07.


Amsterdã, Holanda
Maio, 2023.

 
 
Eu estava morta de cansaço, quando acordei já era de tarde, meus olhos estavam pesados.

— Não quero ir a faculdade. — falei caindo na cama novamente.

  No entanto eu tinha que entregar o trabalho da minha professora, que ensinava 'Elementos Técnicos da Fotografia', essa matéria demandava muito tempo e eu fiz com a maior paciência do mundo, estou produzindo desde do dia que ela me pediu, preciso de um dez urgentemente, se não ela me reprova na matéria.
   
  Estava com minhas roupas que cheguei de madrugada, a conversa com Victoria me rendeu mais cansaço ainda, tirar esse dia para dormir foi ótimo. Agora eu preciso tomar um rumo antes que eu me atrase.

  — Puta merda, vou ter que correr contra o tempo. — coloquei meu cabelo de lado.

  Eu peguei minha toalha e corri diretamente para o banho, não daria tempo de lavar meus cabelos, teria que fazer algo para arrumar o mesmo.
  
  A água fria era o que eu precisava, acabei dormindo em muitos cobertores e travesseiros e acordei suada; mole. Odiava tomar banho nessa temperatura mas às vezes era necessário, eu tive que me apressar.

  Quando saí do box, escovei meus dentes e me aprontei em questão de segundos, a aula iria iniciar, ainda bem que era perto de casa.

 

   Antonieta estava explicando sobre como tirar as fotos corretamente, muda toda a visão das pessoas.
 
  Isso era um conceito óbvio, mas quando se aprende é completamente difícil. Muitas pessoas da minha sala não tiveram contato com outros tipos de câmera ou locais novos, o que complicava aprender sobre determinados tópicos do que a mulher a minha frente explicava.

  Ela tinha seus cinquenta anos, mas era linda, sempre explicava super bem mesmo sendo rígida, uma das melhores professoras da universidade, sem dúvidas, seus ensinamentos me fascinavam muito.

— Eu pedi um trabalho no qual vocês tinham que utilizar os onze elementos principais do curso de Fotografia. Convenhamos, o que eu pedi é extremamente simples, mas queria tudo isso corretamente, vocês são estudantes e estão no último ano, quero que sejam alunos de destaque, que se sobreponham em seus trabalhos. — ela ia de um lado para o outro enquanto gesticulava com as mãos.

  Eu estava tranquila, os dias que eu passei tirando fotos de Amsterdã que nem uma condenada, valeriam a pena, pelo menos eu quero acreditar nisso, pois a cada palavra que essa mulher diz, meu coração acelera gradativamente.

— Minha parte como professora eu fiz, se vocês jovens adultos não querem se esforçar, o problema já não é meu. — falou enquanto escrevia no quadro.

  A primeira coisa foi a palavra "Automobilismo".

— Exatamente o que está escrito na lousa, automobilismo, competições entre automóveis a motor. Vocês irão produzir vídeos e gravações para mim, pode ser de qualquer categoria: IndyCar, Rali, Fórmula 1, eu não me importo, desde que seja algo bem feito e minucioso.

  Ela escrevia os pontos principais que ela iria querer na produção. 

  Não me irritou ter mais um trabalho para realizar, aquilo era de menos, eu estava acostumada a produzir fotos a qualquer momento, tinha até alguns calos nos dedos de tanto segurar a minha câmera. O que me estressava era o tema, não quero pedir ajuda para Max, é a minha principal referência de esportes a motor, tentaria fazer alguma coisa, mas nada vinha em minha mente, a interação que tive com os pilotos era mínima, e por mais que conversasse com Hamilton, não éramos tão amigos como antes. 

  Anotei tudo que ela pediu para produzirmos, a aula dela passou voando, foram duas hoje, apenas da mulher de cabelos pretos, o professor das três últimas aulas não iria vir. Vim por uma questão de necessidade, se não estaria confortável no quentinho da minha cama.

O sinal bateu. Ela iria entregar a nota dos trabalhos pois corrigiu enquanto estávamos fazendo alguns exercícios, sim, tinha a parte teórica de Fotografia, estudávamos a história de muitos países e como as imagens são envolvidas, como marcaram a vida das pessoas — o que eu sei por puro mérito — acho lindo, mas não gosto de aprender, estava quase me retirando da sala, e mesmo tendo essa liberdade, eu precisava ver a minha nota, estava com cinco nessa matéria e preciso tirar uma nota acima da média, mesmo me esforçando na universidade.

— Podem sair, quando saírem eu vou entregar os devidos papéis. — o barulho das bolsas, mesas e cadeiras sendo arrumadas, ecoou pela enorme sala. 

  Estava arrumando meu material lentamente, vi muitos alunos saírem, e os que se destacam ela sorria e conversava por um tempo. Estranhei ela não me entregar o meu rapidamente,

  Quando estava perto de sair ela me chamou.

— Mia Noura Hadid. — falou alto.

— Oi professora, fui tão mal assim? — estava preocupada.

— A melhor nota da sala. Meus parabéns, você se destacou imensamente no trabalho, o Canal Singel é um dos meus locais favoritos daqui, estou imensamente feliz pelo seu apreço. — sorriu para mim.

—  O quê? Meu Deus professora, isso é inacreditável, estou sem palavras até agora. — dei o meu maior sorriso olhando para as fotografias.

   Eu queria berrar para todo mundo que eu consegui, com tudo que Bella estava passando, alguma coisa tinha que ter valido a pena do meu esforço.

— Isso é resultado da sua dedicação, sei que uso essas frases prontas, mas ficou lindo, quase chorei de tanta delicadeza nos detalhes. — ela admirou as fotos do meu lado.

— Não precisa de tanto exagero também, eu estou muito feliz, obrigada pelos elogios, tive que me esforçar o triplo. — estava olhando para a câmera em meu pescoço — Aliás, tenho algumas novidades para você, acho que vai gostar. — sorri.

— O que você aprontou dessa vez? — brincou.

— Olhe para a minha câmera. — abri nas fotos do "La Vacanza".

— Você tirou fotos do desfile de Donatella Versace? Isso só pode ser mentira Mia. — a mulher ficou encantada.

— Não só tirei como registrei os mínimos detalhes. Olhe para Gigi, ela estava brilhando. — sorri para a foto de minha irmã mais velha.

— Sua irmã é uma das melhores modelos da atualidade, as vezes esqueço que você é milionária. — ela riu.

— Eu não sou nada professora, só tiro algumas fotos e moro por aqui, minha mãe que tem dinheiro. — sorri —
Foi uma das melhores experiências da minha vida, simplesmente surreal esse desfile, era coisa de outro mundo. Mesmo estando por trás de tudo, eu visualizei várias pessoas que perceberam eu por lá, um dia te levo. — pisquei para a mesma.

— Adoraria ir com você Mia, e aliás, as fotos de Victoria ficaram surreais, essa mulher arrasa, na Itália ela é muito adorada, sei disso. Quando o povo italiano tem um ídolo, eles ficam obcecados. — ela pegou seus materiais e se aprontou para sair da sala.

— Ela realmente parece de outro mundo, ela tem o rosto de uma Deusa, umas das minhas modelos prediletas também. — disse.

— Claro.

  Nos despedimos e eu fui para a saída da faculdade, a Holanda estava realmente bela hoje, acho que senti um pouco de saudades daqui, é tudo tão decorado e fresco, não sei explicar, só sentir.

  Eu estava andando pelas ruas e resolvi ir em uma cafeteria muito famosa por aqui, a "The Stud", ela era simples mas aconchegante, sempre me senti confortável por lá. Os bancos e os quadros eram muito rústicos, era muito fotogênico e eu adorava as bebidas daquele local, pareciam de outro mundo, o Starbucks que eu tomei com a Bella nem se compara.

  — Eu vou querer um cappucino, por favor. — adorava os atendentes e garçonetes do local, eles eram atenciosos e não me tratavam como um ser de outro mundo por conta da minha pouca fama.

Respirei fundo e estava tranquila depois do trabalho da faculdade.

— Mia Hadid? — escutei uma voz feminina atrás de mim, que já estava na cafeteria.

— Charlotte Siné? — corri para abraçar a garota, já fazia tanto tempo que não nos víamos — Você aqui em Amsterdã? Quais são as novidades?

— Estou apenas aproveitando a folga do meu trabalho, — ela agradeceu pelo seu pedido — mas você mora aqui, né? Já faz muito tempo?

— Uns três anos, aqui é incrível, apesar de sentir falta dos Estados Unidos. — sorri.

  A moça que ficava no caixa entregou meu pedido e eu paguei ela, agradecendo.

— Eu imagino. — ela sorriu — Quer andar enquanto jogamos conversa fora? Estou com o tempo livre mesmo.

— Claro, acho que temos muitas coisas para falar desde 2020. — foi o ano que conheci a mulher a minha frente e ainda vibrava pelas corridas de Max.

  Nós duas saímos do local e eu me despedi dos atendentes e das garçonetes, já era tarde, provavelmente estavam próximos de fechar o estabelecimento.

— Acabei de sair da faculdade, tirei dez no meu trabalho sobre as imagens de Amsterdã, acredita? — falei tomando um gole do meu café.

— Que bom Mia. Eu estava andando por aí mesmo, estou hospedada aqui, a Holanda é linda! — falou sorrindo.

— Realmente. Você sumiu depois do namoro com Charles.

— Eu ainda estou tentando processar tudo. — fixou a cabeça em um ponto no chão.

  Charles Leclerc não é a boa personificação de fidelidade, todo mundo sabe disso. Ele namorou com Giada por três anos, e o mesmo com Charlotte. Nas corridas ele era um bom piloto, mas quando se tratava de relacionamentos era péssimo, o que também não era novidade na Fórmula 1, a cada semana um boato de traição aparecia na mídia, parece pacto. O rosto dela estava abatido, eles decidiram acabar com o namoro no ano passado. Charlotte não iria negar, amou muito o monegasco, mas depois de tudo ela teve que por um ponto final em tudo isso.

— Charles foi um babaca com você, nem a pior pessoa do mundo merece isso.

— Tudo que ele falava parecia tão real, me passava uma segurança imensa. Não acredito que fui uma tonta em pensar que ele me amava. — falou triste.

— Leclerc é uma pessoa ótima, mas é da personalidade dele, não tem o que fazer, ele faz isso a todo momento, até ele namorar mais uma amiga da ex-namorada e fingir ser o namorado perfeito. — dei uma risada frouxa.

  Quando conheci Charlotte, foi na época da pandemia então tivemos pouca interação, vi que ela era uma pessoa incrível. A gente falava das corridas, de como ela estava bem com Charles, ele fazia várias coisas por ela, com ela. Lembro dos vídeos nas redes sociais, eles ficavam colados um ao outro, e os sorrisos e olhares que os mesmo trocavam eram encantadores. Tudo isso foi lindo, uma época muito confortável para os dois, mas a maioria das coisas era parte da fama do piloto com a namorada, dava mais visibilidade; engajamento. Não quero dizer que o que eles tiveram não foi real, eu mesma ficava esperando por um romance igual o deles, ficava achando que um certo alguém ia fazer o mesmo, até ele começar a namorar a filha de Piquet, mas a gente sabe como a Internet funciona, tudo tem algo envolvido. Charles não tem controle, é um mulherengo ambulante e acaba tratando as mulheres como lixo, e se vamos falar de dinheiro aqui, estou certa que isso é uma dos motivos, mas é o Charles Leclerc, o "Il Predestinado", o garoto de ouro da Ferrari, todo mundo que já viu esse cara na vida já achou ele atraente. Mas Mônaco é pequeno, suas namoradas eram traçadas e estratégicas — sem contar as outras milhões de mulheres que ele já ficou — como um plano para vencer o GP do Bahrein, era muito bem feito, e os boatos continuam até hoje, todo mundo gosta de uma boa fofoca.

— Fico triste pela próxima garota que vai cair na dele, eu só tenho vontade de dar alguns socos na cara dele, eu não aguentava mais Mia, foi um livramento. — ela estava quase gritando.

— Você sabia de tudo, né? — me fiz de desentendida enquanto tomava mais um gole do líquido quente.

— É claro que eu sabia, Charles não conseguia nem esconder, e outra, ele é famoso, só eu pegar meu celular e ver os trocentos boatos sobre ele, eu aguentei por muito tempo. — estava irritada.

— É "Lotte", os homens são impossíveis, sempre iguais, independentemente de qual. — falei pensativa.

— Eu amei Charlie, gostava muito dele, eu me fingia de burra para relevar as traições, no fim do dia eu só queria o abraço e os beijos de Charles. Mas foi me cansando, me doendo, parecia que tudo já não era como no começo, e tudo que ele fazia estava aparecendo cada vez mais no Twitter. — ela desabou aqui.


  Charlotte começou a segurar o choro, as lágrimas caindo e ela não estava conseguindo formular as frases corretamente, a voz chorosa.

— Desculpa. — limpou as lágrimas.

  Abracei ela de lado e deixei que chorasse, ela podia não ter sido a melhor namorada do mundo, não vimos o lado de Leclerc, mas naquele momento eu estava com dó da minha amiga.

— Não se desculpe por algo que não fez, é seu direito. — comentei.

  Eles terminaram há algum tempo, mas pelo jeito ela ainda está tentando seguir em frente. Sei que em algumas semanas ela vai estar bem e renovada, Charlotte era assim, tinha sentimentos efêmeros, mas que doíam em toda parte para ela.

  Aquele dia ela teve um tipo de liberdade, e o café misturado com o vento frio da madrugada de Amsterdã, combinou perfeitamente para a dor que Siné estava sentindo.
 

  

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