. Mas já que não se importa, então não vai querer saber quando ela volta. ━ A garota falou com um sorriso divertido antes de se levantar e começar a descer as arquibancadas.
━ Não, espera aí. ━ Regulus se levantou e passou a seguir a garota que corria, os cabelos loiros voando enquanto ela tentava fugir dele. ━ Wendy! Quando ela volta?! Volte aqui, Wendy!
𓂃 ❀ 𓂃
A família Ebony tinha uma tradição construída em cima da trágica saúde de Sophia, essa que envolvia preparar um grande bolo de morango, uma forma peculiar de incentivar a garota a melhorar sua alimentação durante o dia para finalmente conseguir um pedaço de bolo aí fim dele. Não se sabe exatamente em que momento isso começou, provavelmente em um dia que Faith não estava lá, ela não viu a tradição nascer e tão pouco estava lá todas as outras vezes em que foi feita, mas foi incluída dessa vez, estava tão grata quanto estava preocupada.
━ Onde estão os empregados? Nós precisamos de ajuda. ━ Caroline bufou franzindo as sobrancelhas em um tom escuro de loiro, estava ficando irritada ao tentar ler a receita e desvendar a terrível caligrafia no livro de receitas da vovó Ebony.
━ Por favor, Caroline, você tem dezessete anos, já deveria saber como fazer um bolo. ━ Diana disse colocando outras duas xícaras de farinha de trigo na grande tigela. ━ E pare de chamar os ajudantes da mamãe de empregados!
━ Você tem dezenove anos e não sabe lavar roupas. ━ Olivia lembrou divertida, tentando encontrar uma forma de apaziguar a situação com seu bom humor, funcionou visto que as duas outras irmãs riram enquanto Diana estreitou os olhos.
━ E você tem dezoito e se comporta como uma criança de quinze. ━ Diana debochou, tirando o chocolate da irmã que parecia disposta a entrar em uma guerra para consegui-lo de volta.
━ Ei! ━ Faith as interrompeu jogando um pouco de farinha de trigo na irmã mais velha que tentou desviar mas acabou com o vestido sujo.
━ Certo desculpa, Faith, você é bem madura para sua idade. ━ Diana corrigiu mas era notável que a garota não falava sério, o que fez a mais nova revirar os olhos.
As irmãs pareciam dispostas a acabar com a discussão quando a mais velha das Ebony, Evalina, invadiu a sala segurando um pedaço de pergaminho, os braços cruzados e uma expressão pouco amigável.
━ Realmente bem madura, mas não o suficiente para já ter um namorado. ━ A mãe proferiu as palavras seriamente enquanto Faith tentava ler as palavras no pergaminho, o sobrenome Galloway brilhava em uma letra um tanto arredondada demais, era uma carta de Wendy. ━ Quem é Regulus?
━ Mamãe! ━ Faith parecia irritada, pela primeira vez desde que era um bebê a garota parecia desaprovar alguma ação de sua mãe. Com o rosto coberto pelo tom de vermelho enfurecido e envergonhado, a garota tirou das mãos de Evalina a carta que já fora aberta e então correu escada acima indo para o sótão onde dormia quando passava seus dias na casa de sua mãe.
━ Mãe?! ━ Diana colocou o bolo no forno e se virou para sua mãe, com as mãos na cintura e a cabeça balançando com ceticismo. ━ Não acredito que ainda faz isso.
━ Faith já não tem mais doze anos, você tem que parar de fazer isso com ela, Evalina. ━ Caroline limpou as mãos, antes de Evalina ela até parecia estar começando a se divertir apesar da presença de Faith, agora parecia ríspida com seus passos pesados até seu quarto.
━ Eu ainda sou sua mãe Caroline! Pare de me chamar assim! ━ Evalina tentou se defender sem sucesso.
━ Por que? Esse é o seu nome. ━ A loira respondeu antes de bater a porta de seu quarto com força exagerada causando um barulho alto.
━ Mãe, por favor, você precisa parar com isso, ou Faith vai ficar igual a Carol. ━ Olivia falou ainda comendo os chocolates, era difícil vê-la se envolver em conflitos, no geral ela parecia não ter paciência para brigas ou discussões.
━ O que foi que eu fiz? ━ A mais parecia realmente não entender a reação das garotas, sempre foi difícil para ela quando as filhas começavam a crescer e ter os próprios assuntos, mesmo após as quatro experiências com suas mais velhas, Faith ainda era um assunto em parte. ━ Ela não se importava quando eu lia as cartas antes.
━ Bem, é diferente agora, Faith já vai fazer dezesseis anos, é uma garota crescida. ━ Diana explicou mais paciente que suas outras irmãs.
━ Eu sei, mas... ━ Ela fez uma pausa, os ombros baixos enquanto ela se sentava parecendo exausta. ━ Ela é minha caçula.
Faith passou o resto da tarde com Sophia, com a cabeça da irmã apoiada em seu ombro e seus braços ao redor dela. Além de sua mãe, Sophia foi a única que soube o conteúdo da carta onde uma longa lista de reclamações e preocupações era registrada, todas elas envolvendo a guerra e a preocupação, e medo, de Wendy para com sua irmã mais velha Alice, uma bruxa que era tão poderosa quanto era perigosa e assustava sua irmã, muito mais do que Caroline poderia assustar a irmã mais nova.
As duas Ebony porém, acabaram a carta compartilhando sorrisos graças ao último parágrafo onde Wendy compartilhava com a amiga que Regulus Black estava passando muitíssimo tempo com o pelúcio que fora deixado sobre os cuidados de Nate enquanto ela estava fora, ela deixou implícito todas as vezes que o pegou olhando fixamente para a mesa da Lufa-Lufa. Mas Sophia quis saber detalhes sobre os acontecimentos recentes, desde o incidente da biblioteca até o ocorrido na enfermaria. As duas mantiveram segredo sobre o assunto quando as outras irmãs entraram no quarto para ver Sophia, ninguém perguntou nada, na verdade Faith não tinha certeza se as mais velhas realmente se importavam quando ela falava.
Evalina apareceu com biscoitos de chocolate, o bolo ainda não estava pronto, e ela precisava de uma razão para se aproximar e saber se estava tudo bem entre ela e sua filha mais nova. Faith aprendeu a muito tempo que pais não pedem desculpas, eles não sentiam necessidade, pelo menos não os dela, eles apenas apareciam com presentes ou comida em busca de mantê-la ocupada para que não se lembrasse de suas falhas, e obedientemente ela fazia, sorrindo para sua mãe e pegando um biscoito, embora desejasse muito mais um pedido de desculpas.
𓂃 ❀ 𓂃
Não demorou mais que três dias para que Faith Ebony estivesse correndo pelas escadas do castelo de Magia e Bruxaria de Hogwarts, estava empolgada com sua volta ao castelo. Correu para o grande salão para seu horário de almoço, havia acabado de chegar ao castelo naquela manhã e ainda não tinha encontrado seus amigos graças ao tempo que levou para chegar, desfazer as malas, e também se distrair e acabar passando muito mais tempo no banho do que esperava. Não havia ficado muitos dias fora, ainda assim estava com muita saudade dos amigos, procurava por eles entre os muitos alunos vestidos com vestes escuras e gravatas coloridas.
━ Baixinha! ━ A voz de Sirius a alcançou, ele estava em pé no centro do grande salão, mas se moveu rapidamente a alcançando não tão longe das grandes portas de carvalho, passou os braços longos ao redor dela a tirando do chão, a fazendo girar no ar enquanto a abraçava com carinho.
━ Oi, Six! ━ Faith o abraçou de volta por alguns segundos antes de ser colada no chão e passar a ajeitar as vestimentas que eram sempre um tanto bagunçadas.
━ Onde esteve? ━ Sirius perguntou levando a garota para a mesa da Grifinória sem ao menos se importar com os problemas que aquilo poderia trazer para ambos.
━ Em casa, uma de minhas irmãs adoeceu e eu fui ajudar. ━ A lufana explicou acenando levemente para James que deixou um beijo na testa da garota antes de dizer que tinha que resolver uma coisa e sair puxando Pettigrew consigo.
━ Qual delas? ━ Lily surgiu, as sobrancelhas levemente unidas pela preocupação enquanto ela sentava ao lado de Faith no lugar que anteriormente pertencia ao namorado.
━ Sophia, ela pegou um resfriado e então só piorou, ela é muito frágil como você sabe. ━ A loira respondeu, agora que a irmã não estava mais em apuros ela falava disso com tranquilidade enquanto roubava um pouco da torta de Sirius que sorriu mas puxou o resto da torta para mais perto de si.
━ Ela está bem agora? ━ Remus perguntou oferecendo a própria torta em um gesto muito gentil.
━ Está sim. ━ Faith também pegou um pouco da torta do garoto, sorrindo em agradecimento antes de avistar Lucky e Wendy que pareciam estar discutindo na mesa da Lufa-Lufa. ━ Se me dão licença, eu tenho que impedir que aqueles dois se matem.
━ Eu acho melhor você correr. ━ Lily falou vendo Wendy segurar uma colher com toda sua força.
━ Vejo vocês depois. ━ A lufana deixou um beijo nas bochechas de Sirius e Remus antes de correr para a mesa dos lufanos, alguns acenaram na direção dela, outros se aproximaram para cumprimentar mas ela logo se afastou indo na direção dos dois amigos.
━ Faith?! ━ Lucky parou de discutir assim que notou a garota, fugindo da fúria de Wendy ele levantou indo até ela mesmo que a de cabelos dourados já não estivesse assim tão longe. ━ Você voltou!
━ Eu disse a você que tinha visto ela com o Black! ━ Wendy empurrou o garoto do caminho com uma expressão nada amigável, expressão essa que se tornou suave quando os olhos dela encontraram a amiga. ━ Quando você voltou?
A pergunta veio seguida de um abraço duplo, apesar de aparentemente ser a causa da discussão deles, Faith geralmente costumava ser a razão para o fim delas, ea os deixava distraídos o suficiente para que se esquecessem da briga, e foi o que aconteceu novamente ali, quando os dois a seguraram com tanta força que a garota pensou que seus ossos iriam se partir, mas tudo bem, ao menos eles não estavam mais brigando.
━ Voltei hoje de manhã, mas não deu tempo de ir para aula. ━ Faith respondeu quando o abraço acabou, ela entrelaçou os dedos com a melhor amiga e elas correram de volta para mesa.
━ Achei que só voltaria amanhã. ━ Wendy falou sorrindo enquanto via a melhor amiga se servir de panquecas e mel.
━ Era para ser, mas Sophia estava realmente bem ontem e... bem, eu senti saudades. ━ Era uma meia verdade, mas Faith não precisava dizer mais nada para que seus amigos entendessem, às vezes Hogwarts parecia mais casa para Faith do que suas mansões, e eles entendiam porque também era assim para ambos.
Sem dizer outra palavra sobre esse assunto, os amigos se viram contando e ouvindo histórias de outros lufanos que apesar de distraídos sempre acabavam prestando atenção em acontecimentos importantes e achavam que deveriam deixar que os outros soubessem também, no mundo trouxa isso tinha um nome bem conhecido: fofocar.
Faith não deveria, mas sentiu-se fortemente atraída pela ideia de olhar naquela direção, os olhos azuis cor do céu voltaram pela primeira vez até a mesa da sonserina onde duas fileiras de alunos cobertos de acessórios prateados ou também aqueles que pareciam satisfeitos com o verde esmeralda, os demais pareciam devidamente ocupados com si mesmos para notar a de cabelos dourados, mas Faith sabia que seus olhos encontraram os cinzentos antes mesmo que ela realmente o fizesse. Lá estava ele, com a expressão mais carrancuda do que de costume, bufando levemente e abrindo um jornal em frente ao rosto impedindo a visão da garota, que franziu a testa.
━ Acho que você irritou alguém. ━ Wendy sussurrou abrindo o próprio jornal e então revirando os olhos, ali estampada na capa estava Alice Galloway, com outro de seus prêmios por sua execução de feitiços de proteção contra as artes das trevas. Todo mundo no mundo bruxo sabia que a garota sabia tão bem se defender quanto sabia atacar, mas ela conseguia ser charmosa o suficiente para fazer com que esse fragmento de sua história, nunca entrasse em uma matéria sobre ela.
━ Mas eu não fiz nada, eu acabei de chegar. ━ Faith sussurrou enquanto afastava o jornal da amiga não querendo que ela fosse aborrecida pela imagem da irmã no jornal. ━ Sequer tive tempo de fazer alguma coisa para irritá-lo.
━ Tem certeza disso? ━ Wendy perguntou em seu mistério sem fim enquanto levava o garfo até a boca deixando uma Faith pensativa encarando o próprio prato, Wendy embora falante foi a primeira a terminar seu almoço enquanto sua melhor amiga ainda estava absorta aos próprios pensamentos.
Quando Faith finalmente decidiu não terminar o almoço, elas deixaram para trás andando pelo castelo ainda contando a Ebony o que havia acontecido em sua ausência, entretanto, a loira não conseguia manter a atenção nas palavras dos amigos pois enquanto caminhava ela sentia que estava sendo seguida, embora sempre que tentasse encontrar o perseguidor acabasse falhando. Por fim descobriu quem era quando eles alcançaram a parte mais vazia do jardim. Alice Galloway havia se formado um ano atrás, entretanto visitava o castelo muitas vezes graças ao professor, Malakai, de Defesa Contra as Artes das Trevas, que tinha um grande interesse pelo trabalho dela. A jovem lufana viu Alice se aproximar e segurar o braço direito da irmã com força a assustando antes de arrastar Wendy para longe de seus amigos em busca de alguma privacidade.
Não importava o quão longe ela levasse Wendy, os dois amigos ainda poderiam ouvir quando as irmãs começaram outra grande discussão, era normal vindo das duas Galloway, elas eram muito diferentes uma da outra embora tivessem os mesmos princípios, como todos os outros puro sangue, sua família estava em primeiro lugar. Lucky e Faith presenciaram cenas como aquelas mais vezes do que gostariam, sabiam que Alice tinha ciúmes de Wendy, porque a garota teria todo um futuro bruxo pela frente e o futuro da mais velha afundou no momento em que Sirius Black foi expulso e passou a assumir seu namoro com Remus Lupin.
Sirius e Alice iriam se casar aos dezoito anos do rapaz quando a mais velha já estaria completando dezenove, era uma tradição de família que parecia ser sempre seguida, era uma honra tanto para os Galloway quanto para os Black, uma união para duas famílias puro sangue da magia ancestral. Entretanto, não parecia ser assim que Sirius via as coisas, ele não poderia amar Alice, ou ser como a família dele. Assim, o casamento e o futuro da família caíram sobre as mãos de Wendy, e Alice passou a ser a esnobada, a irmã que fracassou. Além dos ciúmes, Alice também temia que a irmã mais nova fosse colocar tudo a perder sendo amiga da Faith Ebony.
━ Ebony! ━ A voz profunda e muito alta de Nate Kearney a fez saltar no lugar, roubando a atenção não só de Faith mas dos demais ao redor. Acabou causando o fim da discussão de Alice e Wendy, a mais nova aproveitou a situação para correr dali, não querendo que os amigos ou a irmã a vissem chorar, Lucky porém correu rapidamente atrás dela, Faith teria feito o mesmo se Nate não estivesse parado esperando por ela.
━ O que foi? ━ Faith se aproximou com passos preguiçosos.
━ É melhor você ir buscar aquela coisa, ele destruiu o meu quarto! ━ Exclamou garoto puxando Faith atrás de si até as masmorras, ele era mais alto e mais forte, em alguns passos a lufana sentia sentia como se estivesse sendo tirada do chão.
━ Achei que queria passar um tempo com ele. ━ Faith zombou do garoto, a garota sabia que era exatamente assim que ele iria reagir e só por isso o deixou responsável pela pequena criatura.
━ Isso foi antes de saber que ele era uma máquina destruidora. ━ Nate se defendeu antes de parar em frente às passagens escuras e sussurrar a senha, puxando Faith com ele sem se importar.
Faith não gostava nem um pouco de estar ali, era frio e úmido tanto quanto era escuro e macabro, causava a ela um arrepio esquisito na espinha. A mais nova segurou a mão de Nate pela sensação incômoda, o loiro a encarou com a sobrancelha quase invisível arqueada, ele olhou em volta e percebeu que não tinha ninguém ali e então puxou a garota para perto tentando mantê-la confortável. Nate, embora nunca fosse admitir em voz alta, já havia sentido exatamente a mesma coisa ao adentrar a masmorra, o temor dele, no entanto, de nada parecia com o dela.
A gentileza do Kearney durou pouquíssimos segundos antes que um grupo de garotas do quinto ano da Sonserina se aproximasse. ━ Ele está no meu quarto, é só você ir lá e pegar. ━ Nate largou a lufana se afastando bruscamente.
Faith nada respondeu, apenas assentiu com a cabeça e continuou andando sozinha, ela sabia o que era aquilo e odiava a forma que Nate a tratava, como se ela tivesse uma doença transmissível, embora ela soubesse que o garoto estava apenas tentando agradar os demais, como a maioria deles. Suspirou baixo enquanto abria a porta sem fazer barulho, a cena que encontrou a fez esquecer momentaneamente o comportamento do Kearney.
O quarto tinha uma decoração típica, era dividido entre Nate, Regulus e Evan, havia prateleiras com livros pesados de capas escuras, havia também vassouras de quadribol penduradas juntos de pôsteres de seus jogadores favoritos, duas camas eram postas do lado direito onde haviam peças de roupas espalhadas pelo chão e a outra ficava em frente a elas na parede esquerda, não havia desorganização ali, revelando ser o lado de Regulus Black do quarto. O mesmo Regulus Black que estava agora correndo em círculos ao redor das camas carregando em suas mãos frias um anel brilhante enquanto era seguido pelo pelúcio que pulou nas costas dele o fazendo perder o equilíbrio e cair sobre o chão cor de marfim. A garota cobriu os lábios com as mãos para impedir o riso, esperou que o sonserino tivesse um acesso de raiva mas tudo que ouviu foi o garoto gargalhando.
━ Aí, Fa... ━ Nate parou atrás dela, interrompeu a frase no meio ao notar que quase a chamou pelo primeiro nome na frente de quem ele mais tentava admirar, o sonserino que se levantou rapidamente do chão ao notar a plateia. ━ Ebony! ━ Faith não entendeu porque a voz do Kearney tornou-se subitamente tão áspera e alta, ele caminhou até Regulus e agarrou o pequeno pelúcio o levando até Faith e jogando nas mãos dela. ━ Toma aqui, sangue ruim, pode levar essa coisa pra longe.
Faith congelou no lugar, os olhos azuis muito claros tornaram-se lacrimejantes antes que ela pudesse evitar. Não era comum dela, a garota já teve ferimentos muito sérios, já foi chamada de sangue ruim muitas vezes, ainda assim conseguia segurar as lágrimas melhor do que qualquer outra pessoa. Não entendia a razão para essa fragilidade repentina, não parecia entender que seus limites foram alcançados e quase dezesseis anos de sentimentos absorvidos começariam a transbordar a qualquer momento.
Regulus Black também estava estático, piscava os olhos cinzentos com surpresa ao rever a lufana, não que ele pensasse que ela nunca voltaria, o problema é que toda vez que ele havia ela parecia cada vez mais brilhante, tão doce e...triste. As palavras de Nate foram captadas pelo cérebro do garoto momentos depois, quando ele notou as nuvens de lágrimas que se formavam nos olhos da garota.
━ Nathaniel. ━ A pronúncia do nome veio baixa e um tanto repreensiva.
━ Qual é? Eu não fiz nada pra ela. ━ Nate se virou, infelizmente aquele também tinha sido um dia terrível para o Kearney, acabou sendo dupla da legilimente Mary Rose Rowle que gostava de constrangê-lo ao ler seus pensamentos e pronúncia-los em voz alta.
━ Peça desculpas. ━ Regulus estava dando uma ordem, os ombros para trás e o peito estufado enquanto levantava a cabeça olhando para Nate com desagrado.
━ E que eu faria isso? ━ Nate perguntou, sua paciência nunca foi uma das maiores e naquele dia não era diferente.
━ Porque eu mandei. ━ Retrucou o Black.
━ Não sou seu empregado Regulus. ━ O Kearney praticamente cuspiu, era surpreendente para Regulus, quase o fez perder a fala.
━ Então por que age como se fosse? ━ O Black questionou ríspido não gostando da forma como as respostas dançavam pela língua de Nate.
Um silêncio pesado tomou conta do quarto, aquele ambiente divertido, que Faith encontrou ao abrir a porta e ver Regulus e o pelúcio, havia desaparecido, não havia mais nenhum vestígio de uma gargalhada ou da euforia de uma brincadeira, os garotos se encaravam com desafio.
━ Você quase me enganou. ━ Nate riu, foi uma risada um tanto amarga que fez Regulus apertar o punho e Faith olhar entre os dois começando a entrar em pânico. ━ Quase me fez pensar que você tinha coragem de fazer alguma coisa, mas todos nós sabemos que você é covarde Regulus. E eu sei disso melhor do que ninguém, já que sou eu quem você manda para resolver seus problemas.
Antes que outra palavra pudesse atingir Regulus, ele socou o nariz do Kearney que tombou até a porta ao lado de Faith, Nate segurou vendo o sangue que instantaneamente começou a escorrer, ele poderia revidar, estava preparado para aquilo mas foi interrompido. Evan Rosier entrou no quarto tão rápido que quase arrastou Faith consigo, essa que mantinha os lábios cobertos abafando sua vontade de chorar. Evan alcançou Nate primeiro, segurando o rosto dele notando o sangramento.
━ O que está acontecendo? ━ O Rosier perguntou enquanto puxava Nate para longe da porta, parecia apto a levar o garoto para a área hospitalar, mas queria uma explicação antes.
━ Esse idiota covarde e não consegue admitir as próprias merdas! ━ Nate falou alto e Regulus agarrou a varinha e apontando para o Kearney que se calou, o Black porém foi impedido pelo Evan.
━ É melhor você ir. ━ Faith sussurrou quando o sangue de Nate passou para as vestes de ele.
Evan só então notou a presença da lufana, e então a analisou até o calcanhar e então pareceu encontrar suas respostas, voltando-se para Regulus ele negou com a cabeça em desaprovação, além de irritado também parecia preocupado com algo que Faith ainda não entendia, mas os três garotos no quarto sim. O Rosier puxou Nate pela capa, antes de desaparecer o loiro agarrou o pulso da Ebony fazendo Regulus dar três passos à frente.
━ Ebony, vou fazer um favor pra todos nós e falar logo, Regulus é obcecado por você desde do primeiro dia, só que ele é um covarde e não vai admitir. ━ Kearney vomitou as palavras sobre ela antes que Rosier pudesse puxá-lo bruscamente para fora do quarto desviando do feitiço do Black que acertou a parede e se desfez em faíscas.
O silêncio tomou conta das paredes de pedra, a porta aberta deixava a visão livre para os alunos que saíram para as portas tentando entender o que estava acontecendo, Regulus estava respirando pesadamente, os olhos cinzentos tornaram-se mais escuros e ele apertava a varinha com tanta força que poderia partir o objeto a qualquer momento. Os curiosos pareceram notar a fúria do Black e logo os olhos curiosos se esconderam atrás das portas, assim como o pelúcio havia se escondido no bolso da lufana assim que a discussão começou.
━ Regulus, o que ele disse... ━ Faith começou mas logo foi interrompida quando o garoto riu, não foi uma risada longa e assustadora, apenas o ar escapando da sua garganta de forma ríspida. Ele olhou na direção dela e a garota encolheu sem perceber.
━ Você acha mesmo? ━ O de cabelos escuros deu outro passo na direção dela, embora houvesse frieza em sua voz, era visível a maneira como ele zombava da garota por ter acreditado. ━ Não seja ridícula, Ebony.
━ Mas você me defendeu... ━ Faith falou baixo, pressionando os lábios tentando impedir as lágrimas de voltarem. ━ E aquela noite na biblioteca...a enfermaria...
━ Você achou que isso significava alguma coisa? ━ As palavras pareciam cortar fundo, ele se aproximou mais, sussurrando suas palavras afiadas para cortar o coração da mais baixa. ━ Você deveria parar de pensar em mim como o cara legal que sempre vai te defender. Eu não sinto nada além de repulsa quando vejo você!
Os lábios da loira estavam entreabertos, ela parecia querer dizer alguma coisa mas não encontrou a própria voz. Pela primeira vez notou que, embora não fosse uma grande diferença, Regulus era maior que ela, também era melhor em feitiços, era mais rápido com as palavras. Pela primeira vez, depois de muitas palavras ruins vindas não só de Regulus, mas de outros alunos e até mesmo de outras casas sobre sua origem, a garota sentiu-se ameaçada, verdadeiramente ameaçada. Afastando-se do corpo dele, a garota começou a notar que além desse novo medo, um outro sentimento estranho a invadia, parecia um puxão em seu cérebro, uma raiva que se acumulou por muitos anos e agora escorregou em seus atos, a fazendo reagir de forma inesperada. Antes que Regulus pudesse desviar ou até que Faith pudesse pensar direito, o garoto sentiu quando a palma da mão dela atingiu seu rosto, a ardência revelava que os dedos deixariam marcas mais tarde.
O garoto segurou o rosto, perplexo ao olhar para a garota, além do desconforto evidente, havia algo mais na mente do garoto. Quando Faith não pareceu arrependida, quando ergueu o queixo e saiu do quarto de cabeça erguida e sem tentar de desculpar. Regulus sempre soube que estava lá, aquele sentimento, tudo aquilo que Faith tentava esconder ele sempre viu e ela estava mostrando agora, estava validando os próprios sentimentos ao invés de aceitar o que lhe era dito ou feito.
Ao presenciar essa cena, a raiva de Regulus pareceu ser extinta, ele permaneceu parado na porta, segurando o rosto mantendo os olhos no ponto específico onde Daisy estava um minuto atrás.
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