𝐂𝐡𝐚𝐩𝐭𝐞𝐫 : 𝟎𝟒
Meus pensamentos sobre Gojo eram verdadeiros em todos os sentidos. Eu realmente não sabia com quem eu estava lidando, e não fazia a mínima ideia da personalidade de alguém tão estranho. Afinal, que tipo de maluco tem uma limousine como um carro casual?!
Não consegui ter outra reação diante dessa surpresa. Eu simplesmente fiquei imóvel na entrada do prédio enquanto piscava os olhos repetidas vezes, ainda não acreditando no que estava vendo na minha frente.
Tinha plena consciência de que uma limousine não deveria ser o motivo para tanto choque, mas eu particularmente nunca estive acostumada a ver carros tão luxuosos que poderiam facilmente pagar todos os meus desejos. Apenas em filmes, obviamente. E mesmo assim, eles não eram tão complexos pessoalmente quanto pareciam nas telas.
Mas o que mais me espantou em tudo isso foi a pessoa que me aguardava dentro do automóvel, sentada em seu assento com um sorriso convencido enquanto abaixava a janela para falar comigo pela segunda vez no dia.
─ Está pronta, alfa? ─ Satoru pergunta, me fitando por cima enquanto seus óculos escuros permanecem na ponta de seu nariz.
─ Pronta para o que, exatamente? ─ não consigo deixar de franzir o cenho em descontentamento, cruzando os braços para manter uma certa distância conforme me aproximo da limousine com cautela ─ E eu tenho um nome, tá legal? Não fique me chamando assim.
─ Uau, então você tem um nome? ─ por um momento, ele parece ponderar seriamente sobre isso, mas seu sorriso logo volta em um piscar de olhos ─ Que pena, alfa.
─ Vai se fuder ─ eu apenas estreito os olhos com um tom enojado, essa sendo a única coisa que fui capaz de pronunciar em uma tentativa de me controlar para não fazer alguma besteira.
─ Entra logo, eu estou com pressa ─ ele parece completamente alheio ao meu xingamento, dando de ombros ao abrir a porta do carro e se arrastar para o assento ao lado, me dando espaço para entrar.
─ Você só pode estar de sacanagem, a gente vai mesmo andar pela cidade nisso? ─ levanto a sobrancelha com uma expressão desacreditada, ele não poderia estar falando sério.
─ O que foi? Será que é alto demais para os seus padrões? ─ ele questiona com diversão, dando algumas batidinhas no assento e ainda me convidando para o acompanhar enquanto imita a minha expressão.
─ Está insinuando que sou pobre ou algo assim?
Ele logo aumenta o sorriso, me analisando dos pés a cabeça lentamente de maneira proposital, deixando aparente que estava apenas me provocando com o olhar.
─ Talvez.
─ Seu- ─ antes de explodir novamente, tento respirar fundo e balanço a cabeça em negação, despachando qualquer tipo de sentimento pessimista ao desistir da minha resistência de entrar na limousine ─ Esquece.
Certo, eu era pobre sim. Dentro de um desses veículos era dez vezes mais chique do que eu inicialmente pensava. O assento era extremamente macio ao toque, havia uma pequena tela perto de uma das janelas e o espaço reservado para armazenamento de bebidas se tornava o ponto especial. Parecia surreal, e apenas me confirmava o que eu já sabia: eu definitivamente não fazia parte desse mundo.
Fecho a porta lentamente, não escondendo a emoção no olhar ao percorrer toda a extensão da limousine. Até me assemelhava muito a uma criança curiosa quando entra pela primeira vez em um parque de diversões.
Estava tão distraída com os arredores que não percebi que o carro havia começado a se movimentar e iniciava o trajeto proposto por Satoru, e que ainda era desconhecido para mim.
─ Não vai falar nada? ─ o platinado finalmente quebra o silêncio, seguido de uma risada baixa enquanto me encara.
─ Vou falar o que? ─ questiono na intenção de me desviar de sua atenção quando rapidamente percebo o que estou fazendo, me repreendendo mentalmente para voltar a olhar apenas para um ponto fixo da porta.
─ Sei lá, sobre como você está impressionada?
─ Eu não tô impressionada.
─ Pois seus olhos curiosos dizem outra coisa. Pode confessar, essa é a primeira vez que você anda de limousine ─ ele pontua, apontando um dedo acusador para mim e inclinando o corpo para o lado.
─ Não faça isso parecer algum evento especial, idiota.
Quando a última palavra sai da minha boca, eu imediatamente arregalo os ohos e mordo a língua, ainda com a cabeça virada para o lado da janela conforme continuo observando o cenário em movimento. Eu estava ferrada. O grande problema era que eu precisava me lembrar de que não o conhecia, então não sabia como ele reagiria a nenhum dos meus comportamentos.
Em certos termos, essa era a hora exata que ele me jogaria pela janela por ofendê-lo novamente, mas eu apenas recebo outra risada em troca da minha resposta.
─ Você é engraçada. Isso é um evento especial, eu estou te raptando.
Antes que eu tenha a chance de responder a altura, a vibração incessante do celular no bolso da minha calça me interrompe, fazendo com que eu aperte os lábios e rapidamente cheque o telemóvel para descobrir do que se tratava tantas notificações.
Devo ter deixado bem claro em meu semblante que aquelas mensagens expostas na tela não eram agradáveis, pois Gojo apenas suspirou derrotado e se recostou no banco, cruzando as pernas enquanto fazia o mesmo movimento que o meu para olhar pela janela.
─ Vá em frente, parece ser importante.
Apollo continuava me incomodando até em momentos como esse. Eram emails, sms, mensagens em redes sociais, ligações constantes. Esse cara definitivamente não largava do meu pé nem por um minuto, como se não tivesse uma vida própria para viver.
Nunca fui uma pessoa impulsiva ou violenta, mas talvez essa pequena perseguição esteja consumindo minha paz de espírito ultimamente, o que me faz agir fora do personagem, visto que não posso contar com ninguém para me ajudar a resolver esse problema pessoal.
O término de um relacionamento pode ser muito desgastante, e entendo perfeitamente o sentimento de saudade e indignação pelos fatos ocorridos. No começo, aceitei conversar casualmente com ele para que não tivesse nenhum mal entendido em nossa relação passada, esperando que logo nosso contato acabasse, mas agora isso estava passando dos limites, com certeza não era normal.
Como sempre, apenas ignoro todos os avisos e o bloqueio permanentemente, mesmo sabendo que eventualmente ele vai criar novos meios para tentar falar comigo. Quando finalmente termino para desligar o celular, eu solto um rosnado baixo e exasperado, apertando o aparelho em minhas mãos quase com a intenção de quebrá-lo - coisa que não gostaria de fazer ainda.
─ Não é importante ─ murmuro irritada, guardando o celular novamente no bolso antes que uma trágedia acontecesse com ele.
─ Suponho que você esteja um pouco estressada hoje, não é? ─ ele pergunta com uma expressão de preocupação, suavizando o sorriso. Esse era um Satoru completamente diferente, um lado que eu jamais adivinharia que ele tinha.
─ Estou bem ─ respondo firme com um suspiro arrastado, me afundando no conforto do banco.
─ Certo... Bem.... ─ ele apenas desvia o olhar, não querendo me pressionar mais nesse assunto.
Assim que um incômodo silêncio estava prestes a se fazer presente, Satoru estende o braço para tirar algo da sua jaqueta e sorri abertamente ao segurar o meu pulso em um movimento repentino, abrindo a palma da minha mão para depositar uma pequena embalagem nela, permanecendo com o toque quente na minha pele.
─ Gosta de chocolate?
Com a menção do meu doce favorito, eu sequer me importo com a aproximação ou com o fato de ele ainda estar segurando o meu pulso. Meus olhos brilham no mesmo instante e um sorriso satisfeito aparece em meus lábios. Esse era um dos únicos pontos fracos que fazia com que eu tivesse uma rápida mudança de comportamento.
─ Chocolate ajuda no humor, e ouvi dizer que mulheres gostam. Pode comer esse.
─ Não precisa ser mulher pra gostar de chocolate. Isso aqui é uma obra divina ─ eu declaro, rapidamente desembrulhando o doce para morder um pedaço pequeno.
─ Devo concordar ─ ele recolhe a mão, virando o rosto com um semblante envergonhado.
Aquele era mesmo Satoru Gojo? Eu não saberia dizer ao certo. Na minha visão, ele provavelmente já deve ter se relacionado com muitas mulheres de diferentes classes, e essa situação não era para ser uma novidade. Contudo, ele parecia um pouco receoso na minha presença no momento, completamente diferente do Gojo que aparentava ser extremamente confiante e seguro de si. O que havia mudado agora, afinal?
─ Ah sim, quase me esqueci. Obrigada ─ sorrio minimamente para ele, decidindo ignorar o comentário sobre mulheres por enquanto.
─ Por nada ─ ele ainda evita o meu olhar, mas tenta manter o seu mesmo tom de sempre.
O restante do trajeto permanece tranquilo com cada um focando sua atenção exclusivamente na estrada do lado de fora, e nós decidimos manter dessa forma por longos minutos.
Com isso, não demora muito para que eu aviste uma casa simples quando a limousine finalmente começa a parar. Esse definitivamente era o nosso destino, pois Gojo abre a porta para descer do carro e me incentiva a segui-lo novamente.
Sendo sincera, eu esperava alguma mansão ou uma casa que tivesse um estilo mais luxuoso, visto como ele adora se exibir de alguma maneira. Entretanto, já percebi que não devo esperar nada quando se trata desse sujeito. Suas ações são sempre imprevisíveis.
Quando tento dar mais um passo para entrar no quintal da casa, uma movimentação no meu pé me impede de continuar a caminhar, me fazendo olhar para baixo imediatamente. Um gatinho branco. Filhotes costumam ser tão meigos e inocentes que é quase impossível não se derreter com seus miados, e do jeito com que este se enrolava nos meus pés, ele com certeza gostaria da minha atenção.
─ Hey, amiguinho ─ minha voz sai quase como um sussurro e eu me agacho para fazer carinho no pelo macio do bichano, recebendo um lindo ronronar suave como resposta.
─ Também é uma apreciadora de gatos? ─ Satoru questiona, parando para me observar com curiosidade.
─ Como assim também?
─ Eu também amo gatos, esse aí é o meu. Pode trazê-lo para dentro, se quiser ─ ele simplesmente dá de ombros com minha interação, continuando a sua tarefa de me guiar para o interior da residência.
─ Bom, eu definitivamente quero ─ balanço a cabeça animadanente e seguro o gatinho em meus braços sem nenhum protesto por parte dele, já que ele parecia realmente ter apreciado o meu carinho.
Eu o acompanho até dentro da casa, e ao entrar, me deparo com uma sala cujo design de móveis era notavelmente moderno. As cores escolhidas para o ambiente contrastavam de forma equilibrada, criando uma sensação agradável de harmonia. O ambiente era verdadeiramente acolhedor, eu diria.
Assim como havia feito na limousine, reservei um tempo para examinar atentamente o entorno enquanto acariciava delicadamente o pequeno animal que descansava em meus braços. Satoru apenas permaneceu apoiado no batente da porta, demonstrando total atenção à minha reação sem dizer uma palavra.
─ Tudo bem, agora estou curiosa. Qual era o seu plano para mim, afinal? ─ questiono ao me virar para ele, esperando uma explicação. Não gostaria de reclamar dessa decisão, mas ainda estava interessada em saber o motivo pelo qual ele havia me requisitado antes do evento.
─ Não se preocupe, você vai descobrir em breve.
Ele logo ergue uma chave com um sorriso malicioso no rosto. Em um gesto rápido, ele se retira do cômodo e gira a chave na fechadura da porta da sala enquanto eu me vejo sem tempo para reagir. Em um instante, coloco o gato no chão apressadamente e agarro a maçaneta com firmeza para tentar abri-la em uma tentativa desesperada.
Quando percebo que ela não cederia aos meus esforços, um sentimento opressivo começa a se formar na boca do meu estômago, afundando-me em um abismo de ansiedade. Eu detestava profundamente a sensação de estar aprisionada. Era como um verdadeiro pesadelo.
─ Abre essa porta, Gojo! ─ grito por ele o mais alto que consigo, começando a entrar em real desespero ─ Você vai me deixar trancada aqui por uma semana!?
O silêncio devastador foi o único companheiro diante das minhas lamúrias. O cio de Satoru começava justamente após esse tempo, então cheguei a conclusão de que precisaria estar com ele antes mesmo de acontecer qualquer coisa.
No entanto, era realmente estranho que ele tivesse me levado para a sua casa repentinamente e me trancado assim sem me contar nada a respeito disso, e eu não conseguia adivinhar no que ele estava pensando quando escolheu realizar esse plano. Mas a resposta para a minha pergunta provavelmente seria não.
Ele não seria capaz de fazer isso.
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