𝟎𝟐. QUEM É O SOLDADO INVERNAL?
"O PROGRAMA SOLDADO INVERNAL teve início em meado das décadas de 40 ou 50. Por mais que nos registros eles tenham deixado muitas informações valiosas a cerca do projeto, sua origem ainda me parece nebulosa, para não dizer sombria..."
Ouvi batidas na porta do quarto e imediatamente fechei o diário.
- Já estou indo - Avisei, elevando minha voz enquanto me movimentava pelo quarto para guardar o caderno.
Fui notificada noite passada de que alguém viria me buscar pela manhã para que não perdesse a chegada da equipe que deve me auxiliar no desenvolvimento do projeto.
Ao abrir a porta, me deparo com um homem que sustenta uma carranca estóica. Seu nível de comunicação comigo é básico enquanto me cumprimenta com um simples aceno e em seguida indica o caminho que devemos tomar. Não tive tempo de absorver muita coisa neste pouco tempo, porém, pude notar o quão silenciosos e focados em suas tarefas todos eles parecem ser. Eu aprecio isso, torna um bom ambiente para o trabalho. Só não para amizades, mas eu nunca tive isso como algum tipo de prioridade.
Quando alcançamos o laboratório me vi em uma situação a qual já é estive outras vezes em minha vida. Uma sala cheia de homens que me encaravam com olhares superiores. O Dr. Fuchs os apresentou como sendo a equipe prometida, eu deveria liderá-los, no entanto, era claramente visível em suas expressões que nenhum deles acreditavam que eu seria capaz disto.
- Hoje é um dia memorável, doutora - Fuchs falou chamando minha atenção.- Estamos fazendo história.
- Sem dúvidas - Concordei.- Acredito que todos nós nesta sala tem o potencial necessário para mudar o mundo como conhecemos.
- Todos estão dispostos a isto - Ele afirmou. - Irei deixá-los trabalhando agora, sei que precisam falar a respeito da pesquisa, e tempo para nós é valioso.
- Para mim também.
Falei, me voltando para a equipe.
Ele se retirou após um aceno de cabeça, e eu identifiquei que onde estava agora se tratava de um ambiente hostil. A maioria, se não todos, não estavam dispostos a acatar minha autoridade.
- Imagino que entendam o minimo de neurociência - Falei, dando início ao meu discurso com uma pitada de soberba. - Então suponho que não será difícil compreenderem o que explicarei agora. Prestem bem atenção, pois não vou me repetir. Como vocês puderam ouvir o tempo é valioso e nós estamos reunidos aqui para fazermos história por meio da ciência.
Caminhei até a bancada e apanhei um jaleco branco que estava cuidadosamente dobrado. Quando o vesti me senti completa... uma sensação que não conseguiria explicar mesmo se tentasse. Me virei para eles, e percebi que seus olhares estavam mais atentos do que segundos atrás.
- ESTAMOS FALANDO DE lavagem cerebral?
Um dos doutores me questionou após explicar alguns aspectos do experimento. Eu balancei a cabeça negativamente.
- Reprogramação neural, mais precisamente - Eu o corrigi. - Não vamos apagar a mente de ninguém como acontece em lavagens cerebrais. Esse procedimento é retrógrado, causam lesões ao cérebro, pode provocar sequelas e traumas irreversíveis. Queremos preservar o órgão, afinal, ele é nosso instrumento de trabalho.
Puxei um quadro branco, geralmente utilizado para formulas e usei uma caneta para ilustrar um cérebro no quadro:
- Neurônios, sinapses e neurotransmissores... isso é o que nos comandam. Cada passo, ação e pensamentos é deles que surgem. Não é apenas um jogo de conectar fios, é muito mais complexo e qualquer movimento errado causa sequelas, no entanto quando conhecemos o caminho e sabemos em quais locais podemos mexer... quando sabemos os fios certos para cortar e reconectar, podemos alcançar pontos do cérebro que até então eram impossíveis de acessar.
- E você conhece esse caminho? - Outro questionou em tom pouco convencido.
- Não, ninguém os conhece... não ainda, e é por isso que estamos aqui agora. O alzheimer, a demência... degeneração de neurônios, pode ser revertidos com isso. Por isso eu comecei esses estudos. Se reprogramar as áreas corretas do cérebro, se cortarmos e conectarmos os fios certos... estão compreendendo?
Perguntei. Sei que fico um pouco eufórica falando sobre isso... em alguns momentos me perco em devaneios e não paro de falar.
- Estamos, dra.Florence - Um deles afirma, me sinto um pouco aliviada com essa afirmativa.- É de fato fantástico.
- Só me pareceu que desvendar os caminhos do cérebro humano levará muito mais tempo do que a agência dispõe.
Outro falou com leve sorriso de ironia nos lábios, ele me arrancou um sorriso ácido.
- Para pessoas com pensamentos medíocres, talvez - Digo.- E nenhum de nós temos esse tipo de pensamento, não é, doutor?
Ele negou com a cabeça. Me voltei para os outros e continuei.
- Sem cobaias humanas por enquanto - Digo, caminhando até as pequenas caixas com ratos brancos.- Começaremos testando conexões cerebrais com terapias de choque. A voltagem será da menor para a maior, e registrem tudo.
Apanhei uma gaiola e indiquei as outras.
- Rápido! - Comandei.
Eles me obedeceram.
"SOLDADO INVERNAL"
Esse nome retornou a minha mente enquanto trabalhava inquieta em uma das bancadas.
Algo não ficou muito claro enquanto lia os arquivos. A identidade dele. Quantos homens e mulheres foram Soldados Invernais. Onde eles estão esse tempo todo e quais tipos de experimentos foram e estão sendo feitos com eles...
Nenhuma dessas informações constam com exatidão nos documentos.
Quem é o Soldado Invernal?
Segundo os arquivos é um super soldado, com força sobrehumana e habilidades fora do comum. Até então não me surpreendo com isso, eles não seriam os primeiros. Os americanos já fizeram uma vez, mas seu super soldado pereceu durante a segunda guerra.
Agora que as relações entre Rússia e Estados Unidos não estão nada amigáveis, unindo com a situação a qual a Alemanha se encontra após a guerra mesmo quase 20 anos depois... não é difícil perceber que os dois países estejam unindo forças para construírem o Soldado perfeito e superar aquilo que os Americanos falharam ao tentar.
Anotei rapidamente a agitação provocada pelo choque no ratinho naquele momento e então minha mente se dispersou mais uma vez.
Haviam linhas se formando, um mapa mental de toda essa situação. Eles me entregaram diversos arquivos de projetos os quais estão de alguma maneira relacionados com os meus, eles não me dariam nada para ler que não fosse estritamente necessário que eu ficasse sabendo, portanto meu trabalho tem a ver com o projeto Soldado Invernal.
Me levantei da bancada e deixei a sala sob olhares atentos e de estranhesa dos outros presentes. Sei que a sala do doutor Fuchs fica ao final desse corredor, pois ele mesmo me disse caso precisasse de algo.
Ao me aproximar, antes de bater na porta, ouvi conversas lá dentro. Algo que me soava como instruções sendo dadas a alguém. Outra movimentação, parecia com uma cadeira sendo arrastada e passos em direção a porta. Ergui uma mão em direção a porta para bater e tirar qualquer suspeita de que eu estivesse escutando coisas que não deveria, a mesma se abriu.
O doutor estava acompanhando por mais dois homens. Um era velho como ele, não precisei olha-lo duas vezes para perceber que é Russo, assim como eu. O outro é diferente, ele usa uma máscara que cobre toda a parte inferior do rosto, os olhos estão pintados com uma tinta preta, dificultando ainda mais enchergar os traços do rosto. Os cabelos são longos, ele usa algo que parece um traje militar, mas seu traço mais incomum sem dúvidas é um dos braços que é de metal.
O homem diante de mim nada disse, seus olhos eram firmes e se mantiveram focados para frente.
- Desculpe, cheguei em um momento inoportuno.
Digo, cruzando os braços atras de meu corpo e lançando um olhar ao Dr.
- Precisamente - Respondeu, obviamente insatisfeito.- Entre, já acabamos aqui e de qualquer forma precisaríamos ter está conversa.
Ergui uma sobrancelha e observei enquanto ele dispensava os dois outros homens que estavam com ele com um rápido aceno de cabeça. O homem com o braço de metal não pestanejou por um só segundo, imediatamente passou por mim com passos duros e desapareceu no corredor com o outro em seu encalço. Entrei no escritório e ouvi a porta sendo fechada.
- Suponho que aquele seja então o Soldado Invernal.
Falo, cruzando algumas informações.
- Você é perspicaz.
- Obrigada.
- Ele é o principal motivo de termos procurado pelos seus serviços, doutora.
Minha curiosidade inflamou. Me virei para ele.
- Estou ouvindo - Eu o incentivo para que ele continue falando.
O homem concorda com a cabeça e começa seu discurso.
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