𝟏𝟑. ALARMES DE EMERGÊNCIA
O SOM MAIS alto em meus ouvidos era meu prioridade sangue bombeando rápido demais. Eu estava sozinha naquele corredor, me sentindo perdida e atordoada.
Quando me expulsaram e o barulho do tiro soou, entrei em pânico. Minhas mãos socaram as portas de metal sem parar pelo que pareceu uma eternidade, mas ninguém respondeu. Então agora eu estava ofegante, encostada contra a superfície fria do metal, tentando me controlar para tomar a melhor decisão. Assim que minha respiração regularizou, me afastei, conseguindo me manter em pé e estável novamente. Recuei pelo corredor, forçando meus pés a se moverem até alcançar meu dormitório.
Cruzei a porta e cai na cama. Meu corpo paralisado pela sensação de impotência e pânico. Respirei profundamente algumas vezes e me forcei a pensar com clareza. Nada pode ser resolvido enquanto eu estiver presa nesse estado letárgico, mas é realmente difícil tirar da minha mente a expressão congelada de Stefan, assim como o último olhar que Fuchs me lançou. Aquilo foi o último sinal para dar certeza a ele de que eu não estou do lado dele.
Ele só me mandou ir porque sabia que eu não iria longe sozinha. Ele precisa de mim, isso é bem óbvio, mas não vai hesitar em arrancar qualquer informação que for necessária da pior firma possível. Fuchs acredita que eu não tenho como deixar o complexo e minha única saída será lidar com ele. Acontece que ele está errado em alguns pontos. De fato não posso deixar o complexo. Não sozinha.
Fitei o relógio no alto da parede... ele vai vir atrás de mim, eu tenho certeza. O tempo parece estar zombando de mim neste momento. É quase como se aquele maldito relógio me olhasse de volta e dissesse o quão ferrada estou. E eu sei que ele está certo. Eu estou ficando sem tempo!
Fuchs não tem mais paciência para lidar comigo, ele não vai querer esperar. Encarando mais uma vez o relógio, meus olhos captaram algo suspeito. Ao lado do relógio, um pequeno ponto vermelho brilhante.
Uma câmera. Eles devem estar me observando nesse exato momento. Eu não me lembro dessa câmera estar alí antes, nunca me dei conta dela pelo menos, mas sem dúvidas a colocaram quando vierem revirar meu dormitório atrás do diário.
Fugir é mesmo uma opção? Provavelmente a única.
Eu poderia apenas continuar agindo normalmente como tenho feito, mas isso só daria a ele mais chances de me pegar desprevenida. Lembro-me de algo que Bucky me disse... "Eles nunca planejaram te deixar ir". Eu pareço estar condenada de um jeito ou de outro.
Só me resta lutar o máximo que puder. Não vou me render fácil, não farei como Stefan parece ter feito. Ele nem resistiu... foi como se soubesse que não tinha qualquer chance.
Começarei destruindo qualquer chance de acesso a minha pesquisa que ele possa vir a ter.
Apanhei todos os documentos, anotações e rascunhos que havia trazido comigo até esse complexo. Coloquei na lixeira de metal e apanhei uma caixa de fósforos. Sem pensar muito, ou tenho certeza de que poderia desistir, acendi os fósforos e joguei na lata. Observei enquanto todo o trabalho de um vida era queimado em frente aos meus olhos.
QUANDO PISEI NESSE complexo pela primeira vez, vendo-o como um centro tecnológico de ponta, nunca passaria pela minha cabeça aquilo que de esconde no subsolo.
Abaixo dos meus pés ficam as celas. Estão mantendo uma boa quantidade de prisioneiros por aqui. Alguns para estudo, outros simplesmente por saberem demais.
Stefan me contou sobre as celas na noite em que estive com ele em seu quarto lendo o diário. Não consigo pensar em o quão grata estou por suas revelações, afinal estão semdo muito úteis neste momento.
Sinto meu peito apertar e um gosto ruim na boca quando penso que ele está morto agora. Anos de sua vida vivendo neste lugar e fingindo ser um deles, para acabar desta maneira, sendo descoberto e executado. É um fim tão injusto e cruel para alguém que dedicou sua vida a um propósito. Sinto também o pensar por perder alguém que se tornou um aliado. O único, na verdade. Agora estou por conta própria, pelo menos até que tenha encontrado Bucky.
Encontrar a câmera me fez tomar a decisão de agir logo. Continuar aqui, fingindo e dançando conforme a música deles só me levou até um beco sem saída. A qualquer momento eles vão arrastar Bucky até um centro cirúrgico e me confrontarem para realizar a cirugia. Se eu recusar, vou ganhar uma bala na cabeça assim como Stefan e então outra pessoa vai usar a minha pesquisa para realizar a operação. Mas isso não vai acontecer, não vou permitir que as coisas cheguem nesse ponto.
Segui o caminho da forma como ele havia falado, não é um caminho difícil de se encontrar, porém, não é de simples acesso. Eu precisaria usar uma dose e persuasão e caso isso não funcione... eu tenho um plano B.
Antes de deixar meu dormitório sem a intenção de retornar, arrumei uma pequena bolsa de couro com documentos essências, junto com eles também havia a arma de fogo. Não gosto de armas e não gosto de ter que usar uma, mas sendo sincera não vejo outra maneira de sair desse lugar estando de mãos vazias.
A arma é de Stefan, eu a encontrei no esconderijo do quarto dele. Provavelmente ele optava por deixá-la alí, já que imaginava que não precisaria dela ou que chamaria atenção. O complexo tem câmeras, e elas são só mais uma coisa que eu preciso me preocupar.
Após descer vários andares de elevador, cheguei na porta de acesso das celas, definitivamente lacrada. Ela abre apenas com uma identificação biométrica.
Ergui meus olhos para a câmera e emiti um aceno discreto com o queixo, meu rosto inexpressivo.
Eu sabia que alguém estaria me vendo.
- Identificação.
Exigiu uma voz através do auto falante acima do identificador.
- Doutora Lilian Florence, neurologista chefe responsável pelo projeto Lótus - Me apresentei, erguendo meu crachá de identificação.
- A senhora não tem autorização para estar aqui.
- Não em circunstâncias normais - Comecei. - Estou aqui para buscar o paciente James Barnes para um procedimento cirúrgico. O Dr. Fuchs foi bem claro sobre a urgência desta operação quando me deu as ordens.
A voz não me respondeu durante alguns segundos que pareceram longos demais. Me controlei ao máximo para sustentar a expressão firme e determinada em meu rosto, não demostrando qualquer sinal de medo ou preocupação em ser descoberta.
- Não fui informado sobre isso.
Um sorriso arrogante se estendeu em meus lábios. Lancei meu melhor olhar de zombaria em direção a câmera, uma sobrancelha erguida quando questionei:
- Perdão, senhor... qual é a sua função mesmo? - Comecei. - Cientista ou... cirurgião?
Não obtive uma resposta, nada além de estática pelo alto falante.
- Foi o que pensei. Se não é nenhuma dessas coisas então por que haveria de ser comunicado sobre isso?
- Os protocolos...
- Estamos dispensando os protocolos nesse momento, meu senhor. Este é o maior passo científico, e, principalmente, para essa organização que estamos prestes a dar e você o está atrasando por conta de protocolos? É isso que entendi? Posso imaginar qual seria a punição para alguém agindo tão estupidamente diante de ordens vindas do alto escalão.
Fez-se silêncio e em seguida a porta foi aberta. Eu sabia que funcionária. Eu precisava agir como eles, ser incisiva, arrogante... fazer com que eles tivessem medo do que poderia acontecer se me contrariassem.
- Obrigada - Agradeço secamente enquanto atravesso a porta.
Certo... estou dentro. Sair que será outro problema.
Atravessei o corredor largo repleto de portas de ferro com apenas uma janela de vidro a prova de balas. O único som audível naquele momento eram meus saltos batendo contra o concreto.
- Última cela à esquerda. Número 9.
Segui na direção instruída, queixo erguido e expressão firme. Ouvi passos atrás de mim e ao virar minha cabeça lentamente, vi por cima do ombro uma dupla de agentes vestindo uniformes militares da H.Y.D.R.A. Claro que não me deixariam sozinha com ele.
Não me dando o trabalho de dizer alguma coisa, continuei meu caminho até a cela indicada.
A tranca automática foi desativada e a porta se abriu, eu entrei na sela e precisei de muito esforço para não esboçar nenhuma reação ao ver James alí, trancafiado como um bicho. Ele estava de costas, mas vi seus ombros caírem assim que ele escutou passos dentro de seu espaço.
- Sr. James Barnes? - Eu o chamei, ele virou-se imediatamente ao som de minha voz. - Venha comigo, hoje faremos um procedimento diferente com o senhor.
- Diferente? - Murmurou. Os dois homens não perderam tempo e caminharam até ele, eles estavam armados, e se prostraram de modo a impedi-lo de se recusar a sair.
- Isso, diferente - Confirmei, esperando que ele compreendesse a urgência em meu tom e seguisse comigo.
Eles prenderam algo no pescoço dele, uma coleira eletrônica com um código.
Dei as costas e deixei a cela, eles vieram logo atrás.
Precisávamos deixar essa armadilha de ratos antes que eu fizesse qualquer movimento para avisar James do que estávamos prestes a fazer. Aqui eles poderiam facilmente nos prender e nos render, até mesmo atirar em James.
As portas abriram e deixamos o corredor de celas. Esperei até que os três homens tivessem passado por mim, meus olhos esquadrilharam Bucky, eu não sei qual o código da coleira, mas esse dispositivo precisa conter alguma falha de funcionamento.
Respirei fundo e comecei a seguí-los, mais uma vez o som mais alto no ambiente eram o bater rítmico dos meus saltos contra o chão. Estávamos no corredor, seguindo em direção ao elevador. Nós entramos, eu recuei até o fundo.
Os dois agentes estavam diante de nós, bloqueando a saída do elevador. Olhei para Bucky e ele me devolveu o olhar.
- Apague os dois.
Eu movi meus lábios formando as palavras sem nenhum som. Bucky franziu as sobrancelhas, me olhou com confusão nos olhos azuis. Eu apenas balancei a cabeça novamente, reafirmando o que havia dito.
Mesmo sem entender ele se voltou para frente e avançou nos dois agentes. Eles não sabem que Bucky está fora daquele maldito torpor o qual esteve por anos, esse é o nosso elemento surpresa por enquanto.
Bucky empurrou a cabeça de um dos homens contra a lateral do elevador e o mesmo caiu inconsciente no chão do elevador. Antes que o outro pudesse reagir, Bucky envolveu o os braços envolta do pescoço do homem e apertou o metal frio até que os olhos dele reviraram e o mesmo despencou no chão ao lado do parceiro. Bucky parecia estar sentindo dor, muita dor, foi quando percebi que o colar estava lhe provocando choques.
Me abaixei e revistei os corpos dos homens inconscientes até encontrar uma pequena chave quase escondida no cinturão de um deles.
- Vai ficar tudo bem. Vou tirar isso de você!
Para caso de falha no sistema eletrônico, eles tinham essa chave. Passei meus dedos ao longo do colar, procurando o lugar daquela chave e encontrei, era uma abertura tão pequena quanto a chave e que ficava muito escondida. Quando abri o colar, Bucky respirou profundamente com dificuldade. Apartei para que o elevador parasse no próximo andar antes do nível do piso térreo do complexo e assim que ele parou e as portas abriram eu saí em disparada do elevador, trazendo Bucky pela mão. Infelizmente sem tempo para que ele se recuperasse totalmente.
- O que é isto, Lily?
Ele perguntou ofegante com uma mão no pescoço.
- É uma fuga.
Falei, puxando-o comigo pelos corredores escuros e desativados.
- Uma... o quê?
- Estamos fugindo, Bucky! - Repeti. Eu parei de correr e o levei até atrás de uma parede.
- Você enlouqueceu?
- Tínhamos alguém nos ajudando, um aliado - Comecei, não percebendo como minha voz ficou embargada. - Ele era um agente americano que estava infiltrado. Mas ele foi descoberto, descobriram que ele era judeu e que estava espionando a sala de Fuchs e o mataram.
- Alguma coisa ligava ele a você? - Perguntou preocupado.
- Queriam que eu abrisse a cabeça dele, que fizesse ele de cobaia antes da sua cirurgia - As palavras saíram como um sussurro sufocado através dos meus lábios. Sentia as lágrimas queimarem nas bordas, mas aínda me esforcei para me manter firme. - Bucky, eu não poderia... nunca. Na Acadêmia de Moscou ouvíamos histórias sobre os médicos nazistas que faziam cirugias e experimentos com judeus nos campos de concentração, era isso o que aquele monstro estava querendo de mim. Não era pela ciência, não era por poder ou benefícios como é com você, era... podre.
Ele concordou com a cabeça compreendendo o que quis dizer.
- Você está em perigo? - Bucky perguntou baixo, seu corpo se posicionando inconscientemente envolta de mim de maneira protetora. - Ameaçaram você? Por isso está tentando fugir?
- Colocaram uma maldita câmera no meu quarto - Suspirei. - Estavam de olho em cada passo meu, não faço idéia do que viram, mas definitivamente algo comprometedor em algum momento. Esse lugar já não é seguro para mim há muito tempo, na verdade nunca foi... além disto, antes de descobrir a verdade sobre Stefan, nunca escondi de ninguém o quanto eu o odiava. Quando me recusei a usá-lo como cobaia acabei deixando bem claro para Fuchs que não sou confiável para ele.
O toque quente da mão humana de Bucky em minha bochecha fez com que eu erguesse meu olhar para encontrar o dele.
- É como um sexto sentido - Continuei, fazendo uma careta ao utilizar as mesmas palavras ditas por ele. - Eu vi nos olhos dele. Ele não vai deixar passar, não dessa vez.
Bucky concordou novamente, assumindo uma postura de determinação.
- Tudo bem, você vai sair daqui.
- Não saio daqui sem você - Afirmei, notando a maneira como ele não se incluiu no objetivo de abandonar o complexo.
- Eles não vão me deixar ir, Lily. Podem até deixar você escapar, mas não eu.
Respirei fundo e ergui os olhos para o alto, controlando ad lágrimas mais uma vez.
- Não se você... - Fui interrompida pelo som alto de um alarme soando. - O que é isso?
- Emergência - Respondeu.- Seu plano parece ter sido descoberto.
Eu balancei a cabeça.
- É, eu imaginei que seria. Só esperava que desse mais tempo antes que fossemos confrontados.
Apanhei a arma na pasta e entreguei a ele.
- Aonde conseguiu isso?
Bucky me perguntou.
- Era do Stefan, eu peguei no quarto dele.
- Você sabe como usá-la?
- Óbvio que eu não sei, Bucky, mas você sim, então é por isso que está na suas mãos - Eu o olhei, sabendo que ele poderia abrir caminho para nós. - Não é muito, mas é o que temos. Vamos conseguir.
Comecei a me afastar seguindo em direção as escadas de emergência, até que ele segurou meu braço e me puxou de volta.
- Lily, odeio decepcionar você, mas tem algo que você não pensou - Seu tom soava como se ele estivesse com dor.
- O quê?
- Eles podem me controlar.
Um sorriso tomou conta dos meus lábios.
- Bem, talvez eu também possa. Vamos!
Falei, puxando-o comigo novamente através do corredor sob os sons de sirene.
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