𝟏𝟐. PROVA DE LEALDADE
AGIR COMO SE ainda odiasse Stefan não foi a coisa mais fácil de ser feita. Conforme os dias se passaram, minha encenação de tornava cada vez melhor. Era meio difícil manter o sentimento de empatia que desenvolvi naquela noite quando o mesmo lançava aqueles sorrisos afetados ou me desafiava em frente aos outros cientistas. Devo admitir, ele é mesmo muito bom no que faz
No entanto, isso não faz diferença para mim agora. O que realmente importa é não levantarmos suspeitas diante aos outros em nenhum aspecto, aínda mais agora. Estou me preparando para mais um encontro com Bucky antes da operação. Tenho mantido a justificativa de exames pré-operatórios, Stefan tem endossado a desculpa nos últimos dias, então não estamos tendo problemas com as visitas.
Estou ansiosa por esse encontro. É o primeiro cujo tenho de fato um plano de intervenção pronto para ser posto em ação. Quando o observo entrar no consultório como sempre, vestindo seu traje de Soldado Invernal e sendo seguido por quatro homens trajados como militares, sinto meu peito apertar com aquele conhecido nó. Dispensei os soldados, mantenho apenas Bucky, me certifiquei de que era seguro falar e então me sentei posicionada diante dele.
James não foi mandado a nenhuma missão nos últimos dias desde a última vez em que nos encontramos, isso é um ponto positivo, significava que nenhuma limpeza foi feita em sua mente. Nenhum prejuízo a mais.
— Podemos começar, Bucky? – Perguntei, meu tom era tranquilo e casual, mas sei o que estou fazendo. Escondendo o pequeno sorriso, observei pelo canto dos olhos um leve brilho no azul opaco dos olhos dele.
— De... de que você ne chamou? – Ele perguntou, sua voz oscilando.
— Bucky – Respondi prontamente, aproximando-me mais dele. – É como chamavam você em casa, não é?
Ele parecia tão atordoado. O homem balançou a cabeça e apertou os olhos, depois os ergueu para mim quase doloridos.
— Era? Eu... eu não...
— 10 de março de 1917, Indiana – Falei, estendendo minhas mãos para segurar as dele com um aperto terno. – Quando e onde você nasceu.
Percebi que seus olhos estavam ficando vermelhos, ele queria chorar. Eu sorri docemente.
— Steve Rogers, foi seu melhor amigo – Continuei. – Do Brooklin, você pode se lembrar? Por favor Bucky... eu sei que consegue.
Ele fechou os olhos e percebi todo o esforço que ele estava fazendo naquele momento. Como se estivesse dando tudo de si para recuperar algo há muito perdido. Mas eu sei que não está totalmente perdido, ainda não. Está ali e ele pode se lembrar.
— Eu me lembro... – Respondeu fracamente alguns instantes depois. – Eu... está tudo tão confuso, mas consigo ver o que você está me dizendo Lily.
Eu sorri emocionada e avancei para abraçá-lo. Eu sabia, sabia! Ativação do conteúdo reprimido na memória de longo prazo através de gatilhos afetivos. Ele me abraçou de volta quase que instantaneamente.
— Obrigado – Agradeceu. – Eu não sei o que é isso há muito tempo.
— Eu disse que faria isso por você – Falei, acariciando seus cabelos. – Mas ainda não acabou, eu sinto muito. Enquanto você estiver nesse lugar, ainda está sujeito a tê-los em sua cabeça.
— Eu sei - Ele afirmou. Bucky me puxou para o seu colo na cadeira. - Mas isso ainda é mais do que eu tive em muitos anos. É o mais perto que já senti de ser alguém novamente.
— Você deve fingir, está bem? Continuará como se não se lembrasse de nada. Eu sei que eles apagam sua memória após cada missão do Soldado Invernal, mas eles não mandarão você para longe enquanto estamos fazendo o experimento, então temos algum tempo.
Ele concordou e encostou sua testa na minha, fechando os olhos em seguida. Eu consigo ver em sua expressão o quanto ele está grato, mesmo que ele ainda esteja encarcerado aqui e sob o domínio da H.Y.D.R.A.
Não contarei a ele sobre nosso mais novo aliado, ainda não é o momento. Depois que descobri toda a história dele, tenho compreendido muito de suas atitudes. Não é fácil ser um agente infiltrado, e é menos fácil aínda ser um judeu infiltrado em uma organização nazista. Ele precisa agir da forma mais convincente possível, ou seja, ele precisa ser um verme assim como todos os outros. Ele tem se saído muito bem na função.
— E OS exames, com estão a coleta de dados?
Stefan perguntou assim que entrei no laboratório. Haviam outros alí, então apenas dei de ombros.
— Ótimos. Ele é tão forte quanto um cavalo.
Me sentei de costas para ele e apanhei alguns documentos embaixo da bancada, porém antes que pudesse começar a lê-los, ouvi passos no corredor. Era um som inconfundível de botas militares.
Na entrada do laboratório surgiram o Dr. Fuchs acompanhado por outros dois homens que se prostraram um de cada lado.
Eu me levantei imediatamente. Meu corpo tenso por antecipação. Todad as interações que tive com homem são tão exaustivas que já posso sentir meus nervos pulsarem.
— Dr. eu...
Ele ergueu sua mão, silenciando-me.
— Dr. Müller, vamos até minha sala.
Ele chamou seu tom de voz inflexível, sem nem olhar para mim. Franzi as sobrancelhas e observei Stefan levantando-se e indo até ele calmamente como sempre fazia.
— Algum problema? Nós estamos trabalhando agora.
Eu falei em voz alta.
— Vamos apenas conversar. Devolverei seu parceiro em breve.
Respondeu enquanto deixavam o laboratório.
Eu voltei a me sentar, confusa e um pouco preocupada. Isso não foi normal. Eu nunca vi Fuchs convocando ninguém para conversar dessa maneira.
Procurei agir o mais natural possível, afinal, ninguém alí deveria pensar que eu estava muito preocupada com um homem cujo já falei abertamente detestar. No entanto, minha ansiedade não me permitiria agir tão normalmente assim, e o tempo inteiro eu me pegava batendo com meus dedos contra o tampo da mesa.
Stefan não voltou ao laboratório naquele dia.
FOI APENAS NA manhã do dia seguinte que tive qualquer vislumbre de uma reposta para a situação incomum do dia anterior.
Fui surpreendido por um dos homens vestidos como militar batendo contra minha porta. Era cedo demais e eu nem mesmo havia me levantado. Pensei que ele iria me arrastar com ele assim como fizeram com Stefan ontem, mas não foi o que aconteceu, ele apenas me comunicou para estar no centro cirúrgico o mais rápido possível.
Eu concordei e não fiz perguntas, depois fui me aprontar.
Eu havia estado no centro cirúrgico do complexo por apenas duas vezes. Eu sabia que a cirurgia de Bucky seria feita aqui, mas ainda não é a hora, portanto estava me questionando o que diabos estava fazendo ali. Ao entrar, encontrei Fuchs vestido com seu jaleco branco e luvas cirúrgicas de borracha azuis. Ele sorriu ao me ver.
— Sempre pontual, sempre admirei isso nos russos, apesar de não tomarem as melhores decisões
Falou ao me receber.
— Não é como se eu tivesse muito o que pudesse me atrasar – Digo, ignorando deliberadamente o comentário ofensivo. Eu olhei envolta e senti meu estômago se contrair, a sala estava preparada para um cirugia, porém a maca cirúrgica estava vazia.
— Oh, doutora, retire o olhar de preocupação se seu rosto - Ele falou, sua voz soava maliciosa.- Não se trata de você, não hoje pelo menos. Nosso paciente estará chegando em breve.
— James ainda não pode ser operado...
Eu comecei, mas ele me cortou.
— Também não é sobre James. É outra pessoa. Um intruso - Cuspiu as palavras com desprezo.- Alguém que você já havia pressentido o fedor muito antes de qualquer um de nós.
A porta dos fundos se abriu e Stefan entrou. Ele foi empurrado em direção a maca e jogado ali, seus braços foram amarrados com grossas tiras de couro.
— O quê? O que estão fazendo...
Comecei tentando me aproximar, eles me afastaram.
— Eu devo lhe parabenizar por ter um sexto sentido tão afiado.
Ele continuou calmamente.
— Você pode me explicar o que diabos está acontecendo aqui?
Perguntei, me afastando das mãos dos soldados.
— Ele não é apenas um impostor - Fuchs rosnou. Ele se virou para Stefan. – É um judeu imundo que se infiltrou entre nós.
Eu encarei o homem amarrado, ele não estava falando nada, também não estava tentando lutar para se libertar.
— Isso não faz sentido algum..
— Algo valioso desapareceu - Fuchs falou. – E suspeitavamos de você. No entanto, ao revistar seu quarto não encontrarmos nada.
— Vocês invadiram meu quarto?!
Ele acenou com a cabeça como se isso fosse algo rotineiro. Seus olhos se voltaram como adagas na direção do homem preso à maca.
— Mas então encontraram algo no meu escritório... uma minúscula câmera e um microfone que emanava sinais de rádio - Ele fez uma pausa.- Sinais que iam até o quarto dele.
Eu segui seu olhar mais uma vez. Stefan não pode ceder dessa forma. Ele não é a droga de um agente americano? Por que ele não está lutando?
Ele me olhou de volta por uma fração de segundo, tempo o bastante para que nenhum dos outros percebessem nosso contato visual, mas tempo o suficiente para que eu pudesse entender. Ele estava sozinho, não tinha apoio de sua agência para contar.
Por alguma razão... talvez não tivesse meios para recorrer ajuda, ou nem mesmo tivesse tempo para fazer. Acontece que essa é a situação dele agora... um judeu, infiltrado no coração de uma organização nazista e que agora foi capturado.
— O que vão fazer com ele?
Perguntei quase que em um sussurro horrorizado.
— Nós? - Ele perguntou.- Nós não iremos fazer absolutamente nada, doutora, é a senhorita quem fará.
Ele indicou os utensílios cirúrgicos.
— Eu? – Repeti sentindo minha garganta fechar.
— Vai operá-lo. James é valioso demais para ser sua primeira tentativa, não queremos que nada de errado no procedimento com ele, mas ele... a senhora mesma já o chamou de verme, doutora, creio eu que não deverá ser um problema abrir a cabeça dele.
Fuchs estava matando dois coelhos com um só tiro. Além de oferecer um destino cruel a Stefan, também colocava a prova minha lealdade.
Eu o olhei com determinação. Não me importo com o que ele pensará de mim:
— Não.
Me neguei.
— Como disse?
Ergueu uma sobrancelha, mas seu olhar dizia que ele entenderá perfeitamente minha resposta.
— Não vou fazer isso. Nossos objetivos nesse caso são bem diferentes, doutor. Não é sobre meu experimento e muito menos sobre preservar James.
— Ele é um traidor.
— Ele traiu você, não a mim. Essa briga não é minha.
— Oh...- Ele murmurou pensativo e eu percebi que havia cometido um erro terrível. Os olhos de Stefan se arregalaram.
— Você entendeu bem o que eu quis dizer - Falei, voltando meu olhar para o velho.- Suas razões para querer torturá-lo não tem nada a ver com ciência. É por isso estou me recusando.
Procurei consertar meu erro, mas não acho que tenha algum conserto.
Fuchs não é nada burro. Ele sabe toda a raiva que eu sentia de Stefan por ter agido pelas minhas costas. Eu mesma já o chamei de traidor e verme uma porção de vezes... por qual razão eu iria me recusar a simplesmente abrir a cabeça de alguém que odeio tanto?
A reposta é simples: Ter uma razão muito forte para deixar todo esse ressentimento para trás.
E qual razão poderia ser mais forte do que descobrir que esse alguém que eu tanto odeio não faz parte dessa organização que tem me coagido a fazer coisas que vão contra minha ética e ideologias? E além... é um infiltrado, um espião, que está aqui para derrubar essa organização.
— Você está dispensada, doutora.
Ele falou, dando as costas para mim depois do que pareceu uma eternidade.
— Como?
Perguntei sem entender.
— Está dispensada. Não nos prestará seus serviços, então peço que se retire. Temos problemas para resolver.
Havia tanta frieza em sua voz, soava como lâminas.
— Espera, o que vai fazer com ele?
Perguntei.
— Tire ela daqui.
Fuchs mandou a um de seus homens que começou a se aproximar de mim imediatamente. Eu comecei a recuar em direção a saída.
— Não encoste em mim...!
Exclamei me desvencilhando das mãos dele. O homem me empurrou para fora do centro cirúrgico e no momento em que a porta se fechou atrás de mim fui capaz de ouvir o som dos tiros.
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